domingo, 25 de dezembro de 2011

Poema Falado: Versos de Natal

Como diria a Simone, então é Natal! Mais uma vez, Natal! Até onde sei nessa data os cristãos se reúnem para celebrar o nascimento do verbo que se fez carne e sangue a fim de nos redimir por meio do amor, o seu maior legado. Esse é o verdadeiro espírito do Natal, ou ao menos deveria ser. Entretanto, o que temos visto ultimamente é uma festa que a cada ano se distancia mais e mais da sua essência, tornando-se uma verdadeira orgia consumista. Orgia esta que pouco a pouco mata o Menino Jesus, assim como todos os meninos e meninas que em cada um de nós existe. Eu digo “mata” porque precisamos crescer com urgência para que, com urgência, nos tornemos consumidores ávidos e eficientes. Não tenho nada contra o consumo, tampouco odeio o bom velhinho. Quero apenas lembrar que o Natal existe porque o Menino Jesus nasceu. E é justamente para celebrar esse nascimento que o Poema Falado deste mês traz os Versos de Natal do Manuel Bandeira, escritos em 1939, que nos dizem: “Espelho, amigo verdadeiro / Tu refletes as minhas rugas, / Os meus cabelos brancos, / Os meus olhos míopes e cansados. / Espelho, amigo verdadeiro, / Mestre do realismo exato e minucioso, / Obrigado, obrigado! / Mas se fosses mágico, / Penetrarias até o fundo desse homem triste, / Descobririas o menino que sustenta esse homem, / Que não morrerá senão comigo, / O menino que todos os anos na véspera do Natal / Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta”. Boa áudio-leitura e Feliz Natal! (por Silvio Benevides)



Imagem: Silvio Benevides

sábado, 24 de dezembro de 2011

Texto para reflexão: o Natal, o Capital e o Ano Novo

Para refletirmos sobre o real significado do Natal, decidi reproduzir o texto abaixo de autoria do Pedro Estevam Serrano, colunista da Isto é. O texto propõe uma reflexão bastante pertinente e sempre apropriada para as sociedades contemporâneas cada vez mais mergulhadas no consumismo desenfreado e contaminadas por toda sorte de distúrbios e doenças que isso acarreta. Eis o texto!

O Natal, o Capital e o Ano Novo – Na tradição cristã o Natal é a data da comemoração do nascimento de Jesus, e como tal um momento em que valores como generosidade, solidariedade e fraternidade são lembrados como mote da celebração. Nos discursos apenas. Na realidade, Natal é época de compras, consumo. Mais do que momento em que expressamos afeto pela generosidade do presente, tratamos nosso desconforto civilizacional e nossas depressões existenciais indo ao shopping para obter o cumprimento da ilusória promessa de felicidade que o consumo oferece.

A hiper-complexidade das sociedades contemporâneas não facilita uma leitura mais bem acabada de suas macro-características. Não ousaria fazê-lo. Não me sinto habilitado a tanto. Mas minhas leituras e observações pessoais de nossa historia recente me trazem algumas reflexões que se consolidaram em meu espírito sobre a forma em que convivemos no mundo contemporâneo.

Me parece inegável que o correr do século XX e o inicio do XXI trouxe mudanças substancias na forma de organização e produção do sistema capitalista. Não apenas mudança de grau ou intensidade, mas verdadeiras mudanças de qualidade e substancia. Cada momento da história sociopolítica e econômica da humanidade ressalta características existentes na natureza das relações intersubjetivas de nossa espécie. Mercado existia como fenômeno há muito em nossas formas de organização social. A mercancia, a troca, é e foi instrumento relevante de sobrevivência da espécie conforme nossas formas de organização social e de produção foram se tornando mais complexas.

Mas é no capitalismo que esta forma coletiva de troca e produção atinge seu ápice de relevância na vida social, torna-se espinha dorsal de nossas formas de organização social, política e econômica. O capitalismo adquire inegável caráter progressista na história humana em sua versão industrial.

A natureza disciplinar desta forma de produção repercute efeitos sobre todos os ambientes da vida social. Instituições coletivas como escola, hospitais e até restaurantes, organizados em modo hierárquico e a partir de disciplinas substituem formas aristocráticas de acesso a bens coletivos. O Poder Estatal passa a ser exercido a partir de sua submissão a normas, disciplinas coletivas e não à mera vontade autônoma de seu governante. O capitalismo se traduz em sistema de contínua expansão. Por conta das conquistas dos trabalhadores europeus no inicio do século passado, em busca de ampliação de ganhos, o capital se espraia pelo mundo.

Desde o século XIX até os dias de hoje pudemos observar a transformação do capitalismo de forma europeia em modo global de produção. Na contemporaneidade, contudo, outro fator de expansão vem a provocar mudanças que me parecem substanciais no sistema. A produção de mercadorias é secundarizada pela produção de seu feitiche. Mais do que um sistema produtor de mercadorias, o capitalismo se transforma num sistema produtor de subjetividade. Expande-se para a significação humana. Ocupa todos os espaços da vida e do imaginário. A regra econômica do condicionamento da oferta pela demanda é invertida. Oferta produz demanda, como bem enxergou Steve Jobs.

