Um poema é mais que um poema. Um poema é a senha que nos permite acessar o recôndito das almas, seja a alma de quem o escreve, seja a alma de quem o aprecia. Os poemas nos revelam. Vamos, pois, revelarmo-nos através dos poemas falados que doravante o Salvador na sola do pé e outros dois blogs, o Bienvenue-Ami e O cantinho de Coccinelle, apresentarão sempre no primeiro domingo de cada mês. Pretendemos formar uma rede tecida por versos e sons magníficos, afinal, como disse o Carlos Drummond de Andrade, “uma pessoa que tem hábitos intelectuais ou artísticos, uma pessoa que gosta de ler nunca está sozinha. Ela terá sempre uma companhia: a companhia imensa de todos os artistas, todos os escritores que ela ama, ao longo dos séculos”. Se quiser fazer parte dessa rede é só entrar em contato. O primeiro poema da série que hoje se inaugura é o Smile, letra composta por John Turner e Geoffrey Parsons para a música do Charles Chaplin. No Brasil ela foi lindamente traduzida por João de Barro, o Braguinha, nome fundamental da música brasileira. É esta tradução que aparece no vídeo abaixo. Boa leitura!
*
SORRI (SMILE)
*
Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz!
*
SORRI (SMILE)
*
Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz!
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Imagem: Clowns - autoria não encontrada
2 comentários:
Sílvio amigo velho (já?), estou descobrindo o poeta da Martinica (e da França) Aimé Cesaire, morto no ano passado e totalmente ignorado na imensidão do Brasil, que foi amigo de (Andre) Breton,
e é - minha opinião, o maior poeta
moderno da língua francesa. Queria que o Toni Garrido, ex-vocalista do 'Cidade Negra', musicasse algumas versões que fiz, dos poemas de Cesaire, mas até agora não obtive resposta. Mandei para ele um trecho do 'Caderno de um retorno à terra natal':
"Direi tempestade, direi rio, direi tornado, direi folha, direi árvore, molhado de todas as chuvas,
úmido de todas as rosas.
Rolando como sangue, frenético na lenta corrente do olho das palavras -
em cavalos doidos, em criancinhas e coágulos, em bota-fogos, em vestígios de templo,
em pedras preciosas longes o bastante
que desencorajassem mineiros.
Quem não compreende,
desconhece o rugido dos tigres.
E vocês fantasmas subidos e azuis de tanta química,
da floresta das bestas acuadas,
das máquinas tortas,
da pele de jujubas podres,
da cesta de ostras,
do labirinto de correias recortadas no belo sisal,
como pele de homem –
/ eu tenho palavras vastas para dize-los todos,
e a ti terra tensa,
terra enojada,
terra grande sexo levantada para o sol,
terra grande delírio da sanguessuga de Deus,
terra selvagem levantada dos tesouros do mar
com tufos de paranóias na boca,
terra que não posso comparar à face ondulante
da floresta virgem e louca que gostaria, como se fosse
meu semblante,
de mostrar aos olhos indecifrados
dos homens.
(original:Je dirais orage. Je
dirais fleuve. Je dirais tornade. Je dirais feuille. Je dirais arbre. Je serais mouillé de toutes les pluies,
humecté de toutes les rosées. Je roulerais comme du sang frénétique sur le courant lent de l'oeil des mots
en chevaux fous en enfants frais en caillots en couvre-feu en vestiges de temple en pierres précieuses assez loin pour décourager les mineurs. Qui ne me comprendrait pas ne comprendrait pas davantage le rugissement du tigre.
Et vous fantômes montez bleus de chimie d'une forêt de bêtes traquées de machines tordues d'un jujubier de chairs pourries d'un panier d'huîtres d'yeux d'un lacis de lanières découpées dans le beau sisal d'une peau d'homme j'aurais des mots assez vastes pour vous contenir
et toi terre tendue terre saoule
terre grand sexe levé vers le soleil
terre grand délire de la mentule de Dieu
terre sauvage montée des resserres de la mer avec
dans la bouche une touffe de cécropies
terre dont je ne puis comparer la face houleuse qu'à
la forêt vierge et folle que je souhaiterais pouvoir en
guise de visage montrer aux yeux indéchiffreurs des
hommes) - vê-lá, é uma proposta de tradução, feita às carreiras. Tradução não é uma coisa para ser feita da noite pro dia, mas enfim
'nesta noite (tudo) se improvisa'.
Eis que mais uma vez o misterioso Beto deixa seu comentário no Salvador. Que ótimo!! Os comentaristas também ajudam a criar e mater esse blog. Não su o Toni Garrido, mas posso muito bem transformr esse poema de amor à terra que nos faz gente (assim o vi em mais um poema falado, claro se não te importares em trocar o Toni Garrido pelo Sílvio Benevides.
Um araço.
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