segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Deu no Jornal Nacional

Já foi dito nesse espaço que “sobreviver é cuidar do porvir” e que “um espaço público não pode ser construído apenas para uma geração e planejado somente para os que estão vivos”, mas, também, para os que virão. Pensar apenas no presente além de egoísmo é uma imensa burrice. Cuidar do porvir significa planejar o futuro no presente para que as gerações vindouras não paguem pelos erros daquelas que as precederam. Nesse sentido a política tem um importante papel. Cabe à política definir os rumos do futuro no presente. Uma boa política é aquela que pensa não apenas no imediato, mas, também, e, sobretudo, no futuro da coletividade. O que vem ocorrendo em Salvador é uma aberração sob qualquer perspectiva ou ponto de vista, seja político, social, econômico ou mesmo religioso.

No último sábado o Jornal Nacional noticiou a degradação da Lagoa do Abaeté, famosa em todo o país graças ao Dorival Caymmi. O desmatamento e a especulação imobiliária estão acabando com um dos pontos mais conhecidos de Salvador. Quem perde? Os moradores do em torno da Lagoa e a cidade como um todo, pois perde mais uma área verde, assim como um cartão postal que poderia, se preservado, atrair muito mais visitantes que, certamente, ajudariam a incrementar o turismo da cidade, gerando emprego e renda para muitos. A burrice pode não matar, mas que faz um grande estrago na vida de todos, ela faz. Leiam abaixo a matéria do Jornal Nacional.

Dunas ameaçam casas e Lagoa do Abaeté em Salvador: o motivo é o crescimento desordenado e sem planejamento de ruas e condomínios que crescem e invadem as dunas.

A Lagoa do Abaeté, um cartão postal de Salvador, está secando. Culpa do desmatamento e da ocupação desordenada, que ameaçam também quem mora na região. A famosa lagoa já encolheu 30% e o nível da água está quatro metros mais baixo. “A cada cinco anos a Lagoa do Abaeté desce um metro. A tendência é que no futuro essa lagoa belíssima, grande, se transforme em um poço pequeno”, explicou o ambientalista Lutero Miranda.

Os motivos da seca estão na vizinhança e são os mesmos que põem em risco as casas de pelo menos 5 mil moradores. Em uma área de preservação ambiental, ruas e condomínios crescem sem planejamento e invadem as dunas. Começaram a construir uma área de lazer e um caminho de acesso à praia. Para isso, derrubaram a vegetação que fixa areia. Resultado: solta, como em um deserto, a duna começou a se movimentar e agora ameaça engolir uma parte do bairro.

Com o vento, uma chuva constante de areia vai parar dentro das casas. Em um condomínio, a montanha de areia já passou da altura do muro e pode soterrar as garagens. “Havia uma quadra e um parque infantil onde as crianças brincavam, agora já não se vê mais”, contou o taxista Gilberto Costa.

Os próprios moradores reconhecem que foram imprudentes. “Nós mesmos que causamos esse prejuízo e agora estamos pagando pelo erro”, disse o presidente da Associação de Moradores, Marcos Alves. O engenheiro Leandro Amaral, especialista em meio ambiente, diz que a solução é replantar as áreas desmatadas nas dunas, e esperar muitos anos para que elas se recuperem. “A gente não sabe o prazo, mas se você comete alguma agressão à natureza, ela vai lhe cobrar”, declarou (por José Raimundo e Geraldo Maldonado para o JN).
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Imagem: Lagoa do Abaeté por Kalila Pinto

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Une lettre pour Sophie

Cara Sophie. Li a carta que X lhe enviou, colocando um ponto final na história que vocês dois escreveram juntos. Vi também, no último sábado, no Museu de Arte Moderna de Salvador, a sua resposta. Não se pode negar que se trata de uma resposta bastante criativa. Os vídeos nos quais diversas profissionais de variadas áreas interpretam a carta do X são o que há de melhor, especialmente o vídeo com a Maria de Medeiros de quem sou ardoroso fã. Sem dúvida, sua criatividade merece ser aplaudida. Entretanto, além da sua louvável capacidade em produzir respostas inventivas, chamou-me a atenção, do mesmo modo, a maneira tendenciosa como tais respostas foram apresentadas, salvo raras exceções como é o caso do vídeo da dançarina indiana, o das bonecas infláveis, o da moça que lê lindamente a carta do X sentada em um banco numa rua onde ocorre uma passeata e, claro, o vídeo com a papagaia Brenda.

