segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Assaltos a bancos crescem 61% na Bahia

O número de roubos a bancos teve considerável aumento no primeiro semestre na Bahia, principalmente nas cidades do interior. De janeiro a junho foram registrados 30 assaltos em todo o Estado. Somente no interior foram 26 ocorrências. Fortemente armados e com esquemas operacionais que chegam a serem parecidos com os vistos nos filmes de Hollywood, os criminosos aproveitam a falta de segurança das instituições bancárias e o pouco efetivo policial de alguns municípios para realizarem os furtos, aterrorizando clientes e funcionários. Os dados não mentem. De acordo com o Centro de Documentação e Estatística Policial (CEDEP) o número de assaltos às agências na Bahia teve aumento de 61% em relação ao mesmo período de 2009 (Fonte: Jornal do Cliente, informativo do Sindicato dos Bancários da Bahia – Agosto/2010).

Imagem: Isso é um assalto, por Joaquim Silva.

Medo e insegurança em Salvador

Eu sempre acreditei que aprendemos com as experiências que vivenciamos, sejam quais forem. Entretanto, recentemente, descobri que existem algumas que não nos ensinam nada. Não aprendi nada com experiência que vou relatar. Estava eu, tranquilamente, aguardando minha vez na fila de um banco quando de repente só se escutavam gritos. Um barulho danado e surge na minha frente um homem trajando um macacão laranja, se passando por um trabalhador de obras públicas com uma pistola prata na mão e gritando: TODO MUNDO NO CHÃO! Ele olhava dentro do meu olho e mostrando sua cara. Não apresentava nenhum medo na ação. Apenas repetia: TODO MUNDO NO CHÃO! E NINGUÉM PEGA CELULAR OU LEVA BALA! Parecia cena em câmera lenta e ao mesmo tempo acelerada. Eu, já no chão, não via mais nada, apenas ouvia e sentia meu coração disparado e pensava: “será que sairemos bem”? Pessoas eram ameaçadas e agredidas. Os bandidos queriam o gerente, gritavam. Queriam o dinheiro do cofre e gritavam, gritavam...

Era um filme (REAL) que ninguém sabia o final. Pior, não vimos o começo, estávamos todos no meio do filme intitulado PESADELO. Tudo muito rápido. Muita agressividade. Medo, pânico, violência e o mais terrível, a incerteza de como aquilo terminaria. Talvez 10 minutos de terror que pareceram horas. Não acabava. O mais “incrível” é que eu rezei para a polícia não chegar, pois eu tinha apenas uma certeza no momento: se a polícia chegasse, de certo, ocorreria um tiroteio. Um instante... Fez-se silêncio. “Levantem, acabou”. “Vocês estão bem? Alguém machucado”?

Alguns funcionários agredidos e abalados, pessoas foram assaltadas, pessoas estavam nervosas, mas havia acabado e eu estou aqui contando, escrevendo, me livrando desse momento. Quero apenas poder dormir e acordar bem. A polícia chegou 30 minutos depois e os bandidos já tinham ido embora. Estávamos vivos! Quem perdeu dinheiro ficou para esclarecimentos à polícia e quem nada perdeu foi liberado. Livres, mas os bandidos estão livres também. Para que serviu essa experiência (experiência?!)? Qual a minha contribuição para mudar essa situação? O que fazer? INSEGURANÇA! TENHO MAIS MEDO! (por Gina Carla Reis)

Imagem: Medo, por Francis Leonardo Cirino.

Ao menos nos resta a POESIA

Para quem acredita que escrever exorciza. Para quem acredita que brincar de poesia ajuda a suportar melhor certas "experiências". Para você, que poderia ser qualquer uma ou um de nós, digo que ainda nos resta a POESIA.

E se os gritos fossem de alegria
E se quando tirassem o macacão, saltassem palhaços
E se a pistola fosse uma flor
E quando deitasse no chão, você dormisse
E ao gritarem: “chamem o gerente”
Ouvisse: “chama, gente!”
E os corações acelerassem e acordassem
Tanta gente se cumprimentando
E a vida no castelo continuasse
Enfim,
O feitiço acabou.

