sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Entrevista com CARLOS PRONZATO


1 – Em sua opinião, qual a importância de eventos como o “Juventude e Política na América Latina”, realizado pelo GEPPS (Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Política e Sociedade) em Cachoeira no dia 30/11/2012 do qual o Senhor participou?

Considero que todo evento universitário promovido com perfil histórico/político e que aborde nosso cenário continental é saudável para as comunidades discente e docente e para a população em geral porque estará retribuindo a inversão do cidadão que através dos impostos mantêm esses espaços públicos de estudo e capacitação profissional. Ainda mais quando o assunto é a juventude e as suas mobilizações na América Latina, um tema amplo e fundamental - embora pouco divulgado nos meios oficiais pelo congênito temor que os estudantes representam para os governos - que nos traz o exemplo das lutas dos estudantes em vários períodos da nossa história e nos atualiza sobre os movimentos contemporâneos. É bom citar, também, que num momento como o atual, em que raramente há efervescência estudantil nas ruas, com sua histórica participação nas lutas pela redução das tarifas dos ônibus, com suas marchas em defesa de condições de ensino dignas ou em apoio e solidariedade a outros temas e movimentos sociais, organizar eventos deste tipo serve para lembrar esse papel estudantil e para produção de conhecimento, reflexão, organização e tomadas de posições com vistas a novas disputas, no jogo político liberal-burguês, nas ruas ou no próprio âmbito acadêmico. 

2 – Diante de sua experiência como documentarista, cujo trabalho constantemente enfoca movimentos sociais latino-americanos, o que singulariza os movimentos sociais brasileiros em relação ao dos países nos quais o Senhor já filmou? 

A imensidão do Brasil já seria um primeiro atributo quanto à generalidade de assuntos e diversidade de respostas de movimentos sociais similares para um mesmo conflito. Estados brasileiros, quase países que abrigam focos de tensão em todo o território nacional, restringem, muitas vezes pelas distâncias a serem percorridas, a possibilidade de circulação contínua e oferecem matizes diferentes nas suas propostas e ações coletivas. Em geral, outros países mantêm uma certa identidade operacional e política nos seus movimentos, seja esta inclusive por motivos histórico/étnicos como na Bolívia onde é preponderante o tema indígena e não há grandes variações de respostas nos conflitos frente às multinacionais ou frente ao Estado, por exemplo. Isto pode representar soluções contundentes nesses países, coisa que no Brasil torna-se mais difícil. Aqui, o MST, movimento dos trabalhadores rurais sem terra, talvez seja o único movimento de massa que pode oferecer tamanha contundência, possivelmente pela sua extensão nacional, verticalidade e articulação política inclusive no exterior. O peso do latifúndio, a expansão do plantio da soja transgênica em imensos territórios, ou seja, o agronegócio sustentado pelo governo federal, a implementação de usinas hidrelétricas como a de Belo Monte também com amplo apoio do Palácio do Planalto, entre muitos outros focos de tensão social, são poderosos alicerces capitalistas que agridem o meio ambiente e o homem e a resposta popular a isto no Brasil se ressente pelas distâncias entre outras questões igualmente graves, aspecto que em países de menores dimensões é possível construir uma centralidade que afete com maior incidência o alvo pretendido. Por outro lado, pelo peso econômico o Brasil não pode se omitir quanto a ter uma imprensa que dispute espaço com a imprensa hegemônica que defende justamente essas agressões ao meio ambiente e ao trabalhador. Além de imprensa alternativa – entre as quais incluo o cinema de combate – construir outra poderosa quanto as que atuam no plano simbólico e por isto arraigadas no inconsciente popular. Países da América Latina enfrentam os tubarões financeiros e seus porta-vozes da imprensa e da TV quotidianamente com veículos de porte, além dos alternativos e as redes sociais. Em resumo, além das dimensões geográficas e culturais, poderia dizer que não há grandes diferenças na maneira em que os movimentos sociais afrontam a barbárie do sistema capitalista no nosso continente. Por mais prosaica que a frase possa parecer, a luta é uma só, do rio Bravo, na fronteira do México com os EUA á Terra do Fogo, na Argentina. 

3 – Alguns de seus documentários retrataram personagens políticos ligados à esquerda: Che Guevara, Salvador Allende e Carlos Marighella. O que mais pesa no momento de escolher um biografado, a sua história de vida ou suas concepções ideológicas? Já pensou em retratar algum personagem político ligado à direita? Por quê? 

Ambas pesam, sua história pessoal e sua história política, ambas caminham juntas quando se trata de personagens imbuídos de um compromisso social profundo nas suas vidas. Também são de fundamental importância suas concepções ideológicas e o reflexo que estas imprimiram na História da Humanidade, e se estas coincidem com as concepções do investigador, do documentarista, o circulo fecha perfeitamente. Não sou daqueles que aceitam qualquer contrato de trabalho e qualquer personagem para retratar, e se escondem no anti-sectarismo, tenho um compromisso facilmente reconhecível e expresso nas personagens e nos temas que abordo. É bom deixar claro que nesses documentários citados há recortes temporais precisos: em “Carabina M2, uma arma americana, Che na Bolívia” é abordado o período final da vida do Comandante Ernesto Che Guevara e a sua tentativa de incendiar o continente para enfrentar o imperialismo ianque a partir da selva boliviana; em “Buscando a Allende” a lente está no período da construção do socialismo através das urnas e a destruição do sonho pelo genocida Pinochet; em “Carlos Marighella, quem samba fica, quem não samba vai embora” é sua opção pela luta armada como resistência à ditadura que é ressaltada numa vida cheia de peripécias. Isto é, o retrato destes personagens é traçado justamente em cima de projetos de vida que misturam sua história e sua ideologia. Por questões inclusive de pequenos orçamentos e equipes ínfimas, abordar a vida inteira destes personagens seria muito dificultoso, recortar esses períodos já é bem complexo. Devo dizer que ao não trabalhar com roteiros definidos de antemão – só um plano de temas - cada um desses documentários se torna uma aventura de anos de pesquisa, com intensos mergulhos nos personagens e cujo roteiro final é construído à medida que o projeto avança – em paralelo com outros projetos - o que os torna muito mais complexos na sua construção do que um filme de ficção na hora de filmar, por exemplo, onde quase tudo já está estruturado desde o inicio. 

Quanto à segunda parte da pergunta, abordei recentemente a vida e obra do maior pesquisador da guerra e do universo de Canudos: o sergipano José Calasans (“José Calasans, tradutor do sertão”), que teve na juventude ligações com o Integralismo de Plínio Salgado, mas o meu interesse foi a sua relação com o folclore e a Guerra de Canudos, tema que pesquiso há anos. Não é o que se consideraria uma personagem política, embora a Guerra de Canudos seja um tema caro a muitos pesquisadores à direita e à esquerda com intensa participação política na sociedade. Por outro lado, a vida de Juan Domingo Perón, controverso personagem latino-americano, alvo do interesse e de disputa de gerações argentinas de todas as cores políticas seria um tema interessantíssimo, embora sua esposa, Evita Perón me interesse muito mais como personagem, como persona dramática, como pessoa cultuada pelas esquerdas. Certa vez um colega me convidou a dirigir com ele um projeto denominado mais ou menos assim: “ACM, mito e verdade” aí eu disse: você faz a parte do mito, eu o da verdade. O projeto não foi adiante. Fiz sim, recentemente, um trabalho sobre a dançarina de pagode e vereadora transexual Leo Kret (no youtube tem o trailer: “Leo Kret do Brasil, o filme”) a convite da sua assessoria, que atua nos quadros de um partido de direita e religioso, mas o meu interesse foi a questão da diversidade sexual no âmbito parlamentar, a possibilidade de arejar os corredores dos poderes municipais com algo novo inclusive politicamente - infelizmente não deu nenhum resultado justamente por se cercar dos “profissionais” desses corredores - e a discussão sobre a dinâmica eleitoral que a levou até a Câmara Municipal de Salvador em 2008. Diria que abordo uma figura histórica daquelas citadas na primeira parte da pergunta quando sinto essa necessidade de trazer a tona períodos importantes da nossa história, vidas exemplares, tanto quanto o impulso que essas informações contidas nos filmes podem representar para ações políticas contemporâneas ou pelo menos para elucidar aspectos similares de nossa época. É um pouco como o meu trabalho na poesia, o tema, a personagem tem que ter sua contundência sensorial para iniciar um trabalho. 

4 – Durante o evento “Juventude e Política na América Latina” foram exibidos dois de seus documentários, “A revolta do Buzú” (2003) e “La rebelión Pingüina” (2006), ambos sobre o movimento estudantil. Quais as diferenças e semelhanças entre esses dois movimentos? 

