segunda-feira, 29 de março de 2010

Parabéns Salvador

Neste dia, Salvador completa 461 anos de história. Fundada em 1549 por Tomé de Sousa, “um fidalgo honrado, ainda que bastardo”, como escreveu Gabriel Soares de Sousa no seu Tratado Descritivo do Brasil de 1587, Salvador é uma cidade repleta de paradoxos: rica, pobre, bela, feia, alegre, triste, cosmopolita, provinciana, mesquinha e generosa. Salvador nos enche de orgulho e vergonha. Orgulho por ela ser o que simplesmente é: linda, luminosa, encantadora, festiva, charmosa, hospitaleira, guerreira. Vergonha por insistir em conservar no seu dia-a-dia o desrespeito oriundo de todas as camadas sociais, a falta de educação de quem nela habita, a estupidez e ambição desmedidas das suas elites e a violenta segregação encoberta pelo estigma de “terra da felicidade”. Assim é Salvador, uma cidade repleta de graves problemas sociais, econômicos e ambientais. Uma cidade que não sabe planejar seu futuro, pois vive se descuidando do seu presente. Uma cidade maltratada e maltrapilha que, de um lado nos aborrece e irrita, e, de outro, nos embala como uma mãe amantíssima, especialmente, quando o sol se põe e a brisa agita as águas frescas da baía querida. Parabéns Salvador, terra amada, terra à vista (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Pôr-do-sol no Porto da Barra (Salvador/BA), por Sílvio Benevides.

Em que se contém, quem foi Tomé de Sousa e de suas qualidades

Tomé de Sousa foi um fidalgo honrado, ainda que bastardo, homem avisado, prudente e mui experimentado na guerra de África e da Índia, onde se mostrou mui valoroso cavaleiro em todos os encontros em que se achou; pelos quais serviços e grande experiência que tinha, mereceu fiar dele el-rei tamanha empresa como esta que lhe encarregou, confiando de seus merecimentos e grandes qualidades que daria a conta dela que dele esperava; a quem deu por ajudadores ao Dr. Pedro Borges, para com ele servir de ouvidor-geral, pôr o governo da justiça em ordem em todas as capitanias; e a Antônio Cardoso de Barros para também ordenar neste Estado o tocante à Fazenda de Sua Alteza, porque até então não havia ordem numa coisa nem noutra, e cada um vivia ao som da sua vontade. O qual Tomé de Sousa também levou em sua companhia padres da Companhia de Jesus, para doutrinarem e converterem o gentio na nossa santa fé católica, e a outros sacerdotes, para ministrarem os sacramentos nos tempos devidos. E no tempo que Tomé de Sousa desembarcou, achou na Vila Velha a um Diogo Álvares, de alcunha o Caramuru, grande língua dos gentios, o qual, depois da morte de Francisco Pereira, fez pazes com o gentio; e, com elas feitas, se veio dos Ilhéus a povoar o assento das casas em que dantes vivia, que era mafastado da povoação, onde se fortificou e recolheu com cinco genros que tinha, e outros homens que o acompanharam, dos que escaparam da desventura de Francisco Pereira, os quais, ora com armas, ora com boas razões, se foram defendendo e sustentando até a chegada de Tomé de Sousa, por cujo mandado Diogo Álvares quietou o gentio e o fez dar obediência ao governador, e oferecer-se ao servir; o qual gentio em seu tempo viveu muito quieto e recolhido, andando ordinariamente trabalhando na fortificação da cidade a troco do resgate que lhe por isso davam (por Gabriel Soares de Sousa, 1587).
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Imagem: Estátua de Tomé de Souza na Pç. Tomé de Souza (Salvador/BA), por Sílvio Benevides.

