sexta-feira, 14 de março de 2014

Poesia o que é?

Se me perguntarem o que é poesia, direi não sei. Não sei, porque simplesmente a poesia pertence à ordem das coisas indefiníveis, inclassificáveis. Definições e classificações são movimentos que nos conduzem tão somente à racionalização do mundo. A poesia, ao contrário, vai além e nos mostra que razão rima com emoção. Sem esta, a razão não passa de um deserto árido e estéril. Mas poesia também rima com bruxaria. Talvez os poetas, além de fingidores, sejam, igualmente, bruxos. Sim, porque somente conhecendo em demasia as artimanhas de magias milenares se consiga atingir as profundezas das almas que habitam todos os tempos que compõem as infinitas eras. Se desejas saber o que a poesia é, interroga, então, Gustavo Adolfo Bécquer: “¿Qué es poesía? – dices mientras clavas en mi pupila tu pupila azul. ¿Qué es poesía? ¿Y tú me lo preguntas?  Poesía... eres tu.” Ao Mestre dos Magos, Fernando Pessoa (por Silvio Benevides).

Autopsicografia
                                   
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(FERNANDO PESSOA)
 
Imagens: Peanuts e Marçal

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