segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Adeus não! Até breve?!

Em seu pronunciamento após a divulgação oficial do resultado das eleições, o candidato derrotado José Serra (PSDB) declarou: “Minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua, viva o Brasil”. Que a luta continua, não nos resta a menor dúvida. Para o bem da sociedade brasileira e para nossa democracia é bom que ela jamais cesse. Entretanto, tudo indica que o até logo do Serra é tão provável quanto a seleção haitiana de futebol se consagrar campeã na Copa de 2014.

Ser derrotado em uma eleição não significa, necessariamente, dizer adeus à política profissional. Na história da nossa República existem exemplos que comprovam essa premissa. O mais notório deles, sem dúvida, é o próprio Lula, que se elegeu presidente após três derrotas eleitorais consecutivas. Contudo, no caso do Serra os caminhos a trilhar pelo partido deverão ser outros, caso o PSDB queira, de fato, continuar lutando.

A campanha feita pelo PSDB foi uma das mais grotescas, talvez, a mais grotesca, da história política do Brasil. Ao optar pelas baixarias de toda espécie e aos ataques pessoais sem nenhum fundamento, o partido deu um tiro no próprio pé. Para quem assistia o horário eleitoral, parecia que o PSDB não tinha nenhuma proposta para apresentar ao país. A imagem era a de um partido vazio de ideias e ideais políticos. Ademais, ao ignorar o papel do Fernando Henrique Cardoso na história política do Brasil, o PSDB deixou a impressão que uma prática muito comum no partido é cuspir no prato no qual se como e se comeu. Um vexame!

Como se não bastasse tudo isso, novas lideranças despontam como forças importantes dentro e fora do partido, a exemplo do Aécio Neves e do Beto Richa, conforme escreveram os jornalistas Catia Seabra e Breno Costa para o Folhapress: “Sem enfrentar resistência de um Geraldo Alckmim mergulhado no governo de São Paulo, Aécio trabalhará para atrair tucanos. Na última sexta, logo após o debate da Globo, Aécio fez uma avaliação sobre a campanha do Serra: “Não se faz campanha sem emoção”. Outro tucano que desponta no cenário nacional, o governador eleito do Paraná, Beto Richa, se dedicará à tarefa de administrar o Estado. Para evitar uma crise no calor da eleição, a escolha do novo presidente do PSDB foi adiada em seis meses, de novembro para maio de 2011. Além da chamada despaulistanização, o partido discutirá a reconstrução da sua imagem”.

Espero que a lição tenha sido aprendida e apreendida. O marketing político, tão ovacionado nas eleições contemporâneas, nada mais é do que um mero meio e, não, um fim, pois política se faz com ideias e ideais, ou seja, com convicções, como bem disse o Fernando Henrique Cardoso em entrevista à Isto é nº 2130: “O que é política? É você ter convicções e tentar fazer que os outros tenham as mesmas que você. Veja o que aconteceu no caso do Obama. Quem tinha os recursos, a máquina toda, era a Hillary, mas ele sintonizou com o país em dado momento. O Lula também está sintonizado neste momento”. Perguntado se a “marquetagem” atrapalha, não teve dúvida. “Atrapalha. O povo não te pega. Por exemplo, eles (os profissionais de marketing) fizeram o Lula ficar calado um ano, no início do governo, para não dizer bobagem. Quando o Lula começou a falar, ele ganhou. Estamos fazendo campanhas engessadas”. O recado está dado pelo Fernando Henrique Cardoso e pelos eleitores do Brasil. Da próxima vez, esperamos mais convicções e nenhuma baixaria (por Sílvio Benevides).
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Imagem: NANI

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