Alguns cientistas sociais costumam denominar os dias de hoje como a “era dos direitos”, porque atualmente os princípios dos direitos humanos têm orientado o debate político, a ação de inúmeros movimentos sociais, de políticos profissionais, juristas, advogados, políticas públicas e, até mesmo, práticas pedagógicas. Enfim, os direitos humanos estão no centro das ações e relações sociais contemporâneas. Entretanto, embora tais princípios estejam fortalecidos em discursos, políticas e ideologias, na prática, estão longe de ser uma realidade concreta para muitos grupos sociais. No que diz respeito aos homossexuais, por exemplo, há muito a se conquistar, do simples respeito cotidiano, ao respeito materializado em leis e políticas públicas que garantam a dignidade daqueles cuja orientação sexual destoa das normas e padrões estabelecidos que, como já escreveu Caetano Veloso, coloca o “macho, adulto, branco sempre no comando”. As notas abaixo ilustram bem essa questão. Do passado remoto ao presente mais próximo, as histórias de intolerância contra homossexuais, sejam estes ilustres ou não, persistem e insistem em se repetir. Até quando? Essa postagem abre uma série de outras com a temática referente a COISAS ABSURDAS QUE NÃO DEVEMOS ESQUECER JAMAIS (por Sílvio Benevides).
O RETRATO DA INTOLERÂNCIA
Morre em Paris de meningite, aos 46 anos, o escritor irlandês Oscar Wilde, conhecido por sua brilhante oratória e, sobretudo, por seu talento literário.
Wilde, nascido em Dublin aos 16 de outubro de 1854, escreveu poemas, contos de fada como O Príncipe Feliz (1888), dedicado aos dois filhos, Cyril e Vyvyan, que teve com a bela Constance Lloyd, várias peças de teatro, a exemplo de Salomé (1891), O leque de Lady Windermere (1892), Uma mulher sem importância (1893), A importância de ser prudente (1895), Um marido ideal (1895), entre outras obras. Escreveu também o livro O retrato de Dorian Gray (1891), seu único romance.
O espírito aguçadamente irônico e mordaz de Oscar Wilde era bastante conhecido nos círculos literários e nos ricos salões londrinos. Suas pilhérias geralmente tinham como alvo o modo de vida preconceituoso e hipócrita da alta sociedade britânica, marcada por valores excessivamente utilitaristas e materialistas. Seu brilhantismo, objeto de admiração e temor, se fez conhecer ainda nos tempos em que estudava no Magdalen College de Oxford, onde permaneceu até 1879. Nessa época ele abraçou com entusiasmo os ideais estetas tão difundidos na universidade de Oxford. Por conta da sua habilidade retórica e seu poder de persuasão, foi convidado a fazer uma série de conferências sobre a doutrina esteticista nos Estados Unidos. Em 1882 aportou em Nova Iorque. Quando perguntado se tinha algo a declarar, respondeu: “Nada, além da minha genialidade”. Ao final das conferências feitas em outras cinquenta cidades, acabou por conquistar o respeito e a admiração do público estadunidense.
Entre os anos de 1891 e 1895, as peças escritas por Wilde alcançaram enorme sucesso de público e crítica. Nesse mesmo período ele viveria um intenso relacionamento amoroso com o jovem aristocrata Lord Alfred Douglas, descrito por André Gide, amigo de Wilde, como uma pessoa “cínica, egoísta e terrível”. Por causa dessa relação, Wilde passou a ser perseguido pelo pai do Lord Douglas, o Marquês de Queensberry, que o chamava de “sodomita” e o via como um “pervertido e corruptor”.