Em verdade, modos de domínio e construção da subjetividade fazem parte do próprio conceito de civilização. Religião, educação e mesmo razão e ciência são formas de trabalho e domínio da subjetividade. Mas creio que nunca tivemos na história humana um sistema sociopolítico e econômico que tivesse na produção de subjetividade o vértice de seu funcionamento. E não me refiro apenas ao âmbito limitado da publicidade e suas técnicas de marketing e nem apenas ao espetáculo que tende a dominar a linguagem midiática. Falo de toda uma máquina de comunicação e sentidos que ocupam todo nosso espaço imaginário, racional e afetivo. Impossível imaginarmos hoje uma historia pessoal de romance sem os signos de Hollywood por exemplo.

Como consequência evidente deste processo, o papel do consumidor vai substituindo o do cidadão e os exércitos de reserva de mão de obra vão saindo da reserva para a cruel exclusão da vida. O sistema passa a ter pelo poder da exclusão o exercício máximo do que Schimitt entendia como soberania. A capacidade de transformar o direito em exceção, dando ao poder o condão de disposição da vida do destinatário.

Vivemos hoje um mundo recheado de estados democráticos, mas submetidos a uma governança global imperial que se realiza em rede, sem contar, portanto, com o lugar que a disciplina outorga ao poder, o que possibilitaria identificá-lo e limitá-lo. E assim vamos às compras, sem esquecer de comprar brinquedos e roupas para nossos entes queridos e mesmo para crianças desamparadas e pessoas desfavorecidas. Não nos perguntamos a que custo vital se produzem estes bens tão baratos em alguma parte do globo, seja pela quase escravidão dos trabalhadores que os produzem seja pela exclusão necessária da vida de amplos contingentes humanos que o sistema hoje exige para operar.

Mais que autonomia de vontade, ser livre no mundo contemporâneo é ser espontâneo, e no exercício desta espontaneidade entender que estamos todos inseridos num contexto sistêmico em que o custo de nossa inclusão e sobrevivência é compartilhar e fazer parte de um processo produtivo essencialmente antiético, em que nem sequer o lugar nobre da inocência nos é possível ocupar. Mas no florescer mais intenso desta espontaneidade podemos transformá-lo, traduzir em mecanismos de cidadania global o que hoje é ilimitado e regido apenas pela força. Assim desejo a todos os leitores, que este Natal seja o nascer de nossa espontaneidade e que, através dela, em 2012 venha a destruição não do mundo e da vida, mas da morte que ronda nossa civilização (por Pedro Estevam Serrano).


Imagem: Haddon Sundblom

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Quem tem moral e quem não tem

Que o mundo da política está mais vulnerável (gosto de eufemismos) aos males oriundos e provocados pela corrupção, isso não é novidade para ninguém. O grave é ver a política virar sinônimo de corrupção. Por que grave? Porque somente por meio da política parlamentar os variados grupos sociais institucionalizam seus direitos, deveres e conquistas. É por meio da política parlamentar que as regras e normas que orientarão a vida em sociedade serão validadas. A política é sim uma atividade nobre e de fundamental importância para as sociedades, especialmente, as sociedades democráticas. Por isso considero gravíssimo ela estar sempre ou quase sempre associada à corrupção. Sei que não nos faltam razões para fazermos tal associação. Entretanto, dada a importância da política em nossas vidas, parafraseio o Caetano Veloso: “é preciso estar atento e forte” para separarmos o joio do trigo.

Esta semana lançou-se o livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, sobre o processo de privatização de estatais durante o mandato do Fernando Henrique Cardoso. Escândalo! Alguma novidade? Creio que não. A primeira edição do livro se esgotou em 48 horas, mas é possível encontrá-lo na rede em formato PDF, caso alguém queira baixá-lo para seu computador. Eu já baixei o meu. Mas não é esse o objetivo dessa postagem. Três aspectos me chamaram a atenção nesse episódio, já comentados por outras pessoas. O primeiro diz respeito ao silêncio da grande mídia, ou da mídia tradicional como dizem alguns, sobre do lançamento. No mínimo, um fenômeno editorial comparável a outros fenômenos editoriais, a exemplo do Harry Potter, da escritora J.K. Rowling. Estranho silêncio, para dizer o mínimo. O segundo aspecto é sobre o poder das redes sociais no mundo atual. A despeito dos grandes veículos de comunicação terem ignorado o livro, as redes sociais fizeram o movimento contrário e o resultado foi uma curiosidade generalizada em torno do lançamento. Isso explica, em parte, o fato de a primeira edição de A privataria tucana ter se esgotado em apenas 48 horas. Terceiro aspecto se refere ao cinismo dos nossos homens públicos (e mulheres públicas, também, para garantir a inclusão de gênero). Membros do PT agora atacam o PSDB, que por sua vez ataca o PT e todos e todas se esquecem que todos e todas têm, como se costuma dizer, rabo preso ou sujo. O que me intriga nessa história é o seguinte: quem tem moral e quem não tem para atacar e/ou acusar quem que seja no Congresso Nacional? A galera da “privataria” ou a galera do “mensalão”? Em quem nos espelhar, eis a questão, já que pelo visto e revisto é bem mais fácil e provável topar com o Harry Potter estacionando sua vassoura mágica na Esplanada dos Ministérios do que encontrar em Brasília político que não tenha telhado de vidro (por Silvio Benevides).