Essa postagem é de autoria da Sumaia Leão com base no relato escrito por Gina Carla Reis. Ele nos revela que é possível, sim, acreditar que algum dia o bem triunfará, enfim. Antes, porém, será preciso contaminar o mundo e a humanidade com o vírus da Poesia.
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Imagem: Borboleta no Pampilho, por Jorge Freitas Soares

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Utopias para um futuro presente

Com este tema, a X Edição do Mercado Cultural buscará um aprofundamento da sua missão histórica de reflexão e ação, troca de experiências e difusão de ideias e projetos criativos. Nesta oportunidade, iremos ao encontro da pergunta e da busca de respostas para questões que afetam todo o planeta.

A cultura do medo, presente nas organizações e na sociedade, afeta até as crianças e os jovens que temem a violência, a falta de trabalho e a devastação ambiental. Que alternativas temos para estes temores? Como encaminhar os nossos anseios por uma cultura de paz, respeito à diversidade cultural e preservação da biodiversidade? Como estimular e difundir práticas inovadoras e soluções? Como construir referências para um convívio sincero e ético? Como embasar as nossas ações no ser e não no ter?

O X Mercado pretende reunir artistas, educadores, filósofos, historiadores, sociólogos, ambientalistas e outros participantes da comunidade de ativistas e intelectuais que engendram propostas e soluções para um futuro que já bateu às nossas portas, por isso presente.

Aparentemente grandes estas questões serão abordadas também através das soluções cotidianas, apontadas pelos fazeres e saberes das comunidades envolvidas: músicos e agricultores, filósofos e atores, escritores e comerciantes, professores e poetas, sonhadores e sambadores – todos na grande assembléia anual do X Mercado Cultural.

Em Salvador o X Mercado Cultural acontecerá de 02 a 05 de dezembro no Teatro Castro Alves. Como sempre, artistas de vários países se apresentarão, entre eles, Matthias Loibner (Áustria), Coetus (Espanha), Noreum Machi (Coréia), Komanti (Guiana Francesa) e Oudaden (Marrocos) e o Balé do Teatro Castro Alves (Brasil). O Salvador na sola do pé saúda o X Mercado Cultural que virá para alegrar e exaltar esta cidade exausta de contemplar tanto lixo (Fonte: Mercado Cultural).

Utopias for a Present Future

With this theme, the X Edition of the Mercado Cultural seeks to deepen into its historic mission of reflection and action, experience exchange and creative ideas and projects diffusion. At that time, we will move towards the question and the seeking of answers to matters which affect the whole planet.

The culture of fear, present within organizations and society, affects even children and young people who fear violence, unemployment and environmental devastation. Which alternatives do we have to these dreads? How can we forward our anxieties for a culture of peace, respect towards cultural diversity and preservation of biodiversity? How can one stimulate and diffuse innovative practices and solutions? How can one build references for a sincere and ethical relationship? How can we base our actions on being and not owning?

The X Mercado intends to unite artists, educators, philosophers, historians, sociologists, environmentalists and other participants from the community of activists and intellectuals which produce alternatives and solutions for a future that has already knocked on our doors, therefore present.

Apparently big, these issues will be addressed also through daily life solutions, pointed out by the actions and wisdoms of the communities involved: musicians and farmers, philosophers and actors, writers and traders, teachers and poets, dreamers and sambadores – all at the great annual assembly of the X Mercado Cultural.

In Salvador the X Mercado Cultural will happen from 02 to 05 of December in the Castro Alves Theatre. As always, artists from many countries could be seen, between them, Matthias Loibner (Austria), Coetus (Spain), Noreum Machi (Korea), Komanti (French Guiana) e Oudaden (Morroco) and Castro Alves Theatre Ballet Group (Brazil). The Salvador na sola do pé greets the X Mercado Cultural that will come to gladden and to elevate this city impregnated of trash (Source: Mercado Cultural).
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Imagem: The child in us, by Sergi Barisashvili

Vergonha!

