O texto abaixo reproduzido sobre essa aberração midiática que se chama Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo, não é, como se tem divulgado pela internet, de autoria do magnífico escritor Luís Fernando Veríssimo. O próprio Veríssimo já confirmou isso em outro programa da Rede Globo, o Altas Horas, do Serginho Groisman (confira aqui). Parece que esse texto circula na internet desde 2010, quando em nota, o autor,com o seu costumeiro humor esclareceu: “Não fui eu que escrevi. Não poderia escrever nada sobre o Big Brother Brasil, a favor ou contra, porque sou um dos três ou quatro brasileiros que nunca o acompanharam”.
Como se pode ver, não devemos acreditar em tudo que encontramos na internet. Como qualquer ferramenta, seja de comunicação ou de outra natureza, ela pode ser ou não bem utilizada. Mas essa é outra questão. O fato de o texto abaixo ter sido atribuído a alguém que não o escreveu é algo grave. Vivemos em uma época em que escrúpulo (para dizer o mínimo) parece ser doença infectocontagiosa, por isso devemos evitá-lo a todo custo. Entretanto, seja de quem for a autoria do texto, ele discorre sobre um verdade, digamos, inexorável!
Esse tal de BBB bempoderia de chamar Big Bosta Brasil. Não consigo entender como os supostos milhões de telespectadores dão audiência a essa bosta. Não sou daqueles que acham que a televisão só deve ofertar programas educativos, culturais ou instrutivos. A televisão pode sim ofertar programas de entretenimento voltados tão somente para o entretenimento do telespectador. Mas isso não significa que em nome do entretenimento puro e simples devamos abrir mão da qualidade. Há inúmeros programas na TV que associam entretenimento com qualidade (ou alguma qualidade) e o Altas Horas é um bom exemplo disso. O mais grave no Big Bosta Brasil, para mim, é a inversão de valores. Vale tudo para ganhar o prêmio máximo, vale mentir, trapacear, falar mal do outro, ser dissimulado, brigar, xingar, trepar, sacanear e depois de tudo isso se o sujeito ou a sujeita conquista o prêmio máximo leva junto o título de bom/boa jogador/jogadora. Deprimente! Até quando teremos de conviver com isso? (esse texto é de minha própria autoria, Silvio Benevides)
EIS O TEXTO – Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big BrotherBrasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço [...] Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência [...] Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura,de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo santo dia. Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns). Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a “entender o comportament ohumano”. Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão. Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada aprogramas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores). Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa, ir ao cinema, estudar, ouvir música, cuidar das flores e jardins, telefonar para um amigo, visitar os avós, pescar, brincar com as crianças, namorar ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.
Imagem: O cão andaluz, Dir. Luis Buñuel, 1928.
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