A Guerrilha do Araguaia completa 38 anos do seu início, quando alguns dos generais fascistas sobreviventes e porta-vozes do regime militar saem do armário e defendem estranhas posições, destinadas à tenebrosa intenção de reescrever a História ao seu favor. Entretanto, nos humores da conjuntura, se realçam boas noticias para a resistência ao obscurantismo remanescente.
O aspecto coincidente remonta à intensificação da luta de idéias na qual o diversionismo ganha espaço exemplar em emissoras como a Globo News — que apresenta uma sequência de entrevistas com sinistras entidades das sombras como o general Leônidas Pires Gonçalves e Newton Cruz.
Nestas, a mais singela das revelações informa que elementos tidos como “de esquerda” foram corrompidos e entregaram reuniões como a da Lapa, onde se reunia o Comitê Central do PCdoB, no dia 16 de dezembro de 1976, num episódio que ficou marcado na História como a última ação dos militares contra a Guerrilha do Araguaia — um desdobramento que bem revelava seu pavor de que a luta armada contra o regime fascista apresentasse novos desdobramentos.
Mentiras ilimitadas
O general Pires Gonçalves, mentindo descaradamente, afronta a inteligência social quando, em diversos momentos da sua entrevista, tenta falsear a realidade. Exemplo disso consta da afirmação de que as forças incumbidas de realizar o Massacre foram “recebidas a tiros” por Ângelo Arroyo e Pedro Pomar — que, sob intensa e covarde fuzilaria, e colhidos de surpresa, foram brutalmente fuzilados e sequer tiveram tempo de esboçar um gesto de resistência.
Também uma entrevista com o ex-ministro da Educação da ditadura, Jarbas Passarinho, renovada oito anos depois pelas repórteres Maria Inês Nassif e Paula Simas, revela outros absurdos. Nessa surreal tentativa de burlar a verdade e os fatos, prevalece a sórdida tentativa de tratar desiguais como iguais, quando afirma Passarinho: “Eu chamo esse período de guerra suja porque a Convenção de Genebra não funcionava para nenhum dos lados (…) É preciso acabar com esse maniqueísmo: se houve erro, houve de parte a parte e uns foram consequência e outros foram causa”.
Desse modo, os “excessos” dos oposicionistas à ditadura são qualificados como “ódio ideológico” e as hediondas torturas produzidas pelos militares são qualificadas como “tática”.
Araguaia: julgamento internacional
O 12 de abril ocorre também num momento de impasse quanto às buscas dos guerrilheiros desaparecidos na região do Araguaia, após buscas infrutíferas que mobilizaram, sob o comando e articulação de um grupo interministerial, um grande aparato técnico e militar no ano de 2009.
E, na medida do insucesso da missão oficial determinada pelo governo federal, não conseguiu conter a determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, instituição da OEA (Organização dos Estados Americanos) considerada “autônoma”, que ameaçou em 2009 promover o julgamento do Brasil sobre os mortos do Araguaia, em sessão agora marcada para o mês de maio na Costa Rica.
Um núcleo de familiares de desaparecidos que conta com a participação de Sônia Maria Haas, irmã do médico e guerrilheiro gaúcho João Carlos Haas Sobrinho, programa ações públicas em Brasília e São Paulo com o objetivo de atrair a atenção da opinião pública sobre o caso nos dias que precedem o julgamento. E clama pelo apoio à mobilização.
Fracasso brasileiro
Na medida do fracasso da iniciativa governamental de resgate dos restos físicos dos guerrilheiros, reforçou-se uma delicada situação para quem duvida da autonomia da Corte em relação à OEA — que não tem simbolizado uma referência na defesa das liberdades democráticas e se afirmou como um organismo subalterno aos interesses imperiais dos EUA, inclusive na subordinação incondicional ao bloqueio econômico e político a Cuba.
Existe a preocupação de que tal tradição antidemocrática, contaminando sua Corte, trate agora de instrumentalizar uma causa justa: a da reparação do absurdo que consiste na ocultação dos vestígios ósseos dos guerrilheiros executados covardemente na região do Araguaia no período 1972-1975. E sem que os familiares possam recusar esta forma de pressão contraditória mas legítima sob o aspecto da sua legalidade e procedência nos fatos.
