A data de hoje, 31 de outubro, dia do aniversário de Carlos Drummond de Andrade, nascido na cidade mineira de Itabira, em1902, foi transformada pelo Instituto Moreira Salles, entidade que cuida do valiosíssimo acervo do poeta, no Dia D – Dia Drummond, que passa a figurar no calendário cultural do País. “Não queríamos que um material tão rico ficasse limitado aos muros do instituto”, disse Flávio Moura, um dos curadores da festa, ao lado do poeta Eucanaã Ferraz. “Nossa inspiração foi o Bloomsday, que acontece todo 16 de junho, quando os irlandeses (e todo o mundo) comemoram a vida e a obra de James Joyce”, completou. Da presente data em diante passaremos, pois, a comemorar o dia Drummond, aquele cuja pena traduziu em palavras sentimentos que apenas podem ser ouvidos por meio dos batimentos cardíacos. O Carlos Drummond de Andrade sempre esteve e sempre estará presente na série Poemas Falados do Salvador na sola do pé, porque ele é o anjo torto que nos ensinou com seus versos raros a arte de voar a gauche pela vida a fora. E como é bom ser gauche na vida!
Para marcar esse dia, um dos meus poemas prediletos, O HOMEM, AS VIAGENS, que diz: “O homem, bicho da Terra tão pequeno, chateia-se na Terra, lugar de muita miséria e pouca diversão. Faz um foguete, uma cápsula, um módulo, toca para a Lua, desce cauteloso na Lua, pisa na Lua, planta bandeirola na Lua, experimenta a Lua, coloniza a Lua, civiliza a Lua, humaniza a Lua. Lua humanizada: tão igual à Terra. O homem chateia-se na Lua. Vamos para Marte! Ordena a suas máquinas. Elas obedecem. O homem desce em Marte, pisa em Marte, experimenta, coloniza, civiliza, humaniza Marte com engenho e arte. Marte humanizado, que lugar quadrado. Vamos a outra parte? Claro! Diz o engenho sofisticado e dócil. Vamos a Vênus. O homem põe o pé em Vênus, vê o visto – é isto? Idem, idem, idem...O homem funde a cuca se não for a Júpiter proclamar justiça junto com injustiça, repetir a fossa, repetir o inquieto repetitório. Outros planetas restam para outras colônias. O espaço todo vira Terra-a-Terra. O homem chega ao Sol ou dá uma volta só pra te ver? Não vê que ele inventa roupa insiderável de viver no Sol. Põe o pé e: mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado. Restam outros sistemas fora do solar a colonizar. Ao acabarem todos só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração, experimentar, colonizar, humanizar o homem, descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de conviver”. Na voz do próprio Drummond, ao som de Bach, interpretado pelo Yo Yo Ma, o meu Poema Falado preferido. Boa áudio-leitura! (por Silvio Benevides).
Imagem: Agência Estado
Para marcar esse dia, um dos meus poemas prediletos, O HOMEM, AS VIAGENS, que diz: “O homem, bicho da Terra tão pequeno, chateia-se na Terra, lugar de muita miséria e pouca diversão. Faz um foguete, uma cápsula, um módulo, toca para a Lua, desce cauteloso na Lua, pisa na Lua, planta bandeirola na Lua, experimenta a Lua, coloniza a Lua, civiliza a Lua, humaniza a Lua. Lua humanizada: tão igual à Terra. O homem chateia-se na Lua. Vamos para Marte! Ordena a suas máquinas. Elas obedecem. O homem desce em Marte, pisa em Marte, experimenta, coloniza, civiliza, humaniza Marte com engenho e arte. Marte humanizado, que lugar quadrado. Vamos a outra parte? Claro! Diz o engenho sofisticado e dócil. Vamos a Vênus. O homem põe o pé em Vênus, vê o visto – é isto? Idem, idem, idem...O homem funde a cuca se não for a Júpiter proclamar justiça junto com injustiça, repetir a fossa, repetir o inquieto repetitório. Outros planetas restam para outras colônias. O espaço todo vira Terra-a-Terra. O homem chega ao Sol ou dá uma volta só pra te ver? Não vê que ele inventa roupa insiderável de viver no Sol. Põe o pé e: mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado. Restam outros sistemas fora do solar a colonizar. Ao acabarem todos só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração, experimentar, colonizar, humanizar o homem, descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de conviver”. Na voz do próprio Drummond, ao som de Bach, interpretado pelo Yo Yo Ma, o meu Poema Falado preferido. Boa áudio-leitura! (por Silvio Benevides).
Imagem: Agência Estado
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