De início, a semelhança óbvia: seus atores principais, os estudantes secundaristas. Nas duas, a participação de estudantes universitários foi pequena embora tenha havido solidariedade com o correr dos dias. As duas manifestações se iniciaram pelo aumento da tarifa dos ônibus urbanos. Só que no Chile essa demanda foi rapidamente superada para atingir propostas de transformações estruturais da educação, num pais cuja educação está quase toda privatizada. Na Bahia, o tema tarifário sempre foi excludente, embora outras antigas reivindicações do movimento estudantil - que finalmente foram atendidas - acabaram pautando a agenda. E foi isto o que criou fricções entre as diversas linhas organizativas estudantis, uns com a proposta originária de baixar a tarifa em aberto confronto com os empresários e a Prefeitura e outros grupos ligados a partidos com propostas de cunho mais político atendendo, inclusive, determinações partidárias, nos “cabildos” (deliberações espontâneas nas ruas) diários, e nos gabinetes, sempre de olho em alianças, negociações, e tudo que diz respeito ao mundo parlamentar. Uma diferença fundamental foi o nível repressivo. Enquanto no Chile (é importante dizer que o movimento foi nacional com epicentro em Santiago e não apenas local como na Bahia), carros hidrantes, bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes de uma polícia rigorosa e infelizmente muito profissional (os carabineiros) dispersavam as multidões estudantis e recebiam o troco de pedradas dos pinguins (estudantes secundaristas chilenos) aqui a força repressiva não teve o mesmo papel (o que gerou até um conflito entre a cúpula do PFL local que instigava a repressão e o prefeito) além de em muitas ocasiões ficar completamente perdida perante a mobilidade contínua dos focos de protesto, do corte de rua dos estudantes e da dinâmica sem líderes visíveis. Houve sim focos de repressão nos subúrbios, mas nada comparável à violência chilena. Aqui o movimento foi inteiramente nas ruas, no Chile num segundo momento, depois da repressão atingir níveis de brutalidade extrema, os estudantes ocupam os Colégios para se protegerem e o movimento social como um todo apoia as ações estudantis, tanto isto é verdade que até hoje (2012) aquele movimento de 2006 continua se manifestando sem importar a cor política dos governos de turno, o que deixa claro que é uma questão de Estado, de abandono da educação pelo Estado, não muito diferente do que acontece no Brasil. Aqui o apoio do movimento social foi tímido e o da população praticamente inexistente, fora alguns aplausos nos cortes de rua, completamente diferente do acontecido naquele país [Chile], onde a população arrecadava até dinheiro para os estudantes e os pais estavam mobilizados junto aos seus filhos. Muitas mais diferenças e semelhanças poderiam ser citadas relativas ao contexto histórico/social de cada um dos países. O importante é que ambos os movimentos tiveram e têm muita influência, a Revolta do Buzú inspirou movimentos em nível nacional, e o documentário parece ter contribuído muito para isso e A rebelião dos estudantes chilenos deixou sua marca em nível continental. 

5 – Quais os seus próximos projetos? 

Na área literária dois livros para serem lançados. Um deles de poesias sobre Carlos Marighella, que não pode sair este ano. No audiovisual, um dos projetos principais é continuar com o tema da luta armada no Brasil abordado no documentário sobre Marighella. Outra linha é a pesquisa de temas afro-brasileiros e aí entra Jorge Amado de quem fiz um documentário este ano para o seu centenário (“Testemunho de um leitor de Jorge Amado”), também projetos sobre a História brasileira (um dos personagens que já está em fase de pesquisa é o sergipano Manoel Bonfim, o rebelde esquecido e pouco conhecido). Outros projetos audiovisuais mais ligados à mobilização política surgem de acordo com a dinâmica das ruas e dos movimentos sociais, como a desocupação do Pinheirinho no início deste ano, por exemplo, mas, em geral, as amplas mobilizações do passado, de alguns anos a esta parte tem acontecido muito menos, por que será? (Fonte: GEPPS)

Catálogo de livros e filmes de Carlos Pronzato: www.lamestizaaudiovisual.blogspot.com

Imagem: Silvio Benevides/GEPPS

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Nota sobre encontro Juventude e Política na América Latina

No último dia 30 de novembro de 2012 o GEPPS promoveu no auditório do CAHL o encontro Juventude e Política na América Latina, que discutiu com estudantes e demais interessados aspectos da mobilização política dos atores sociais juvenis na América Latina. O evento ocorreu nos dois turnos. No matutino, estudantes e professores do GEPPS receberam estudantes do curso de Psicologia do Centro de Ciências da Saúde da UFRB. Sob a coordenação do Prof. Willian Tito Maia Santos, as estudantes de Psicologia e Políticas Públicas compartilharam com os estudantes de Ciências Sociais suas experiências de pesquisa e de estágio. Discorreram sobre suas dificuldades no campo de trabalho e do processo de aprendizagem, assim como, do ganho acadêmico que tiveram ao cursar a disciplina Psicologia e Políticas Públicas. Depois, os estudantes do GEPPS Ana Paula Almeida, Gerinaldo da Silva Lima e Sóstenes Aroeira da Luz apresentaram as pesquisas que desenvolvem no grupo ou já desenvolveram com a colaboração do grupo. Em seguida, os professores William Tito, Antônio Eduardo, Albany Mendonça e Maurício Ferreira, coordenador do GEPPS e do Colegiado de Ciências Sociais, falaram sobre a importância para docentes e discentes de se estabelecer um diálogo profícuo e a troca de experiências entre as diferentes áreas do conhecimento. Troca essa que enriquece, sobremaneira, tanto a produção acadêmica quanto a o processo de ensino-aprendizagem. O evento também marcou a entrada do Prof. William Tito como membro colaborador do GEPPS. À tarde, o encontro teve continuidade com a presença do cineasta e escritor argentino Carlos Pronzato, que falou sobre seu trabalho de documentar os movimentos sociais latino-americanos e da experiência dos atores juvenis na região. Falou, também, sobre a criação cinematográfica e do papel social do cineasta frente a realidade que lhe cerca. Após o bate-papo com o Pronzato foram exibidos dois dos seus filmes: “A rebelião dos Pingüins” (2006) e “A revolta do Buzú” (2003). O primeiro filme relata a ação de estudantes em defesa da educação pública de qualidade no Chile e o segundo mostra a ação estudantil contra o aumento da tarifa do transporte urbano em Salvador. Este encontro encerrou as atividades do GEPPS no semestre de 2012.1. Na próxima quarta-feira (12/12), acontecerá uma reunião de grupo para definir a agenda do GEPPS para o próximo semestre (por Silvio Benevides).

Imagem: GEPPS

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

VIII Panorama Internacional Coisa de Cinema vai acontecer em Salvador e Cachoeira

Entre os dias 25 e 30 de outubro, Salvador e Cachoeira, esta pela primeira vez, sediarão o Panorama Internacional Coisa de Cinema, em sua oitava edição. Com muitos filmes inéditos na Bahia, a programação apresenta mais de 30 produções, todas exibidas gratuitamente, no ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA-GLAUBER ROCHA, na Praça Castro Alves, na SALA WALTER DA SILVEIRA, Barris, ambas em Salvador, e, também, no AUDITÓRIO LEITE ALVES, do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na histórica Cachoeira.

Em Cachoeira a sessão de abertura, que ocorre nesta quinta (25/10), às 20h30, traz quatro filmes da Competitiva Nacional de Curtas, incluindo o baiano “O menino do cinco”, de Marcelo Matos e Wallace Nogueira, que levou seis prêmios este ano no Festival de Gramado, e “A mão que afaga”, de Gabriela Amaral, diretora baiana radicada em São Paulo, com a mesma performance no Festival de Brasília, além de “Dizem que os cães vêem coisas”, de Guto Parente, do Ceará, e “Pra eu dormir tranqüilo”, de Juliana Rojas, de São Paulo. Após a exibição, os diretores participam de debate com a platéia.

Durante o festival, o público poderá conhecer a produção de estudantes de cinema da UFRB, que têm realizado curtas-metragens continuamente, conquistando reconhecimento e premiações. É o caso de Leon Sampaio, que atualmente escreve o roteiro do seu primeiro longa-metragem. Ele é diretor de “O cadeado”, a ser exibido na sexta dia 26 (18h30), que foi premiado no Festival Internacional de Curtas de São Paulo e exibido na Mostra de Tiradentes. No filme, ele mostra as reações de alunos e professores diante de uma escola sempre fechada, na qual sempre há um cadeado no portão.

