quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O futuro é agora

O espaço público é o espaço da coletividade. E é para o bem-estar da coletividade que a ação política deve se voltar. Entretanto, de acordo com a filósofa alemã Hannah Arendt, para que a ação política transforme as causas defendidas por cada um em causas da coletividade é necessário que ela supere sua mortalidade terrena, isto é, que transcenda “a duração da vida de homens mortais”. Sem essa transcendência, segundo ela, nenhuma política ou esfera pública pode existir, pois “um espaço público não pode ser construído apenas para uma geração e planejado somente para os que estão vivos”, mas, também, para os que virão.

Infelizmente, tudo leva a crer que os homens públicos desta cidade repleta de alegrias e encantos infindos nunca leram a Hannah Arendt. Se já a tivessem lido de certo não pautariam suas ações pela ganância e estupidez. O resultado dessas atitudes hoje tomadas não será testemunhado apenas pelas gerações futuras. Ao menos em Salvador as atuais gerações já podem colher os frutos amargos e podres do imediatismo que tem regido o Poder Executivo local, conforme atesta a nota publicada pela revista Veja na sua edição 2087 do dia 19 de novembro de 2008, abaixo reproduzida.

DIGA AO POVO QUE FUI – Neste ano, o prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB), mudou a legislação local para permitir empreendimentos imobiliários nas matas próximas às praias da cidade. A medida voltou-se contra ele próprio. Sua casa no elegante condomínio de Alphaville foi tomada por mosquitos, escorpiões e até por barbeiros, insetos transmissores da doença de Chagas. O problema é tamanho que a mulher de João Henrique, Maria Luiza, decidiu que o casal se mudará. Segundo ambientalistas, a infestação foi provocada pelo desmatamento aprovado pelo prefeito.

Como é possível perceber, não precisaremos esperar muito tempo para sentirmos os efeitos nocivos das ações de uma gente cujo egoísmo, como bem o disse o Gilberto Gil, já virou um aleijão (por Sílvio Benevides).
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(Imagem: charge do Millôr Fernandes)

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