Da Vila do Pereira à fundação de Salvador
A história oficial da cidade do Salvador tem início em 1549, ano da sua fundação, ocorrida sob a batuta do fidalgo português Tomé de Souza, primeiro Governador Geral do Brasil colonial. No entanto, para além da oficialidade histórica, alguns acontecimentos marcaram a vida da cidade antes mesmo de Tomé de Souza desembarcar onde hoje é o Porto da Barra com o intuito de fundar a Fortaleza do Salvador na Baía de Todos os Santos. Algumas povoações e vilas já existiam na região em torno do sítio onde Salvador foi erguida, a exemplo da Vila do Pereira (ou Povoação do Pereira), que a partir da fundação da fortaleza passou a se chamar Vila Velha. O nome Vila do Pereira, construída nas proximidades do atual Forte São Diogo, no Porto da Barra, se deve ao dono da Capitania da Bahia de Todos os Santos, o também fidalgo português Francisco Pereira Coutinho, homem de maus bofes. Foi-lhe outorgada pelo rei D. João III em 1534 por conta dos serviços que ele prestara à Coroa portuguesa.
Por volta de 1540 estourou uma guerra que destruiu por completo a Vila do Pereira. Consta que a peleja se deu entre os colonos portugueses, cerca de 100, e mais de mil Tupinambás. Essa revolta resultou da maneira como os colonos passaram a administrar a vila, assim como a região em torno, e ao tratamento dispensado aos índios. Gradativamente, eles perderam suas terras e foram reduzidos à condição de escravos. Alguns chegaram a ser vendidos para outras capitanias.
Com a derrota e a conseqüente tomada da vila pelos Tupinambás, Pereira Coutinho fugiu para Porto Seguro. Sua ausência motivou os franceses a retomar os planos de se instalarem na capitania. Frente à ameaça francesa, Pereira Coutinho decidiu regressar à vila. Ao retornar, em 1546, seu barco naufragou na costa sul da Ilha de Itaparica. Foi capturado e posteriormente devorado pelos Tupinambás num ritual antropofágico. Relatos de historiadores dos nossos tempos indicam que fora um índio com apenas cinco anos de idade, irmão de um outro que o próprio Pereira Coutinho mandara matar, quem desferiu com seu tacape o golpe fatal que liquidou com toda a fidalguia do donatário.
Fatos como esse, assim como a vulnerabilidade do terreno no que tange a possíveis ataques de invasores e inimigos da Coroa, fez o rei de Portugal, D. João III, determinar: “E assim informado que o lugar em que ora está a dita cerca não é conveniente para ali fazer assentar a fortaleza e povoação que ora ordeno que se faça, e será necessário fazer-se em outra parte mais para dentro da bahia” (In: LEITE, Anésio Ferreira. “Cidade ao redor da baía”. Revista da Bahia, v.32, n. 34, dez/2001). Por conta disso, a fortaleza que deu origem à cidade do Salvador foi construída no platô que se estende da Rua Chile ao Terreiro de Jesus. Nesse local havia as condições necessárias para garantir tanto a segurança e sobrevivência dos colonos quanto, principalmente, das riquezas por eles produzida (por Sílvio Benevides).
ADENDO
A história oficial da cidade do Salvador tem início em 1549, ano da sua fundação, ocorrida sob a batuta do fidalgo português Tomé de Souza, primeiro Governador Geral do Brasil colonial. No entanto, para além da oficialidade histórica, alguns acontecimentos marcaram a vida da cidade antes mesmo de Tomé de Souza desembarcar onde hoje é o Porto da Barra com o intuito de fundar a Fortaleza do Salvador na Baía de Todos os Santos. Algumas povoações e vilas já existiam na região em torno do sítio onde Salvador foi erguida, a exemplo da Vila do Pereira (ou Povoação do Pereira), que a partir da fundação da fortaleza passou a se chamar Vila Velha. O nome Vila do Pereira, construída nas proximidades do atual Forte São Diogo, no Porto da Barra, se deve ao dono da Capitania da Bahia de Todos os Santos, o também fidalgo português Francisco Pereira Coutinho, homem de maus bofes. Foi-lhe outorgada pelo rei D. João III em 1534 por conta dos serviços que ele prestara à Coroa portuguesa.