Na mesma sessão está “Rua dos Bobos”, de Ohana Almeida, outra prata da casa, que apresenta uma mulher em processo de desapego das convenções sobre espaço e objetos. O trio de estudantes da UFRB se completa com “Entre Passos”, curta de Elen Linth sobre as dores da infância, que será exibido no sábado dia 27, às 18h10. Nas duas sessões com curtas baianos (seis filmes em cada), os diretores das produções exibidas estarão presentes e conversarão com o público ao final da sequência de filmes.

Além de apresentar as produções dos cineastas em formação na UFRB, o Panorama traz também filmes já consagrados, como os longas-metragens “A febre do rato”, de Cláudio Assis, e “Histórias que Só Existem Quando Lembradas’, de Julia Murat. O primeiro é o filme brasileiro indicado ao Prêmio Goya, considerado o Oscar espanhol, e tem premiações acumuladas nos festivais de Paulínia, Triunfo e no Cine Ceará. O segundo é uma das produções brasileiras mais premiadas no exterior, tendo recebido troféus nos festivais de Cinema Brasileiro de Paris, de Cartagena (Colômbia) e de Abu Dhabi (Emirados Árabes).

O público de Cachoeira poderá conferir, também, uma iniciativa inédita na trajetória do evento: a parceria com o Animage – Festival Internacional de Animação de Pernambuco. Com isso, sete animações de diversas partes do mundo, desde o Brasil à distante Estônia. Vale ressaltar que são filmes que, dificilmente, entrarão em circuito exibidor em Salvador ou qualquer cidade brasileira (Fonte: Coisa de Cinema).

Imagem: Pierre Themotheo e Fabio Abreu.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Eleições 2012: as doenças de Salvador

Em 2007, a Bahia, e por que não dizer o Brasil, se livrou definitivamente de um Aviltoso Cancro Mole. Cinco anos depois, uma mutação genética fez surgir um Aviltoso Cancro Mole Nevrótico. Este, porém, apesar do baixo grau de malignidade não deve ser ignorado, pois, dada a sua origem, o estrago pode ser grande. Entretanto, um outro tipo de doença, igualmente devastadora e já bastante conhecida dos soteropolitanos. chega para ameaçar a Bahia e, em especial, Salvador. Agora, a doença da vez se chama Granuloma Venéreo Lacerante, que provoca a formação de enormes úlceras (feridas) e a destruição dos tecidos, sobretudo o social. Essa doença chega como quem não quer nada, mas a saúde pública alerta: o Granuloma Venéreo Lacerante é uma doença muito perigosa. Ela insiste em se impor e não sossegará enquanto não tomar conta de tudo para instituir um novo império do terror. Há oito anos os soteropolitanos foram profundamente afetados por conta dessa doença nos meios políticos locais. Graças a essa doença Salvador se encontra chafurdada na merda, repleta de úlceras e lixo por todos os lados e cantos, sufocada por enormes engarrafamentos, entregue à ganância estúpida de uma elite política e econômica irresponsável e anacrônica que faz a cidade crescer sem planejamento e sem perspectiva alguma de transformação. Sim, graças ao Granuloma Venéreo Lacerante a atual gestão que está à frente da Prefeitura de Salvador desde 2004 foi eleita e, o que é pior, reeleita. Três dias após as eleições municipais ele reaparece para apoiar o tal do Aviltoso Cancro Mole Nevrótico. Povo de Salvador abra o olho na hora de votar! Não permitamos que Salvador adoeça ainda mais (por Silvio Benevides).

Imagem: Silvio Benevides.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A greve mais longa da história dos docentes federais se encerrou hoje na UFRB

Saída da greve, sim, mas não da luta. Essa foi a decisão tomada pelos docentes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em assembleia dessa quinta-feira (13). Os professores decidiram voltar às atividades acadêmicas na próxima segunda-feira (17), com indicativo de retorno às aulas no dia 24 de setembro, já que essa é uma etapa que necessita da discussão prévia do calendário. Os docentes apresentarão uma proposta de calendário ao Conselho Acadêmico (CONAC) e à reitoria.
Além da saída da greve, os docentes, em unanimidade, apontaram que o PROIFES não os representa porque à revelia da base e dos demais sindicatos, foi o único a assinar o acordo proposto pelo governo no dia 01 de agosto.  Acordo este que, entre outros pontos, não leva em consideração questões como a carreira e a melhoria das condições do trabalho docente.

O presidente da Associação dos Professores Universitários do Recôncavo (APUR), Herbert Toledo, confirmou ser esse o momento oportuno para a saída da greve, no entanto enfatizou que isso não significa fim da luta docente: “Precisamos continuar avançando aqui dentro da UFRB, no sentido de mobilizar os professores e continuar lutando pelas melhorias nas condições de trabalho. Nós vamos continuar lutando, pressionando o governo, mostrando as contradições em relação ao discurso e a prática que ele tem no que se refere à educação”, afirmou o presidente.

Para Herbert, a greve foi extremamente positiva não só no âmbito nacional, pois consegui alcançar mais de 90% das universidades e institutos federais, mas especialmente para UFRB: “Por intermédio de todas as manifestações e mobilizações que nós fizemos, consolidamos a coisa mais importante para essa universidade, que até então não tínhamos, que é o sentimento de pertencimento, nós criamos, a partir desse movimento, o orgulho de sermos professores da UFRB”, enfatizou o professor.

O professor do Centro de Formação de Professores (CFP), Luiz Paulo Oliveira, também salientou a unidade entre os docentes como sendo um dos grandes ganhos da greve: “Os docentes se reconheceram como professores e como trabalhadores para além de serem professores de determinado Centro. Nós começamos, de fato, a construir uma identidade e, de certa forma, reconhecermos que a nossa luta está para além da greve, ela é, na verdade, um dos instrumentos de luta das nossas reivindicações”, pontuou Luiz Paulo.

Luiz Paulo ainda colocou que a greve, a mais longa de toda a história do movimento docente, conseguiu mostrar a capacidade de luta dos professores das universidades federais, bem como a fragilidade do governo federal: “Esse movimento mostrou a capacidade docente de se organizar nas bases para pautar politicamente as suas reivindicações e, ao mesmo tempo, apresenta uma conjuntura na qual o governo se mostra sem habilidades políticas para dar conta das discussões”, disse o professor.

Ambos os professores chamaram a atenção para o fato de a greve ter conseguido dar visibilidade às péssimas condições de trabalho, principalmente nas universidades recém criadas, como é o caso da UFRB. Para Luiz Paulo, a mobilização mostrou que ainda há muitas demandas nesse processo de expansão das universidades federias: “Mesmo em face à precarização do trabalho, às péssimas condições de trabalho e os desafios que nós temos, e os que estão postos nesse processo de expansão das universidades, a greve mostrou que é possível os trabalhadores e os professores darem resposta coletiva a esse processo”, ressaltou o docente (Fonte: APUR).
 
Imagem: APUR

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O 2 de Julho de 1823 e sua importância para o Brasil

De acordo com o historiador Braz do Amaral, “quando, nas Cortes de Lisboa, se feriu a célebre luta parlamentar de que resultou o rompimento dos representantes brasileiros que se retiraram para Inglaterra, enviaram os deputados baianos uma consulta às câmaras desta província, que é um dos mais notáveis papéis daquela época e que revela a consciência, já possuída pelos baianos em assunto de tal magnitude, que evidência ainda não ter sido a independência um fato que dependesse da aquiescência, ou da ação e do gesto de D. Pedro, como parece indicar o ter sido feita a comemoração, na data centenária desse gesto.

As Câmaras da Bahia se manifestaram por um governo próprio no Brasil, pelo que deram, depois de acordarem nisto, a sua adesão ao príncipe regente, o que foi causa de querer o general português Ignácio Madeira, assim como o partido lusitano, submetê-las pela força. Elas, por seu turno, armaram os cidadãos, constituíram um governo provisório em Cachoeira e iniciaram a guerra contra a metrópole.

Está se vendo em tudo isso ação consciente, independente, partida dos brasileiros, em plena posse de si mesmos e obedecendo às suas próprias inspirações, legislando e resolvendo o que é coisa muito diversa da situação em que os nacionais se encontram na declaração aquiescente do Fico e do incidente do Ypiranga, os quais são falsamente apregoados como os atos decisivos da independência, para justificar a comemoração no Rio e em São Paulo.

Note-se que quando se deu o incidente do Ypiranga já elas, as câmaras da Bahia, se haviam organizado, resistindo às tropas portuguesas, em ato de franca rebeldia, pelo que já era uma coisa real na Bahia ser preferida à morte a não ficar independente.

Conferindo as datas, se verifica ter sido o grito do Ypiranga no 7 de setembro, quando já antes disto se havia dado começo às hostilidades em Cachoeira, no dia 25 de junho e se havia já constituído também na Bahia o governo provisório do Recôncavo, em 17 de agosto, para dirigir a resistência contra as tropas portuguesas, governo composto de deputados eleitos pelas vilas sublevadas da província. Com este governo se entendeu desde junho de 1822 o príncipe regente, muito antes, portanto, do incidente do Ypiranga.

