segunda-feira, 29 de março de 2010

Em que se contém, quem foi Tomé de Sousa e de suas qualidades

Tomé de Sousa foi um fidalgo honrado, ainda que bastardo, homem avisado, prudente e mui experimentado na guerra de África e da Índia, onde se mostrou mui valoroso cavaleiro em todos os encontros em que se achou; pelos quais serviços e grande experiência que tinha, mereceu fiar dele el-rei tamanha empresa como esta que lhe encarregou, confiando de seus merecimentos e grandes qualidades que daria a conta dela que dele esperava; a quem deu por ajudadores ao Dr. Pedro Borges, para com ele servir de ouvidor-geral, pôr o governo da justiça em ordem em todas as capitanias; e a Antônio Cardoso de Barros para também ordenar neste Estado o tocante à Fazenda de Sua Alteza, porque até então não havia ordem numa coisa nem noutra, e cada um vivia ao som da sua vontade. O qual Tomé de Sousa também levou em sua companhia padres da Companhia de Jesus, para doutrinarem e converterem o gentio na nossa santa fé católica, e a outros sacerdotes, para ministrarem os sacramentos nos tempos devidos. E no tempo que Tomé de Sousa desembarcou, achou na Vila Velha a um Diogo Álvares, de alcunha o Caramuru, grande língua dos gentios, o qual, depois da morte de Francisco Pereira, fez pazes com o gentio; e, com elas feitas, se veio dos Ilhéus a povoar o assento das casas em que dantes vivia, que era mafastado da povoação, onde se fortificou e recolheu com cinco genros que tinha, e outros homens que o acompanharam, dos que escaparam da desventura de Francisco Pereira, os quais, ora com armas, ora com boas razões, se foram defendendo e sustentando até a chegada de Tomé de Sousa, por cujo mandado Diogo Álvares quietou o gentio e o fez dar obediência ao governador, e oferecer-se ao servir; o qual gentio em seu tempo viveu muito quieto e recolhido, andando ordinariamente trabalhando na fortificação da cidade a troco do resgate que lhe por isso davam (por Gabriel Soares de Sousa, 1587).
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Imagem: Estátua de Tomé de Souza na Pç. Tomé de Souza (Salvador/BA), por Sílvio Benevides.

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