Imagem: Angeli

Livro cria polêmica com acusações contra Serra e o PSDB

O jornalista investigativo Amaury Ribeiro Jr. denuncia possíveis casos de corrupção e outras improbidades nas gestões governamentais do PSDB no lançamento “A Privataria Tucana” (Geração Editorial, 2011). O título do volume alude à política de privatizar parte das empresas públicas nacionais adotada por Fernando Henrique Cardoso enquanto atuou como presidente do país.

De acordo com o autor, as irregularidades começaram a ser encontradas enquanto ele investigava a existência de uma rede de espionagem criada pelo próprio partido para desacreditar o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), concorrente à vaga de candidato à presidência pela legenda.

Na obra, o jornalista liga casos de enriquecimento ilícito e outras irregularidades ao ex-governador José Serra e seus familiares --entre outras pessoas relacionadas direta e indiretamente com partido-- e busca respaldar as afirmações com cópias de documentos, contas, contratos e cheques.

O volume acaba de chegar às prateleiras e promete criar tanto falatório como o polêmico “Honoráveis Bandidos”, do jornalista Palmério Dória, que expõe histórias de bastidores da família Sarney (Fonte: Livraria da Folha).


Imagem: Alpino

Sobre o livro "A privataria tucana"

O livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, será seguramente um dos maiores best-sellers dos últimos tempos. Não é que muito do que divulgue não fosse do conhecimento público. Mas o era de modo fragmentado, perdido ao longo do tempo e, sobretudo, bastante escamoteado pela mídia. E serve para desmascarar o farisaísmo tucano, cujos dirigentes hoje vivem a procurar pelo em ovo, ao tentar localizar corrupção no Governo Federal, desconhecendo todos os esforços do Governo Lula e do Governo Dilma de combate cotidiano a quaisquer atitudes de desrespeito com o dinheiro público.

O mérito do livro é o de sistematização de um período. É resultado de um esforço de fôlego, fruto de 12 anos de trabalho. Devassa as privatizações na era Fernando Henrique Cardoso. Do livro, como diz o jornalista Leandro Fortes, na revista Carta Capital, emerge um personagem central, chamado José Serra, cujo tesoureiro de campanha, Ricardo Sérgio de Oliveira, ainda de acordo com a matéria de Carta Capital, movimentaria bilhões de dólares durante os anos dourados das privatizações e do domínio do PSDB no comando do País.

Dessa farra, valeram-se a filha e o genro de Serra, Verônica e Alexandre Bourgeois, além de Gregório Marin Preciado, casado com uma prima do tucano. Há vários outros personagens, como Carlos Jereissati, empresário e irmão do ex-Senador Tasso Jereissati e hoje um dos principais acionistas da operadora de telefonia Oi (ex-Telemar). Há mais, muito mais, e a população brasileira há de descobrir por conta própria. Não deve deixar de ler a cobertura de Carta Capital, cujas mais de dez páginas elucidam com riqueza de detalhes como era a “privataria” tucana, como foi aquilo que os tucanos de bico longo chamavam de o negócio do século. E não deve, sobretudo, deixar de ler o livro.

O que pretendo aqui, rapidamente, é, primeiro, dizer que o livro não faz mais do que demonstrar como foi conduzida a privatização do País. Para além do desastre que significou para o Brasil, como isso enfraqueceu a Nação diante das potências capitalistas, como se venderam empresas estratégicas a preço de banana, para além disso, o livro evidencia como se confundia os interesses privados com o público.

Dito de outra maneira, o poder público estava vinculado ao interesse patrimonial privado, ao interesse particular de quem detinha o poder, e é curioso ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fazer perorações sobre moralidade pública, contra o nosso governo, e isso ele o fez nas últimas horas, com o livro já nas ruas, não sei se já sabendo de sua existência, e com isso tentando fazer alguma vacina, ou se desconhecendo, e com isso naturalmente pagando um mico de bom tamanho.

Além disso, fico impressionado com o silêncio da velha mídia. Impressionado é modo de dizer. É um silêncio compreensível. A velha mídia tem lado. Ataca o PT, e ponto final. Ataca o nosso projeto político, sempre. Nunca aceitou que Lula fosse o presidente do Brasil, menos que tivesse sucesso, menos ainda que fizesse as reformas que fez, que promovesse a melhoria nas condições de vida do nosso povo como promoveu. Como agora, não aceita a presidenta Dilma e quer que ela obedeça às suas ordens.

Salvo Carta Capital, ninguém mais noticiou. Claro que algum jornalista poderia falar em critério de noticiabilidade. Será que valia notícia? Ou será que seria melhor requentar alguma coisa, como fez Veja? Melhor requentar, de acordo com os estranhos critérios, corrijo-me, compreensíveis critérios de uma mídia que não tem mais sequer compromissos com seus manuais de redação. Os que não requentaram nada, não noticiaram. Um silêncio que desnuda nossa velha mídia, que se deteriora a olhos vistos, incapaz de adotar procedimentos minimamente aceitáveis por quem faz do jornalismo algo sério.

