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Imagem: Pôr-do-sol no Porto da Barra (Salvador/BA), por Sílvio Benevides.
A cidade do Salvador está situada na Bahia de Todos os Santos uma légua da barra para dentro, num alto, com o rosto ao poente, sobre o mar da mesma baía; a qual cidade foi murada e torreada em tempo do governador Tomé de Sousa, que a edificou, como atrás fica dito, cujos muros se vieram ao chão por serem de taipa e se não repararem nunca, no que se descuidaram os governadores, pelo que êles sabem, ou por se a cidade ir estendendo muito por fora dos muros; e, seja pelo que fôr, agora não há memória aonde eles estiveram. Terá esta cidade oitocentos vizinhos, pouco mais ou menos, e por fora dela, em todos os recôncavos da Bahia, haverá mais de dois mil vizinhos, dentre os quais e os da cidade, se pode ajuntar, quando cumprir, quinhentos homens de cavalo e mais de dois mil de pé, afora a gente dos navios que estão sempre no porto. Está no meio desta cidade uma honesta praça, em que se correm touros quando convém, na qual estão da banda do sul umas nobres casas, em que se agasalham os governadores, e da banda do norte tem as casas do negócio da Fazenda, alfândega e armazéns; e da parte de leste tem a casa da Câmara, cadeia e outras casas de moradores, com que fica esta praça em quadro e o pelourinho no meio dela, a qual, da banda do poente, está desabafada com grande vista sobre o mar; onde estão assentadas algumas peças de artilharia grossa, donde a terra vai muito a pique sobre o mar; ao longo do qual é tudo rochedo mui áspero; e desta mesma banda da praça, dos cantos dela, descem dois caminhos em voltas para a praia, um da banda do norte, que é serventia da fonte que se diz Pereira, e do desembarcadouro da gente dos navios; o caminho que está da parte do sul é serventia para Nossa Senhora da Conceição, aonde está o desembarcadouro geral das mercadorias, ao qual desembarcadouro vai ter outro caminho de carro, por onde se estas mercadorias e outras coisas que aqui se desembarcam levam em carros para a cidade. E tornando à praça, correndo dela para o norte, vai uma formosa rua de mercadores até a sé, no cabo da qual, da banda do mar, está situada a casa da Misericórdia e hospital, cuja igreja não é grande, mas mui bem acabada e ornamentada; e se esta casa não tem grandes oficinas e enfermarias, é por ser muito pobre e não ter nenhuma renda de Sua Majestade, nem de pessoas particulares, e sustenta-se de esmolas que lhe fazem os moradores da terra, que são muitas, mas são as necessidades mais, por a muita gente do mar e degradados que destes reinos vão muito pobres, os quais em suas necessidades não têm outro remédio que o que lhe esta casa dá, cujas esmolas importam cada ano três mil cruzados pouco mais ou menos, que se gastam com muita ordem na cura dos enfermos e remédio dos necessitados (por Gabriel Soares de Sousa, 1587).
No mês de março, o público leitor soteropolitano tem encontro marcado com escritores baianos. É o projeto “Encontro com o escritor” que no dia 29 de março, às 15h30, faz uma homenagem aos participantes da edição 2009, e palestra com a escritora Betty Coelho. Já no dia 31 de março, às 16h, o projeto leva para a biblioteca os escritores Mayrant Gallo e Kátia Borges para um bate-papo com os leitores. As atividades são gratuitas e integram a programação de comemoração dos 13 anos da Biblioteca Thales de Azevedo.
Em 31 de Março de 1964, as Forças Armadas do Brasil, apoiadas pelas elites políticas e econômicas nacionais, como também pelas camadas médias da sociedade, que se sentiam ameaçadas frente as crescentes inquietações nos meios operários urbanos e entre os trabalhadores rurais em luta pela reforma agrária, depuseram o presidente da República, João Goulart, num golpe de Estado patrocinado pelos EUA.
Sob o comando do governador Luiz Viana Filho, tem início o processo de industrialização do Estado da Bahia com a inauguração, no Km 17 da BR 324, da nova sede do Centro Industrial de Aratu (CIA), instalado na gestão precedente, cuja área passa a abrigar cerca de 346 novas indústrias com linhas de produção diversificadas. São atendidas, junto ao governo federal, as reivindicações da construção da USIBA e da Petroquímica. Também começam a ser travados os acordos para a instalação do Pólo Petroquímico no município de Camaçari. No que se refere às agitações sociais, o governo de Luiz Viana Filho coincide com as grandes manifestações estudantis nas ruas de Salvador.
“Eu penso que a greve de fome não pode ser usada como um pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem liberdade. Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano, de deter as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem o Brasil”. Estas palavras foram ditas terça-feira passada pelo presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a respeito da questão política em Cuba, o grande feudo do clã dos Castro.
“Ontem de manhã quando acordei, olhei a vida e me espantei: eu tenho mais de vinte anos”. Pois é, o tempo passa. E como bem disseram a Suely Costa e o Vitor Martins na música imortalizada pela Elis Regina, o tempo passa e repassa, ad infinitum, na velocidade de um átimo de respiro, restando-nos, apenas, o espanto. Pois é, o tempo passa. E o que fazer com o que foi feito da vida? Celebrar? Recordar? Lamentar? E o que fazer com o tempo vindouro? Percorrer os caminhos já trilhados ou buscar novas trilhas para prosseguir? Sim, eu tenho mais de vinte anos e trago em mim, ainda, “mais de mil perguntas sem respostas”. Se as veredas que virão serão blue isso não sei. Só sei que os espelhos já não refletem a minha face de outrora. Por essa razão o Poema Falado desse mês apresenta o texto Retrato, da Cecília Meireles que diz: “Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo. // Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu não tinha este coração / que nem se mostra. // Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil: / Em que espelho ficou perdida a minha face?” Essas palavras são lindamente ditas no vídeo abaixo pelo inesquecível Paulo Autran e ilustradas por retratos de personalidades admiravelmente notáveis. Boa Leitura!
Quanto vale uma vida vivida com dignidade? Para alguns não vale nada. Para outros, quase nada. Para ser mais preciso apenas 10 centavos. É esse o tema abordado pelo curta-metragem 10 centavos, do diretor Cesar Fernando de Oliveira (ver abaixo o filme na íntegra). Ao retratar um dia na vida de um garoto soteropolitano, como tantos outros garotos soteropolitanos, morador do subúrbio ferroviário, que trabalha como guardador de automóveis no centro histórico de Salvador, o curta discute a situação da infância nas periferias das grandes cidades brasileiras.