segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre o livro "A privataria tucana"

O livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, será seguramente um dos maiores best-sellers dos últimos tempos. Não é que muito do que divulgue não fosse do conhecimento público. Mas o era de modo fragmentado, perdido ao longo do tempo e, sobretudo, bastante escamoteado pela mídia. E serve para desmascarar o farisaísmo tucano, cujos dirigentes hoje vivem a procurar pelo em ovo, ao tentar localizar corrupção no Governo Federal, desconhecendo todos os esforços do Governo Lula e do Governo Dilma de combate cotidiano a quaisquer atitudes de desrespeito com o dinheiro público.

O mérito do livro é o de sistematização de um período. É resultado de um esforço de fôlego, fruto de 12 anos de trabalho. Devassa as privatizações na era Fernando Henrique Cardoso. Do livro, como diz o jornalista Leandro Fortes, na revista Carta Capital, emerge um personagem central, chamado José Serra, cujo tesoureiro de campanha, Ricardo Sérgio de Oliveira, ainda de acordo com a matéria de Carta Capital, movimentaria bilhões de dólares durante os anos dourados das privatizações e do domínio do PSDB no comando do País.

Dessa farra, valeram-se a filha e o genro de Serra, Verônica e Alexandre Bourgeois, além de Gregório Marin Preciado, casado com uma prima do tucano. Há vários outros personagens, como Carlos Jereissati, empresário e irmão do ex-Senador Tasso Jereissati e hoje um dos principais acionistas da operadora de telefonia Oi (ex-Telemar). Há mais, muito mais, e a população brasileira há de descobrir por conta própria. Não deve deixar de ler a cobertura de Carta Capital, cujas mais de dez páginas elucidam com riqueza de detalhes como era a “privataria” tucana, como foi aquilo que os tucanos de bico longo chamavam de o negócio do século. E não deve, sobretudo, deixar de ler o livro.

O que pretendo aqui, rapidamente, é, primeiro, dizer que o livro não faz mais do que demonstrar como foi conduzida a privatização do País. Para além do desastre que significou para o Brasil, como isso enfraqueceu a Nação diante das potências capitalistas, como se venderam empresas estratégicas a preço de banana, para além disso, o livro evidencia como se confundia os interesses privados com o público.

Dito de outra maneira, o poder público estava vinculado ao interesse patrimonial privado, ao interesse particular de quem detinha o poder, e é curioso ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fazer perorações sobre moralidade pública, contra o nosso governo, e isso ele o fez nas últimas horas, com o livro já nas ruas, não sei se já sabendo de sua existência, e com isso tentando fazer alguma vacina, ou se desconhecendo, e com isso naturalmente pagando um mico de bom tamanho.

Além disso, fico impressionado com o silêncio da velha mídia. Impressionado é modo de dizer. É um silêncio compreensível. A velha mídia tem lado. Ataca o PT, e ponto final. Ataca o nosso projeto político, sempre. Nunca aceitou que Lula fosse o presidente do Brasil, menos que tivesse sucesso, menos ainda que fizesse as reformas que fez, que promovesse a melhoria nas condições de vida do nosso povo como promoveu. Como agora, não aceita a presidenta Dilma e quer que ela obedeça às suas ordens.

Salvo Carta Capital, ninguém mais noticiou. Claro que algum jornalista poderia falar em critério de noticiabilidade. Será que valia notícia? Ou será que seria melhor requentar alguma coisa, como fez Veja? Melhor requentar, de acordo com os estranhos critérios, corrijo-me, compreensíveis critérios de uma mídia que não tem mais sequer compromissos com seus manuais de redação. Os que não requentaram nada, não noticiaram. Um silêncio que desnuda nossa velha mídia, que se deteriora a olhos vistos, incapaz de adotar procedimentos minimamente aceitáveis por quem faz do jornalismo algo sério.

O livro foi lançado há uma semana. Os 15 mil exemplares esgotaram-se em 48 horas. Uma nova edição, de 30 mil, deve chegar às livrarias logo, logo. A expectativa é que exploda, chegue aos 200 mil exemplares. Todas essas informações são do editor Luiz Fernando Emediato. Então, como isso não é noticiado? Como uma explosão editorial dessas não é noticiada? Fala-se de um período recente, de 2003 a 2005, de uma negociata que envolveu o Brasil, de uma venda do Brasil, tudo fartamente documentado pelo autor. Os fatos, ora que se danem os fatos, esse é o procedimento da velha mídia. Notícia forte é aquela que interessa à perspectiva política dela.

O que for contra o seu projeto, o projeto neoliberal, que Fernando Henrique Cardoso, Serra e todo o tucanato expressam não pode ser noticiado. Ela tem lado, e projeto político. Por isso, combate cotidianamente o governo da presidenta Dilma, como o fez durante todos os oito anos do governo do presidente Lula. Eu não creio que a velha mídia perceba, ou se tem interesse em perceber, o quanto vai se degradando, o quanto vai se partidarizando, o quanto vai perdendo em qualidade, o quanto vai se tornando obscenamente parcial.

Houve um momento em que uma parte da mídia tentou ignorar a existência de milhões de pessoas nas ruas, clamando pelas diretas. Agora, faz de conta que A Privataria Tucana não existe. Luiz Fernando Emediato aposta que o silêncio da mídia será rompido em breve. Torço para que tenha razão, e que o livro, assim, venda mais e mais porque o povo brasileiro precisa conhecer mais profundamente o que foi a privataria tucana. Vender, o livro vai, não tenho dúvidas. Mas, a velha mídia noticiar? Sei não (por Emiliano José, Deputado Federal pelo Partido dos Trabalhadores – PT).


Imagem: Aroeira

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