segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quando Cabral descobriu o Brasil...

Quando Cabral aportou com sua frota em terras brasileiras, encontrou uma flora exuberante. Tanta exuberância está registrada na CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA, na qual o escrivão relata ao rei de Portugal: “[…] mataria que é tanta e tão grande, tão densa e de tão variada folhagem que ninguém pode imaginar”. Pero Vaz de Caminha estava se referindo nesse trecho da carta à Mata Atlântica.

A Mata Atlântica, classificada pelos cientistas como uma Floresta Perenifólia Higrófila, foi o primeiro cenário brasileiro avistado pelos portugueses quando aqui chegaram em 1500. Àquela época, a mata possuía uma área de aproximadamente dois milhões de quilômetros quadrados, que se estendia por planícies e encostas montanhosas paralelas ao litoral, indo do Estado do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Expandia-se para o interior numa largura média de duzentos quilômetros. Atualmente, restam menos de 3% desse total.

A devastação da Mata Atlântica teve início com a exploração do pau-brasil no século XVI. Desde então ela tem aumentado drasticamente. Cálculos de órgãos de defesa do meio ambiente indicam que cerca de trezentos mil hectares da Mata Atlântica são devastados a cada ano. Nesse ritmo de devastação, logo a mata que encheu de encantamento os olhos de Pero Vaz de Caminha existirá somente no terreno dos mitos e das lendas.

Esse preâmbulo foi colocado somente para dizer que é preciso entender que devastar o meio ambiente é uma prática insana, irracional e suicida. Dita dessa maneira, tal afirmação pode parecer um disparate, sobretudo num mundo orientado por uma lógica que visa apenas a obtenção do lucro e o bem-estar do mercado. Falar de respeito e preservação da natureza, no entanto, é uma questão de sobrevivência.

Quando não conseguimos deter a devastação do meio ambiente em que vivemos, comprometemos de imediato a nossa qualidade de vida e colocamos em risco o futuro do planeta e das futuras gerações. Muitos dos recursos naturais não são renováveis e aqueles que o são, na maioria das vezes, necessitam de centenas ou milhares de anos para se restabelecerem. Os efeitos das agressões ao meio ambiente já começam a se fazer presentes em nosso cotidiano. Temperaturas mais elevadas, devido ao aumento da poluição atmosférica, escassez de água potável em grandes centros urbanos, por causa da poluição dos rios e lençóis freáticos, etc. No caso específico de Salvador não é preciso ser nenhum especialista em meio ambiente para saber que as coisas por aqui estão ficando quentes. Enquanto isso, nossos homens públicos continuam a trocar nosso açúcar excelente por drogas inúteis, ou seja, devastando o que nos restou de mata para permitir que no lugar delas sejam erguidos condomínios de luxo. No futuro eles não pensam. Nossa vida depende mais do bem-estar do planeta do que do bem-estar do mercado. Este nada mais é do que uma mera ilusão. Ilusão esta que sem controle destrói até mesmo o futuro (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Jardim Zoológico de Salvador (Sílvio Benevides)

Um comentário:

Lucas Franco disse...

A reportagem que eu estou fazendo em Radiojornalismo II é justamente sobre o crescimento desenfreado de Salvador, explícitos principalmente no desmatamento na Paralela e engarrafamentos, consequências da ganância que está saturando a cidade. Eu ja ouvi de um morador do Alpha Ville que 'pior que seu condomínio é o bairro da paz', como se o desmatamento provocado por essas pessoas sem instrução pudesse receber críticas passando por cima das questões sociais que levaram essas a invadirem aquele terreno, ao contrário dos burgueses eco-irresponsáveis. Eu escrevi alguns posts antigos no meu blog sobre as questões do que fazem as cidades se desenvolverem e ganharem vida:

http://grandedobrasil.blogspot.com/2008/10/origem-das-grandes-povoaes.html
http://grandedobrasil.blogspot.com/2009/03/essencia-dos-lugares.html
Não são textos lá 'tão científicos', mas mostram parte de minha ótica em relação ao que se movimenta lugares tão diferentes ao redor do mundo :)