segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Há muito tempo estamos perdidos

Estamos perdidos há muito tempo. O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média se abate progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Por toda a parte se diz: o país está perdido!... Algum opositor do atual governo?... Não!*
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O texto acima foi escrito por Eça de Queiroz em 1871 sobre a sociedade portuguesa de sua época. Qualquer semelhança é mera coincidência? Deixo a resposta para os leitores. Mas tratando-se de coincidências elas não param por aqui. Entre Brasil-Salvador e Portugal-Lisboa há mais coincidências do que se pode imaginar. Sobre isso, porém, o Salvador na sola do pé discorrerá numa outra oportunidade.
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(Foto: retrato do Eça de Queiroz retirado do site da Biblioteca Nacional de Portugal)

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