Para livrar-se da perseguição que vinha sofrendo e, ao mesmo tempo, querendo atender aos caprichos do seu jovem amante, Wilde, a despeito dos inúmeros conselhos dos amigos, resolveu processar o marquês por injúria. Queensberry, em contrapartida, denunciou Wilde à Justiça por causa da sua homossexualidade, comportamento considerado criminoso na Inglaterra vitoriana. Após três julgamentos, Wilde foi condenado, em maio de 1895, a dois anos de prisão com trabalhos forçados. Em sua defesa disse à promotoria: “O amor que não ousa dizer seu nome neste século é uma afeição tão grande entre um homem mais velho e um mais jovem como era entre Davi e Jônatas, da maneira como Platão o tornou a verdadeira base da sua filosofia, e da maneira como é encontrado nos sonetos de Michelângelo e Shakespeare [...] por conta disso, estou onde me encontro agora. É bonito, delicado. É a mais nobre forma de afeição. Não há nada de antinatural nele. É algo intelectual e existe repetidas vezes entre um homem mais velho e um mais jovem, quando o mais velho tem o intelecto, e o mais jovem toda a alegria, esperança e encanto da vida diante de si”.
A sentença da Justiça Britânica fez Oscar Wilde conhecer de perto o inferno. Na prisão recebeu um tratamento desumano que o levou a um estado de profunda apatia. Em 1897, após ser libertado, partiu para a França com a saúde bastante debilitada. Já era um homem arruinado tanto moral quanto financeiramente. Seu nome fora proibido de ser estampado nos cartazes das suas peças, que em pouco tempo foram retiradas de cartaz. Sua esposa e filhos foram obrigados a mudar da Inglaterra e adotar o sobrenome Holland, ao invés de Wilde, para evitar constrangimentos e humilhações.
Abandonado por quase todos os amigos, inclusive pelo Lord Douglas, Oscar Wilde deixou para sempre a Grã-Bretanha, onde seu nome se tornou sinônimo de abjeção e vício, e suas ideias consideradas amorais, sobretudo porque eram antiutilitaristas. No dia 30 de novembro de 1900, morreu esquecido no modesto Hôtel d'Alsace, nas proximidades do Sena, vitimado, principalmente, pela intolerância dos seus contemporâneos. (Fonte: O cantinho de Coccinelle)
MORTE ANUNCIADA
O cabo Fredson Teles Oliveira e os soldados Antônio Bonfim dos Santos, Antônio Farias e Givaldo Soares Miranda da 13ª Companhia Independente da Polícia Militar, sediada no bairro da Pituba, em Salvador-BA, foram expulsos da corporação por serem os responsáveis pela morte por afogamento da travesti Júnior da Silva Lago, conhecida por Luana, na madrugada do dia 04 de agosto de 1998.
Luana se encontrava no bairro da Pituba em companhia da também travesti Jocimar Oliveira do Carmo, conhecida por Joice, quando os quatro oficiais da PM as abordaram numa viatura e mandaram que entrassem no veículo. De acordo com Joice, os policiais teriam dito que aquela viagem não teria volta.
Luana e Joice foram levadas para a Praia do Flamengo, em Stella Maris, onde, por determinação dos PM's, se despiram e em seguida sofreram humilhações e torturas. Não satisfeitos, os policiais obrigaram as duas a entrarem no mar, que na ocasião estava bastante revolto devido à chuva e aos ventos fortes.
“Nós entramos no mar enquanto um dos soldados com uma lanterna e os outros com as armas apontadas em nossa direção evitavam o nosso retorno à praia. O mar jogou Luana contra as pedras, enquanto eu consegui nadar para o outro lado. Os policiais entraram na viatura e saíram. Eu aproveitei a oportunidade para sair do mar em busca de socorro”, declarou Joice, que também acusou os policiais de terem usurpado seu cartão bancário, seu aparelho celular, além de R$ 100,00 que recebera como pagamento de um programa.
Os policiais confirmaram que de fato pegaram Luana e Joice no bairro da Pituba, acatando determinação do Tenente Maia, oficial de operação da 13ª Companhia. O objetivo, segundo os oficiais, era dar um banho de mar nas duas travestis e nada mais. Constantemente a PM faz rondas nas ruas da Pituba com o intuito de evitar a aglomeração de travestis que se prostituem na área residencial do bairro. Tais rondas visam atender aos apelos freqüentes dos moradores, que se queixam das travestis alegando que elas atentam contra a moral e os bons costumes (Fonte: A Tarde – 05/08/1998).