Ao final da minha leitura fiquei com a estranha sensação que X é um homem estúpido, insensível e cruel, pois pouco caso fez da sua dor. Injustiça com alguém que, suponho, você amou e que lhe amou. Sim, creio que X a amou deveras. Amou-a do jeito dele. Cada um de nós tem um jeito único de amar. O amor, embora caiba “em um breve espaço de beijar”, não cabe em fórmulas preconcebidas. Amor não é ciência ou receita de bolo. Amor é vida, “é fogo que arde sem se ver”. Exigir do outro aquilo que o outro não pode oferecer é opressão e a opressão é a morte do amor.

Quando você se encostou a X, você bem sabia que ele era “somente nuvem”. Digo isto porque ele lhe propôs ser a quarta e você recusou esse papel. Nuvens são sempre nuvens e se delas nos aproximamos, devemos nos preparar para o momento da queda. Penso que se X não a amasse ou não se importasse com você, ele simplesmente sumiria da sua vida sem se preocupar em lhe dar qualquer satisfação. No entanto, não foi assim que ele procedeu. Ao contrário, escreveu-lhe uma carta, expondo suas razões. Admito que o X está longe de ser um poeta (eu também não sou), mas se é poesia que procura, sugiro que se encoste ao Fernando Pessoa. São dele os seguintes versos: “Todas as cartas de amor são ridículas. / Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. / Também escrevi em meu tempo cartas de amor, / Como as outras, ridículas. / As cartas de amor, se há amor, / Têm de ser ridículas. / Mas, afinal, / Só as criaturas que nunca escreveram / Cartas de amor / É que são ridículas. / Quem me dera no tempo em que escrevia / Sem dar por isso / Cartas de amor ridículas. / A verdade é que hoje / As minhas memórias / Dessas cartas de amor / É que são ridículas. / (Todas as palavras esdrúxulas, / Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente ridículas)”. Prenez soin de vous, Sophie. Um abraço, Sílvio Benevides.
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p.s. eu também adoro parêntesis, embora o tenha utilizado apenas uma vez.
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Imagem: Sophie Calle

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sobre o Muro de Berlim e outros muros

Como se sabe, a história é constituída de processos contínuos, alguns longos outros nem tanto. Contudo, alguns acontecimentos conseguem se impor como verdadeiros marcos/símbolos de um processo histórico. Um desses marcos, que nesse ano completa duas décadas, é a queda do Muro de Berlim.

O Muro de Berlim, fruto da insensatez humana, é/foi o principal símbolo da chamada Guerra Fria, conflito não declarado entra as maiores potências pós-Segunda Guerra Mundial, União Soviética e Estados Unidos. Idealizado por Walter Ulbricht, o chefe de Estado da República Democrática Alemã (RDA), o muro foi erguido em 1961 e dividiu mais do que um país ou uma cidade. Ele dividiu histórias de vida, famílias, amigos, amores, sonhos e alegrias. Muitas foram as tentativas de fuga de alemães do lado oriental para o ocidental. A primeira vítima fatal foi o jovem Peter Fechter, em 17 de agosto de 1962. Alvejado por soldados da guarda de fronteiras da RDA, Fechter agonizou durante 50 minutos na chamada “terra de ninguém”, falecendo pouco depois de ser recolhido pela polícia alemã oriental.

As vítimas, porém, não se reduziram aos mortos. Uma berlinense que à época da construção do muro tinha 16 anos me revelou que da noite para o dia ela ficou sem amigos, colegas, escola e sem família. Ela morava com sua mãe e seu pai no lado ocidental da cidade. Seus amigos, colegas de escola e demais parentes, no lado oriental. O muro os impediu de se verem por 28 anos. Durante esse tempo, seu pai adoeceu gravemente e faleceu. Nenhum parente ou amigo recebeu autorização do regime comunista para cruzar as fronteiras, ou seja, o muro, a fim de acompanhar as cerimônias fúnebres. A Berlim desse período, segundo ela, era uma cidade lúgubre e deprimente.

Mas o tempo passou e os ventos da mudança começaram a soprar. A década de 1980 trouxe transformações significativas. Do ponto de vista político, representou a derrocada do socialismo como doutrina política e utopia humana, tanto para o chamado socialismo real da União Soviética e dos países comunistas da Europa Oriental, como para as esquerdas ocidentais, principalmente. A queda do Muro de Berlim em 1989 foi o ápice dessa virada política e de uma crise das grandes narrativas históricas, as quais privilegiavam tão somente um ator social como agente de transformação da ordem estabelecida, ou seja, a classe operária.

