domingo, 4 de abril de 2010

Poema Falado: Os Lusíadas

Caminhar pelas ruas da bela e formosa Lisboa foi para mim como encontrar pedaços meus dispersos aqui e acolá. Foi como reavivar lembranças há muito adormecidas e despertar recordações de tempos imemoriais, quando o Brasil não existia sequer no desejo aventureiro dos destemidos corações lusos. Corações de uma gente antes de tudo brava e forte, cuja audácia redesenhou a geografia ocidental, definiu e redefiniu fronteiras, inventou e reinventou línguas, criou e recriou um mundo novo jamais imaginado. Grandes feitos comparáveis tão somente aos feitos dos mitológicos argonautas. Em homenagem ao peito ilustre lusitano, a quem Netuno e Marte obedeceram, e de onde o Brasil brotou, o Salvador na sola do pé, juntamente com os blogs Bienvenue-ami e O Cantinho de Coccinelle, inicia nesse mês de abril uma série de homenagens ao Brasil. O poema de abertura é Os Lusíadas (Canto I, fragmento), do lusitano-mor Luis Vaz de Camões, cuja língua gosto muito de roçar. Boa leitura (por Sílvio Benevides).

Cessem do sábio Grego e do Troiano / As navegações grandes que fizeram; / Cale-se de Alexandro e de Trajano / A fama das vitórias que tiveram; / Que eu canto o peito ilustre Lusitano, / A quem Netuno e Marte obedeceram. / Cesse tudo o que a Musa antiga canta, / Que outro valor mais alto se levanta [...] // Dai-me uma fúria grande e sonorosa, / E não de agreste avena ou flauta ruda, / Mas de tuba canora e belicosa, / Que o peito acende e a cor ao gesto muda; / Dai-me igual canto aos feitos da famosa / Gente vossa, que a Marte tanto ajuda; / Que se espalhe e se cante no universo, / Se tão sublime preço cabe em verso [...] // Dai vós favor ao novo atrevimento, / Pera que estes meus versos vossos sejam, / E vereis ir cortando o salso argento / Os vossos Argonautas, por que vejam / Que são vistos de vós no mar irado, / E costumai-vos já a ser invocado. / Já no largo Oceano navegavam, / As inquietas ondas apartando; / Os ventos brandamente respiravam, / Das naus as velas côncavas inchando; / Da branca escuma os mares se mostravam / Cobertos, onde as proas vão cortando / As marítimas águas consagradas, / Que do gado de Próteu são cortadas, // — «Eternos moradores do luzente, / Estelífero Pólo e claro Assento: / Se do grande valor da forte gente / De Luso não perdeis o pensamento, / Deveis de ter sabido claramente / Como é dos Fados grandes certo intento / Que por ela se esqueçam os humanos / De Assírios, Persas, Gregos e Romanos (por Luís Vaz de Camões).
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Imagem: Luís Vaz de Camões por Diogo José de Oliveira da Cunha.

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