CRIME DE ÓDIO
O estudante de Ciências Políticas da Universidade de Wyoming, Matthew Shepard, de 21 anos, morreu num hospital dos EUA após passar seis dias em coma. Matthew Shepard foi violentamente espancado por Aaron Mckinney e Russel Henderson, dois colegas de faculdade, atado a uma cerca e em seguida abandonado para morrer sob as baixas temperaturas do inverno norte-americano. Tudo isso porque a vítima era abertamente homossexual.
O crime mobilizou ativistas gays de todo o país, assim como fundamentalistas cristãos mais obcecados em condenar e insultar os homossexuais do que viver, praticar e difundir o verdadeiro amor ensinado por Jesus Cristo. O presidente Bill Clinton tentou convencer o Congresso da importância de aprovar um projeto de lei que enquadre esse tipo de crime na categoria de “crimes de ódio”, já que as leis federais estadunidenses só tratam de preconceito racial e religioso. Clinton quer que discriminações motivadas por sexo, orientação sexual e deficiência física e mental sejam coibidas por lei (Fonte: Revista Veja – 21/10/1998).
DESEJO INCOMPREENDIDO
Estudante da oitava série do colégio católico Agostinho Mendel, em São Paulo, é exposto a todo tipo de humilhações por ter declarado seu amor por um colega.
A discriminação que L., de 14 anos, vem sofrendo na escola onde estuda há nove anos, parte de todos os lados. A direção do colégio classificou o comportamento de L. de anormal e sugeriu aos pais do menino um acompanhamento psicológico. Alguns professores passaram a ignorá-lo, deixando até mesmo de esclarecer suas dúvidas. Entre os colegas, muitos o hostilizam ora exigindo sua expulsão, ora o ameaçando com linchamento. Um grupo de alunos chegou a criar um movimento chamado MMB – Matem Muitas Bichas. Os pais de L. acham que a escola está certa em querer expulsar o filho que eles julgam estar errado. Há, porém, quem fique do lado de L., como o jovem objeto da sua paixão. Mesmo rejeitando o afeto do qual é alvo, por ser heterossexual, o rapaz de 16 anos se opõe a qualquer tipo de represália contra o colega.
Em meio a um turbilhão de intolerância e incompreensão, L., assustado, achou melhor abdicar dos seus sentimentos. “Vou sofrer sozinho”, declarou (Fonte: Revista Isto É – 27/10/1999).
OS DEGENERADOS DO ABC
Na madrugada do dia 05 de fevereiro foi assassinado em São Paulo o adestrador de cães Edson Néris da Silva que passeava com o namorado numa praça no centro da capital paulista.
Por volta da meia-noite Edson Néris cruzava a Praça da República de mãos dadas com o namorado, quando ambos foram surpreendidos por um bando de degenerados conhecido como Carecas do ABC, que pregam a supremacia branca e o extermínio de negros, judeus, nordestinos e homossexuais, imitando a bestialidade da doutrina nazista. Tão logo foram cercados, os dois rapazes passaram a ser esmurrados pelos integrantes do referido bando. O namorado de Edson Néris conseguiu se livrar da sanha dos seus agressores e saiu correndo para pedir ajuda aos seguranças de uma estação do metrô próxima. Edson Néris, porém, teve uma sorte mais cruel. Devido a sua orientação sexual foi estupidamente assassinado. Os chutes e os murros contra ele deferidos, deformaram seu corpo e provocaram perfurações na sua cabeça, provavelmente feitas pelo soco-inglês usados pelos agressores.