Esses acontecimentos possibilitaram a emergência de novas práticas sociais e um estilo de organização da ação coletiva distinto das práticas adotadas pelos movimentos sociais tradicionais. Na verdade, as organizações surgidas nesse contexto, ou herdeiras diretas dele, reivindicavam um distanciamento tanto em relação ao Estado autoritário, quanto em relação às práticas populistas e clientelistas (e pelegas) que, historicamente, caracterizam as relações políticas mais gerais, sobretudo em sociedades como a brasileira. Os novos movimentos buscavam, então, novos caminhos para a mobilização da sociedade civil e um outro padrão de relacionamento com as instituições públicas.

Mas caiu um muro e outros foram erguidos. A Berlim de hoje, embora efervescente e bela, ainda possui as marcas da separação. Refiro-me não àquelas que podem ser vistas no asfalto das ruas e avenidas para lembrar a todos que ali havia o muro que dividiu a cidade por mais de duas décadas. Essas marcas viraram história e atração turística. Outras marcas persistem. São os muros invisíveis que separam os outrora alemães ocidentais dos orientais e os alemães dos turcos. A Alemanha, assim como a Europa, foi invadida por uma onda de intolerância contra imigrantes. Tudo de ruim que lá acontece, culpam-se os imigrantes, sejam eles árabes, africanos ou latinos.

O tempo passa, mas os muros insistem e persistem. Berlim. Israel–Cisjordânia. Estados Unidos–México. Coréia do Norte–Coréia do Sul. Chipre grega–Chipre turca. Espanha–Marrocos. Arábia Saudita–Iêmen. Índia–Paquistão. Tailândia–Malásia. Botswana–Zimbabwe. Belfast. Bagdá. Hoek van Holland. Pádua. Alguns muros são famosos, outros nem tanto. Uns são grandes, outros pequenos. Construídos, na sua maioria, por tijolos, arame farpado, corrente elétrica, blocos de cimento e sensores infra-vermelhos, são, na verdade, ligados por um único cimento: o da desconfiança, do egoísmo, do medo, do ódio e da intolerância, que separa e segrega os homens pela cor da pele, pela religião, pela cultura, pela riqueza (ou falta dela), pelo grau de instrução, pela aparência, pelas potencialidades físico-motoras, pela orientação sexual, etc. Que muros nos dividem? Muros invisíveis tão duros quanto qualquer muro de pedra, argamassa e tijolo. Não adianta falar de democracia e direitos humanos se a cada dia muros invisíveis ou não são erguidos. Que as comemorações pela queda do Muro de Berlim nos façam lembrar sobre a importância em derrubarmos todo e qualquer muro seja em Berlim ou Salvador (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Gregor Ter Heide (Elkawe). Berliner Mauer Anfang am 1990.

Os ventos de 1989: impotência e revolta na América Latina

A nova Era que surgiu ao redor do mundo em 1989 coincidiu com mudanças significativas na América Latina. O denominador comum desse processo foi o fim das ditaduras e a crise do neoliberalismo.

A América Latina em 1989 parecia ter sido assolada por grandes eventos. No Paraguai, o ditador Alfredo Stroessner foi deposto por um golpe. Na Venezuela, a população se rebelou contra o recém-eleito presidente Carlos Andrés Pérez, defensor da política econômica neoliberal, e a repressão às escaramuças custou centenas de vidas. Na Argentina, estourou uma devastadora hiperinflação e o presidente Alfonsín foi obrigado a renunciar, para ser substituído por Carlos Menem. Em meio à desastrosa crise econômica, uma onda de revoltas desencadeada pelo grupo guerrilheiro Sendero Luminoso irrompeu no Peru e mais de 4 mil pessoas morreram, tanto por conta das ações da guerrilha, quanto por conta da repressão do Estado. Os Estados Unidos invadiram o Panamá e depuseram seu principal aliado, o General Noriega. No Brasil, foi realizada a primeira eleição direta para presidente da República após o golpe militar de 1964. Fernando Collor de Mello venceu o pleito com uma pequena diferença em relação ao segundo colocado, Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente. Na Nicarágua, teve fim a guerra entre o Contras e o governo Sandinista. No Chile, ocorreram as primeiras eleições diretas após 17 anos de ditadura militar.