Ninguém pode contestar que o general português Ignácio Madeira, comandante das tropas lusitanas, não fez caso das intimações e dos meios de sedução empregados pelo governo do Rio de Janeiro, para levá-lo a trair o seu juramento e que resistiu a tudo, donde forçosamente se conclui que a independência não estava feita com o dito e o grito citados, tanto que foi preciso enviar um general para comandar os insurrectos independentes, organizar de forma regular as tropas de voluntários que se estavam concentrando no Recôncavo e discipliná-las como convinha.

Tal foi a tarefa do general francês Pedro Labatut, ao qual o mesmo governo do príncipe D. Pedro mandou depois instruções. Nem foi apenas uma pequena luta regional, de somenos importância, a que se feriu na Bahia, como se verifica pelo efetivo da força naval portuguesa nas águas deste porto, assim como pela importância do exército metropolitano, além de tudo mais que consta da correspondência e dos documentos da época. Os independentes repeliram as forças portuguesas no lugar chamado Funil, do que resultou ficar a guarnição da cidade, assim como a esquadra privados dos recursos de boca, até então fornecidos pela região fértil de Nazaré.

Pretendeu Madeira se desembaraçar do abraço fatal que lhe impunham as forças dos rebeldes independentes, cortando o exército atacante na base da península em que está situada a capital e esmagando-o ali, pelo que lançou em 8 de novembro de 1822 as suas colunas de ataque sobre as alturas de Pirajá, sendo elas desbaratadas, com perdas consideráveis. Em 7 de janeiro de 1823, a esquadra portuguesa, incomodada pela ação de uma flotilha de barcos que os baianos, haviam organizado para esfaimar a guarnição da cidade, tentou um desembarque na ilha de Itaparica e foi repelida.

Tanto era uma questão de vida ou de morte a guerra da independência na Bahia, e assim o entenderam todos, tanto daqui dependia a sorte da nascente nacionalidade que de vários pontos marcharam brasileiros, ao apelo do governo do príncipe D. Pedro, para ajudar os baianos no grande prélio.

Pernambucanos, fluminenses e mineiros vieram compartir os perigos, sacrifícios e esforços que os baianos faziam pela causa da independência, distinguindo-se os pernambucanos pelo seu extremo valor.

O exército pacificador, nome que havia tomado o dos revoltosos baianos, tinha a força de 10.148 homens, com os quais fez o assédio da cidade, o qual durou nove meses, fora a guarnição nos pontos estratégicos de Itaparica, os quais ocupavam 3.257 praças, ao passo que a esquadrilha dos barcos baianos que impedia a chegada de vitualhas ao exército português era tripulada por 710 marinheiros.

Quando, em maio de 1823, a esquadra de Lord Cochrane surgiu na costa da Bahia, tomando para base das suas operações o porto do Morro ou ilha Tinharé, o efetivo da força naval dos brasileiros, aumentou, sendo, porém sempre inferior a dos portugueses, que tinham vinte navios e mais uma flotilha de canhoneiras, opondo ao inimigo 494 bocas de fogo e 5.000 marinheiros.

Quanto ao exército português ele constava de uma força respeitável de cavalaria, da Legião Constitucional Lusitana, composta de infantaria e uma companhia de artilharia, e vários batalhões de infantaria, uma brigada de artilharia, uma legião de caçadores e os batalhões 2,3,4 e 5 de segunda linha. Este exército precisou, durante o cerco, além das enfermarias que já tinha transformar em hospitais o convento dos Agostinhos à Palma, parte do de S. Francisco e a grande casa de João de Freitas.

Quanto ao exército pacificador, ainda era pior a situação, porque investia e atacava, não tendo equipamento de campanha, pelo que, não somente perdia mais gente nos combates, como tinha uma quantidade espantosa de doentes, principalmente vítimas de impaludismo e das intempéries, as que estavam expostos os soldados, do que resultava uma enorme quantidade de baixa aos hospitais, fatos que indicam a importância das operações dos dois exércitos e os seus sofrimentos.

A fome acompanhou a guerra e o general sitiado que, à princípio, havia proibido a saída das bocas inúteis, se viu obrigado a permiti-la depois. Basta dizer que da segunda vez em que tal permissão se deu, somente em 18 dias, de 10 a 28 de maio saíram da cidade 9.274 pessoas, registradas, fora as que fugiram, escapando ao registro.

Esta população, pela maior parte sem abrigo, faminta e coberta de andrajos, vagou entre os dois exércitos, acuada pela falta de alimentação que era também um dos flagelos das tropas na campanha, e boa parte dela pereceu de miséria pelos matos, à beira dos caminhos e dos riachos e lagoas.

Por três vezes o exército dos independentes avançou sobre a cidade, para acabar a guerra por um assalto geral, mas foram outras tantas obrigadas a recuar, diante da tríplice linha de trincheiras, com as quais as tropas aguerridas de Madeira tinham coberto a Bahia.

Como o cerco se prolongasse na luta tenaz de que dependia a sorte do Brasil, o governo chamou lorde Crochrane do Chile, a fim de organizar uma esquadra e a comandar, a qual foi a primeira que o Brasil apresentou no mar e que largou a bandeira dessa nossa nação na costa da Bahia, quando ela pela primeira vez tremulou diante de um inimigo.

Ninguém porá em dúvida semelhante asserção, em face do documento oficial o qual foi lavrado para estabelecer o bloqueio e a guerra marítima. Por tais razões, não se pode deixar de contestar que a independência se houvesse feito, como por milagre, apenas com um dito e um grito do príncipe D. Pedro e que se comemore isto como os fatos decisivos da independência nacional.

Restringir a comemoração da independência ao Rio de Janeiro e a São Paulo é absurdo, pois, no que se sabe do Ypiranga não há um ato do povo brasileiro, nem coisa notável que o honre, pela idéia, ou pela abnegação, pelo altruísmo, ou por qualquer coisa de importância e relevo.

O fato culminante da independência se deu aqui na Bahia, pela ação das câmaras municipais, o que é um acontecimento digno de ser citado, porque foi uma resolução de gente capaz da liberdade, pela resistência do povo, pela sua constância na luta e pelo seu valor no sofrimento, assim como pelos outros fatores que vieram, de pontos diversos, concorrer para o triunfo, o qual foi, na realidade, a vitória da causa nacional, como se compreende lendo a parte de Cochrane, datada do mar, diante da Bahia, quando a esquadra inimiga estava a sair do porto, levando o exército que deixava o Brasil livre deveras, e vendo como o primeiro imperador do Brasil agradeceu às tropas que haviam firmado a existência da nova nacionalidade entre os povos constituídos do mundo.

A data que deve ser celebrada comemorando a independência do Brasil, para bem da honra e do decoro desta nação, deve ser a assinalada pela sua primeira campanha, pelo esforço que o seu povo empenhou numa luta, entremeada de triunfos e de revezes, na qual há lances capazes de memoração, fatos de valor e de coragem, combates que se podem contar sem pejo, pois tais são as coisas nobilitantes que dão honra e glória a um povo, o que somente se deu a 2 de julho de 1823, quando, para escapar a uma capitulação iminente, o exército e a frota de Portugal evacuaram a Bahia (por Braz do Amaral. In: Ação da Bahia na obra da independência nacional).


Imagens: Maria Quitéria (1920), por Domenico Failutti; Gal Meirelles, Caboclo de Itaparica

Caboclos: os símbolos da independência

Os festejos do Dois de Julho têm como principais símbolos o Caboclo e a Cabocla. Conforme nos diz a historiadora Wlamyra Albuquerque em seu trabalho “Algazarra nas ruas”, trata-se de “esculturas de indígenas que, até hoje, saem às ruas para fazer parte do cortejo cívico celebrativo da Independência da Bahia”. O Caboclo foi popularmente eleito como símbolo de um povo mestiço que lutou por sua independência. O negro não podia ser o representante do povo brasileiro, porque, além de escravo, à época, negros e mulatos eram vistos como gente inferior. Tampouco podia ser o branco, já que brancos eram os portugueses, os inimigos de então. Sendo assim, restou o caboclo, mestiço de branco com índio, o legítimo habitante da terra, pois já se encontrava aqui muito antes do colonizador chegar. Mais tarde, surgiu a Cabocla, símbolo da docilidade atribuída à mulher-mãe brasileira, como um contraponto à figura do Caboclo guerreiro e vencedor. De acordo com Wlamyra Albuquerque (op.cit.) “a figura do Caboclo passou a fazer parte destas comemorações em 1826: depois da vitória sobre os portugueses na batalha de Pirajá, os baianos lhes tomaram uma carreta – transformando-a em troféu – a qual enfeitaram com folhas de café, cana, fumo, simbolizando os frutos da terra. Sobre ela colocaram um descendente indígena. Posteriormente este foi substituído pela escultura de um índio, simbolizando a raça brasileira. Um novo carro foi encomendado em 1840 para transportar a figura da Cabocla, uma representação de Catarina Paraguassu, a índia que teria se casado com o lendário Caramuru selando, assim, a aliança entre portugueses e nativos” (por Silvio Benevides).

