Envelhecer. Verbo transitivo direto que significa tornar-se velho ou mais velho. Em sentido figurado pode, também, ser entendido como fazer perder ou perder o viço, o frescor, o brilho, o colorido, ou, ainda, tornar-se desusado, fora de moda ou sem emprego, sem serventia. Como quer que o termo seja empregado, envelhecer não é nada fácil. Nunca foi. Entretanto, nos dias que correm envelhecer parece ser ainda mais difícil do que já fora em épocas pretéritas.
Ao contrário do que acontecia nas sociedades pré-modernas, mais apoiadas na tradição, o envelhecimento nas sociedades modernas e industrializadas passou a ser uma experiência mais e mais isolada da vida social. De acordo com o sociólogo alemão Norbert Elias, o que antes se constituía numa experiência mais pública, vivenciada no domínio da família extensa, incluindo, em alguns casos, até mesmo vizinhos, na modernidade tornou-se uma experiência solitária e excludente. Embora nas sociedades contemporâneas o Estado proteja mais o idoso, da violência física óbvia, por exemplo, ao mesmo tempo estas sociedades o isolam, pois envelhecer, hoje, é quase um desvio de caráter. Ostentar e exibir a velhice, mesmo saudável, passou a ser uma afronta ou, em alguns casos, uma atitude de mau gosto.
Não é por acaso que isso ocorre. Ainda de acordo com Norbert Elias, envelhecer e morrer indicam que o controle humano sobre a natureza e, também, sobre a vida, tem limites. Envelhecer e morrer, portanto, nos põem em contato direto com esses limites e, mais, ainda, com o fim. Segundo Elias, “não é fácil imaginar que nosso próprio corpo, tão cheio de frescor e muitas vezes de sensações agradáveis, pode ficar vagaroso, cansado e desajeitado. Não podemos imaginá-lo e, no fundo, não o queremos. Dito de outra maneira, a identificação com os velhos e com os moribundos compreensivelmente coloca dificuldades especiais para as pessoas de outras faixas etárias. Consciente ou inconscientemente, elas resistem à idéia de seu próprio envelhecimento e morte tanto quanto possível” (Envelhecer e morrer, 2001:80).
Sendo assim, do mesmo modo que Norbert Elias afirmou que “a morte é um problema dos vivos”, podemos dizer que o envelhecimento é um problema dos jovens. E é precisamente esse um dos principais temas abordados pelo espetáculo BENÇA, do Bando de Teatro Olodum, em cartaz no Teatro Vila Velha até o dia 28 de novembro.
Escrito e dirigido por Márcio Meirelles, o espetáculo Bença discute, entre outras coisas, a experiência do envelhecimento nos seus mais variados aspectos. As mudanças do corpo, a gradual perda nas sociedades atuais de poder e status das pessoas que envelhecem, a vivência e experiência acumuladas, os cabelos brancos que proliferam, a sabedoria que prospera. Sabedoria manifestada por meio de opiniões reveladas, de visões de mundo formadas ao longo do tempo, de histórias contadas de pais para filhos e assim por diante. O espetáculo que nos envolve bem devagar, feito uma brisa marinha nas tardes de janeiro, nos ensina que envelhecer e morrer não é o fim para quem constrói sua vida sobre o chão das suas tradições, do amor, do respeito e da dignidade. Valores estes outrora tão bem cultivados pelas sociedades tradicionais, a exemplo das comunidades do candomblé, que, hoje, porém, estão paulatinamente a se perder em nome de uma modernidade vazia. Pedir “bença” aos mais velhos não é anacronismo. É, isto, sim, respeito às nossas raízes e histórias que nos formaram, ao nosso passado, enfim, sem o qual não pode haver o porvir. Pedir “bença” significa reconhecer que fazemos parte da linha contínua do tempo que se transforma, mas nunca se esgota. Por isso jamais morremos. Parabéns ao Banto de Teatro Olodum por tão belíssimo e inesquecível espetáculo (por Sílvio Benevides).