O livro foi lançado há uma semana. Os 15 mil exemplares esgotaram-se em 48 horas. Uma nova edição, de 30 mil, deve chegar às livrarias logo, logo. A expectativa é que exploda, chegue aos 200 mil exemplares. Todas essas informações são do editor Luiz Fernando Emediato. Então, como isso não é noticiado? Como uma explosão editorial dessas não é noticiada? Fala-se de um período recente, de 2003 a 2005, de uma negociata que envolveu o Brasil, de uma venda do Brasil, tudo fartamente documentado pelo autor. Os fatos, ora que se danem os fatos, esse é o procedimento da velha mídia. Notícia forte é aquela que interessa à perspectiva política dela.

O que for contra o seu projeto, o projeto neoliberal, que Fernando Henrique Cardoso, Serra e todo o tucanato expressam não pode ser noticiado. Ela tem lado, e projeto político. Por isso, combate cotidianamente o governo da presidenta Dilma, como o fez durante todos os oito anos do governo do presidente Lula. Eu não creio que a velha mídia perceba, ou se tem interesse em perceber, o quanto vai se degradando, o quanto vai se partidarizando, o quanto vai perdendo em qualidade, o quanto vai se tornando obscenamente parcial.

Houve um momento em que uma parte da mídia tentou ignorar a existência de milhões de pessoas nas ruas, clamando pelas diretas. Agora, faz de conta que A Privataria Tucana não existe. Luiz Fernando Emediato aposta que o silêncio da mídia será rompido em breve. Torço para que tenha razão, e que o livro, assim, venda mais e mais porque o povo brasileiro precisa conhecer mais profundamente o que foi a privataria tucana. Vender, o livro vai, não tenho dúvidas. Mas, a velha mídia noticiar? Sei não (por Emiliano José, Deputado Federal pelo Partido dos Trabalhadores – PT).


Imagem: Aroeira

Infâmia

A infâmia, infelizmente, tem sido parte da política partidária. Eu mesmo, junto com eminentes homens públicos do PSDB, fomos vítimas em mais de uma ocasião, a mais notória das quais foi o “Dossiê Cayman”, uma papelada forjada por falsários em Miami para dizer que possuíamos uma conta de centenas de milhões de dólares na referida ilha. Foi preciso que o FBI pusesse na cadeia os malandros que produziram a papelada para que as vozes interessadas em nos desmoralizar se calassem. Ainda nesta semana a imprensa mostrou quem fez a papelada e quem comprou o falso dossiê Cayman para usá-lo em campanhas eleitorais contra os tucanos. Esse foi o primeiro. Quem não se lembra, também, do “Dossiê dos Aloprados” e do “Dossiê de Furnas”, desmascarado nestes dias?

Na mesma tecla da infâmia, um jornalista indiciado pela Polícia Federal por haver armado outro dossiê contra o candidato do PSDB na campanha de 2010, fabrica agora “acusações”, especialmente, mas não só, contra José Serra. Na audácia de quem já tem experiência em fabricar “documentos” não se peja em atacar familiares, como o genro e a filha do alvo principal, que, sem ter culpa nenhuma no cartório, acabam por sofrer as conseqüências da calúnia organizada, inclusive na sua vida profissional.

Por estas razões, quero deixar registrado meu protesto e minha solidariedade às vítimas da infâmia e pedir à direção do PSDB, seus líderes, militantes e simpatizantes que reajam com indignação. Chega de assassinatos morais de inocentes. Se dúvidas houver, e nós não temos, que se apele à Justiça, nunca à infâmia (por Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil).



Imagem: Angeli

É Barça na cabeça

Enfim o mundo conheceu na madrugada deste domingo o clube campeão do mundo. Nem vou oferecer um peixe frito para quem adivinhar, haja vista que essa já é notícia de conhecimento público e notório. O Barcelona consagrou-se bicampeão do Mundial de Clubes 2011. Lionel Messi, o argentino depreciado por muitos brasileiros pelo simples fato de ser argentino e esportista de raro talento, e companhia mostraram ao mundo, especialmente a uma parte do mundo chamada Brasil, que craques e times de verdade não se fabricam com palavras plantadas e/ou forjadas na ágora midiático-esportiva, mas se constroem com trabalho sério (e muita grana, também, é claro). E nem me venham falar de entressafra e cansaço por esforço repetitivo. Balela! Faço minhas as palavras do Nilson Cesar Piccini Favara, da Jovem Pan, o “Barcelona deu uma aula para o futebol brasileiro refletir. Precisamos parar de achar que somos geniais, pois na verdade o que vale é o conjunto, e precisamos de mais humildade e entendermos (sic) que os nossos garotos precisam ainda evoluir muito. Estamos distantes de sermos os melhores do mundo, e não ficaria surpreso com uma grande decepção em 2014”. Oxalá essa suposta decepção se restrinja tão somente às quatro linhas que demarcam o campo, porque a vida vai muito além de uma simples partida de futebol (por Silvio Benevides).


Imagem: Reuters/ Issi Kato / UOL

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Deslocar-se é preciso

Como disseram os organizadores do II CachoeiraDoc, que ocorreu entre os dias 07 e 11 de dezembro, na histórica cidade de Cachoeira, Recôncavo baiano, o festival tem por desejo “provocar um deslocamento de rotas tradicionais”. Se este era o principal objetivo, devo dizer que ele foi plenamente atingido, pois deslocamentos não faltaram ao evento.