Algumas horas após o acontecido a polícia prendeu num bar no bairro do Bexiga, 18 pessoas apontadas por testemunhas de terem participado do crime: Vanderlei Cardoso de Sá, Fernando Azadinho, Regina Saran, Davi dos Santos Júnior, Luís Felipe Machado, José Nilson da Silva, Roberto Fernando Dias, Marcelo Martins, Eduardo Pereira, Jorge Soler, André da Silva, Juliano Sabino, Henrique Velasco, Onilmar de Queiroz, Luciano Teixeira Júnior, Washington de Oliveira, Adriano Rodrigues e Edilene Bezerra. Indignada, a mãe de Edson Néris declarou: “Meu filho era bom demais para perecer nessa selvajaria” (Fonte: Revista Época – 14/02/2000).
O RETRATO DA INTOLERÂNCIA
Morre em Paris de meningite, aos 46 anos, o escritor irlandês Oscar Wilde, conhecido por sua brilhante oratória e, sobretudo, por seu talento literário.
Wilde, nascido em Dublin aos 16 de outubro de 1854, escreveu poemas, contos de fada como O Príncipe Feliz (1888), dedicado aos dois filhos, Cyril e Vyvyan, que teve com a bela Constance Lloyd, várias peças de teatro, a exemplo de Salomé (1891), O leque de Lady Windermere (1892), Uma mulher sem importância (1893), A importância de ser prudente (1895), Um marido ideal (1895), entre outras obras. Escreveu também o livro O retrato de Dorian Gray (1891), seu único romance.
O espírito aguçadamente irônico e mordaz de Oscar Wilde era bastante conhecido nos círculos literários e nos ricos salões londrinos. Suas pilhérias geralmente tinham como alvo o modo de vida preconceituoso e hipócrita da alta sociedade britânica, marcada por valores excessivamente utilitaristas e materialistas. Seu brilhantismo, objeto de admiração e temor, se fez conhecer ainda nos tempos em que estudava no Magdalen College de Oxford, onde permaneceu até 1879. Nessa época ele abraçou com entusiasmo os ideais estetas tão difundidos na universidade de Oxford. Por conta da sua habilidade retórica e seu poder de persuasão, foi convidado a fazer uma série de conferências sobre a doutrina esteticista nos Estados Unidos. Em 1882 aportou em Nova Iorque. Quando perguntado se tinha algo a declarar, respondeu: “Nada, além da minha genialidade”. Ao final das conferências feitas em outras cinquenta cidades, acabou por conquistar o respeito e a admiração do público estadunidense.
Entre os anos de 1891 e 1895, as peças escritas por Wilde alcançaram enorme sucesso de público e crítica. Nesse mesmo período ele viveria um intenso relacionamento amoroso com o jovem aristocrata Lord Alfred Douglas, descrito por André Gide, amigo de Wilde, como uma pessoa “cínica, egoísta e terrível”. Por causa dessa relação, Wilde passou a ser perseguido pelo pai do Lord Douglas, o Marquês de Queensberry, que o chamava de “sodomita” e o via como um “pervertido e corruptor”.
Para livrar-se da perseguição que vinha sofrendo e, ao mesmo tempo, querendo atender aos caprichos do seu jovem amante, Wilde, a despeito dos inúmeros conselhos dos amigos, resolveu processar o marquês por injúria. Queensberry, em contrapartida, denunciou Wilde à Justiça por causa da sua homossexualidade, comportamento considerado criminoso na Inglaterra vitoriana. Após três julgamentos, Wilde foi condenado, em maio de 1895, a dois anos de prisão com trabalhos forçados. Em sua defesa disse à promotoria: “O amor que não ousa dizer seu nome neste século é uma afeição tão grande entre um homem mais velho e um mais jovem como era entre Davi e Jônatas, da maneira como Platão o tornou a verdadeira base da sua filosofia, e da maneira como é encontrado nos sonetos de Michelângelo e Shakespeare [...] por conta disso, estou onde me encontro agora. É bonito, delicado. É a mais nobre forma de afeição. Não há nada de antinatural nele. É algo intelectual e existe repetidas vezes entre um homem mais velho e um mais jovem, quando o mais velho tem o intelecto, e o mais jovem toda a alegria, esperança e encanto da vida diante de si”.