Prenúncio do apocalipse ou de uma nova era? Querer interpretar a realidade latino-americana a partir de um modelo único pode gerar grandes equívocos e imprecisões. Entretanto, é possível afirmar que os acontecimentos de 1989 tiveram dois denominadores comuns: a redemocratização e o neoliberalismo. A saída dos dois últimos ditadores do continente, Stroessner no Paraguai e Pinochet no Chile, marcou o fim de uma era de ditaduras militares que iniciara por volta dos anos 1930. Somente Venezuela, Costa Rica e México mantiveram-se imunes a esse processo de eterno retorno ao militarismo.

Então, pode-se dizer que o ano de 1989 também foi para a América Latina, assim como o foi para a Alemanha e o Leste Europeu, um “Ano de Milagres”, conforme o descreveu o historiador britânico Timothy Garton Ash? Será difícil encontrar entre os intelectuais latino-americanos um consenso sobre o fim da Guerra Fria como a desobstrução dos caminhos da democracia liberal por dois motivos. Primeiro, os anos de “transição” ou redemocratização tiveram início em 1980, quando ocorreu o enfraquecimento político e econômico dos regimes militares do Equador, do Brasil e da Argentina, o que abriria espaço para as mudanças de 1989. Segundo, a democracia formal não cumpriu suas promessas de inclusão e diminuição das desigualdades sociais históricas.

Impotência neoliberal

O Chile, em particular, é um exemplo de como a constelação de poderes erigida pelos ditadores militares continuou a existir por muito tempo ainda sobre a capa de democracia após 1989. Sobre a ditadura militar, o Chile tinha sido um laboratório experimental do neoliberalismo por excelência. O “modelo chileno” conduziu o país para uma nova sociedade de mercado marcada pelo medo e pelo individualismo. Até mesmo após a saída de Pinochet do poder, a “democracia guardada”, a qual tinha ajustado a ditadura assim como o consenso neoliberal entre políticos, a mídia e as elites na nova constituição. Os efeitos da “noite da ditadura” persistiram. A verdadeira virada ocorreu somente quando Pinochet foi preso em Londres em 1998.

Em 1989, o agora notório Consenso de Washington foi alcançado. À época, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e outras instituições financeiras decidiram pela continuidade do financiamento aos países em desenvolvimento somente se eles reestruturassem radicalmente as suas economias. A receita era privatização, desregulamentação e liberalização comercial e fiscal. Argentina e Equador e, mais tarde, México e Brasil se submeteram imediatamente aos ditames neoliberais.

A reestruturação econômica promoveu a modernização. Porém, ainda havia um preço elevado a pagar por conta da privatização de empresas públicas debilitadas, uma vez que nenhuma rede social foi criada para absorver a mão-de-obra excedente ou desempregada. Para países como Argentina, Brasil e Chile a transformação capitalista desse período conduziu somente à impotência e a mais desigualdade social.

Crise de representatividade

Que a democracia liberal não havia caminhado necessariamente de mãos dadas com melhorias nas condições de vida da população era particularmente notável na Venezuela, visto até aqui como um modelo latino-americano de democracia. Quando o recém-eleito presidente Carlos Andrés Pérez quebrou suas promessas de campanha menos de duas semanas após tomar posse, impondo um austero programa neoliberal, irrompeu a maior revolta da história venezuelana. Ao contrário do que tradicionalmente ocorria na América Latina, o “Caracazo”, série de fortes protestos e distúrbios sociais ocorridos a partir de Caracas, é considerado como a primeira grande insurgência popular contra o neoliberalismo em todo o mundo. O presidente Hugo Chávez declarou os movimentos de 1989 como o nascimento da “Revolução Bolivariana”.

A experiência de insurreição e repressão conduziu o continente latino-americano a uma profunda crise de representatividade. Os velhos partidos já não possuem a mesma força de outrora e os movimentos sociais emergiram como uma nova entidade política significativa. A crise de representatividade gerada pela impotência neoliberal logo se transformou em sucessivas revoltas (por Silvia Fehrmann - tradução: Sílvio Benevides).
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Fonte: The Fall Of The Wall – New Perspectives On 1989 - Shaping Freedom. Copyright: Goethe-Institut e. V., Online-Redaktion July 2009.
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Imagem: Sílvio Benevides.