Documentários não costumam ser atraentes para produtores e exibidores ávidos por lucro. Tampouco costumam atrair um público acostumado com padrões estéticos estáticos. Se considerássemos tão somente estes dois aspectos o CachoeiraDoc já se justificaria como fundamental, pois possibilita que produções de valor encontrem um público com o qual possa dialogar e, por outro lado, um público disposto a ampliar seus horizontes estéticos. Mas os deslocamentos de rotas tradicionais propostos pela equipe organizadora do festival perpassaram, também, o tempo, o espaço e o político. Este último, em especial, foi o que mais me entusiasmou.

O festival teve início com a exibição na Praça D’Ajuda do documentário MARIGHELLA (2011), da Iza Grinspum Ferraz, a mesma diretora do magnífico O POVO BRASILEIRO (2000), baseado na obra do Darcy Ribeiro. Carlos Marighella, como se sabe (ou, pelo menos, se deveria saber), foi membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e considerado o inimigo número um do regime militar instituído em 1964 por conta, sobretudo, da sua atuação política na guerrilha urbana. Perseguido a vida toda por conta de suas convicções ideológicas, Marighella foi assassinado pela ditadura em novembro de 1969. Esse trabalho da Iza Grinspum é fundamental por dois motivos. Primeiro, porque a partir das suas lembranças infantis sobre o seu tio Marighella, ela resgata não apenas a memória da sua família, mas, também, a memória do Brasil, que neste caso específico, como em tantos outros, foi insistentemente negada. Segundo, porque serve para calar a boca dos imbecis que de maneira aviltante tentam de toda forma desqualificar aqueles que deram o sangue para que o Brasil se tornasse a democracia vigorosa que é hoje.

Além do documentário MARIGHELLA, outras três produções me entusiasmaram deveras, por conta do debate político que se pode estabelecer a partir das reflexões que suscitam. Refiro-me aos curtas ACERCADACANA (2010), do Felipe Peres Calheiros, que retrata a resistência destemida da trabalhadora rural Maria Francisca frente a arrogância autoritária de uma grande empresa produtora de etanol, localizada na zona da mata pernambucana; ENTRE VÃOS (2010), de Luisa Caetano, um registro etnográfico da comunidade remanescente quilombola Kalunga, que vive nas proximidades do município de Cavalcante, localizado na Chapada dos Viadeiros, Goiás; e o média-metragem BICICLETAS DE NHANDERU (2011), de Ariel Ortega e Patrícia Ferreira, que nos mostra o cotidiano dos indígenas Mbya-Guarani da aldeia Koenju, localizada em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul. O que mais me entusiasmou nestes três trabalhos foi o fato de todos darem voz a minorias sociais oprimidas ou pelo poder econômico ou pelos preconceitos construídos e constituídos ao longo da formação histórica do Brasil e demais países latino-americanos. São trabalhos que também me fizeram pensar que refletir sobre a realidade que nos cerca, denunciar situações que diminuem grupos sociais vulneráveis ou ferem os direitos humanos, além de resgatar a memória histórica de um povo ou nação, é a função primordial de obras financiadas com recursos públicos. Ao menos essa é a minha convicção e, talvez, por isso esses foram os melhores trabalhos exibidos no festival. Mas não foram os únicos que gostei.

Com propostas semelhantes aos trabalhos acima referidos, os curtas BABÁS (2010), da Consuelo Lins, que levanta a discussão sobre até que ponto o Brasil superou, de fato, o seu passado escravocrata; e SALA DE MILAGRES (2011), de Cláudio Marques e Marília Hughes, um registro inusitado e surpreendente da romaria de Bom Jesus da Lapa, Bahia, embalado pela voz marcante do Edgard Navarro, também cumprem a função social e política de trabalhos apoiados pelo dinheiro público.

Claro que a função do cinema não é apenas divertir, denunciar, provocar o debate político ou resgatar a memória, mas, também, experimentar. E experimentações não faltaram no II CachoeiraDoc. Algumas muito interessantes, a exemplo de SÃO PAULO, SINFONIA E CACOFONIA (1994), do Jean-Claude Bernardet, colagem de cenas oriundas de inúmeros filmes que tem a capital paulista como centro ou pano de fundo da trama. Outras, no entanto, demasiado chatas, vazias de qualquer proposta e confusas o que nos leva a pensar que assim como a vida, a arte também não é feita só de acertos e alegrias.

Merece destaque, também, a homenagem que o CachoeiraDoc fez à obra da cineasta francesa Agnès Varda, uma artista inquieta e disposta a discutir as questões postas pelo seu tempo, uma mulher deslocada e que, sem dúvida, provoca inúmeros deslocamentos. Não conhecia o trabalho da Agnès Varda e foi uma satisfação conhecer, especialmente por conta da sua estética arrebatadora. Como se pode perceber, deslocar-se é preciso, pois são os deslocamentos que nos fazem ver mais longe. Por isso o CachoeiraDoc merece ser aplaudido de pé e que aconteçam muitos outros nos anos vindouros (por Silvio Benevides).


