Como Tomé de Sousa acabou de desembarcar a gente da armada e a assentou na Vila Velha, mandou descobrir a baía, e que lhe buscassem mais para dentro alguma abrigada melhor que a em que estava a armada para a tirarem daquele porto da Vila Velha, onde não estava segura, por ser muito desabrigada; e por se achar logo o porto e ancoradouro, que agora está defronte da cidade, mandou passar a frota para lá, por ser muito limpo e abrigado; e como teve a armada segura, mandou descobrir a terra bem, e achou que defronte do mesmo porto era melhor sítio que por ali havia para edificar a cidade, e por respeito do porto assentou que não convinha fortificar-se no porto de Vila Velha, por defronte desse porto estar uma grande fonte, bem à borda da água que servia para aguada dos navios e serviço da cidade, o que pareceu bem a todas as pessoas do conselho que nisso assinaram. E tomada esta resolução, se pôs em ordem para êste edifício, fazendo primeiro uma cerca muito forte de pau a pique, para os trabalhadores e soldados poderem estar seguros do gentio. Como foi acabada, arrumou a cidade dela para dentro, arruando-a por boa ordem com as casas cobertas de palma, ao modo do gentio, nas quais por entretanto se agasalharam os mancebos e soldados que vieram na armada. E como todos foram agasalhados, ordenou de cercar esta cidade de muros de taipa grossa, o que fez com muita brevidade, com dois baluartes ao longo do mar e quatro da banda da terra, em cada um deles assentou muito formosa artilharia que para isso levava, com o que a cidade ficou muito bem fortificada para se segurar do gentio; na qual o governador fundou logo um colégio dos padres da Companhia, e outras igrejas e grandes casas, para viverem os governadores, casas da câmara, cadeia, alfândega, contos, fazendas, armazéns, e outras oficinas convenientes ao serviço de Sua Alteza (por Gabriel Soares de Sousa, 1587).
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Imagem: Baía de Todos os Santos, por Sílvio Benevides.
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