Novos olhares sobre a ditadura militar na Bahia

Foi lançado hoje (16/11/2009) no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador o livro “Ditadura militar na Bahia: novos olhares, novos objetos, novos horizontes”, organizado pelo historiador e coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Regime Militar (NERM) Grimaldo Carneiro Zachariadhes. O lançamento contou com a presença da vereadora Aladilce Souza (PC do B), da presidente do Tortura Nunca Mais da Bahia, Diva Santana, e do cientista político Joviniano de Carvalho Neto, que encerrou o evento com uma conferência sobre os trinta anos do II Congresso da Anistia, realizado em Salvador entre os dias 15 e 18 de novembro de 1979.

O livro é uma coletânea de artigos elaborados por pesquisadores baianos de diferentes áreas do conhecimento que discutem e analisam fatos relacionados ao período do regime militar na Bahia. De acordo com Diva Santana, esse trabalho tem duas grandes missões: primeiro, possibilita que os baianos conheçam sua própria história; segundo, demonstra a importância da Bahia no processo de redemocratização do Brasil. “Esse livro devolve à Bahia o seu protagonismo na luta pela redemocratização”, enfatizou. Para o cientista político Joviniano de Carvalho Neto o lançamento do livro “Ditadura militar na Bahia” é de suma importância, pois “preenche uma lacuna na historiografia nacional e da memória da sociedade brasileira”. Em breve o Salvador na sola do pé discorrerá com mais detalhes sobre esse importante trabalho (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Capa do livro editado pela Edufba.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sem educação não pode haver crescimento

Durante o IV Interculte – Encontro Interdisciplinar de Cultura, Tecnologias e Educação, evento acadêmico promovido pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE) de Salvador (BA), o jornalista Gilberto Dimenstein falou para a Rádio JA sobre jornalismo, educação e novos métodos de aprendizado e ensino no mundo contemporâneo, marcado pelo informacionalismo.

Para Dimenstein uma das principais características do mundo atual é a geração de uma enorme quantidade de conhecimento em prazos cada vez mais curtos. Como as pessoas não foram treinadas para acompanhar todo esse movimento na mesma velocidade, passamos a vivenciar um mundo com um excesso de confusão, pois há muita informação sem que tenhamos capacidade para selecionar o que nos interessa de fato ou não. No que tange à educação, todo esse processo obriga o professor a rever o seu papel. Segundo ele, hoje, o profissional de educação não pode mais atuar como um transmissor de conteúdo, mas, sim, como um mestre que deve auxiliar o indivíduo a ter estrutura para selecionar as informações e conteúdos relevantes para o seu processo de formação/aprendizagem. Essa percepção sobre o papel do professor, embora atual, norteou os trabalhos do Anísio Teixeira, o baiano mais contemporâneo e inovador de todos os tempos, de acordo com Dimenstein, pois na visão deste educador, não se educa para se ter um bom desempenho escolar, mas, sim, para o desenvolvimento do intelecto e da capacidade de julgamento. Em outras palavras, educa-se para a vida. “Estudar pedagogia sem conhecer o Anísio Teixeira, é o mesmo que estudar física sem conhecer o Einstein ou biologia sem conhecer o Mendel, o Darwin”, disse o jornalista.

Sobre o papel da educação no desenvolvimento de uma nação Dimenstein foi categórico. Não há como construir um país crítico com uma população dotada de um baixo nível de raciocínio lógico abstrato. Segundo ele, com uma educação pública e privada deficitária, como é o caso da brasileira, com salas de aula lotadas, entre outros graves problemas, não pode haver distribuição de renda em níveis desejados, pessoas não se capacitam para ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e a população não se torna apta para analisar criticamente uma proposta de governo. “Não há nação independente com pessoas dependentes devido à ignorância do conhecimento”, enfatizou. Por tudo isso ele sustenta a idéia de que a luta por educação de qualidade é a nova campanha abolicionista brasileira. Na sua visão, o modelo atual de escola (pública e, também, privada) que se tem no Brasil é um sucesso “porque foi feito para não funcionar e não funciona” (por Sílvio Benevides).

A Rádio JA da UNIJORGE, sob a produção de Cleber Silva, Eliaquim Aciole e Renato Silva e orientação do Prof. Max Bittencourt, realizou entrevista com o jornalista Gilberto Dimenstein. Clique aqui para acessar a entrevista na íntegra.
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Imagem: Gilberto Dimenstein (autoria não encontrada).