Ao contrário do que acontecia nas sociedades pré-modernas, mais apoiadas na tradição, o envelhecimento nas sociedades modernas e industrializadas passou a ser uma experiência mais e mais isolada da vida social. De acordo com o sociólogo alemão Norbert Elias, o que antes se constituía numa experiência mais pública, vivenciada no domínio da família extensa, incluindo, em alguns casos, até mesmo vizinhos, na modernidade tornou-se uma experiência solitária e excludente. Embora nas sociedades contemporâneas o Estado proteja mais o idoso, da violência física óbvia, por exemplo, ao mesmo tempo estas sociedades o isolam, pois envelhecer, hoje, é quase um desvio de caráter. Ostentar e exibir a velhice, mesmo saudável, passou a ser uma afronta ou, em alguns casos, uma atitude de mau gosto.
Não é por acaso que isso ocorre. Ainda de acordo com Norbert Elias, envelhecer e morrer indicam que o controle humano sobre a natureza e, também, sobre a vida, tem limites. Envelhecer e morrer, portanto, nos põem em contato direto com esses limites e, mais, ainda, com o fim. Segundo Elias, “não é fácil imaginar que nosso próprio corpo, tão cheio de frescor e muitas vezes de sensações agradáveis, pode ficar vagaroso, cansado e desajeitado. Não podemos imaginá-lo e, no fundo, não o queremos. Dito de outra maneira, a identificação com os velhos e com os moribundos compreensivelmente coloca dificuldades especiais para as pessoas de outras faixas etárias. Consciente ou inconscientemente, elas resistem à idéia de seu próprio envelhecimento e morte tanto quanto possível” (Envelhecer e morrer, 2001:80).
Sendo assim, do mesmo modo que Norbert Elias afirmou que “a morte é um problema dos vivos”, podemos dizer que o envelhecimento é um problema dos jovens. E é precisamente esse um dos principais temas abordados pelo espetáculo BENÇA, do Bando de Teatro Olodum, em cartaz no Teatro Vila Velha até o dia 28 de novembro.
Escrito e dirigido por Márcio Meirelles, o espetáculo Bença discute, entre outras coisas, a experiência do envelhecimento nos seus mais variados aspectos. As mudanças do corpo, a gradual perda nas sociedades atuais de poder e status das pessoas que envelhecem, a vivência e experiência acumuladas, os cabelos brancos que proliferam, a sabedoria que prospera. Sabedoria manifestada por meio de opiniões reveladas, de visões de mundo formadas ao longo do tempo, de histórias contadas de pais para filhos e assim por diante. O espetáculo que nos envolve bem devagar, feito uma brisa marinha nas tardes de janeiro, nos ensina que envelhecer e morrer não é o fim para quem constrói sua vida sobre o chão das suas tradições, do amor, do respeito e da dignidade. Valores estes outrora tão bem cultivados pelas sociedades tradicionais, a exemplo das comunidades do candomblé, que, hoje, porém, estão paulatinamente a se perder em nome de uma modernidade vazia. Pedir “bença” aos mais velhos não é anacronismo. É, isto, sim, respeito às nossas raízes e histórias que nos formaram, ao nosso passado, enfim, sem o qual não pode haver o porvir. Pedir “bença” significa reconhecer que fazemos parte da linha contínua do tempo que se transforma, mas nunca se esgota. Por isso jamais morremos. Parabéns ao Banto de Teatro Olodum por tão belíssimo e inesquecível espetáculo (por Sílvio Benevides).
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BENÇA - Concepção, encenação, cenário e texto: Márcio Meirelles / Co-direção: Chica Carelli / Coreografia: Zebrinha / Direção musical e programação de bases: Jarbas Bittencourt / Preparação de canto: Marcelo Jardim / Figurino e adereços: Zuarte Júnior / Costureiras: Ruth Brito Cunha e Sarai Santos / Iluminação: Filipe Pires / Imagens e edição: Maíse Xavier, David Gabiru e Banto de Teatro Olodum / Músicos: Maurício Lourenço e Daniel Vieira (Nine) / Elenco: Arlete Dias, Auristela Sá, Cássia Valle, Cell Dantas, Clésia Nogueira, Ednaldo Muniz, Elane Nascimento, Fábio Santana, Gerimias Mendes, Jamíle Alves, Jorge Washington, Leno Sacramento, Merry Batista, Rejane Maia, Rídson Reis, Sergio Laurentino, Telma Souza e Valdinéia Soriano.
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Imagem: Cartaz do espetáculo Bença. Foto: João Meirelles. Programação visual: Camilo Fróes.
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