Em que se declara como se edificou a cidade do Salvador

Como Tomé de Sousa acabou de desembarcar a gente da armada e a assentou na Vila Velha, mandou descobrir a baía, e que lhe buscassem mais para dentro alguma abrigada melhor que a em que estava a armada para a tirarem daquele porto da Vila Velha, onde não estava segura, por ser muito desabrigada; e por se achar logo o porto e ancoradouro, que agora está defronte da cidade, mandou passar a frota para lá, por ser muito limpo e abrigado; e como teve a armada segura, mandou descobrir a terra bem, e achou que defronte do mesmo porto era melhor sítio que por ali havia para edificar a cidade, e por respeito do porto assentou que não convinha fortificar-se no porto de Vila Velha, por defronte desse porto estar uma grande fonte, bem à borda da água que servia para aguada dos navios e serviço da cidade, o que pareceu bem a todas as pessoas do conselho que nisso assinaram. E tomada esta resolução, se pôs em ordem para êste edifício, fazendo primeiro uma cerca muito forte de pau a pique, para os trabalhadores e soldados poderem estar seguros do gentio. Como foi acabada, arrumou a cidade dela para dentro, arruando-a por boa ordem com as casas cobertas de palma, ao modo do gentio, nas quais por entretanto se agasalharam os mancebos e soldados que vieram na armada. E como todos foram agasalhados, ordenou de cercar esta cidade de muros de taipa grossa, o que fez com muita brevidade, com dois baluartes ao longo do mar e quatro da banda da terra, em cada um deles assentou muito formosa artilharia que para isso levava, com o que a cidade ficou muito bem fortificada para se segurar do gentio; na qual o governador fundou logo um colégio dos padres da Companhia, e outras igrejas e grandes casas, para viverem os governadores, casas da câmara, cadeia, alfândega, contos, fazendas, armazéns, e outras oficinas convenientes ao serviço de Sua Alteza (por Gabriel Soares de Sousa, 1587).
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Imagem: Baía de Todos os Santos, por Sílvio Benevides.

Em que se declara o sítio da cidade do Salvador

A cidade do Salvador está situada na Bahia de Todos os Santos uma légua da barra para dentro, num alto, com o rosto ao poente, sobre o mar da mesma baía; a qual cidade foi murada e torreada em tempo do governador Tomé de Sousa, que a edificou, como atrás fica dito, cujos muros se vieram ao chão por serem de taipa e se não repararem nunca, no que se descuidaram os governadores, pelo que êles sabem, ou por se a cidade ir estendendo muito por fora dos muros; e, seja pelo que fôr, agora não há memória aonde eles estiveram. Terá esta cidade oitocentos vizinhos, pouco mais ou menos, e por fora dela, em todos os recôncavos da Bahia, haverá mais de dois mil vizinhos, dentre os quais e os da cidade, se pode ajuntar, quando cumprir, quinhentos homens de cavalo e mais de dois mil de pé, afora a gente dos navios que estão sempre no porto. Está no meio desta cidade uma honesta praça, em que se correm touros quando convém, na qual estão da banda do sul umas nobres casas, em que se agasalham os governadores, e da banda do norte tem as casas do negócio da Fazenda, alfândega e armazéns; e da parte de leste tem a casa da Câmara, cadeia e outras casas de moradores, com que fica esta praça em quadro e o pelourinho no meio dela, a qual, da banda do poente, está desabafada com grande vista sobre o mar; onde estão assentadas algumas peças de artilharia grossa, donde a terra vai muito a pique sobre o mar; ao longo do qual é tudo rochedo mui áspero; e desta mesma banda da praça, dos cantos dela, descem dois caminhos em voltas para a praia, um da banda do norte, que é serventia da fonte que se diz Pereira, e do desembarcadouro da gente dos navios; o caminho que está da parte do sul é serventia para Nossa Senhora da Conceição, aonde está o desembarcadouro geral das mercadorias, ao qual desembarcadouro vai ter outro caminho de carro, por onde se estas mercadorias e outras coisas que aqui se desembarcam levam em carros para a cidade. E tornando à praça, correndo dela para o norte, vai uma formosa rua de mercadores até a sé, no cabo da qual, da banda do mar, está situada a casa da Misericórdia e hospital, cuja igreja não é grande, mas mui bem acabada e ornamentada; e se esta casa não tem grandes oficinas e enfermarias, é por ser muito pobre e não ter nenhuma renda de Sua Majestade, nem de pessoas particulares, e sustenta-se de esmolas que lhe fazem os moradores da terra, que são muitas, mas são as necessidades mais, por a muita gente do mar e degradados que destes reinos vão muito pobres, os quais em suas necessidades não têm outro remédio que o que lhe esta casa dá, cujas esmolas importam cada ano três mil cruzados pouco mais ou menos, que se gastam com muita ordem na cura dos enfermos e remédio dos necessitados (por Gabriel Soares de Sousa, 1587).
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Imagem: Mapa de Salvador (1631), por João Teixeira Albernaz.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Encontro com o Escritor 2010

No mês de março, o público leitor soteropolitano tem encontro marcado com escritores baianos. É o projeto “Encontro com o escritor” que no dia 29 de março, às 15h30, faz uma homenagem aos participantes da edição 2009, e palestra com a escritora Betty Coelho. Já no dia 31 de março, às 16h, o projeto leva para a biblioteca os escritores Mayrant Gallo e Kátia Borges para um bate-papo com os leitores. As atividades são gratuitas e integram a programação de comemoração dos 13 anos da Biblioteca Thales de Azevedo.