O Museu da Memória no Chile agregou ao seu arquivo milhares de documentos que confirmam apoio dos EUA ao golpe militar e ao posterior governo de do ditador Augusto Pinochet. Na verdade essa documentação apenas afirma o que as esquerdas latino-americanas afirmavam desde os idos anos da década de 1960, ou seja, que o governo estadunidense participou de forma direta nos sucessivos golpes e regimes de exceção que varreram toda a América Latina do México à Argentina. Uma vergonha para uma nação que se diz defensora das liberdades democráticas e se arvora em alardear ter a democracia como princípio norteador basilar.

O apoio norte-americano ao golpe militar que derrubou o Presidente chileno Salvador Allende, a 11 de Setembro de 1973, não é um tema inédito, mas agora há dados novos. O Museu da Memória e dos Direitos Humanos em Santiago do Chile acaba de receber mais de 20.000 documentos desclassificados que trazem novas informações sobre o envolvimento dos EUA no golpe que deu início à ditadura de Pinochet.

“Desejamos que o seu governo seja próspero. Queremos ajudá-lo e não obstruir o seu trabalho”. Estamos em Junho de 1976, passaram já quase três anos após o bombardeamento do Palácio de La Moneda em Santiago e a morte de Allende. O secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger prepara-se para fazer um discurso na Organização dos Estados Americanos sobre direitos humanos, mas antes volta-se para o general Augusto Pinochet e manifesta-lhe o seu apoio. Depois acrescenta: “Está a ser vítima de todos os grupos de esquerda do mundo e o seu maior pecado não foi outro senão derrubar um governo que se converteu ao comunismo”.

Esta conversa entre o secretário de Estado norte-americano e o ditador chileno, que ontem foi citada pelo diário espanhol “El Mundo”, é uma das que se encontram transcritas nos documentos que agora passaram a fazer parte dos arquivos do Museu da Memória. Mas nos mais de 20.000 documentos entregues pelo director do projecto dedicado ao Chile no arquivo da Universidade George Washington, Peter Kornbluh, é também expressa “de forma muto clara” a intervenção da Administração do Presidente Richard Nixon.

Peter Kornbluh, autor de várias obras sobre a ditadura chilena, adiantou ao “El Mundo” que Kissinger “foi o arquitecto do programa para derrotar Allende entre 1970 e 1973”. Alguns dos documentos agora disponibilizados, cerca de 2000, provêem da CIA, enquanto outros são transcrições de conversas de Kissinger ou informações sobre como Pinochet e o chefe da polícia secreta Chile DINA, Manuel Contreras, tentaram encobrir o assassínio em Washington do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Allende, Orlando Letelier.

Kornbluh considera que os documentos serão um contributo para os processos judiciais sobre violações de direitos humanos na ditadura que se prolongou até 1990 e em que foram mortos mais de 3000 opositores (por Isabel Gorjão Santos para o Público 20).
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Imagem: Bandeira do Chile

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Envelhecer é uma BENÇA

Envelhecer. Verbo transitivo direto que significa tornar-se velho ou mais velho. Em sentido figurado pode, também, ser entendido como fazer perder ou perder o viço, o frescor, o brilho, o colorido, ou, ainda, tornar-se desusado, fora de moda ou sem emprego, sem serventia. Como quer que o termo seja empregado, envelhecer não é nada fácil. Nunca foi. Entretanto, nos dias que correm envelhecer parece ser ainda mais difícil do que já fora em épocas pretéritas.

Ao contrário do que acontecia nas sociedades pré-modernas, mais apoiadas na tradição, o envelhecimento nas sociedades modernas e industrializadas passou a ser uma experiência mais e mais isolada da vida social. De acordo com o sociólogo alemão Norbert Elias, o que antes se constituía numa experiência mais pública, vivenciada no domínio da família extensa, incluindo, em alguns casos, até mesmo vizinhos, na modernidade tornou-se uma experiência solitária e excludente. Embora nas sociedades contemporâneas o Estado proteja mais o idoso, da violência física óbvia, por exemplo, ao mesmo tempo estas sociedades o isolam, pois envelhecer, hoje, é quase um desvio de caráter. Ostentar e exibir a velhice, mesmo saudável, passou a ser uma afronta ou, em alguns casos, uma atitude de mau gosto.

