Cinco anos depois da sua brilhante vitória no segundo turno da eleição presidencial francesa (53% contra 47% da sua oponente socialista Ségolène Royal), Nicolas Sarkozy deve, sem surpresa, deixar o poder no dia 6 de maio. Uma saída vergonhosa para este político esperto que queria mudar completamente a França. Num sentido, conseguiu o objetivo: mudou coisas sim, mas muitas vezes foi para pior.
Todos os analistas sérios dizem: o balanço de Sarkozy é catastrófico. Em 2007, foi eleito para reduzir o desemprego, diminuir a dívida pública e eliminar a insegurança. Cinco anos mais tarde, o número de desempregados aumentou em um milhão (a taxa nunca foi tão alta nestes últimos 15 anos: um a cada seis franceses está inscrito no Pôle Emploi, a rede das pessoas em busca de emprego), a dívida é 500 bilhões de euros mais alta e a violência continuou a subir.
Para justificar estes fracassos, o presidente conservador explica que a França foi vítima da "pior crise econômica desde 1929". Ele provavelmente tem razão. Mas, apesar deste contexto macambúzio, os vizinhos belgas e alemães possuem a taxa de desemprego mais baixa dos últimos 20 anos. Os franceses não entendem estas diferenças enormes e são 70% (um recorde) a pensar que o balanço de Sarkozy é "negativo" ou "muito negativo".
Porém, se é tão odiado hoje (64% dos franceses dizem "não gostar dele", mais um triste recorde para um presidente em exercício), é também por causa do estilo dele. Aqui, Sarkozy é chamado de "bling-bling", uma expressão familiar para criticar seu comportamento ostensivamente endinheirado. Para comemorar a vitória em 2007, ele convidou uns 40 amigos – quase todos milionários – para um jantar no Fouquet's, um restaurante chique de Paris, enquanto milhares de pessoas o aguardavam no lado de fora. Isso foi considerado pelos apoiadores como uma privatização da vitória. No dia seguinte, ele pegou emprestado o iate de um amigo para passar três dias de folga no Mar Mediterrâneo, embora prometesse que passaria três dias num… covento para meditar.
Aliás, duas das suas primeiras reformas foi diminuir os impostos dos mais afortunados e aumentar seu próprio salário em 172%. Numa só palavra, Sarkozy foi claramente "o presidente dos ricos", expressão muito utilizada nas mídias para qualificá-lo. A grande maioria dos franceses pobres ou da classe média querem agora que ele pague a adição.
Sarkozy foi também um presidente que dividiu o povo. Normalmente, a tarefa de um chefe de Estado é reunir todos os cidadãos, apesar das diferenças. Ele fez o contrário: muitas vezes, apontou categorias da população para criticá-las. Assim, ele ou seus ministros disseram mais ou menos expressivamente que os desempregados eram responsáveis pelo caso deles, que as pessoas doentes eram mandrionas, que os muçulmanos eram os únicos a criar problemas, que os imigrantes e os franceses de origem árabe eram numerosos demais, que os professores e os juízes trabalhavam mal, que os sindicatos não eram necessários… Críticas desajeitadas, ainda mais que apontavam cidadãos necessitados ou já marginalizados.
Não ajudam também as amizades dele com ditadores africanos ou do Oriente Médio (Kadhafi foi recebido duas vezes no Palácio do Elysée antes de ser enfrentado na guerra da Líbia, Ben Ali na Tunisia, Moubarak no Egito, Bongo no Gabão, Sassous-Nguesso no Congo, Abdallah na Arábia Saudita, Nazarbaiev no Cazaquistão, Al-Assad na Síria…) e os casos judiciais em que seu nome aparece (com destaque para o financiamento ilegal da sua campanha em 2007).
Mas o principal problema de Sarkozy na campanha se chama François Hollande, o candidato do Partido Socialista e antigo companheiro de Ségolène Royal. O deputado da Corrèze tem um programa clássico de esquerda muito apreciado: aumento dos impostos dos mais ricos, criação de um banco público de investimentos, geração de 60 mil empregos na educação, diminuição da energia nuclear e promoção das energias renováveis. Apresenta-se como uma "pessoa simples e um candidato normal" em oposição ao Sarkozy que queria tornar-se "superpresidente" e gerir tudo ao mesmo tempo. Hollande é também considerado o político com senso de humor mais desenvolvido no país. Em tempo de crise e austeridade, isso conta.
No primeiro turno, ocorrido no último domingo (22/04), ele e Sarkozy obtiveram mais ou menos o mesmo resultado, 28,56% e 27,07% respectivamente, mas no segundo a diferença é clara (entre 42 e 47% para Sarkozy, entre 53 e 58% para Hollande). Mesmo o antigo presidente Jacques Chirac, de direita, disse que ia votar no socialista. Um cúmulo! Sejamos diretos: em alguns dias, a França deve mudar de presidente. No fundo, Sarkozy sabe disso e afirmou numa entrevista que, caso perca, encerrará a carreira política. Para muitos aqui, sua carreira durou cinco anos a mais (por Samuel Duhamel diretamente de Lille, França).
Imagem: Eric Feferberg/France Presse
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