segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A defesa do meio ambiente é uma luta anticapitalista

Não há dúvida que a questão ambiental é uma das mais urgentes na atualidade. Trata-se de uma questão de sobrevivência, não do planeta, mas, sim, da humanidade. Trata-se, também, de uma questão moral. Como assim? Muitos, talvez, se perguntem. A resposta é simples. A humanidade não encontrará soluções adequadas para a questão da degradação ambiental se não promover uma mudança radical de valores e padrões morais/éticos. A primeira mudança a ser promovida deve ser na idéia de que a vida humana é a mais valorosa do planeta e, por isso, a única que importa. Todas as vidas existentes na terra são importantes, porque as inúmeras espécies existentes são interdependentes. O equilíbrio ambiental somente se efetivará quando essa consciência estiver, de fato, disseminada e profundamente enraizada nas consciências humanas. Talvez devêssemos promover um resgate significativo de valores e padrões culturais de sociedades dizimadas pelo colonialismo mercantilista e pelo imperialismo capitalista, ambos vistos por séculos como modelos civilizatórios ideais. Desse ponto advém outra constatação. Se não houver uma mudança radical dos padrões civilizatórios atuais, o que implica, também, uma mudança radical no modo de produção, não haverá futuro promissor para a humanidade ou para qualquer outra forma de vida que habite este planeta. Urge modificarmos a maneira como produzimos e consumimos, pois o modo como as coisas estão e são tem se revelado extremamente nocivo.

Por e-mail me enviaram um texto no qual uma senhora idosa é interpelada pelo caixa do supermercado, que, preocupado com a questão ambiental, lhe diz que sacolas plásticas não são amigáveis com o meio ambiente e, por isso, ela deveria ter levado suas próprias sacolas para as compras ou, então, comprar uma retornável fornecida pelo próprio supermercado pelo valor irrisório de R$ 3,00. Desculpando-se, a senhora responde ao caixa politicamente correto que em seu tempo de juventude não havia preocupação com o meio ambiente, talvez fosse esta a razão dela sempre se esquecer de levar suas próprias sacolas quando ia às compras. Do alto da sua elevada consciência ambiental, o rapaz afirma ser este o grande problema dos nossos dias, ou seja, as gerações mais velhas não se preocuparam o suficiente com a questão ambiental. Sem discordar, a velha senhora se sentiu na obrigação de complementar o argumento do jovem caixa, informando-lhe que nos idos tempos da sua juventude “as garrafas de leite, de refrigerante e cerveja eram devolvidas à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes”. E a senhora não se restringiu a este exemplo, apenas.

“Realmente, continuou ela, não nos preocupávamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisávamos ir a dois quarteirões para comprar pão, por exemplo. Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis, tampouco absorventes íntimos descartáveis para as mulheres quando ficavam menstruadas. A secagem das roupas não era feita nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secava nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas. Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que, depois, quase ninguém sabe como será descartado. Também não tínhamos controles remotos, laptops e aparelhos celulares com suas baterias altamente nocivas ao meio ambiente. Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo frágil para enviar pelo correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico-bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama. Utilizava-se um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisávamos ir a uma academia para usar esteiras elétricas. Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos em copos de vidro quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Recarregávamos as canetas com tinta ao invés de comprar novas. Os homens barbeavam-se com navalhas e, por isso, deixavam de jogar no lixo aparelhos descartáveis e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte. Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época, quando as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam para a escola a pé ou em suas bicicletas, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos apenas uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos eletrônicos. Também não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima”. Satisfeita, a senhora conclui com uma provocação destinada à reflexão: “não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não queira abrir mão de nada e não pense em viver um pouco como na minha época”?

Não se trata aqui de defender um retorno ao passado. É óbvio que ninguém deseja cruzar o Atlântico rumo à Europa, por exemplo, do mesmo modo faziam os antigos navegantes em suas caravelas movidas pela força dos ventos. Definitivamente, não é isso que está em debate aqui. Entretanto, é preciso considerar que a fictícia senhora, de fato, tem razão, embora ela tenha se esquecido de admitir que, sim, as gerações mais velhas não se preocuparam com a questão ambiental porque estavam empenhadas em promover o desenvolvimento tecnológico e econômico em bases capitalistas. Muitas vezes a preocupação ambiental/ecológica dos dias de hoje chega a ser risível, não tanto pelos argumentos, mas, sobretudo, pela total ausência de politização dos fatos. Para salvar o meio ambiente da sua total degradação é preciso mudar maneiras de agir e pensar; é preciso transformar o modo de produção capitalista, que tem se mostrado cada vez mais insustentável sob todos os aspectos. Isso implica, também, em mudar todo um conjunto de relações sociais nos mais variados âmbitos, do político-econômico ao religioso, passando, claro, pelo educacional. Sem essas mudanças, caros defensores do discurso ambientalmente correto, não haverá futuro nem para o meio ambiente, nem para a humanidade. E nem adianta dizer que cada um fazendo a sua parte, como, por exemplo, fazer xixi durante o banho para evitar dar descarga ou tomar banhos rápidos de no máximo cinco minutos para diminuir o consumo de água, vai resolver o problema. Não vai, porque outro valor que precisamos resgatar é o sentimento de coletividade. Problemas coletivos exigem soluções pensadas, refletidas, debatidas e encontradas coletivamente e não individualmente. O individualismo é tão nocivo ao meio ambiente quanto a bomba atômica (por Sílvio Benevides).


Imagem: Lady Bug heart, por Tiago Sousa

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