Não é por acaso que isso ocorre. Ainda de acordo com Norbert Elias, envelhecer e morrer indicam que o controle humano sobre a natureza e, também, sobre a vida, tem limites. Envelhecer e morrer, portanto, nos põem em contato direto com esses limites e, mais, ainda, com o fim. Segundo Elias, “não é fácil imaginar que nosso próprio corpo, tão cheio de frescor e muitas vezes de sensações agradáveis, pode ficar vagaroso, cansado e desajeitado. Não podemos imaginá-lo e, no fundo, não o queremos. Dito de outra maneira, a identificação com os velhos e com os moribundos compreensivelmente coloca dificuldades especiais para as pessoas de outras faixas etárias. Consciente ou inconscientemente, elas resistem à idéia de seu próprio envelhecimento e morte tanto quanto possível” (Envelhecer e morrer, 2001:80).

Sendo assim, do mesmo modo que Norbert Elias afirmou que “a morte é um problema dos vivos”, podemos dizer que o envelhecimento é um problema dos jovens. E é precisamente esse um dos principais temas abordados pelo espetáculo BENÇA, do Bando de Teatro Olodum, em cartaz no Teatro Vila Velha até o dia 28 de novembro.

Escrito e dirigido por Márcio Meirelles, o espetáculo Bença discute, entre outras coisas, a experiência do envelhecimento nos seus mais variados aspectos. As mudanças do corpo, a gradual perda nas sociedades atuais de poder e status das pessoas que envelhecem, a vivência e experiência acumuladas, os cabelos brancos que proliferam, a sabedoria que prospera. Sabedoria manifestada por meio de opiniões reveladas, de visões de mundo formadas ao longo do tempo, de histórias contadas de pais para filhos e assim por diante. O espetáculo que nos envolve bem devagar, feito uma brisa marinha nas tardes de janeiro, nos ensina que envelhecer e morrer não é o fim para quem constrói sua vida sobre o chão das suas tradições, do amor, do respeito e da dignidade. Valores estes outrora tão bem cultivados pelas sociedades tradicionais, a exemplo das comunidades do candomblé, que, hoje, porém, estão paulatinamente a se perder em nome de uma modernidade vazia. Pedir “bença” aos mais velhos não é anacronismo. É, isto, sim, respeito às nossas raízes e histórias que nos formaram, ao nosso passado, enfim, sem o qual não pode haver o porvir. Pedir “bença” significa reconhecer que fazemos parte da linha contínua do tempo que se transforma, mas nunca se esgota. Por isso jamais morremos. Parabéns ao Banto de Teatro Olodum por tão belíssimo e inesquecível espetáculo (por Sílvio Benevides).
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BENÇA - Concepção, encenação, cenário e texto: Márcio Meirelles / Co-direção: Chica Carelli / Coreografia: Zebrinha / Direção musical e programação de bases: Jarbas Bittencourt / Preparação de canto: Marcelo Jardim / Figurino e adereços: Zuarte Júnior / Costureiras: Ruth Brito Cunha e Sarai Santos / Iluminação: Filipe Pires / Imagens e edição: Maíse Xavier, David Gabiru e Banto de Teatro Olodum / Músicos: Maurício Lourenço e Daniel Vieira (Nine) / Elenco: Arlete Dias, Auristela Sá, Cássia Valle, Cell Dantas, Clésia Nogueira, Ednaldo Muniz, Elane Nascimento, Fábio Santana, Gerimias Mendes, Jamíle Alves, Jorge Washington, Leno Sacramento, Merry Batista, Rejane Maia, Rídson Reis, Sergio Laurentino, Telma Souza e Valdinéia Soriano.
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Imagem: Cartaz do espetáculo Bença. Foto: João Meirelles. Programação visual: Camilo Fróes.