“O projeto Encontro com o Escritor contribui para aproximar os escritores baianos do público leitor que tem a oportunidade de conversar com os autores e conhecer um pouco mais sobre o processo de criação literária”, resume a diretora da Biblioteca Thales de Azevedo, Conceição Andrade.

Com o objetivo de homenagear escritores baianos, o Encontro com o escritor convida diferentes autores para falar sobre suas obras, o processo de criação, os personagens de seus livros e as referências literárias, entre outros temas. Os encontros acontecem mensalmente nas Bibliotecas Públicas do Estado.

Escritores - Nesta edição, participam a jornalista e poetisa Kátia Borges, editora da Revista Muito do jornal A Tarde, e o escritor e professor de Teoria da Literatura da Universidade Estadual de Feira de Santana, Mayrant Gallo. Autor de Pés quentes nas noites frias e Dia sim e sempre, Gallo possuía uma coluna semanal no jornal Correio da Bahia, em que publicava contos, crônicas e ensaios. Já Kátia Borges lançou o seu primeiro livro, De volta à caixa de abelhas, em 2002, pelo selo As Letras da Bahia. Tem também poemas publicados em duas coletâneas, Sete Cantares de Amigos e Concerto Lírico para 15 vozes.

Biblioteca Pública Thales de Azevedo – Rua Adelaide Fernandes da Costa, s/n, Costa Azul – Tels.: (71) 3116-5895/5891. Entrada: gratuita (Fonte: Fundação Pedro Calmon; Secretaria de Cultura da Bahia).
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Imagem: Secretaria de Cultura da Bahia; Fundação Pedro Calmon.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Relembrando o golpe militar de 1964 na Bahia

Em 31 de Março de 1964, as Forças Armadas do Brasil, apoiadas pelas elites políticas e econômicas nacionais, como também pelas camadas médias da sociedade, que se sentiam ameaçadas frente as crescentes inquietações nos meios operários urbanos e entre os trabalhadores rurais em luta pela reforma agrária, depuseram o presidente da República, João Goulart, num golpe de Estado patrocinado pelos EUA.

Na Bahia, logo após o golpe, deputados direitistas assinam uma moção cujo conteúdo, além de louvar a intervenção do Executivo Nacional pelos militares, exprime a solidariedade destes aos novos dirigentes do país. “A Assembléia Legislativa do Estado, fiel aos sentimentos democráticos do povo baiano, expressa sua solidariedade às forças democráticas civis e militares que, obedientes aos governadores Magalhães Pinto, Adhemar de Barros, Carlos Lacerda, Ney Braga, Mauro Borges, Ildo Meneghetti e aos militares Amaury Kruel, Mourão Filho, Castelo Branco, Justino Alves, entre outros, estão lutando para restaurar no Brasil a legalidade democrática, vítima de traição de um governo que se cumpliciava com os piores inimigos da liberdade, os comunistas” (p.259). Por sua vez, deputados de esquerda, apresentam uma moção em contrário, solidarizando-se com o presidente deposto.

Outros setores da sociedade soteropolitana também se solidarizam com o regime recém instaurado. Com esse propósito, é fundada a União Cívica Feminina cuja presidente, a professora Edith Mendes da Gama Abreu, declara, na primeira sessão, que “o credo vermelho tem suas raízes mais profundas onde existe o desamparo e o pauperismo” e por isso, “a União tem por fim evitar que a situação tome vulto, numa campanha que irá até o interior do Estado” (p.260). No dia 15 de Abril, partindo da Catedral Basílica, na Praça da Sé, e terminando no monumento ao Dois de Julho, no Campo Grande, ocorre em Salvador, a primeira manifestação em apoio ao golpe militar, integrada por políticos, membros do clero e senhoras da sociedade baiana. Trata-se da “Marcha da Família com Deus pela Democracia”, cujo objetivo é agradecer ao Todo-Poderoso e às Forças Armadas o fim da “ameaça comunista” e o restabelecimento da democracia no país.

