Em
1965, um ano após o golpe militar, o então deputado federal José Sarney deixou o
Congresso Nacional para governar o Estado do Maranhão. Em seu discurso de
despedida da Câmara Federal ele afirmou com a eloquência digna de um imortal: “Os
caminhos da violência no Maranhão, nestes últimos anos, foram de inacreditável
ferocidade e não haverá nenhuma demasia verbal ao dizermos que aquele estado
era um campo de concentração da democracia brasileira” (Fonte: Congresso
Nacional – Seção I – 10734 – Sexta-Feira, 10/12/1965). O que teria mudado de lá
para cá? Qual a contribuição dos Sarney para o avanço da democracia no Maranhão
e o bem-estar dos maranhenses? Muitas dúvidas (ou seriam dívidas?) pairam no ar.
Mas
não nos iludamos, o Maranhão é o Brasil e para o Brasil se tornar de verdade um
país repleto de dignidade será preciso expurgar todo e qualquer tipo de câncer
político, seja no Maranhão, na Bahia, no Acre, em São Paulo ou em qualquer
outro rincão desse enorme país. Em outros tempos se disse: “ou o Brasil acaba
com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”. Hoje, porém, urge dizer: ou o
Brasil acaba com os Sarney (e tudo que eles representam), ou os Sarney certamente
acabarão com o Brasil. Leiam e reflitam, afinal, novas eleições se aproximam
(por Silvio Benevides).
Se o crime organizado dá as cartas e oprime o povo com ameaças dignas
de terroristas, é porque há uma natural permissão – Leio
com assombro as notícias que chegam do Maranhão. Imagens e relatos dolorosos e
repugnantes despejados em tempo real em sites, jornais e telejornais,
escancarando a nossa vergonha e impotência diante de barbaridades que já
extrapolam nossas fronteiras e repercutem mundo afora. Como todos, estou pasmo.
Mas nem tanto. Nasci no Maranhão e sei que a barbárie (a todos agora revelada
de um modo talvez sem precedentes) já impera há anos na prática de seus
governantes vitalícios, que agem como os velhos donos das capitanias
hereditárias do passado.
Se
o crime organizado neste momento dá as cartas e oprime o povo com ameaças e
ações dignas dos mais perigosos terroristas, é porque há uma natural permissão
--a impunidade crônica dos oligarcas senhores feudais, que comandam (?) o
Estado com mãos de ferro há 47 anos (a minha idade exatamente) e que, ao longo
desse tempo, vem cometendo atrocidades sem castigo, com igual maldade, típica
dos grandes tiranos e ditadores. Esses donos do poder maranhense (e nunca
dantes a palavra “dono” foi empregada com tanta adequação como aqui e agora)
são exemplo e espelho para que criminosos ajam sem nenhum medo da punição.
Pois
a miséria extrema que assola o Estado há décadas, o analfabetismo estimulado
pela sanha dos coiotes ávidos de votos, a cultura antiga de currais eleitorais,
a corrupção mais descarada do mundo e o atentado ao patrimônio histórico de sua
bela e triste capital são crimes tão hediondos quanto os cometidos no complexo
penitenciário de Pedrinhas. A diferença crucial é que, enquanto os bandidos que
agora aterrorizam (e matam) a população aos olhos assustados da nação estão em
presídios infectos e superlotados, os criminosos de colarinho branco (e
terninho bege) habitam palácios.
No
meio do caos, soa tão patética quanto simbólica a notícia veiculada dias atrás
neste jornal [Folha de São Paulo] sobre
abertura de licitação para o abastecimento das residências oficiais da
governadora. A lista de compras é de um rigor e de uma opulência espantosos.
Parece coisa da monarquia francesa nos dias que antecederam sua queda. No
presídio de Pedrinhas, cabeças são cortadas. Resta saber se, para além dos muros
da prisão, alguém um dia irá para a guilhotina (por Zeca Baleiro, cantor e compositor, para a Folha de São Paulo).
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