Imagem: Ulysse, por Agnès Varda

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quantas mães mais deverão chorar a morte de seus filhos até que a homofobia seja criminalizada no Brasil?

A ABGLT - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - é uma entidade de abrangência nacional que congrega 257 organizações congêneres e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.

Desta forma hoje, nesse país que mais assassina lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no mundo, nossas lágrimas se juntam às da família de Alexandre Ivo, jovem adolescente de 14 anos, que foi sequestrado, torturado e brutalmente assassinado em 21 de junho de 2010 por três algozes que tinham pelo menos o dobro de sua idade e porte físico muito superior. Torturado por aproximadamente 3 horas e assassinado por simplesmente ser diferente. Exatamente hoje, 30 de novembro de 2011, Alexandre teria completado 16 anos. Conheça mais sobre a história de Alexandre e sua família no blog Alexandre (V)Ivo e no Facebook.

Alexandre Ivo, adolescente de 14 anos, juntamente com centenas de outros assassinados em 2010, não podem voltar mais, porém a sociedade, o Senado e a Câmara de Deputados junto com a ABGLT, junto com as “Mães pela Igualdade” e outras redes LGBT e de direitos humanos podem impedir novos assassinatos e a dor materna da ausência de seus filhos.

A exemplo da Lei Maria da Penha, a lei que será criada para combater a homofobia será batizada de Lei Alexandre Ivo, em homenagem ao adolescente e aos milhares de pessoas LGBT assassinadas no Brasil. A lei visa proteger também heterossexuais vítimas de homofobia, como foi o caso do pai que teve a orelha decepada, pois todo comportamento que foge aos padrões estabelecidos por estes assassinos, correm riscos. Em nosso país, pai não pode beijar seus filhos homens! Conheça mais sobre o projeto de lei - PLC 122.

Somos todos e todas Alexandre Ivo! Sejamos favoráveis à igualdade entre os/as brasileiros/as independente de gênero, identidade de gênero, etnia, confissão religiosa ou orientação sexual. O ódio ao público LGBT não é divino e tampouco humano! Neste dia do aniversário de Alexandre Ivo, vamos todos/as gritar: somos Alexandre Ivo!

No dia 8 de dezembro, a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal deverá votar a Lei Alexandre Ivo. A ABGLT convida a todo/a e qualquer cidadã e cidadão, bem como entidades e órgãos no Brasil, a lutarem por justiça! Temos a chance e contamos com você. Liguem 0800 61 22 11, gratuitamente, inclusive de celular, e deixem seu recado para os senadores do seu estado, pedindo que votem favorável ao PLC 122 - Lei Alexandre Ivo. Lei que criminaliza a homofobia no Brasil. Você deve fazer o cadastro – É rápido, e fácil. O pedido também pode ser feito por meio da Ouvidoria do Senado. [Na mensagem pode ser utilizado o seguinte texto: “Nobres senadores e senadoras. Solicito a aprovação no próximo dia 08 de dezembro da Lei Alexandre Ivo, que visa criminalizar a homofobia no país, crime de ódio que, além de atentar contra a segurança da população, fere a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento do qual o Brasil é signatário. Rogo aos membros da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal que não permitam que a nossa Nação venha a padecer nas trevas do obscurantismo anti-laicista”, ou o texto que você preferir].

Centenas de pessoas já o fizeram no Brasil. Estamos esperando sua vez para o Brasil parar de derramar sangue inocente. Hoje somente quem faz oposição são religiosos homofóbicos fundamentalistas que não têm compromisso com os direitos humanos. Para a ABGLT, familiares, parentes e amigos, todo APOIO ao projeto de lei ALEXANDRE IVO. Isso pode traduzir os anseios, respostas e demandas de luta pela vida e pela igualdade, cidadania, respeito ao público LGBT no BRASIL.

Em memória de Alexandre Ivo e tantos/as que já foram espancadas/os e assassinadas/os por ódio, discriminação e repulsa pelo simples fato de SER DIFERENTE. Não se cale! Ligue e expresse seu amor: 0800 61 22 11. 14 pesquisas científicas nacionais comprovam que 70% da população LGBT já sofreram discriminação por serem o que são, e 20% já sofreram violência física pelos mesmos motivos. Alexandre Ivo vive em nossos corações e mentes. Sua morte e os pelo menos 3.446 assassinatos de pessoas LGBT de que se tem conhecimento não podem ficar impunes (por ABGLT).


Imagem: Angélica Ivo, mãe de Alexandre Ivo. Fonte: Congresso Nacional

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cachoeira mais uma vez em cena com o II CachoeiraDoc

Entre os dias 07 e 11 de dezembro de 2011 acontecerá no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na histórica cidade de Cachoeira, o II CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira. Na origem do CachoeiraDoc está o desejo de provocar um deslocamento nas rotas tradicionais dos documentários brasileiros para fazê-los chegar a Cachoeira, contribuindo, ao mesmo tempo, para fortalecer esta cidade como um espaço de produção de imagens e sons articulado com o mundo. No ano passado, quando a primeira edição do festival inaugurou esse movimento e fez circular por aqui documentários de muitos tempos e lugares, tivemos a certeza de sua força. Há algo de muito especial que se produz num lugar de encontro em que se cruzam filmes e pessoas, reunidas pela vontade de cinema, pela vontade de acessar (outros) mundos pelo cinema. E é por acreditarmos na potência dessa partilha, que começa na sala escura e se estende pelas ruas em cortejos de conversas animadas, que temos a alegria de apresentar o II CachoeiraDoc.