A sentença da Justiça Britânica fez Oscar Wilde conhecer de perto o inferno. Na prisão recebeu um tratamento desumano que o levou a um estado de profunda apatia. Em 1897, após ser libertado, partiu para a França com a saúde bastante debilitada. Já era um homem arruinado tanto moral quanto financeiramente. Seu nome fora proibido de ser estampado nos cartazes das suas peças, que em pouco tempo foram retiradas de cartaz. Sua esposa e filhos foram obrigados a mudar da Inglaterra e adotar o sobrenome Holland, ao invés de Wilde, para evitar constrangimentos e humilhações.
Abandonado por quase todos os amigos, inclusive pelo Lord Douglas, Oscar Wilde deixou para sempre a Grã-Bretanha, onde seu nome se tornou sinônimo de abjeção e vício, e suas ideias consideradas amorais, sobretudo porque eram antiutilitaristas. No dia 30 de novembro de 1900, morreu esquecido no modesto Hôtel d'Alsace, nas proximidades do Sena, vitimado, principalmente, pela intolerância dos seus contemporâneos. (Fonte: O cantinho de Coccinelle)
MORTE ANUNCIADA
O cabo Fredson Teles Oliveira e os soldados Antônio Bonfim dos Santos, Antônio Farias e Givaldo Soares Miranda da 13ª Companhia Independente da Polícia Militar, sediada no bairro da Pituba, em Salvador-BA, foram expulsos da corporação por serem os responsáveis pela morte por afogamento da travesti Júnior da Silva Lago, conhecida por Luana, na madrugada do dia 04 de agosto de 1998.
Luana se encontrava no bairro da Pituba em companhia da também travesti Jocimar Oliveira do Carmo, conhecida por Joice, quando os quatro oficiais da PM as abordaram numa viatura e mandaram que entrassem no veículo. De acordo com Joice, os policiais teriam dito que aquela viagem não teria volta.
Luana e Joice foram levadas para a Praia do Flamengo, em Stella Maris, onde, por determinação dos PM's, se despiram e em seguida sofreram humilhações e torturas. Não satisfeitos, os policiais obrigaram as duas a entrarem no mar, que na ocasião estava bastante revolto devido à chuva e aos ventos fortes.
“Nós entramos no mar enquanto um dos soldados com uma lanterna e os outros com as armas apontadas em nossa direção evitavam o nosso retorno à praia. O mar jogou Luana contra as pedras, enquanto eu consegui nadar para o outro lado. Os policiais entraram na viatura e saíram. Eu aproveitei a oportunidade para sair do mar em busca de socorro”, declarou Joice, que também acusou os policiais de terem usurpado seu cartão bancário, seu aparelho celular, além de R$ 100,00 que recebera como pagamento de um programa.
Os policiais confirmaram que de fato pegaram Luana e Joice no bairro da Pituba, acatando determinação do Tenente Maia, oficial de operação da 13ª Companhia. O objetivo, segundo os oficiais, era dar um banho de mar nas duas travestis e nada mais. Constantemente a PM faz rondas nas ruas da Pituba com o intuito de evitar a aglomeração de travestis que se prostituem na área residencial do bairro. Tais rondas visam atender aos apelos freqüentes dos moradores, que se queixam das travestis alegando que elas atentam contra a moral e os bons costumes (Fonte: A Tarde – 05/08/1998).
CRIME DE ÓDIO
O estudante de Ciências Políticas da Universidade de Wyoming, Matthew Shepard, de 21 anos, morreu num hospital dos EUA após passar seis dias em coma. Matthew Shepard foi violentamente espancado por Aaron Mckinney e Russel Henderson, dois colegas de faculdade, atado a uma cerca e em seguida abandonado para morrer sob as baixas temperaturas do inverno norte-americano. Tudo isso porque a vítima era abertamente homossexual.
