segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Liberdade de imprensa e eleições

Para as sociedades democráticas liberdade é fundamental, pois por meio dela garante-se, entre outras coisas, a livre expressão e circulação das idéias, assim como, o exercício pleno da cidadania. Quem não defende esse princípio não pode, de modo algum, se auto-proclamar um democrata. Isto posto, podemos falar de um tipo específico de liberdade que, dada sua importância, contribui sobremaneira para o fortalecimento e alargamento da democracia. Trata-se da liberdade de imprensa.

Uma imprensa livre de qualquer tipo de amarra permite à sociedade conhecer e acompanhar as ações realizadas pelos poderes públicos e, deste modo, assumir uma postura crítica e de constante vigilância perante os seus governantes, que nos devem, sim, explicações sobre seus atos. Desta maneira, estimula o exercício da cidadania. E todos sabem que cidadania forte significa democracia forte. Por esse motivo, a liberdade de imprensa deve ser defendida por todos os setores da sociedade e não apenas pelos veículos de comunicação.

Entretanto, algo causa estranheza quando vemos alguns veículos de comunicação saírem em defesa da liberdade de imprensa e, por conseguinte, da liberdade de expressão. O que intriga não é a defesa da liberdade em si, porém, o descompasso entre o discurso destes veículos e a maneira como eles o reproduzem no seu dia-a-dia. Na prática, o que se pode perceber é o mau uso dessa liberdade, o que, por sua vez, se converte num verdadeiro desserviço à democracia. A cobertura jornalística sobre o atual processo eleitoral, por exemplo, especialmente aquela feita pelos grandes veículos midiáticos, os que integram poderosos conglomerados comunicacionais, se configura num acintoso atentado à liberdade de expressão e, também, de escolha do eleitor.

Nas eleições deste ano os cidadãos brasileiros deverão escolher o presidente que governará o país pelos próximos quatro anos. Nove candidatos concorrem ao cargo de dirigente do Executivo nacional. São eles (em ordem alfabética): Dilma Rousself (PT), Ivan Pinheiro (PCB), José Maria de Almeida (PSTU), José Maria Eymael (PSDC), José Serra (PSDB), Levy Fidelix (PRTB), Marina Silva (PV), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Rui Costa Pimenta (PCO). Como é possível perceber, no atual pleito há uma certa diversidade de projetos políticos. Esta, porém, não se reflete na cobertura jornalística, pois os grandes veículos de comunicação, baseados em critérios pouco consistentes, “elegeram” previamente três candidatos dos nove acima citados.

Quando a imprensa cobre a agenda diária dos candidatos, divulgam apenas a campanha daqueles escolhidos como os “principais”. O difícil de entender e, também, aceitar nessa escolha é o motivo pelo qual os candidatos do PT, PSDB e PV são os “principais”. Isso ocorre porque estes são os que mais pontuaram nas pesquisas eleitorais, dirão os defensores dessa prática. Ora, mas quem decide uma eleição são os institutos de pesquisa ou os eleitores? Ademais, se o objetivo é utilizar a liberdade de imprensa para contribuir com o fortalecimento da democracia, por que não apresentar à população todas as propostas que ela tem a seu dispor? O que está por trás dessa prática? Quando se trata em defender a liberdade, deve-se defender não só a liberdade de imprensa, mas, também, a liberdade de expressão dos candidatos, que representam seus respectivos partidos, que, por sua vez, representam os variados setores da sociedade. Sendo assim, não importa se este ou aquele partido tem uma pequena ou enorme representatividade no Congresso Nacional ou nas Assembléias e Executivos estaduais. Todos eles representam, antes de mais nada, setores da sociedade. Logo, eles têm o direito de expressar suas idéias, opiniões e projetos. Ao divulgar tão somente as propostas deste ou daquele partido/candidato, os veículos de comunicação que assim procedem ferem um dos princípios basilares do jornalismo, isto é, o princípio da imparcialidade.

Uma sociedade democrática, verdadeiramente democrática, deve permitir que todos tenham direito a se expressar. A imprensa brasileira, sobretudo a chamada grande imprensa, ligada às grandes empresas de comunicação, tem a obrigação moral de pôr em prática aquilo que ela mesma defende, ou seja, a liberdade de expressão. Discurso que caminha em descompasso com a prática não passa de palavras vazias sem nenhum valor. Chega de cinismo (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Silvio Benevides

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