segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ó têmpora! Ó mores!

Na última terça-feira 05 de maio Salvador parou. O intenso temporal que desabou sobre a cidade derrubou árvores, abriu buracos, botou abaixo morros e casas e fez transbordar canais, rios e diques que alagaram ruas e avenidas potencializando o caos do já caótico trânsito da nossa feliz urbe. O saldo de tudo isso: oito pessoas mortas. Duas delas afogadas e seis soterradas. Não vou falar dos prejuízos econômicos porque esses, por maiores que sejam, podem ser revertidos. É verdade que na maioria dos casos a duras penas. A despeito das dificuldades, há uma possibilidade, ainda que remota. O mesmo não pode ser dito em relação às vidas que se foram para sempre.
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A quem cabe a culpa de tudo isso? A São Pedro, diriam os homens cínicos que se acham capazes de governar nossa cidade, afinal, choveu em um dia o previsto para chover em um mês inteiro, ou quase isso. Acontece que as chuvas são um fenômeno natural. Elas chovem e choverão quer nós queiramos ou não. Culpá-las pelo caos que se transformou Salvador na semana passada seria o mesmo que culpar o galo pelo término da noite. O fato é que estamos a pagar o preço por termos eleito políticos ineptos que concebem a política tão somente como algo imediatista.
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Como já comentei na postagem Sobreviver é cuidar do porvir a política que se faz no presente deve estar voltada para o futuro. Essa idéia é da filósofa alemã Hannah Arendt, mais uma vez citada nesse blog. Segundo ela, “um espaço público não pode ser construído apenas para uma geração e planejado somente para os que estão vivos”, ou seja, planejado apenas para atender às necessidades presentes. Não estou afirmando que o presente deva ser ignorado. Não é isso! Mas o presente deve ser construído e planejado visando o futuro. Só dessa maneira se pode avançar.
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O que aconteceu em Salvador na última terça-feira ilustra bem essa questão. O caos da nossa cidade não foi provocado pelas chuvas. Na verdade, as chuvas apenas revelaram o caos no qual há muito tempo os soteropolitanos estão submersos. As autoridades municipal e estadual passadas e presentes pouco ou nada fizeram para que o caos do dia 05/05 não tivesse acontecido. Refiro-me, principalmente, a uma política pública habitacional que não privilegie somente os empreendimentos de luxo, mas, sobretudo, empreendimentos populares que ofereçam segurança àqueles que se arriscam em morar a beira de precipícios (assim também se trabalha em prol da contenção de encostas); a uma política pública de preservação ambiental (assim também se previne temporais intensos e seus efeitos nefastos); a uma política pública educacional que conscientize a população da importância de não se jogar lixo nas ruas, encostas, canais, rios, etc. (assim também se previne o entupimento das vias por onde as águas da chuva devem escoar), entre tantas outras iniciativas. Isso é trabalhar no presente visando o futuro.
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O que se deve perguntar é o seguinte: quais providências as autoridades municipal e estadual estão tomando para que no próximo ano essas tragédias não se repitam? Creio que pouco, muito pouco, a julgar pela declaração do presidente da Câmara Municipal, vereador Alan Sanches (PMDB), feita “na manhã de domingo, dia 10, na Catedral Basílica, durante a secular celebração ao santo protetor dos soteropolitanos”, segundo informou a Assessoria de Comunicação da Câmara de Vereadores. Para o vereador, só nos resta apelar para o padroeiro da cidade, São Francisco Xavier. Em suas palavras, “a sociedade conclama mais vez para que o padroeiro de Salvador e da Câmara, São Francisco Xavier, interceda neste momento difícil vivido por nossa cidade”. Então é isso? Devemos esperar que São Francisco Xavier interceda por nós? E quanto ao Ministro Gedel Vieira Lima? Acaso não é ele o homem das obras da integração nacional?
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Já o Governo Estadual e a Prefeitura de Salvador estão fazendo sua parte. Como se pode ver nas campanhas publicitárias de ambas as instâncias governamentais, assim como o Ministro Gedel Vieira Lima, nossa autoridades executivas estão a obrar muito, tanto na capital quanto em todo o Estado da Bahia. Estão a obrar em todo lugar. Talvez seja por isso que estejamos em tão boa situação. Sugiro que nossas autoridades parem de obrar na nossa cidade, no nosso Estado e no nosso país e passem a governar. Governar o presente para construir um futuro menos caótico na pior das hipóteses (por Sílvio Benevides).
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Imagens: Márcio Farani, Arestides Baptista (Ag. A TARDE) e Fernando Vivas (Ag. A TARDE)

Um comentário:

Gina Carla disse...

Realmente meu amigo, perfeito seu post. Faço minhas as suas palavras: "Sugiro que nossas autoridades parem de obrar na nossa cidade, no nosso Estado e no nosso país e passem a governar."...Adorei!!

Gina Carla.