Por volta de 1540 estourou uma guerra que destruiu por completo a Vila do Pereira. Consta que a peleja se deu entre os colonos portugueses, cerca de 100, e mais de mil Tupinambás. Essa revolta resultou da maneira como os colonos passaram a administrar a vila, assim como a região em torno, e ao tratamento dispensado aos índios. Gradativamente, eles perderam suas terras e foram reduzidos à condição de escravos. Alguns chegaram a ser vendidos para outras capitanias.
Com a derrota e a conseqüente tomada da vila pelos Tupinambás, Pereira Coutinho fugiu para Porto Seguro. Sua ausência motivou os franceses a retomar os planos de se instalarem na capitania. Frente à ameaça francesa, Pereira Coutinho decidiu regressar à vila. Ao retornar, em 1546, seu barco naufragou na costa sul da Ilha de Itaparica. Foi capturado e posteriormente devorado pelos Tupinambás num ritual antropofágico. Relatos de historiadores dos nossos tempos indicam que fora um índio com apenas cinco anos de idade, irmão de um outro que o próprio Pereira Coutinho mandara matar, quem desferiu com seu tacape o golpe fatal que liquidou com toda a fidalguia do donatário.
Fatos como esse, assim como a vulnerabilidade do terreno no que tange a possíveis ataques de invasores e inimigos da Coroa, fez o rei de Portugal, D. João III, determinar: “E assim informado que o lugar em que ora está a dita cerca não é conveniente para ali fazer assentar a fortaleza e povoação que ora ordeno que se faça, e será necessário fazer-se em outra parte mais para dentro da bahia” (In: LEITE, Anésio Ferreira. “Cidade ao redor da baía”. Revista da Bahia, v.32, n. 34, dez/2001). Por conta disso, a fortaleza que deu origem à cidade do Salvador foi construída no platô que se estende da Rua Chile ao Terreiro de Jesus. Nesse local havia as condições necessárias para garantir tanto a segurança e sobrevivência dos colonos quanto, principalmente, das riquezas por eles produzida (por Sílvio Benevides).
ADENDO
Para não confundir antropofagia com canibalismo, reproduzo aqui um trecho da obra de Luís da Câmara Cascudo que nos ajuda a entender o papel da antropofagia nas sociedades indígenas: “Todos os registros dos séculos XVI e XVII, de origem ameraba, incluem a impressão do cerimonial ritual no ato canibalesco. Não há exemplo de exercer-se a prática sem atender às normas precípuas da tradição. Não se persegue e caça o homem para devorá-lo. Nem todos os prisioneiros merecem o sacrifício. Os cadáveres não são objeto do destino androfágico. É indispensável colher os homens vivos e durante a ação guerreira. Conduzí-los para as aldeias, alimentando-os fartamente, tratando-os com certas regalias e direitos, inclusive a oferta de mulheres. São adornados vistosamente e armados para a simulação defensiva. Uma multidão assiste à crueldade oficial. Convidados ilustres, chefes temidos, guerreiros famosos. Não pode haver clandestinidade no assassinato ritual. Quem o mata não pode participar do banquete. Fica sob a exigência de preceitos incontáveis, com imposição especial, mudo, quase imóvel, com nova pintura, sangria de dente de cutia, tatuagem, e toma novo nome, nome ilustre que custou a vida de um homem valente…” (In: Civilização e Cultura. Itatiaia: Belo Horizonte, 1983).
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Foto: Sílvio Benevides a partir de detalhe do painel do foyer do Teatro Castro Alves.
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