Em princípios de Abril, começa a ser executada a chamada “operação limpeza”, que visava expurgar, dos cargos públicos, todo cidadão que estivesse supostamente envolvido em atividades consideradas “subversivas”.

Dando início a esse processo, o alto comando militar da Bahia envia à Assembléia Legislativa a lista com os nomes dos deputados estaduais a serem cassados, entre estes, Ênio Mendes, que dias antes apresentara no plenário da Câmara uma moção em favor de João Goulart e da legalidade constitucional. Nesse mesmo período, os funcionários do Legislativo são investigados para saber o grau de envolvimento de cada um no chamado “movimento subversivo comunista”. Muitos são demitidos e alguns, por conta da situação política, pedem asilo nas embaixadas estrangeiras situadas na cidade.

Concomitantemente, o comandante da VIª Região Militar, general Mendes Pereira, comunica a detenção do então prefeito de Salvador, Virgildásio Sena, que viria a ser substituído posteriormente por Nelson Oliveira, nos seguintes termos: “As prisões de elementos comunistas vão continuar agora com mais intensidade e todos aqueles considerados subversivos serão recolhidos aos quartéis militares para posterior processo judicial” (p.260). Na mesma ocasião, dá-se o anúncio da prisão, efetuada dias antes da divulgação do fato, do professor Milton Santos e do deputado e também líder ferroviário, Diógenes Gonçalves.

O governador Antônio Lomanto Júnior (1963-1967), que fora eleito em 1962 ajudado pelas classes conservadoras e pela Igreja Católica com o lema “feijão na lapela, feijão na panela”, pois acreditava que o melhor meio de combater o comunismo era combater a miséria, segue seu mandato mantendo o governo estadual alinhado aos princípios do regime militar. Na sua gestão, ocorre, em 1966, a promulgação da nova Constituição do Estado da Bahia, reformulada com o objetivo de ser adaptada às recentes normas estabelecidas pelos Atos Institucionais sancionados pelo presidente Castelo Branco.

Em Brasília, toma posse o general Costa e Silva.Nesse período, assume a liderança do Executivo estadual, o ex-chefe da Casa Civil do presidente Castelo Branco, Luiz Viana Filho (1967-1971), nomeado indiretamente para o exercício do cargo. Como não poderia deixar de ser, seu governo se manteve alinhado aos ditames do regime dos generais.

Sob o comando do governador Luiz Viana Filho, tem início o processo de industrialização do Estado da Bahia com a inauguração, no Km 17 da BR 324, da nova sede do Centro Industrial de Aratu (CIA), instalado na gestão precedente, cuja área passa a abrigar cerca de 346 novas indústrias com linhas de produção diversificadas. São atendidas, junto ao governo federal, as reivindicações da construção da USIBA e da Petroquímica. Também começam a ser travados os acordos para a instalação do Pólo Petroquímico no município de Camaçari. No que se refere às agitações sociais, o governo de Luiz Viana Filho coincide com as grandes manifestações estudantis nas ruas de Salvador.

No dia 28 de Agosto de 1969, o presidente Costa e Silva, por motivos de saúde, se afasta do cargo. Dois dias depois, é promulgado o Ato Institucional nº 12, impedindo o vice-presidente, Pedro Aleixo de assumir a presidência da República, como previa a Constituição de 1967. Em seu lugar, exerce, interinamente, as funções do Executivo nacional, uma Junta Militar composta pelo almirante Augusto Rademaker, pelo general Aurélio Lira Tavares e pelo brigadeiro Márcio de Sousa Melo. Após a morte de Costa e Silva, conseqüência de uma trombose, o general Emílio Médici é nomeado presidente do Brasil, dando início a um período que passaria a ser denominado de “anos de chumbo”, devido o uso institucionalizado da tortura como método de investigação e do emprego indiscriminado da arbitrariedade.

Em 1970, em plena era Médici, Antônio Carlos Magalhães (1971-1975), que era o prefeito de Salvador na gestão de Luiz Viana Filho, tem sua nomeação para chefe do Executivo estadual confirmada pela Assembléia Legislativa da Bahia. Assim como seu antecessor, Antônio Carlos Magalhães (ACM) governaria em perfeita sintonia com o Palácio do Planalto.

