
A rigor, não há nada de errado no fato de o Executivo cumprir com presteza uma determinação da Justiça. Deveria ser sempre assim. Mas não é. Estranha que o seja justamente quando tal determinação tem como saldo inexoráveis prejuízos na economia e no turismo, o desemprego de três mil pessoas e o desespero de outras tantas, que chegaram a cogitar atos extremos, como atear fogo ao próprio corpo.
O drama dos comerciantes atingidos pela decisão judicial, o choro de famílias inteiras, o impacto das imagens da devastação feita pelas escavadeiras, tudo isso provocou grande consternação e levou muita gente às lágrimas. Menos o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, cuja emotividade sempre marcou suas aparições, inclusive na sua campanha à reeleição, em 2007. A sensibilidade de João foi incorporada como algo positivo à imagem do então candidato, que chegou a ter índices de rejeição na casa dos 70%. É fácil entender: como diz a música, “um homem também chora, também deseja colo”.
A pergunta é: por que as estratégias de comunicação para enfrentar essa crise de imagem que atinge diretamente o prefeito não incluíram o choro de João? Diante do silêncio do chefe do Executivo municipal sobre o assunto até então, era de se esperar de João - se não uma ação efetiva como a adotada pela prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho - ao menos um gesto simbólico de pesar com o sofrimento dos barraqueiros, com quem João diz estar preocupado. Chorar seria o mínimo. Sobretudo se considerados o apelo das cenas e o histórico lacrimal do prefeito, que se emocionou, por exemplo, com a reinauguração do Palácio do Rio Branco, em junho último.
Na manhã da quarta-feira (25), o prefeito de Salvador se reuniu com representantes do Patrimônio da União, secretários municipais e estaduais. A reunião teve continuidade à tarde. O objetivo? Discutir soluções para os barraqueiros. Justo agora, que Inês é morta e o leite foi derramado? Só agora, que “a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou”? E agora, João? (por Bárbara Souza, jornalista e editora-chefe do Política Hoje, que, além de barbaramente bárbara, costuma permitir que seus textos sejam reproduzidos no Salvador na sola do pé).
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Imagem: Arestides Baptista/Agência A Tarde.
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