Nestas circunstâncias, nas quais o lado hediondo da ação castrense se superpõe à justiça requerida pelos familiares e pelo povo brasileiro, são completamente neutralizados os questionamentos acerca dos objetivos políticos voltados contra um governo que, a bordo de uma política externa construtiva e independente, barrou a criação da ALCA e atuou no enfrentamento de outros mecanismos de dominação dos EUA sobre os países e povos da América do Sul e de outros continentes.
Desafios agitam questão militar
O governo brasileiro fica assim em dificuldades, não obstante as iniciativas institucionais voltadas para a resolução do problema, desvencilhando-se dele. Terá que aprofundar questões candentes que afloraram no debate sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, em particular quanto à polêmica relativa à impunidade dos torturadores na relação com o “direito à verdade”.
O aspecto coincidente remonta à intensificação da luta de idéias na qual o diversionismo ganha espaço exemplar em emissoras como a Globo News — que apresenta uma sequência de entrevistas com sinistras entidades das sombras como o general Leônidas Pires Gonçalves e Newton Cruz.
Nestas, a mais singela das revelações informa que elementos tidos como “de esquerda” foram corrompidos e entregaram reuniões como a da Lapa, onde se reunia o Comitê Central do PCdoB, no dia 16 de dezembro de 1976, num episódio que ficou marcado na História como a última ação dos militares contra a Guerrilha do Araguaia — um desdobramento que bem revelava seu pavor de que a luta armada contra o regime fascista apresentasse novos desdobramentos.
Mentiras ilimitadas
O general Pires Gonçalves, mentindo descaradamente, afronta a inteligência social quando, em diversos momentos da sua entrevista, tenta falsear a realidade. Exemplo disso consta da afirmação de que as forças incumbidas de realizar o Massacre foram “recebidas a tiros” por Ângelo Arroyo e Pedro Pomar — que, sob intensa e covarde fuzilaria, e colhidos de surpresa, foram brutalmente fuzilados e sequer tiveram tempo de esboçar um gesto de resistência.
Também uma entrevista com o ex-ministro da Educação da ditadura, Jarbas Passarinho, renovada oito anos depois pelas repórteres Maria Inês Nassif e Paula Simas, revela outros absurdos. Nessa surreal tentativa de burlar a verdade e os fatos, prevalece a sórdida tentativa de tratar desiguais como iguais, quando afirma Passarinho: “Eu chamo esse período de guerra suja porque a Convenção de Genebra não funcionava para nenhum dos lados (…) É preciso acabar com esse maniqueísmo: se houve erro, houve de parte a parte e uns foram consequência e outros foram causa”.
Desse modo, os “excessos” dos oposicionistas à ditadura são qualificados como “ódio ideológico” e as hediondas torturas produzidas pelos militares são qualificadas como “tática”.
Araguaia: julgamento internacional
O 12 de abril ocorre também num momento de impasse quanto às buscas dos guerrilheiros desaparecidos na região do Araguaia, após buscas infrutíferas que mobilizaram, sob o comando e articulação de um grupo interministerial, um grande aparato técnico e militar no ano de 2009.
E, na medida do insucesso da missão oficial determinada pelo governo federal, não conseguiu conter a determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, instituição da OEA (Organização dos Estados Americanos) considerada “autônoma”, que ameaçou em 2009 promover o julgamento do Brasil sobre os mortos do Araguaia, em sessão agora marcada para o mês de maio na Costa Rica.
Um núcleo de familiares de desaparecidos que conta com a participação de Sônia Maria Haas, irmã do médico e guerrilheiro gaúcho João Carlos Haas Sobrinho, programa ações públicas em Brasília e São Paulo com o objetivo de atrair a atenção da opinião pública sobre o caso nos dias que precedem o julgamento. E clama pelo apoio à mobilização.
Fracasso brasileiro
Na medida do fracasso da iniciativa governamental de resgate dos restos físicos dos guerrilheiros, reforçou-se uma delicada situação para quem duvida da autonomia da Corte em relação à OEA — que não tem simbolizado uma referência na defesa das liberdades democráticas e se afirmou como um organismo subalterno aos interesses imperiais dos EUA, inclusive na subordinação incondicional ao bloqueio econômico e político a Cuba.
Existe a preocupação de que tal tradição antidemocrática, contaminando sua Corte, trate agora de instrumentalizar uma causa justa: a da reparação do absurdo que consiste na ocultação dos vestígios ósseos dos guerrilheiros executados covardemente na região do Araguaia no período 1972-1975. E sem que os familiares possam recusar esta forma de pressão contraditória mas legítima sob o aspecto da sua legalidade e procedência nos fatos.