Ao saber da sua nomeação, declarou, no estilo que caracterizaria sua carreira política: “No meu futuro governo os secretários farão tudo que quiserem, menos o que eu não queira” (p.289). Logo após sua posse, em 1971, proferiu: “Ninguém ignora como foram indicados os governadores no Brasil. Participaram desta escolha o organismo político, o SNI e os comandos militares. A maior demonstração de que eu passei em todos os testes foi ter sido indicado, e o presidente Médici tem reiteradamente declarado que eu não devia minha escolha a ninguém, senão a mim mesmo” (p.291), o que revela o quanto seu talento de governante fora suficiente para conquistar a admiração e confiança daqueles que exerciam o poder sem respeitar nenhum limite.

No mandato de ACM consolida-se a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari. Salvador, tendo à frente da prefeitura, Cleriston Andrade, vive um período de grande expansão das suas vias públicas. É inaugurado o Centro Administrativo do Estado, na Avenida Paralela, a maior da cidade. São os ventos da chamado “milagre econômico” soprando nas bandas da Bahia.

Em 1974 o general Ernesto Geisel assume a Presidência da República com a proposta de fazer uma abertura política lenta e gradual. Na Bahia, o nome indicado para exercer o cargo de governador é o de Roberto Santos, cuja posse ocorreria em 1975. Nomeia para prefeito da capital Jorge Hage Sobrinho que seria exonerado em 1977, devido o desgaste da sua relação com o chefe do Executivo estadual, e substituído pelo deputado federal, Fernando Wilson Magalhães. Seu governo se caracteriza pelo abrir e fechar do processo político.

Na gestão de Roberto Santos (1975-1979) é desbaratada uma célula do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na Bahia, ocasião em que são presos o vereador do MDB, Sérgio Veiga Santana, Heitor Casais e Silva, Luiz Fernando Contreiras de Almeida, Sebastião Amaral do Couto, Ademar Hiotoshi Sato, Marcelo Veiga Santana, Marco Antônio Rocha Medeiros, Moisés Gomes da Mota, Paulino Vieira, José Ivan Dantas Pugliesi, Maria de Nazaré Lima do Couto, Carlos Augusto Marighela, Ceci Sato, Euricles Miguel dos Santos, Roberto Max Argolo, Alírio Feliciano Pimenta e Osvaldina Dias Pimenta. A Faculdade de Agronomia, localizada no município de Cruz das Almas tem seu campus invadido por tropas policiais. Órgãos de imprensa sofrem atentados e são invadidos, a exemplo da redação do jornal alternativo Boca do Inferno. Apesar da repressão o movimento estudantil volta às ruas, conseguindo organizar manifestações que chamariam a atenção da sociedade. É inaugurada a usina de Pedra do Cavalo, que passa a gerar 220 MW de energia elétrica e o Centro de Convenções que em Maio de 1979 abrigaria o 31º Congresso da UNE, já na gestão ACM.
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Fonte: Assembléia Legislativa. Superintendência de Apoio Parlamentar. Divisão de Pesquisa. Bahia de todos os fatos: cenas da vida republicana, 1889-1991. Salvador: Assembléia Legislativa, 1996.
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Imagens: Pedro Moraes.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O presidente Lula e o regime ditatorial cubano

“Eu penso que a greve de fome não pode ser usada como um pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem liberdade. Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano, de deter as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem o Brasil”. Estas palavras foram ditas terça-feira passada pelo presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a respeito da questão política em Cuba, o grande feudo do clã dos Castro.