O crime mobilizou ativistas gays de todo o país, assim como fundamentalistas cristãos mais obcecados em condenar e insultar os homossexuais do que viver, praticar e difundir o verdadeiro amor ensinado por Jesus Cristo. O presidente Bill Clinton tentou convencer o Congresso da importância de aprovar um projeto de lei que enquadre esse tipo de crime na categoria de “crimes de ódio”, já que as leis federais estadunidenses só tratam de preconceito racial e religioso. Clinton quer que discriminações motivadas por sexo, orientação sexual e deficiência física e mental sejam coibidas por lei (Fonte: Revista Veja – 21/10/1998).
DESEJO INCOMPREENDIDO
Estudante da oitava série do colégio católico Agostinho Mendel, em São Paulo, é exposto a todo tipo de humilhações por ter declarado seu amor por um colega.
A discriminação que L., de 14 anos, vem sofrendo na escola onde estuda há nove anos, parte de todos os lados. A direção do colégio classificou o comportamento de L. de anormal e sugeriu aos pais do menino um acompanhamento psicológico. Alguns professores passaram a ignorá-lo, deixando até mesmo de esclarecer suas dúvidas. Entre os colegas, muitos o hostilizam ora exigindo sua expulsão, ora o ameaçando com linchamento. Um grupo de alunos chegou a criar um movimento chamado MMB – Matem Muitas Bichas. Os pais de L. acham que a escola está certa em querer expulsar o filho que eles julgam estar errado. Há, porém, quem fique do lado de L., como o jovem objeto da sua paixão. Mesmo rejeitando o afeto do qual é alvo, por ser heterossexual, o rapaz de 16 anos se opõe a qualquer tipo de represália contra o colega.
Em meio a um turbilhão de intolerância e incompreensão, L., assustado, achou melhor abdicar dos seus sentimentos. “Vou sofrer sozinho”, declarou (Fonte: Revista Isto É – 27/10/1999).
OS DEGENERADOS DO ABC
Na madrugada do dia 05 de fevereiro foi assassinado em São Paulo o adestrador de cães Edson Néris da Silva que passeava com o namorado numa praça no centro da capital paulista.
Por volta da meia-noite Edson Néris cruzava a Praça da República de mãos dadas com o namorado, quando ambos foram surpreendidos por um bando de degenerados conhecido como Carecas do ABC, que pregam a supremacia branca e o extermínio de negros, judeus, nordestinos e homossexuais, imitando a bestialidade da doutrina nazista. Tão logo foram cercados, os dois rapazes passaram a ser esmurrados pelos integrantes do referido bando. O namorado de Edson Néris conseguiu se livrar da sanha dos seus agressores e saiu correndo para pedir ajuda aos seguranças de uma estação do metrô próxima. Edson Néris, porém, teve uma sorte mais cruel. Devido a sua orientação sexual foi estupidamente assassinado. Os chutes e os murros contra ele deferidos, deformaram seu corpo e provocaram perfurações na sua cabeça, provavelmente feitas pelo soco-inglês usados pelos agressores.
Algumas horas após o acontecido a polícia prendeu num bar no bairro do Bexiga, 18 pessoas apontadas por testemunhas de terem participado do crime: Vanderlei Cardoso de Sá, Fernando Azadinho, Regina Saran, Davi dos Santos Júnior, Luís Felipe Machado, José Nilson da Silva, Roberto Fernando Dias, Marcelo Martins, Eduardo Pereira, Jorge Soler, André da Silva, Juliano Sabino, Henrique Velasco, Onilmar de Queiroz, Luciano Teixeira Júnior, Washington de Oliveira, Adriano Rodrigues e Edilene Bezerra. Indignada, a mãe de Edson Néris declarou: “Meu filho era bom demais para perecer nessa selvajaria” (Fonte: Revista Época – 14/02/2000).
Imagem: Sílvio Benevides