Imagem: Silvio Benevides

Espanha: Campeã outra vez!

A despeito da crise econômico-financeira que a Europa está enfrentando, em especial a Grécia e a Península Ibérica, os espanhóis têm o que comemorar. Ontem, 01 de julho, a Espanha consagrou-se, outra vez, campeã da Eurocopa, vencendo a Itália por 4 a 0.  Com gols David Silva, Jordi Alba, Fernando Torres e Juan Mata, os espanhóis – criticados por alguns idiotas pelo seu jogo de passes rápidos – asseguraram o título. Liderada pelo técnico Vicente Del Bosque, a esquadra espanhola é a primeira seleção a conquistar em três grandes torneios consecutivos: a Eurocopa 2008, a Copa do Mundo de 2010 e, agora, a Eurocopa 2012. Grande feito para o futebol de um país que, não faz muito tempo, era considerado inexpressivo, exceto pelos times do Barcelona e do Real Madrid.

Na final de ontem os espanhóis atacaram desde o início da partida. Aos 14 minutos do primeiro tempo saiu o primeiro gol. Andres Iniesta driblou a defesa italiana com um passe preciso para Cesc Fábregas, que, por sua vez, tocou para Giorgio Chiellini, que da linha de fundo cruzou para Silva marcar de cabeça. Um gol fantástico resultante de um belo trabalho em equipe. Os italianos contra-atacaram com Antonio Cassano, fazendo a estrela do goleiro espanhol Iker Casillas reluzir por duas vezes. Mas a Espanha ampliou o placar quatro minutos depois quando Xavi deixou Alba cara a cara com o goleiro italiano Gianluigi Buffon para marcar o segundo gol. Aos 39 minutos do segundo tempo, Torres marcou o terceiro gol. Faltando dois minutos para o árbitro português finalizar a partida, Mata matou a partida com o quarto e último gol. Simplesmente sensacional. Parabéns Espanha! Espero que em 2013, na Copa das Confederações, e/ou na Copa do Mundo de 2014 a Espanha jogue em Salvador, já que na capital baiana está uma das maiores, senão a maior, colônia espanhola do Brasil (por Silvio Benevides).

Imagem: AFP

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Até quando a homofobia continuará matando no Brasil?

Para quem ainda duvida que é preciso enquadrar a homofobia como crime no Brasil e para quem acha que a aprovação do PLC 122/2006, que visa criminalizar a homofobia no país, é fruto de oportunismo ou uma mera besteira, sugiro que leia a notícia que foi divulgada pela imprensa sobre os irmãos gêmeos univitelinos que foram espancados (um deles não resistiu aos graves ferimentos) por suspeitosos homofóbicos na cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, após saírem abraçados de uma festa junina e, por isso mesmo, foram confundidos com um casal homossexual por suspeitosos agressores (vide notícia abaixo). Trata-se de mais um caso de homofobia, semelhante àquele que pai e filho foram espancados porque trocavam carinhos após saírem de uma festa de boiadeiro e, também por isso, foram confundidos com um casal de homossexuais. Os questionamentos que ficam são os seguintes: até quando o Congresso Nacional compactuará (por omissão) com crimes de ódio motivados pela homofobia? Até quando assassinos continuarão livres para matar impunemente? Até quando imbecis permanecerão tendo direito de propagar o seu ódio contra homossexuais, travestis e transgêneros e utilizando em vão o santo nome do Senhor para justificarem-se? Até quando a sociedade brasileira continuará mergulhada nas trevas da intolerância? A homofobia não é apenas crime, é, também, uma grave doença que põe em risco toda a sociedade! E doenças dessa natureza devem ser tratadas com educação e leis rigorosas. Conforme escreveu o advogado e professor Enézio de Deus, “o Brasil precisa pagar a sua dívida histórica para com as chamadas ‘minorias sexuais’, em face do sentimento odioso que ainda movimenta tantas mentes preconceituosas: a homo(trans)fobia. Foi tal sentimento, desdobrado em ações brutais, que levou a óbito, esta semana, um dos irmãos gêmeos, no município de Camaçari-BA, pelo fato de os mesmos, ao externarem afeto um pelo outro (abraçarem-se em público), terem sido confundidos como um casal homossexual. Esta é a prova contundente de que, infelizmente, no ‘país do carnaval, das outras tantas festas e da liberação’, as discriminações com base na orientação homoafetiva ou na transgeneridade das pessoas atingem índices alarmantes, a clamarem intervenções sérias e mais educação pelo respeito efetivo à diversidade”. Pois é, está mais do que na hora do Brasil dar um basta a esta situação criminalizando a homofobia, assim como todo e qualquer discurso que incite o ódio contra a população LGBTT (por Silvio Benevides).

Irmãos são agredidos ao andarem abraçados em Camaçari; um morreu – Dois irmãos gêmeos foram agredidos ao andarem abraçados próximo a um evento junino em Camaçari, município na região metropolitana de Salvador, segundo informações da 18ª delegacia da cidade. Um dos rapazes, de apenas 22 anos, não resistiu aos ferimentos e acabou morrendo. O crime ocorreu na madrugada de domingo (24/06).

A delegada responsável pela unidade policial, Maria Tereza Santos Silva, trabalha com a suspeita de homofobia. Ela conta que oito pessoas participaram das agressões aos rapazes, que foram socorridos pelo Samu para o Hospital Geral de Camaçari (HGC). “Assim que soubemos do ocorrido iniciamos as investigações. Cinco jovens estão custodiados aqui na delegacia, todos já foram ouvidos, mas eles não apresentam justificativa para as agressões, além de não possuírem passagem anterior pela polícia. Trabalho com a suspeita de homofobia”, indica a delegada.

O sobrevivente da agressão sofreu fraturas no rosto e já teve alta médica. De acordo com informações de familiares, ele seguiu para Pernambuco na tarde de segunda-feira (25/06), onde foi realizado o enterro do irmão morto. A família ainda não retornou para Camaçari.

Meu irmão era tudo pra mim” – Emocionado e ainda se recuperando dos ferimentos sofridos, o jovem José Leandro da Silva, de 22 anos, descreve nesta quarta-feira (27/06) o momento em que soube da morte do irmão gêmeo, três dias após uma série de agressões que os dois passaram em Camaçari, município na região metropolitana de Salvador. “Senti meu coração parar, senti que tinha perdido algo. Minha irmã disse que eu tinha que ser forte. Eu pensava que meu irmão estava vivo, foi uma dor muito grande, meu irmão era tudo para mim, companheiro, amigo... Nossa ligação era muito forte”, diz.

Os gêmeos foram agredidos ao andarem abraçados próximos a um evento junino na madrugada de domingo (24/06). A delegada Maria Tereza Santos Silva, que está à frente das investigações, diz que trabalha com a suspeita de homofobia. Leandro também acha que não há outra justificativa para as agressões, mas não compreende porque foram confundidos com um casal homossexual. “Acho que foi homofobia, achavam que a gente era gay, mas não entendo, éramos gêmeos idênticos, era evidente que éramos irmãos. Eu apenas coloquei a mão em cima do ombro dele! Sempre fomos do bem, honestos, nunca nos envolvemos com nada errado, drogas... Até mesmo na festa, não teve nenhuma confusão, não mexemos com a mulher de ninguém”, observa Leandro. Leonardo era casado e deixa a esposa grávida de quatro meses. Já Leandro está solteiro e tem uma filha de quatro meses.

Além de perder o irmão, Leandro teve o maxilar quebrado em três lugares, quase teve o olho esquerdo perfurado e ainda terá que ser submetido a uma cirurgia. “Meu rosto está bem ferido, roxo. Sinto muita dor na cabeça e nas costas. Não consigo entender, estávamos saindo da festa, indo para casa, quando fomos surpreendidos. A gente nem viu de onde eles vieram, já chegaram batendo, chamando a gente de mulherzinha. Tentamos correr, mas eles tinham punhal, faca, pedra...”, lembra Leandro. Segundo a delegada da 18ª Delegacia de Camaçari, oito homens participaram das agressões e cinco deles estão detidos na unidade policial (Fonte: G1 Bahia).