Uma declaração como esta nem parece ter sido proferida por líder democrático e mais, ainda, por um líder democrático que tem em seu passado uma história de luta contra a ditadura militar brasileira. Como é possível comparar presos políticos com criminosos comuns? O único crime que pode ser imputado a presos políticos é o de discordar com o regime que os oprime, humilha, tortura e mata. Lutar contra regimes ditatoriais, como é o caso do regime cubano, é lutar em defesa da vida, da liberdade, dos direitos humanos e da paz social. Trata-se, portanto, de uma luta legítima porque é uma luta em defesa da humanidade. É inadmissível que uma luta assim possa ser comparada a crimes como estupro, latrocínio, tráfico de drogas, de seres humanos, abuso sexual, lavagem de dinheiro, corrupção, mensalão, entre tantos outros. Não é possível utilizar o argumento do respeito à soberania nacional para defender regimes ditatoriais. Como bem escreveu a jornalista Miriam Leitão em seu blog, esse argumento pode ser bom, desde que utilizado em um contexto adequado. “Vamos pensar no seguinte”, escreveu ela. “O Brasil vive em uma democracia e aqui se prende dentro da lei; enquanto lá, a legislação cubana é ditatorial. Inclusive tem uma que diz que, se a pessoa não cometeu crime nenhum, mas talvez tenha a intenção de cometê-lo, vai presa. E o que é crime? Fazer, por exemplo, um sindicato independente. Se você tem a intenção de fazer um, como o presidente Lula fez, será levado preso e pode ficar anos na prisão. É uma ditadura. E o presidente de um governo democrático tem sim que condenar o que está acontecendo em Cuba, porque isso não é interferir em assuntos internos do país, mas defender princípios e valores do povo brasileiro. Imagine se nós estivéssemos agora, em 1938, 1940, e o governo brasileiro dissesse que tudo o que Hitler estava fazendo estava dentro da lei. Mas e a legislação que mandava prender judeus, por acaso era justa? [...] os presos de Cuba são acusados pelo governo, mas não cometeram crime nenhum. São presos de consciência, como diz a Organização das Nações Unidas (ONU) e isso é completamente diferente dos que roubam, matam e cometem outros crimes no Brasil. O presidente Lula não deveria usar o seu prestígio internacional para validar os crimes do governo cubano”. Reflitamos.

Enquanto a maioria dos seres humanos utiliza as vias usuais, aquelas preparadas pela natureza para defecar, outros o fazem pela boca. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um homem com uma história de vida tão admirável, perdeu uma excelente oportunidade para ficar calado e, desta maneira, não macular, ainda mais, a sua já tão maculada imagem (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Foto Oficial, Presidência da República Federativa do Brasil.

domingo, 7 de março de 2010

Poema Falado: Retrato

“Ontem de manhã quando acordei, olhei a vida e me espantei: eu tenho mais de vinte anos”. Pois é, o tempo passa. E como bem disseram a Suely Costa e o Vitor Martins na música imortalizada pela Elis Regina, o tempo passa e repassa, ad infinitum, na velocidade de um átimo de respiro, restando-nos, apenas, o espanto. Pois é, o tempo passa. E o que fazer com o que foi feito da vida? Celebrar? Recordar? Lamentar? E o que fazer com o tempo vindouro? Percorrer os caminhos já trilhados ou buscar novas trilhas para prosseguir? Sim, eu tenho mais de vinte anos e trago em mim, ainda, “mais de mil perguntas sem respostas”. Se as veredas que virão serão blue isso não sei. Só sei que os espelhos já não refletem a minha face de outrora. Por essa razão o Poema Falado desse mês apresenta o texto Retrato, da Cecília Meireles que diz: “Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo. // Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu não tinha este coração / que nem se mostra. // Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil: / Em que espelho ficou perdida a minha face?” Essas palavras são lindamente ditas no vídeo abaixo pelo inesquecível Paulo Autran e ilustradas por retratos de personalidades admiravelmente notáveis. Boa Leitura!

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Imagem: Not to be reproduced (1937), tela de René Magritte.

segunda-feira, 1 de março de 2010

10 centavos

Quanto vale uma vida vivida com dignidade? Para alguns não vale nada. Para outros, quase nada. Para ser mais preciso apenas 10 centavos. É esse o tema abordado pelo curta-metragem 10 centavos, do diretor Cesar Fernando de Oliveira (ver abaixo o filme na íntegra). Ao retratar um dia na vida de um garoto soteropolitano, como tantos outros garotos soteropolitanos, morador do subúrbio ferroviário, que trabalha como guardador de automóveis no centro histórico de Salvador, o curta discute a situação da infância nas periferias das grandes cidades brasileiras.

Obrigado a buscar alternativas para sobreviver, o garoto do filme de Cesar Fernando passa seus dias entre o Pelourinho e o Carmo a trabalhar duro guardando e lavando carros. No final da jornada, ele consegue juntar alguns trocados que leva para a mãe. E como diria o Gonzaguinha, a pergunta roda e a cabeça agita: o trabalho em sociedades tão desiguais como a nossa dignifica mesmo o homem? Embora pertinente, esta questão é apenas sugerida no curta, não chegando a ser discutida. A criança do filme, como tantas crianças espalhadas pelo Brasil, buscar viver com dignidade, pois faz questão de honrar seus compromissos. Entretanto, ela vive uma situação de total desamparo. Desamparo familiar, desamparo educacional e desamparo social.

