segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sábado à noite na cidade do Salvador da Bahia - Brasil

Sábado à noite na cidade do Salvador da Bahia. A iminência de chuva forte levou um grupo de amigos a celebrar a vida no interior de um Boteco, localizado em um beco qualquer do Rio Vermelho. Entre um gole e outro e conversas sobre lâminas de menta e suas conseqüências afrodionisíacas, o calor foi aumentando, o suor molhando as frontes e a necessidade de bebidas geladas crescendo e a todos absorvendo. O que poderia ter acontecido? Indagavam-se todos. O ar-condicionado por certo pifou, diriam os mais incautos. Mas não foi nada disso. A causa de tanto calor encontrava-se na mesa ao lado. Dois casais que nela estavam simplesmente tinham desligado o aparelho porque sentiam frio. Como assim? Se eles estavam com frio, por que foram se abancar justamente na ala do Boteco destinada àqueles que preferem papear num ambiente climatizado? Absurdo dos absurdos! Os arrogantes fregueses desligaram o ar-condicionado sem sequer consultar os demais clientes. Eles sentiam frio e isso lhes bastou. A opinião dos outros ali presentes não importava. E para tornar a situação mais absurda do que já era, quando se reclamou daquela situação, os quatro indivíduos se sentiram ofendidos. Sem argumentos para justificar tamanha arrogância e prepotência, o líder do quarteto de idiotas, que nas horas vagas brincava de ser tenor desentoado, resolveu apelar para palavras de baixíssimo calão. Como ninguém se intimidou, os quatro saíram a bufar sua ignóbil ignorância em busca de outra mesa, onde pudessem exercer sua arrogância sem serem importunados. No Brasil as coisas costumam funcionar assim: as regras existem, mas tão somente para os outros. Se me oponho a isso, corro o risco de receber nome de chato, mal-amado, mal-resolvido, quem sabe mesmo um tiro e por aí vai. De uma maneira geral, o brasileiro tem muita dificuldade para se submeter às regras, que existem, não para atrapalhar, mas, sim, para facilitar a vida em comunidade. Sem regras não há como viver em sociedade. Elas são o alicerce sobre o qual se constrói o respeito, fundamental para se estabelecer qualquer tipo de relação ou relacionamento, seja entre indivíduos, seja entre nações (por Sílvio Benevides).
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Imagem: "O Grito", Edward Munch, 1893.

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