Imagem: Deco Cury e Rick Day

Tristes tempos: na Bahia aulão é sinônimo de educação

Muito se fala sobre educação e sua capacidade de emancipar indivíduos, de modificar trajetórias, de superar preconceitos e tabus, de transformar povos e nações. De fato, a educação tem essa força, mas somente se for tratada com a devida seriedade e isso inclui não percebê-la, tão somente, como um meio para se ganhar dinheiro fácil. Infelizmente, hoje, o que se vê na Bahia é exatamente o estupro da educação pública estadual. De um lado, um governo cínico que no discurso coloca a educação como prioridade, mas, na prática, se recusa a dialogar com os profissionais da área; de outro, profissionais que, aparentemente, são da área e, sem nenhum escrúpulo, se aproveitam da situação para faturar uma grana alta, grana esta oriunda dos cofres públicos. O que dizer, então? Triste Bahia, ó quão dessemelhante? Não. Afinal, nestas paragens a educação nunca foi prioridade e não é de hoje que ela virou alvo de profissionais inescrupulosos e sem nenhuma noção de ética, preocupados, apenas, em obter lucros exorbitantes, sejam estes oriundos do bolso dos estudantes ou dos cofres públicos. não consigo vislumbrar um futuro promissor para um estado e um país que não entende que educação é coisa séria, muito séria (por Silvio Benevides).


Confira este LINK.

Imagem: Sidney Falcão

segunda-feira, 25 de junho de 2012

25 de junho: a independência do Brasil em Cachoeira, Bahia

A Independência do Brasil ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, segundo afirmam os historiadores mal informados e formados que continuam a acreditar e a alardear que a história desse país se resume tão somente aos fatos passados no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Sem querer desmerecer o brado retumbante do Imperador D. Pedro I, não se proclama uma independência na base do grito. Mesmo no caso brasileiro, cujo processo independência foi protagonizado pelo filho do rei de Portugal, houve derramamento de sangue. E isso ocorreu não apenas nas campinas de Pirajá, mas, também, nas terras do Recôncavo Baiano, mais precisamente na Cidade Heróica de Cachoeira. Conforme escreveu o professor cachoeirano Jadson Luiz dos Santos (Cachoeira: três séculos de história e tradição. Salvador: Contraste Editora Gráfica, 2001), a história de Cachoeira está diretamente ligada ao episódio da independência do Brasil, pois dela partiu o primeiro grito por liberdade. Segundo ele, “o descontentamento causado na população baiana face a posse do Brigadeiro Ignácio Luiz Madeira de Melo como Governador das Armas da Bahia foi, sem dúvida, uma das razões que apressou o movimento contra o domínio português”.

De acordo com o historiador canadense Hendrik Kraay: “A sangrenta Guerra da Independência na Bahia iniciou-se em fevereiro de 1822, quando Portugal nomeou o brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo (1775-1835) para o comando das tropas baianas no lugar de um oficial baiano. A substituição desencadeou a revolta da população, da Câmara e de muitos dos militares baianos, que foram derrotados durante três dias de lutas (de 19 a 21 de fevereiro) e obrigados a fugir. Aos poucos, a partir da articulação dos grandes senhores de engenho do Recôncavo, constituiu-se o Exército Pacificador, composto de soldados e milicianos que haviam deixado Salvador após a derrota, milicianos locais e batalhões provisórios organizados por baianos patriotas, que lutavam contra os portugueses, a favor da Independência” (In: Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 48, setembro de 2009).

Nesse período a soldadesca portuguesa, além de atacar residências particulares, invadiram o Convento da Lapa, em Salvador, matando a abadessa Joana Angélica de Jesus, que, temendo a profanação da castidade das demais freiras, colocou-se diante da porta de entrada do convento como último empecilho aos invasores. Segundo consta, a abadessa teria dito: “Para trás, bandidos. Respeitem a Casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa passando por sobre o meu cadáver”. E assim foi feito. A destemida freira foi assassinada com golpes de baioneta. Já o capelão, Padre Daniel da Silva Lisboa, foi gravemente ferido.

Diz o professor Jadson Luiz (op.cit.): “sendo as garantias e a tranqüilidade perdidas, parte da população deixa a cidade de Salvador e segue para as vilas do Recôncavo, principalmente as vilas de Santo Amaro e de Cachoeira, sendo seguida por alguns oficiais e soldados brasileiros. Ao tomar conhecimento de que em Cachoeira havia um movimento revolucionário, mandou uma canhoneira de guerra subir o Rio Paraguaçu e ancorar em frente a vila a fim de vigiá-la”. Reunidos em Cachoeira, segue o professor, “conseguiram os patriotas cachoeiranos sensibilizar a simpatia de homens de armas que arregimentaram algumas forças, tendo à frente o comandante de Cavalaria José Garcia Pacheco de Moura Pimentel e Aragão, a mais alta patente”.

Devido às circunstâncias de acentuada hostilidade e constantes escaramuças, o Sr. Francisco Gê de Acaíba Montezuma, por meio de uma carta de sua autoria lida na casa do major José Joaquim d’Almeida e Arnizán, conclamou a Câmara a proclamar com urgência o príncipe D. Pedro como Regente do Brasil antes que os portugueses fizessem, o que acabou antecipando o movimento. Assim, segundo o professor Jadson Luiz (op.cit.), as tropas que se encontravam em Belém e no Iguape seguiram para Cachoeira e, deste modo, “ao amanhecer do dia 25 de junho de 1822, as tropas chegadas de Belém ficaram concentradas na Praça da Regeneração. Nessa ocasião, Antônio Pereira Rebouças falou ao povo, convidando a todos a assistir à sessão da Câmara, que aclamaria Dom Pedro. Ao mesmo tempo que chegava o Cel. Rodrigo Antônio Falcão Brandão, mais tarde Barão de Belém, comandando uma centena de bravos do Iguape e de outras localidades, dirigindo-se, também, para a Praça da Regeneração (atual Praça da Aclamação) vindos pelas ruas dos currais velhos...As tropas e o povo ocuparam a praça, a Rua da Matriz e adjacências”.

A reação das forças enviadas a Cachoeira por Madeira de Melo para vigiar a vila foi imediata. O Navio de Guerra Português atracado no Paraguaçu atacou a vila. De acordo com o professor Jadson Luiz (op.cit.) “os primeiros tiros da Canhoneira Portuguesa atingiram o sobrado de número 2 da Rua da Matriz e o Cais dos Arcos, saindo feridos três soldados, morrendo naquela ocasião o Tambor Soledade, perpetuado na tela de Antônio Parreiras...Os cachoeiranos contra atacaram e a luta começou”...e...“continuaram até a tarde do dia 28 de junho de 1822, quando o comandante português mandou um ofício às autoridades cachoeiranas no qual ameaçava arrasar a vila se continuasse a resistência. Reorganizada a defesa, o fogo intensificou-se e, à meia-noite desse mesmo dia, a conhoneira hasteava a bandeira branca...A vitória foi assinalada e festejada na mesma noite com todos as casas iluminadas e as ruas invadidas pelo povo dominado pelo entusiasmo. Após o 25 de junho de 1822 outras vilas do Recôncavo aderiram ao movimento, aclamando o Príncipe Regente”. Nesta data as lutas pela independência do Brasil tiveram início cujo ápice é o 2 de julho de 1823, quando ocorreu a Batalha do Pirajá em Salvador, e não o 7 de setembro, um mero gesto simbólico que representa, na melhor das hipóteses, tão somente a adesão de Dom Pedro ao movimento que exigia a independência administrativa, política e econômica do Brasil (por Silvio Benevides).

Imagem: O Primeiro passo para a Independência (1931), tela de Antônio Parreiras.

Onde está Wally?

Hoje, data em que a cidade de Cachoeira comemora o início das lutas pela independência do Brasil na Bahia, ocorreu algo inusitado. Todos se perguntavam: onde está Wally? Os festejos tiveram início com uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. No interior do templo, as autoridades e os outrora “homens bons”. Na porta, o povo. Entre o povo, professores da rede pública estadual em greve desde o dia 11 de abril de 2012, a gritar palavras de ordem. E onde estava Wally? Havia no ar uma expectativa para se saber onde se encontrava Wally. De repente um som de helicóptero. Seria Wally a chegar? Talvez, afinal era um helicóptero oficial. A aeronave pousou no estádio municipal. A comitiva despontou na rua. E Wally? Wally não veio. Quem veio foi o vice dele. Por quê? Seria excesso de compromisso? Como, se a transferência do governo para o município de Cachoeira, nesta data, foi definida em lei aprovada pela Assembléia Legislativa da Bahia e sancionada pelo próprio Wally em 2008, para homenagear os heróis cachoeiranos que, no dia 25 de junho de 1822 deram início às lutas contra os portugueses pela Independência do Brasil, culminando no 2 de Julho, em 1823? Seria medo de enfrentar os professores em greve, greve esta que não tem como ser justificada, afinal, já dura mais de 70 dias? Ninguém entendeu o motivo de tal ausência e como se isso não bastasse, os professores grevistas em protesto foram encurralados num pequeno espaço que lembrou a muitos presentes um curral. Isso mesmo, os professores foram encurralados e Wally nem aí pra isso (por Silvio Benevides).