domingo, 7 de novembro de 2010

Poema Falado: Se eu morresse amanhã

Não é a primeira vez que o tema morte aparece nesse espaço. Como já foi dito em outra ocasião, morrer é um verbo intransitivo que denota perda da vida, da existência. Para uns morrer é o fim, conforme definiu Heidegger ao escrever que a morte é a “nulidade possível das possibilidades do homem e de toda forma do homem”. Para outros, porém, morrer significa renascer para outra vida, como a borboleta renasce quando morre o casulo, a semente ao germinar a árvore ou o ovo ao romper-se em ave. Seja como for, ninguém é indiferente à morte, a única e inexorável certeza de nossas existências. No mês em que se homenageiam todos aqueles que se foram e deixaram profundas saudades, o Poema Falado trás o texto “Se eu morresse amanhã”, escrito por Álvares de Azevedo: “Se eu morresse amanhã, viria ao menos / Fechar meus olhos minha triste irmã; / Minha mãe de saudades morreria / Se eu morresse amanhã! /Quanta glória pressinto em meu futuro! / Que aurora de porvir e que manhã! / Eu perdera chorando essas coroas / Se eu morresse amanhã! / Que sol! que céu azul! que dove n'alva / Acorda a natureza mais loucã! / Não me batera tanto amor no peito / Se eu morresse amanhã! / Mas essa dor da vida que devora / A ânsia de glória, o dolorido afã... / A dor no peito emudecera ao menos / Se eu morresse amanhã”. Característico do período romântico, o texto é dito pelo saudoso Paulo Autran e vem acompanhado da maravilhosa música do André Sperling, Tristes Dias. Boa leitura audiovisual (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Differences, by Nishant Nischal

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma Rousseff eleita presidente do Brasil

O Brasil elegeu ontem, 31 de outubro de 2010, a primeira mulher presidente: Dilma Rousseff, que venceu a disputa eleitoral com 56,05% dos votos válidos. Seu adversário do PSDB, José Serra, teve 43,95%.

Dilma Rousseff afirmou em seu primeiro pronunciamento como presidente eleita que fará um governo com foco na erradicação da pobreza, no fortalecimento da economia nacional e não poupará esforços para desencadear uma reforma política que eleve os valores republicanos. A nova presidente do Brasil abriu seu discurso assumindo o compromisso de “honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural”, afirmou.

No decorrer do seu pronunciamento, Dilma Rousseff fez questão de frisar que o compromisso fundamental do seu governo será a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros. “Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem. Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida”, enfatizou.

A presidente também discorreu sobre sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o período em que esteve à frente do Ministério de Minas e Energia e, posteriormente, da Casa Civil. “Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu país e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida. Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós. Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta”, finalizou.

Mas o momento mais contagiante do pronunciamento da Dilma Rousseff foi quando ela fez menção ao seu passado de luta contra a ditadura militar. “Quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade [...] Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”. Espero que os imbecis de plantão guardem bem essas palavras e parem, de uma vez por todos, de depreciar nossa história, nossa gente e nossa democracia, comparando-a a aberrações como o nazismo. Que o Brasil e todo o seu povo tenham sido os grandes vitoriosos desse processo eleitoral que ontem se encerrou e que continuem a ser os vencedores ao longo dos quatro anos que estão por vir, afinal, como escreveu o filósofo grego Aristóteles, um governo exercido de forma apropriada é aquele cujas ações visam o bem comum, isto é, que promovem o bem-estar de todos os membros da comunidade, permitindo-lhes exercer seus potenciais próprios e, também, viver uma vida virtuosa, plena de realizações. É isso que espero do governo da primeira mulher eleita presidente do Brasil (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Roberto Stuckert Filho

Adeus não! Até breve?!

Em seu pronunciamento após a divulgação oficial do resultado das eleições, o candidato derrotado José Serra (PSDB) declarou: “Minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua, viva o Brasil”. Que a luta continua, não nos resta a menor dúvida. Para o bem da sociedade brasileira e para nossa democracia é bom que ela jamais cesse. Entretanto, tudo indica que o até logo do Serra é tão provável quanto a seleção haitiana de futebol se consagrar campeã na Copa de 2014.