Escolhemos começar esta edição com um ato de memória e uma celebração do centenário de um dos grandes homens da história do país. Na sessão de abertura, Marighella, filme de Isa Grispum Ferraz, será exibido na praça. Embalado pela presença – afetiva e política – da família Marighella, o documentário projetará na cidade, entre casas e gente, seu gesto necessário de escritura da história.

E se o documentário povoa as praças da memória, ele também nos leva às praias dos afetos, da política dos afetos. Como sopros de brisa, uma pequena mas preciosa coleção de filmes de Agnès Varda, uma das mais inventivas documentaristas da história do cinema, atravessará o festival. A Mostra Documentários Experimentais reunirá filmes de realizadores brasileiros que compuseram também experiências documentais desafiadoras, articulando vida e invenção e aproximando o documentário das artes visuais. Esse diálogo será ainda festejado no encerramento do CachoeiraDoc com uma intervenção artística em que o movimento siderante das ruas da Moscou de Vertov vai transmutar os muros de Cachoeira.

Como um dos nossos desejos é contribuir para promover o encontro dos documentários com as pessoas, programamos uma sessão especial de Bahêa, minha vida, documentário baiano sobre o time de futebol que mobiliza paixões, inédito em Cachoeira, onde ainda não há sala de cinema.

Na nossa muito jovem trajetória, já temos alguns motivos para celebrar, e um dos mais importantes deles é o conjunto de filmes que recebemos de realizadores do Brasil inteiro, renovando a convicção fundadora de que há uma grande e rigorosa produção de documentários no país, e de que ela precisa ser vista. A Mostra Competitiva Nacional e, no âmbito local, a Mostra Competitiva Bahia constituem uma seleção que demonstra as múltiplas formas através das quais os realizadores brasileiros têm enfrentado os desafios do real. Não percam! (por Amaranta Cesar)



Imagem: Cartaz de divulgação

Dia mundial de combate a SIDA/AIDS: a doença no Brasil

Desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2011, O Brasil tem 608.230 casos registrados de AIDS (condição em que a doença já se manifestou), de acordo com o último Boletim Epidemiológico. Em 2010, foram notificados 34.218 casos da doença e a taxa de incidência de aids no Brasil foi de 17,9 casos por 100 mil habitantes.

Observando-se a epidemia por região em um período de 10 anos, 2000 a 2010, a taxa de incidência caiu no Sudeste de 24,5 para 17,6 casos por 100 mil habitantes. Nas outras regiões, cresceu: 27,1 para 28,8 no Sul; 7,0 para 20,6 no Norte; 13,9 para 15,7 no Centro-Oeste; e 7,1 para 12,6 no Nordeste. Vale lembrar que o maior número de casos acumulados está concentrado na região Sudeste (56%).

Atualmente, ainda há mais casos da doença entre os homens do que entre as mulheres, mas essa diferença vem diminuindo ao longo dos anos. Esse aumento proporcional do número de casos de aids entre mulheres pode ser observado pela razão de sexos (número de casos em homens dividido pelo número de casos em mulheres). Em 1989, a razão de sexos era de cerca de 6 casos de AIDS no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2010, chegou a 1,7 caso em homens para cada 1 em mulheres.

A faixa etária em que a aids é mais incidente, em ambos os sexos, é a de 25 a 49 anos de idade. Chama atenção a análise da razão de sexos em jovens de 13 a 19 anos. Essa é a única faixa etária em que o número de casos de aids é maior entre as mulheres. A inversão apresenta-se desde 1998. Em relação aos jovens, os dados apontam que, embora eles tenham elevado conhecimento sobre prevenção da aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, há tendência de crescimento do HIV.

Quanto à forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade, prevalece a sexual. Nas mulheres, 83,1% dos casos registrados em 2010 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 42,4% dos casos se deram por relações heterossexuais, 22% por relações homossexuais e 7,7% por bissexuais. O restante ocorreu por transmissão sanguínea e vertical.

Apesar de o número de casos no sexo masculino ainda ser maior entre heterossexuais, a epidemia no país é concentrada. Ao longo dos últimos 12 anos, a porcentagem de casos na população de 15 a 24 anos caiu. Já entre os gays a mesma faixa houve aumento de 10,1% entre os gays da mesma faixa. Em 2010, para cada 16 homossexuais dessa faixa etária vivendo com AIDS, havia 10 heterossexuais. Essa relação, em 1998, era de 12 para 10.

Em números absolutos, é possível ver como a redução de casos de AIDS em menores de cinco anos é expressiva: passou de 863 casos, em 2000, para 482, no ano passado. Comparando-se os anos de 2000 e 2010, a redução chegou a 55%. O resultado confirma a eficácia da política de redução da transmissão vertical do HIV (da mãe para o bebê).