Imagem: Silvio Benevides

quarta-feira, 23 de maio de 2012

CARTA ABERTA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA DA UFRB E À SOCIEDADE

Dirigimo-nos a população do Recôncavo, aos servidores técnico-administrativos e aos estudantes da UFRB, no intuito de esclarecer os motivos e a importância da Greve dos/as docentes da UFRB que se iniciou no dia 21 de maio de 2012.

Desde 2010, os/as docentes das Instituições Federais de Ensino (IFES) vêm negociando com o Governo Federal em torno da reestruturação da carreira e das distorções salariais da categoria, é importante lembrar que nosso último reajuste salarial foi acordado em 2007. Neste período fomos submetidos à inflação, e o país passou por um grande crescimento econômico, tornando-se a sexta economia mundial, contraditoriamente não obtivemos nenhuma conquista para a categoria. Em 2011, fizemos um acordo com o governo que devia ser cumprido em março de 2012, o qual não foi cumprido, negociamos uma nova data limite, 30 de maio de 2012. Até agora as negociações estão longe de serem encerradas, já que a morosidade do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) vem protelando as resoluções das pautas.

A sanção da Medida Provisória 568/2012, pela Presidenta Dilma Rousseff, no último dia 14 de maio, que concede um aumento de 4% e a incorporação da Gratificação de Estímulo ao Magistério Superior (GEMAS) ao vencimento básico, cumpre apenas parte do acordo fechado em 2011 com a categoria docente. Entendemos que essa medida só foi tomada porque nas últimas semanas os/as docentes das IFES pressionaram o governo intensificando as mobilizações e construindo indicativos de Greve. Vale ressaltar que o cumprimento do acordo de 2011 era uma pré-condição para as negociações de 2012.

Por conta deste contexto, do qual avaliamos que até o dia 30 de maio as negociações não serão concluídas, já que teremos apenas mais uma reunião com o MPOG, e por reconhecer a importância da urgência do atendimento de nossas pautas, os/as docentes da UFRB, em assembleia geral convocada pela Associação de Professores Universitários do Recôncavo (APUR), no dia 17 de maio deflagraram greve por tempo indeterminado a partir de 21 de maio de 2012, fortalecendo a greve nacional que conta com a participação (até agora) de 42 das 59 Universidades Federais brasileiras, tendo como pauta central as seguintes reivindicações: 1) Reestruturar a carreira docente de acordo com as indicações dos docentes; 2) Equiparação salarial com a carreira do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; 3) Criação de um índice de reajuste anual; 4) Abertura de novos concursos.

Além desses pontos, fazem parte da pauta unificada dos Servidores Públicos Federais que já se encontram mobilizados e com indicativo de greve geral para o dia 15 de junho: a) Reajuste emergencial de 22,08%; b) Retirada das alterações nos auxílios de insalubridade e periculosidade como previstas na MP 568/2012; c) Definição de data-base para 1º de maio; d) Política salarial permanente com reposição inflacionária; e) Paridade e integralidade entre ativos, aposentados e pensionistas; f) defesa de 10% do PIB para a educação.

Desta forma, pedimos a compreensão e apoio de todos/as, do mesmo modo que convidamos todos/as para participarem das diversas atividades de greve que acontecerão na região, sugerimos também o acompanhamento das informações relacionadas ao movimento grevista dos professores das instituições federais com o objetivo de fortalecer esse movimento e sensibilizar, o mais rápido possível, o governo federal para atendimento às reivindicações dos docentes das Universidades Federais, inclusive UFRB, exigindo outra política, outras prioridades, que visem à valorização dos servidores e dos serviços públicos. Reforçamos que uma Educação de Qualidade passa pela valorização dos profissionais da Educação! (Fonte: APUR – Associação dos Professores Universitários do Recôncavo)

Imagem: APUR

segunda-feira, 7 de maio de 2012

UFRB promove I Simpósio em Ciência Política: “A Câmara Municipal e o papel dos vereadores”

O exercício da política legislativa atinge amplos setores da vida social, desde as atividades mais simples e corriqueiras, como caminhar pelas ruas de uma cidade, por exemplo, até decisões mais complexas, como legalizar ou não a pena de morte. A atividade política, em geral, e a legislativa, em particular, é essencial, porque ela contribui na organização e orientação da vida em sociedade. É por meio da política profissional que os direitos por nós reivindicados e pelos quais lutamos são transformados em leis. Esta é uma das principais funções dos membros do Poder Legislativo, isto é, dos senadores e deputados federais, no âmbito nacional; dos deputados estaduais, no âmbito dos Estados; e dos vereadores na esfera municipal. Nesse ano de eleições municipais, o I Simpósio em Ciência Política, intitulado “A Câmara Municipal e o papel dos vereadores”, discutirá com a comunidade a importância do poder legislativo municipal na vida das cidades e no cotidiano dos seus cidadãos. O Simpósio acontecerá nos dias 31/05/2012 e 01/06/2012 no auditório do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em Cachoeira.

A mesa de abertura (31/05 – 19h) terá como tema central O poder legislativo e o papel do vereador e contará com as presenças dos presidentes das Câmaras Municipais de Cachoeira, São Félix e Muritiba. As mesas do dia 01/06 terão como temas A ética no poder legislativo (08h), Campanha Eleitoral: legislação e marketing (10h), Atuação Parlamentar (14h) e A expectativa da sociedade civil (16h).

O Simpósio “A Câmara Municipal e o papel dos vereadores” é uma atividade idealizada e promovida pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Política e Sociedade (GEPPS), do curso de Ciências Sociais da UFRB. Além de desenvolver estudos nas suas linhas de pesquisa, o GEPPS é um espaço de discussão acadêmica extraclasse onde os estudantes podem exercitar e desenvolver sua capacidade de argumentar, criticar e elaborar seus próprios projetos de pesquisa. Com esse evento, além de fomentar o debate em torno das eleições municipais de 03 de outubro, o GEPPS pretende, também, interagir com as comunidades locais, pois compreende que o conhecimento e as atividades acadêmicas não devem se restringir aos muros das universidades.

Informações Gerais:

Simpósio: A Câmara Municipal e o papel dos vereadores
Data: 31 de maio e 01 de junho de 2012
Horário: 19h (31/05) e 08h – 19h (01/06)
Local: Auditório CAHL (Centro de Artes, Humanidades e Letras – Campus Cachoeira)
Maiores Informações: (75) 9146-4494 ou geppsufrb@ymail.com
Inscrições pelo site www.ufrb.edu.br/gepps
Entrada gratuita.

Imagem: GEPPS

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Por que o Cachoeira gargalhou?

Foi divulgado no último sábado, 28/04, pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, que “o empresário do jogo Carlinhos Cachoeira afirmou não apenas à mulher, Andressa Mendonça, mas, também, a advogados e a amigos que o visitam que ‘está louco’ para falar”. De acordo com a jornalista, “um de seus interlocutores diz ter entendido que Cachoeira quer, antes de mais nada, passar ‘recados’ a seus críticos. Mas sem, a princípio, revelações bombásticas e comprometedoras”. E continua: “o mesmo interlocutor afirma que Cachoeira caiu na gargalhada (sic) ao ver a lista de parlamentares que fazem parte da CPI que o investigará. Afirmou estar curioso para saber as perguntas que farão alguns integrantes, que conhece, no dia em que ele for depor na comissão”. A gargalhada do Cachoeira é, no mínimo, algo intrigante. Qual a razão da sua suposta gargalhada? Por que ele estaria curioso para saber as perguntas que farão alguns parlamentares integrantes da CPI, supostamente conhecidos seus, no dia em que ele for intimado a depor? Nós, cidadãos brasileiros, estaremos fadados a ver pela televisão mais uma ópera bufa de picadeiro? Estarão a preparar mais uma enorme e indigesta pizza para nos empurrar goela abaixo? Todas essas são questões intrigantes que, nos próximos dias, terão respostas. Se essas respostas serão as que a sociedade brasileira precisa e quer ouvir isso é outra história tão intrigante quanto a suposta gargalhada do Carlinhos Cachoeira (por Silvio Benevides).