Ao que tudo indica, a mãe do garoto é mãe solteira, pois o filme faz referência somente a ela. Ela tem mais três filhos menores e, supõe-se, trabalha bastante para dar conta de sustentar as crianças. O menino mais velho, personagem central do filme, passa o dia inteiro fora de casa e ao retornar no último trem, encontra a família dormindo. Se a família não se faz presente como deveria, ao menos é o que parece ser, o que dizer da escola? Esta sequer é mencionada, talvez pelo fato de há muito já significar pouco ou nada na vida dessas crianças. A ausência da escola significa ausência do Estado, o que, por conseguinte, resulta em desamparo social. Dessa lógica perversa se originam inúmeras de nossas mazelas. Isso já é do conhecimento de todos, portanto, não vale dizer que não se sabia. Nosso país não pode se dar ao luxo de desperdiçar talentos. E é exatamente isso que se tem feito com inúmeras crianças e adolescentes brasileiros, como o menino do filme em questão. Quando é que o Brasil vai se voltar para questões que, de fato, interessam? (por Sílvio Benevides)

O filme 10 centavos faz parte do projeto Porta Curtas da Petrobrás. O Salvador na sola do pé exibirá constantemente alguns desses trabalhos com o objetivo de valorizar parte da nossa produção audiovisual que normalmente a maioria do público que gosta de cinema não tem acesso.
Veja o filme



Ficha Técnica

Direção: Cesar Fernando de Oliveira
Elenco: Fernando Fulco, Frank Magalhães, Jorge Junior, Narcival Rubens, Paulo Prazeres, Stela Voutta
Produção: Cesar Fernando de Oliveira
Roteiro: Reinofy Duarte
Direção de Arte: Miniusina de Criação
Som: Richard Meyer
Direção de produção: Maira Cristina
Produção Executiva: Amadeu Alban
Direção de Fotografia: Matheus Rocha
Música: Richard Meyer, P.I. Tchaikovsky
Ano 2007
Duração 19 min
País Brasil
Local de Produção: BA
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Imagem: Produção do filme

Parque da Cidade Sarah Kubitschek

O Salvador na sola do pé resolveu discorrer mais uma vez sobre o Parque da Cidade de Brasília Sarah Kubitschek, popularmente conhecido como Parque da Cidade, pois o leitor Gustavo sentiu falta de fotos do local. Aproveitando o ensejo, seguem informações mais detalhadas sobre este que é o maior parque urbano do mundo e um dos lugares mais belos da capital do Brasil.

O Parque da Cidade de Brasília Sarah Kubitschek está situado no Plano Piloto de Brasília e tem 4,2 milhões de m². Para que se possa ter uma ideia de suas dimensões, basta comparar o tamanho do Parque Sarah Kubitschek ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo, que possui 1,6 milhões de metros quadrados e à Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, que possui 155 mil metros quadrados. Já o Central Park, em New York, possui cerca de 3,4 milhões de metros quadrados. A Floresta da Tijuca, também no Rio de Janeiro, possui, aproximadamente, 39 milhões de metros quadrados de área verde, configurando-se na terceira mair floresta urbana do mundo.

Localizado no centro da cidade, junto à Asa Sul, tem o terceiro maior pavilhão coberto para feiras e exposições do Brasil, com 55 mil m². Foi fundado por volta de 1978 e originalmente recebeu o nome de Rogério Pithon Farias, o jovem filho do então governador do Distrito Federal, que morreu em um acidente de carro.

É um dos principais centros de lazer ao ar livre da cidade, concentrando quadras de esportes, lagos artificiais, parque de diversões, centro hípico e pistas de caminhada, patinação e ciclismo. O parque ganhou fama nacional por meio da música Eduardo e Mônica do grupo candango Legião Urbana: “Se encontraram então no parque da cidade a Mônica de moto e o Eduardo de camelo. O Eduardo achou estranho, e melhor não comentar, mas a menina tinha tinta no cabelo”.

Uma de suas áreas de lazer, composta por brinquedos destinados às crianças é chamado de Parque Recreativo Ana Lídia em homenagem a uma menina de 7 anos covardemente estuprada e assinada por jovens da elite brasilense no ano de 1973, crime que até hoje permanece sem solução alguma (Fonte: Wikipédia).
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Imagens: Parque da Cidade de Brasília Sarah Kubitschek por Sílvio Benevides.