Nestas circunstâncias, nas quais o lado hediondo da ação castrense se superpõe à justiça requerida pelos familiares e pelo povo brasileiro, são completamente neutralizados os questionamentos acerca dos objetivos políticos voltados contra um governo que, a bordo de uma política externa construtiva e independente, barrou a criação da ALCA e atuou no enfrentamento de outros mecanismos de dominação dos EUA sobre os países e povos da América do Sul e de outros continentes.
Desafios agitam questão militar
O governo brasileiro fica assim em dificuldades, não obstante as iniciativas institucionais voltadas para a resolução do problema, desvencilhando-se dele. Terá que aprofundar questões candentes que afloraram no debate sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, em particular quanto à polêmica relativa à impunidade dos torturadores na relação com o “direito à verdade”.
No recente episódio, que desnudou a ênfase na impunidade, evidenciaram-se tarefas que exigem a superação histórica da tutela militarista e pró-imperialista, que constituem sérios obstáculos à estabilidade das liberdades democráticas e aspectos relacionados aos avanços sociais e políticos no Brasil.
São desafios que exigem o amplo envolvimento do povo brasileiro no resgate da consciência mais avançada e das responsabilidades castrenses. E não apenas quanto ao respeito da missão constitucional das forças armadas, mas sobretudo no que se refere à ruptura dos seus vínculos com a velha base do pensamento conservador que provém das suas relações originais com o latifúndio e com o imperialismo.
A colaboração — ainda que forçada pelos meios ao alcance do Estado — dos antigos agentes do pensamento conservador e do terrorismo institucional, representa a única alternativa para se alcançar a mínima honra devida aos ofendidos pela truculência naquele período de trevas para o Brasil.
Homenagem à Guerrilha e a João Amazonas
Um fato alvissareiro se avizinha nesses 38 anos do início da Guerrilha do Araguaia, com a prevista inauguração, no dia 15 de maio, do anfiteatro do Memorial do Araguaia e do Obelisco que homenageia o presidente (in memorian) João Amazonas em Xambioá — de acordo com as informações de Micheas Gomes de Almeida, o Zezinho do Araguaia.
Zezinho comemora também a vitória que consistiu num fato que estimativamente envolve quase 50 mil pessoas residentes nos municípios da bacia do rio Araguaia: a frustração da Barragem (e da Usina destinada ao beneficiamento de minérios para exportação) de Santa Isabel, que inundaria toda a área conflagrada pela guerrilha e, tal como ocorreu em Canudos com a construção da barragem Cocorobó, afogaria um pedaço da História do Brasil.
A colaboração — ainda que forçada pelos meios ao alcance do Estado — dos antigos agentes do pensamento conservador e do terrorismo institucional, representa a única alternativa para se alcançar a mínima honra devida aos ofendidos pela truculência naquele período de trevas para o Brasil.
Homenagem à Guerrilha e a João Amazonas
Um fato alvissareiro se avizinha nesses 38 anos do início da Guerrilha do Araguaia, com a prevista inauguração, no dia 15 de maio, do anfiteatro do Memorial do Araguaia e do Obelisco que homenageia o presidente (in memorian) João Amazonas em Xambioá — de acordo com as informações de Micheas Gomes de Almeida, o Zezinho do Araguaia.
Zezinho comemora também a vitória que consistiu num fato que estimativamente envolve quase 50 mil pessoas residentes nos municípios da bacia do rio Araguaia: a frustração da Barragem (e da Usina destinada ao beneficiamento de minérios para exportação) de Santa Isabel, que inundaria toda a área conflagrada pela guerrilha e, tal como ocorreu em Canudos com a construção da barragem Cocorobó, afogaria um pedaço da História do Brasil.
Esta obra de resistência, que envolveu e coloca em ação múltiplas forças, atua vigorosamente no sentido de conectar energias voltadas para a continuidade de um projeto que, não obstante a vasta destruição praticada numa região de florestas e riquíssimos recursos naturais e ambientais, trata de homenagear a luta dos guerrilheiros pela prosperidade social e pela felicidade dos despossuídos e lutadores, araguaios e brasileiros (Por Luis Carlos Antero).
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Imagem: Charge de Carlos Latuff.
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