Para quem ainda não sabe os integrantes da CPI do Cachoeira são os deputados Cândido Vacarezza (PT-SP), Odair Cunha (PT-MG) – indicado para relatoria da CPI – Paulo Teixeira (PTSP) e seus suplentes Luiz Sérgio (PT-RJ), Sibá Machado (PT-AC) e Dr.Rosinha (PT-PR). Também integram a lista os deputados Luiz Pitman (PMDB-DF), Iris de Araújo (PMDB-GO) e seus suplentes Edio Lopes (PMDB-PR) e João Magalhães (PMDB-MG). Há, ainda, os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), Fernando Francischini (PSDB-PR), Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Rubens Bueno (PPS-PR) e os suplentes Domingos Sávio (PSDB-MG), Rogério Marinho (PSDB-RN), Mendonça Prado (DEM-SE), Sarney Filho (PV-MA); Maurício Lessa (PR-AL) e o suplente Ronaldo Fonseca (PR-DF); Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) e o suplente Osmar Júnior (PCdoB-PI); Miro Teixeira (PDT-RJ) e o suplente Vieira da Cunha (PDT-RS); Silvio Costa (PTB-PE) e o suplente Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP); Paulo Foleto (PSB-ES) e o suplente Glauber Braga (PSB-RJ); Filipe Pereira (PSC-RJ), Gladson Cameli (PP-AM) e os suplentes Hugo Leal (PSC-RJ) e Iracema Portella (PP-PI).

No Senado a lista dos integrantes da CPI do Cachoeira tem a seguinte composição: Vital do Rego (PMDB-PB) – indicado para presidente da CPI – Sérgio Souza (PMDB-PR), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Ciro Nogueira (PP-PI), Paulo Davim (PV-RN) e os suplentes Benedito de Lira (PP-AL). Integram, também, a lista os senadores José Pimentel (PT-CE), Humberto Costa (PT-PE), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Pedro Taques (PDT-MT), Lídice da Mata (PSB-BA) e os suplentes Welington Dias (PT-PI), Walter Pinheiro (PT-BA), Delcídio Amaral (PT-MS), Jorge Viana (PT-AC) e Acir Gurgacz (PDT-RO); Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Álvaro Dias (PSDB-PR), Jayme Campos (DEM-MT) e os suplentes Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP); Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Vicentinho Alves (PR-TO); Kátia Abreu (PSD-TO) e o suplente Sérgio Petecão (PMN-AC). Ainda faltam definir o nome de, no mínimo quatro suplentes. Para quem não gosta de pizza é bom guardar bem estes nomes, só para o caso de precisarmos dar o troco na hora de votar.

Imagem: Amarildo.

domingo, 29 de abril de 2012

POEMA FALADO: Natureza íntima

Nesse mês de abril o Salvador na sola do pé homenageia o poeta AUGUSTO DOS ANJOS, cuja obra é uma das minhas preferidas. O poema desse mês é o NATUREZA ÍNTIMA, essa indelével e indecifrável criatura que habita dentro e fora de todas as criaturas que este mundo habitam. Diz o Poeta por meio da bela voz do ator Othon Bastos: “Cansada de observar-se na corrente / Que os acontecimentos refletia, / Reconcentrando-se em si mesma, um dia, / A Natureza olhou-se interiormente! / Baldada introspecção! Noumenalmente / O que Ela, em realidade, ainda sentia / Era a mesma imortal monotonia / De sua face externa indiferente! / E a Natureza disse com desgosto: / ‘Terei somente, porventura, rosto?! / Serei apenas mera crusta espessa?! / Pois é possível que Eu, causa do Mundo, / Quando mais em mim mesma me aprofundo Menos interiormente me conheça?!’”. Boa áudio-leitura! (por Silvio Benevides)





Imagem: Trilha Loquinhas em Alto Paraíso (GO), por Silvio Benevides.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sarkozy em direção à porta de saída

Cinco anos depois da sua brilhante vitória no segundo turno da eleição presidencial francesa (53% contra 47% da sua oponente socialista Ségolène Royal), Nicolas Sarkozy deve, sem surpresa, deixar o poder no dia 6 de maio. Uma saída vergonhosa para este político esperto que queria mudar completamente a França. Num sentido, conseguiu o objetivo: mudou coisas sim, mas muitas vezes foi para pior.

Todos os analistas sérios dizem: o balanço de Sarkozy é catastrófico. Em 2007, foi eleito para reduzir o desemprego, diminuir a dívida pública e eliminar a insegurança. Cinco anos mais tarde, o número de desempregados aumentou em um milhão (a taxa nunca foi tão alta nestes últimos 15 anos: um a cada seis franceses está inscrito no Pôle Emploi, a rede das pessoas em busca de emprego), a dívida é 500 bilhões de euros mais alta e a violência continuou a subir.

Para justificar estes fracassos, o presidente conservador explica que a França foi vítima da "pior crise econômica desde 1929". Ele provavelmente tem razão. Mas, apesar deste contexto macambúzio, os vizinhos belgas e alemães possuem a taxa de desemprego mais baixa dos últimos 20 anos. Os franceses não entendem estas diferenças enormes e são 70% (um recorde) a pensar que o balanço de Sarkozy é "negativo" ou "muito negativo".

Porém, se é tão odiado hoje (64% dos franceses dizem "não gostar dele", mais um triste recorde para um presidente em exercício), é também por causa do estilo dele. Aqui, Sarkozy é chamado de "bling-bling", uma expressão familiar para criticar seu comportamento ostensivamente endinheirado. Para comemorar a vitória em 2007, ele convidou uns 40 amigos – quase todos milionários – para um jantar no Fouquet's, um restaurante chique de Paris, enquanto milhares de pessoas o aguardavam no lado de fora. Isso foi considerado pelos apoiadores como uma privatização da vitória. No dia seguinte, ele pegou emprestado o iate de um amigo para passar três dias de folga no Mar Mediterrâneo, embora prometesse que passaria três dias num… covento para meditar.
Aliás, duas das suas primeiras reformas foi diminuir os impostos dos mais afortunados e aumentar seu próprio salário em 172%. Numa só palavra, Sarkozy foi claramente "o presidente dos ricos", expressão muito utilizada nas mídias para qualificá-lo. A grande maioria dos franceses pobres ou da classe média querem agora que ele pague a adição.

Sarkozy foi também um presidente que dividiu o povo. Normalmente, a tarefa de um chefe de Estado é reunir todos os cidadãos, apesar das diferenças. Ele fez o contrário: muitas vezes, apontou categorias da população para criticá-las. Assim, ele ou seus ministros disseram mais ou menos expressivamente que os desempregados eram responsáveis pelo caso deles, que as pessoas doentes eram mandrionas, que os muçulmanos eram os únicos a criar problemas, que os imigrantes e os franceses de origem árabe eram numerosos demais, que os professores e os juízes trabalhavam mal, que os sindicatos não eram necessários… Críticas desajeitadas, ainda mais que apontavam cidadãos necessitados ou já marginalizados.

Não ajudam também as amizades dele com ditadores africanos ou do Oriente Médio (Kadhafi foi recebido duas vezes no Palácio do Elysée antes de ser enfrentado na guerra da Líbia, Ben Ali na Tunisia, Moubarak no Egito, Bongo no Gabão, Sassous-Nguesso no Congo, Abdallah na Arábia Saudita, Nazarbaiev no Cazaquistão, Al-Assad na Síria…) e os casos judiciais em que seu nome aparece (com destaque para o financiamento ilegal da sua campanha em 2007).

Mas o principal problema de Sarkozy na campanha se chama François Hollande, o candidato do Partido Socialista e antigo companheiro de Ségolène Royal. O deputado da Corrèze tem um programa clássico de esquerda muito apreciado: aumento dos impostos dos mais ricos, criação de um banco público de investimentos, geração de 60 mil empregos na educação, diminuição da energia nuclear e promoção das energias renováveis. Apresenta-se como uma "pessoa simples e um candidato normal" em oposição ao Sarkozy que queria tornar-se "superpresidente" e gerir tudo ao mesmo tempo. Hollande é também considerado o político com senso de humor mais desenvolvido no país. Em tempo de crise e austeridade, isso conta.

No primeiro turno, ocorrido no último domingo (22/04), ele e Sarkozy obtiveram mais ou menos o mesmo resultado, 28,56% e 27,07% respectivamente, mas no segundo a diferença é clara (entre 42 e 47% para Sarkozy, entre 53 e 58% para Hollande). Mesmo o antigo presidente Jacques Chirac, de direita, disse que ia votar no socialista. Um cúmulo! Sejamos diretos: em alguns dias, a França deve mudar de presidente. No fundo, Sarkozy sabe disso e afirmou numa entrevista que, caso perca, encerrará a carreira política. Para muitos aqui, sua carreira durou cinco anos a mais (por Samuel Duhamel diretamente de Lille, França).

Imagem: Eric Feferberg/France Presse