A celebração dos mártires

Nos caminhos dos morros secos da Chapada Diamantina, na Bahia, a ditadura militar também deixou suas marcas de terror. Foi lá que no dia 17 de setembro de 1971, o Exército brasileiro encerrou a perseguição ao capitão Carlos Lamarca, ao seu parceiro Zequinha Barreto e ao professor Luiz Antônio Santa Bárbara. Mesmo tendo ocorrido há 38 anos, as marcas dessa chacina ainda permanecem na região. Até por isso, com o nome de Celebração dos Mártires, há 10 anos a história é recontada no dia 17 de setembro em evento organizado pelo bispo da diocese de Barra, Luiz Flávio Cappio que, na última edição, anunciou a construção de um santuário no local do assassinato, nas veredas do povoado de Pintada, onde uma cruz já está erguida.

Neste ano as comemorações contaram com a presença de representantes dos governos federal e estadual, em campanha pela revisão da Lei de Anistia. Entre outros, estiveram lá o ministro Franklin Martins, o assessor especial da presidência da República, Carlos Tibúrcio, três secretários estaduais, o deputado federal Emiliano José (PT-BA), autor do livro Lamarca, o Capitão da Guerrilha, e o ex-governador Waldir Pires. Dom Cappio e representantes do governo evitaram dividir o mesmo palco, por conta das divergências quanto à transposição das águas do rio São Francisco, que levaram o bispo a fazer greve de fome. Mas o ministro Franklin Martins diluiu as divergências ao declarar: “Nós podemos falar à luz do dia o que fizemos. Eles não podem vir aqui à praça e dizer o que fizeram. Eles têm vergonha”.

A aparição e as declarações de Martins foram uma clara demonstração de que há força no governo federal a tese de rever a Lei de Anistia. “Zequinha e Lamarca não foram mortos só no dia 17 de setembro. Eles continuaram a ser mortos através do tempo. Não a morte física, mas a morte moral quando os acusavam de serem traidores, desertores, assassinos e terroristas. Os inimigos queriam assassiná-los moralmente para que o povo não reconhecesse o que eles eram. Mas aqueles que conviveram com eles sabem quem foram”, disse Martins, visivelmente emocionado.

Participaram também daquela celebração o filho de Carlos Marighela, Dirceu Rodrigues, Ieda Chaves e Dulce Maia (ex-exilados da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR – que foram trocados pelo embaixador alemão Von Holleben, sequestrado em 1970); o cineasta Edgard Navarro, autor do filme Porta de Fogo (1982), sobre os últimos dias de Lamarca; a mãe de Santa Bárbara, Dona Maria; os irmãos de Zequinha Barreto, Olderico e Divá; e membros do Instituto Zequinha Barreto de Osasco, região metropolitana de São Paulo (por Pedro Caribe e Thais Barreto).
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Imagem: Carlos Lamarca (Agência Estado).

Nota sobre a UFBA Latina

O Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo), em co-realização com a administração central da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e com o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento (CICEF), lançou publicamente no último dia 06 de novembro a Iniciativa UFBA Latina (INULAT), que tem como objetivo desenvolver atividades que aproximem a UFBA das iniciativas de integração regional nas quais o Brasil é ator fundamental – notadamente no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e na União de Nações Sul-americanas (UNASUL). Através da Iniciativa será realizada a Caravana da Integração – o percurso por terra por estudantes selecionados por nove países da América do Sul entre os meses de janeiro e fevereiro de 2010. A INULAT conta também com o apoio do Governo do Estado da Bahia, através da Assessoria Internacional e do Conselho Estadual de Juventude, e da Associação Cultural Caballeros de Santiago (por INULAT).
Imagem: Sílvio Benevides

domingo, 1 de novembro de 2009

Liberdade

Uma antiga propaganda de jeans dizia que liberdade é uma calça velha azul e desbotada que se deve usar do jeito que o indivíduo quiser. Essa idéia além de indicar que a liberdade não requer elucubrações sofisticadas para ser compreendida, indica também que ela significa uma possibilidade de se fazer aquilo que se quer conforme se escolha. Ser livre, portanto, consiste na possibilidade de escolha, que, uma vez feita, pode ser repetida sempre que se queira de acordo com a situação. O poeta Fernando Pessoa traduziu esse pensamento da seguinte maneira: “Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Ler é maçada. Estudar é nada. O sol doira sem literatura. O rio corre, bem ou mal, sem edição original. E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal, como tem tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta a distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor, quando há bruma, esperar por D. Sebastião, quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, flores, música, o luar, e o sol, que peca só quando, em vez de criar, seca. O mais do que isto é Jesus Cristo, que não sabia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca...LIBERDADE é o tema do poema falado deste mês. Boa Leitura!

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Imagem: Nuno Manuel Baptista - Liberdade