Ser derrotado em uma eleição não significa, necessariamente, dizer adeus à política profissional. Na história da nossa República existem exemplos que comprovam essa premissa. O mais notório deles, sem dúvida, é o próprio Lula, que se elegeu presidente após três derrotas eleitorais consecutivas. Contudo, no caso do Serra os caminhos a trilhar pelo partido deverão ser outros, caso o PSDB queira, de fato, continuar lutando.

A campanha feita pelo PSDB foi uma das mais grotescas, talvez, a mais grotesca, da história política do Brasil. Ao optar pelas baixarias de toda espécie e aos ataques pessoais sem nenhum fundamento, o partido deu um tiro no próprio pé. Para quem assistia o horário eleitoral, parecia que o PSDB não tinha nenhuma proposta para apresentar ao país. A imagem era a de um partido vazio de ideias e ideais políticos. Ademais, ao ignorar o papel do Fernando Henrique Cardoso na história política do Brasil, o PSDB deixou a impressão que uma prática muito comum no partido é cuspir no prato no qual se como e se comeu. Um vexame!

Como se não bastasse tudo isso, novas lideranças despontam como forças importantes dentro e fora do partido, a exemplo do Aécio Neves e do Beto Richa, conforme escreveram os jornalistas Catia Seabra e Breno Costa para o Folhapress: “Sem enfrentar resistência de um Geraldo Alckmim mergulhado no governo de São Paulo, Aécio trabalhará para atrair tucanos. Na última sexta, logo após o debate da Globo, Aécio fez uma avaliação sobre a campanha do Serra: “Não se faz campanha sem emoção”. Outro tucano que desponta no cenário nacional, o governador eleito do Paraná, Beto Richa, se dedicará à tarefa de administrar o Estado. Para evitar uma crise no calor da eleição, a escolha do novo presidente do PSDB foi adiada em seis meses, de novembro para maio de 2011. Além da chamada despaulistanização, o partido discutirá a reconstrução da sua imagem”.

Espero que a lição tenha sido aprendida e apreendida. O marketing político, tão ovacionado nas eleições contemporâneas, nada mais é do que um mero meio e, não, um fim, pois política se faz com ideias e ideais, ou seja, com convicções, como bem disse o Fernando Henrique Cardoso em entrevista à Isto é nº 2130: “O que é política? É você ter convicções e tentar fazer que os outros tenham as mesmas que você. Veja o que aconteceu no caso do Obama. Quem tinha os recursos, a máquina toda, era a Hillary, mas ele sintonizou com o país em dado momento. O Lula também está sintonizado neste momento”. Perguntado se a “marquetagem” atrapalha, não teve dúvida. “Atrapalha. O povo não te pega. Por exemplo, eles (os profissionais de marketing) fizeram o Lula ficar calado um ano, no início do governo, para não dizer bobagem. Quando o Lula começou a falar, ele ganhou. Estamos fazendo campanhas engessadas”. O recado está dado pelo Fernando Henrique Cardoso e pelos eleitores do Brasil. Da próxima vez, esperamos mais convicções e nenhuma baixaria (por Sílvio Benevides).
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Imagem: NANI

Vitória e derrota deixam lições para a cidadania

Dizem os reflexivos que a derrota ensina mais que a vitória. Desconte-se o caráter de compensação desta idéia, pois a verdade é que a eleição concluída ontem deixa muitas lições tanto para a vencedora Dilma Rousseff, quanto para o derrotado José Serra. Representantes dos respectivos projetos políticos do PT e do PSDB, Dilma e Serra terão perdido uma grande oportunidade de impulsionar o crescimento, em todos os sentidos, do Brasil se fecharem os ouvidos aos recados das urnas: o eleitor não quer que se anulem as diferenças entre o vencedor e o derrotado, mas não aceita que o país seja objeto de personalismos e de cisões religiosa, moral ou mesmo ideológica.

