Nos primeiros anos da década de 1960, esboçou-se no Brasil uma situação definida por alguns historiados de pré-revolucionária, onde ideais socialistas conquistavam cada vez mais adeptos nos meios intelectuais, sindicais, estudantis, artísticos, eclesiásticos, rurais, entre outros setores da sociedade brasileira. Tratava-se de uma tendência “esquerdizante”, que se espalhava por inúmeras camadas sociais e contagiava, sobretudo, grande número de jovens a ponto de impulsionar muita gente a ter uma participação política mais efetiva.
Os setores dominantes da sociedade brasileira, sentindo seus interesses ameaçados pelas exigências dos trabalhadores urbanos e rurais politicamente mobilizados, conspiraram contra o governo de João Goulart, por temerem que no Brasil uma possível revolução socialista se tornasse vitoriosa, a exemplo do que ocorrera em Cuba. Por essa razão, intelectuais como Jacob Gorender afirmam que o golpe de Estado liderado pelos militares em 1964 pode ser entendido como uma contra revolução preventiva.
Em 01 de abril de 1964, as Forças Armadas brasileiras, sob o pretexto de restabelecer a ordem social ameaçada por uma crise político-institucional, depuseram o presidente João Goulart com o apoio de um leque bem complexo de forças sociais. Foram apoiados pelas classes dominantes nacionais, que compreendiam tanto setores rurais e urbanos, como, também, setores produtivos arcaicos e modernos, por grande parcela da classe média, pelas oligarquias políticas, especialmente aqueles segmentos que não conseguiam chegar ao poder por meio do voto popular, e pelo governo dos Estados Unidos. Por isso a historiografia brasileira atual se refere a esse episódio como golpe civil-militar. Como o primeiro de abril é conhecido nacionalmente como o dia da mentira, os arquitetos do golpe designaram o 31 de março como data oficial do ato nomeado pela propaganda ideológica do regime recém-instaurado de “revolução”.
De 1964 a 1985 a sociedade brasileira experimentou dias de trevas, nos quais o estupro da democracia, a perseguição política e ideológica, as prisões arbitrárias, a censura, o cerceamento da liberdade de expressão, a tortura, os “desaparecimentos” de presos políticos e daqueles considerados inimigos da segurança nacional passaram a ser uma prática constante e, pior, uma política de Estado. Hoje, quarenta e oito anos após o fatídico golpe, devemos relembrar a data não para comemorá-la. Mas, sim, para que não nos esqueçamos do valor da democracia. Esta, mesmo imperfeita, é o melhor caminha a se trilhar (por Silvio Benevides).
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