domingo, 2 de maio de 2010

Poema Falado: O guardador de águas

Que a água é a fonte da vida, ninguém duvida ou sequer duvidou. Que a água é fonte de lendas, crenças, magias, paixões, medos e dissabores, ninguém questiona. Que a água é fonte da mais fresca poesia, só mesmo aqueles que pela vida se apaixonam sabem dizer. E assim o disse o Manoel de Barros na sua poesia O guardador de águas, que hora se apresenta nesse Poema Falado.

“Esse é Bernardo. Bernardo da Mata. Apresento. Ele faz encurtamento de águas. Apanha um pouco de rio com as mãos e espreme nos vidros até que as águas se ajoelhem do tamanho de uma lagarta nos vidros. No falar com as águas rãs o exercitam. Tentou encolher o horizonte no olho de um inseto - e obteve! Prende o silêncio com fivela. Até os caranguejos querem ele para chão. Viu as formigas carreando na estrada duas pernas de ocaso para dentro de um oco... E deixou. Essas formigas pensavam em seu olho. É homem percorrido de existências. Estão favoráveis a ele os camaleões. Espraiado na tarde - Como a foz de um rio - Bernardo se inventa... Lugarejos cobertos de limo o imitam. Passarinhos aveludam seus cantos quando o vêem”.



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Imagem: Ermida Gerês, Portugal, por Tiago Corvão.

Um comentário:

ana disse...

Bom, sempre bom desfrutar o Manoel de Barros. Saíram boas edições, com as infâncias e a poesia compelta por agora. Devoro! Sempre bom. :)