“Agora, a gente vai testar melhor ainda a nossa capacidade de se reunir em torno do projeto e não em torno de uma pessoa”, traduziu o governador Jacques Wagner (PT) a grande missão do seu partido. “Esta é a missão mais importante da minha vida”, proclamou a primeira mulher presidente do Brasil em seu pronunciamento (ver na íntegra abaixo) após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmar a vitória. “Que este fato inédito se torne natural”, assinalou Dilma.

Os oposicionistas elegeram onze governadores. Só o PSDB elegeu oito governadores nos dois turnos. Serra promete uma oposição qualificada, mas não esconde propósitos e anuncia o início de “uma luta de verdade”. Que ambos, vencedora e derrotado, tenham consciência das suas graves responsabilidades. Assim, como o povo baiano que ontem foi para as ruas comemorar, mas que a partir de hoje já espera para seus grandes problemas respostas equivalentes à expressiva vitória, de 70,85% dos votos, que concedeu à primeira presidente do Brasil (por Adilson Borges para o A Tarde).
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Imagem: Lula e Dilma Rousseff por SIMANCA.

Íntegra do pronunciamento da presidente eleita Dilma Rousseff

Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,

É imensa a minha alegria de estar aqui. Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida. Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.

A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode! Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:

- Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.

- Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.

- Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.

- Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.

- Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.

Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões. O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família. É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.

Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.
Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.

O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro. Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.

Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.

No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.

Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.

Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.

É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.

Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável. Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos. Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.

Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública. Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público. Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo. Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros. As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.

Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades. Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.

Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais. Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança. O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas. Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas. Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde. Me comprometi também com a melhoria da segurança pública. Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.

Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos. Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo. A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade. É aquela que convive com o meio ambiente sem agredi-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.

Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa. Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.

Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental. Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política. Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.

Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.

Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei. Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.

Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho. Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.

Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento. Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.

Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida. Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós. Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta. Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado. Saberei consolidar e avançar sua obra. Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo. Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.

Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união. União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país. Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela. Muito obrigada (por Dilma Rousseff, Presidente do Brasil)!
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Imagem: Pronunciamento de Dilma Rousseff em 31.10.2010 - por Ichiro Guerra.

Quem?

Desconfio de que já contei esta história em crônica muito antiga, mas de forma incompleta. Agora, com a proximidade das eleições, acredito que ela deva ser relembrada. O escritor Álvaro Lins foi editorialista do “Correio da Manhã”, chefe da Casa Civil na Presidência de JK e embaixador em Portugal, onde, aliás, criou um caso internacional dando asilo a um adversário do regime salazarista. Muitos o consideram o crítico literário mais completo do Brasil. Sua entrada na Academia Brasileira de Letras foi uma noite memorável, pois chegou atrasado duas horas para a cerimônia.

Em Lisboa, ele decidiu visitar a Suíça, sendo ali recebido com todas as honras. Na manhã do seu primeiro dia em Genebra, depois de ler os jornais locais, deu um giro pela cidade em companhia de um funcionário do governo. Andou pelas ruas, de carro e a pé. Em dado momento, comentou: “Li nos jornais que hoje é dia de eleições gerais. Mas não estou vendo nenhum movimento especial, nenhuma fila, nenhum posto eleitora”. O funcionário explicou: “Senhor embaixador, hoje, realmente, é dia de eleições gerais, e elas estão se processando normalmente”.

“Mas como? Não vejo nenhum movimento… nenhuma fila… parece um dia qualquer. “Não precisamos de filas. Cada quarteirão tem uma urna em local determinado. O eleitor chega e deposita sua cédula. À meia-noite, as urnas são recolhidas e, no dia seguinte, o resultado é proclamado.”

Álvaro Lins ouviu, abaixou a cabeça, pensou um pouco e perguntou: “Mas digamos… um eleitor pode depositar na mesma urna ou em outras muitas cédulas de um só candidato, dez, vinte… cem… e aí como é que fica?” Foi a vez de o funcionário suíço ficar espantado: “Mas senhor embaixador, QUEM faria isso?” ( por Carlos Heitor Cony para Folha de S. Paulo, 30.09.10)
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Imagem: Anjo Palhaço, por DDi Arte.