Quando todas as medidas preventivas são adotadas, a chance de transmissão vertical cai para menos de 1%. Às gestantes, o Ministério da Saúde recomenda o uso de medicamentos antirretrovirais durante o período de gravidez e no trabalho de parto, além de realização de cesárea para as mulheres que têm carga viral elevada ou desconhecida. Para o recém-nascido, a determinação é de substituição do aleitamento materno por fórmula infantil (leite em pó) e uso de antirretrovirais.

Atento a essa realidade, o governo brasileiro tem desenvolvido e fortalecido diversas ações para que a prevenção se torne um hábito na vida dos jovens. A distribuição de preservativos no país, por exemplo, cresceu mais de 60% entre 2005 e 2010 (de 202 milhões para 327 milhões de unidades). Os jovens são os que mais retiram preservativos no Sistema Único de Saúde (37%) e os que se previnem mais. Modelo matemático, calculado a partir dos dados da PCAP de 2008, mostra que quanto maior o acesso à camisinha no SUS, maior o uso do insumo. A PCAP é a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas relacionada às DST e AIDS da População Brasileira de 15 a 64 anos de idade.

Em relação à taxa de mortalidade, o Boletim também sinaliza queda. Em 12 anos, a taxa de incidência baixou de 7,6 para 6,3 a cada 100 mil pessoas. A queda foi de 17%.

Questões de vulnerabilidade – O levantamento feito entre jovens, realizado com mais de 35 mil meninos de 17 a 20 anos de idade, indica que, em cinco anos, a prevalência do HIV nessa população passou de 0,09% para 0,12%. O estudo também revela que quanto menor a escolaridade, maior o percentual de infectados pelo vírus da AIDS (prevalência de 0,17% entre os meninos com ensino fundamental incompleto e 0,10% entre os que têm ensino fundamental completo).

O resultado positivo para o HIV está relacionado, principalmente, ao número de parcerias (quanto mais parceiros, maior a vulnerabilidade), à coinfecção com outras doenças sexualmente transmissíveis e às relações homossexuais. O estudo é representativo da população masculina brasileira nessa faixa etária e revela um retrato das novas infecções. Veja também o Boletim Epidemiológico 2011 (Fonte: Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde do Brasil).

Na maioria das vezes o preconceito surge por falta de informação. A AIDS pode afetar a qualquer um, tem tratamento e o apoio da família e dos amigos é essencial. Deixe o preconceito de lado, sem ele, mais pessoas se previnem.




Imagem: GUGDesign

Por que usar a camisinha?

A camisinha é o método mais eficaz para se prevenir contra muitas doenças sexualmente transmissíveis, como a aids, alguns tipos de hepatites e a sífilis, por exemplo. Além disso, evita uma gravidez não planejada. Por isso, use camisinha sempre.

Mas o preservativo não deve ser uma opção somente para quem não se infectou com o HIV. Além de evitar a transmissão de outras doenças, que podem prejudicar ainda mais o sistema imunológico, previne contra a reinfecção pelo vírus causador da aids, o que pode agravar ainda mais a saúde da pessoa.

Guardar e manusear a camisinha é muito fácil. Treine antes, assim você não erra na hora. Nas preliminares, colocar a camisinha no(a) parceiro(a) pode se tornar um momento prazeroso. Só é preciso seguir o modo correto de uso. Mas atenção: nunca use duas camisinhas ao mesmo tempo. Aí sim, ela pode se romper ou estourar.

A camisinha é impermeável – A impermeabilidade é um dos fatores que mais preocupam as pessoas. Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos esticaram e ampliaram 2 mil vezes o látex do preservativo masculino (utilizando-se de microscópio eletrônico) e não foi encontrado nenhum poro. Em outro estudo, foram examinadas as 40 marcas de camisinha mais utilizadas em todo o mundo. A borracha foi ampliada 30 mil vezes (nível de ampliação que possibilita a visão do HIV) e nenhum exemplar apresentou poros.

Em 1992, cientistas usaram microesferas semelhantes ao HIV em concentração 100 vezes maior que a quantidade encontrada no sêmen. Os resultados demonstraram que, mesmo nos casos em que a resistência dos preservativos mostrou-se menor, os vazamentos foram inferiores a 0,01% do volume total. Ou seja, mesmo nas piores condições, os preservativos oferecem 10 mil vezes mais proteção contra o vírus da aids do que a sua não utilização.

Onde pegar – O preservativo masculino é distribuído gratuitamente em toda a rede pública de saúde. Caso não saiba onde retirar, ligue para o Disque Saúde (0800 61 1997). Também é possível pegar camisinha em algumas escolas parceiras do projeto Saúde e Prevenção nas Escolas.

Você sabia... Que o preservativo começou a ser distribuído pelo Ministério da Saúde em 1994?

Como é feita a distribuição – A compra da maior parte de preservativos e géis lubrificantes disponíveis é feita pelo Ministério da Saúde. Aos governos estaduais e municipais cabe a compra e distribuição de, no mínimo, 10% do total de preservativos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e de 20% nas regiões Sudeste e Sul. Veja a distribuição nos estados.

Após a aquisição, os chamados insumos de prevenção saem do Almoxarifado Central do Ministério da Saúde, do Almoxarifado Auxiliar de São Paulo e da Fábrica de Preservativos Natex e seguem para os almoxarifados centrais dos estados e das capitais (Fonte: Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde do Brasil).





Imagem: Kazuo Okubo