terça-feira, 19 de julho de 2011

Direito de resposta contra a estupidez

Em abril passado foi publicado neste espaço o relatório anual divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) sobre a violência praticada no Brasil contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros. De acordo com o relatório, em 2010 cerca de 260 homossexuais foram assassinados pelo simples fato de serem o que eram, ou seja, homossexuais. A postagem intitulada “Epidemia do ódio: o extermínio de homossexuais no Brasil” provocou a seguinte reação de um leitor que se identificou como Felipe. Pois bem, o Felipe se expressou nos seguintes termos: “Desculpe mas isso é história para boi dormir...Vítimas de violência existem de todos os tipos, não importando se é gay, negro, branco, gordo ou magro. Compare os numeros...Na verdade o que esta acontecendo é a “héterofobis” (sic) de uma minoria que esta tirando proveito da “moda gay” da mídia e banalizando os princípios da morais (sic) da familia brasileira...Não existe extermínio de gays, existe oportunismo de gays que querem levar vantagem na situação devido a massificação desse assunto na mídia. Se vcs, minoría infima tem direitos, que tal extende-los tbm aos negros, deficientes, menores abandonados, imigrantes ilegais, viciados em drogas...Ora essa, façam-me o favor...basta de desocupados escrevendo besteiras...Oportunistas...

Em primeiro lugar, gostaria de lembrar ao tal Felipe e a quem mais interessar que a postagem em questão não nega nem pretendeu negar que existem “vítimas de violência de todos os tipos”. Logo no início do texto isso fica claro: “A violência é um fenômeno social gerado por múltiplas causas, porque múltiplos são os tipos de violência. Para cada tipo, uma causa distinta. A violência resultante do narcotráfico, por exemplo, não pode ser considerada a mesma coisa que a violência no trânsito ou a violência doméstica, ou, ainda, a violência gerada pela homofobia”. Somente uma mentalidade bem tacanha para imaginar que violência é tudo igual e que somente homossexuais são vítimas dela. Ora essa, façam-me o favor!

Segundo ponto. De que família brasileira os falsos moralistas estão falando? De onde eles/elas pensam que saem os gays? De chocadeiras? Creio que não. Homossexuais são fruto de uma união, familiar ou não, como qualquer outra pessoa, seja esta pessoa negro, branco, judeu, evangélico, mulçumano, católico, rico, pobre, gordo, magro, intelectual e até mesmo os estúpidos. Mesmo estes últimos são frutos de uniões familiares ou não. Portanto, para se falar em moral deve-se especificar que moral é essa. Não creio que seja a moral da família brasileira, mas, sim, de algumas famílias brasileiras retrógradas, estúpidas, tacanhas e extremamente egoístas, pois só pensam no bem-estar dos seus, esquecendo-se do bem-estar das demais famílias, especialmente, das mães, pais, irmãos, sobrinhos, netos, filhos e filhas de inúmeros homossexuais que são barbaramente assassinados no Brasil todos os anos. Ora essa, façam-me o favor!

Terceiro ponto. Num Estado democrático e laico como o Brasil, todos têm direitos. Mais que isso. Todos têm direitos a ter direitos. Mulheres, negros, deficientes físicos, menores abandonados, imigrantes ilegais, viciados em drogas possuem sim direitos. Se o Felipe e outros como ele não sabem, é preciso que saibam que no Brasil racismo, por exemplo, é crime inafiançável (LEI Nº 9.459, DE 13 DE MAIO DE 1997). O que diz a lei? Que todos os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional devem ser punidos com pena de reclusão de um a três anos e multa. Do mesmo modo, praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. E ainda, “se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem”, pena de reclusão de um a três anos e multa.

Perceberam como muita gente tem direitos no Brasil? E o que dizer sobre a Lei Maria da Penha (LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006)? Agora as mulheres possuem um instrumento legal para coibir a violência da qual são vítimas pelo simples fato de serem o que são, ou seja, mulheres. Se vários grupos sociais já possuem instrumentos legais para se defender e/ou coibir a violência da qual são vítimas pelo simples fato de serem o que são, por que negar esse direito aos homossexuais, travestis e transgêneros? Qual a razão desse suspeitoso ódio e/ou receio? O que não dá é para negar os fatos. Ora essa, façam-me o favor! Informação não tem contra-indicação e é o melhor remédio contra a estupidez.

Por fim, gostaria de levantar duas questões. A primeira diz respeito à acusação de desocupado. A pergunta que não quer calar é a seguinte: quem seria mais desocupado, aquele que escreve “besteiras” ou aquele que lê as besteiras escritas por um suposto desocupado e que, como se não bastasse, se dispõe a tecer comentários estúpidos? Trata-se de uma questão para refletir. A outra questão é a seguinte. Para quem acha que a aprovação do PLC 122/2006, que visa criminalizar a homofobia no Brasil, é fruto de oportunismo ou uma mera besteira, sugiro que leia a notícia que foi divulgada pela imprensa sobre pai e filho que foram espancados por suspeitosos homofóbicos porque estavam abraçados e, por isso, foram confundidos com homossexuais pelos suspeitosos agressores. A pergunta que fica é a seguinte: devemos permitir que nossa sociedade continue vivendo tempos de trevas? (pelo desocupado Sílvio Benevides)



Imagem: Carlos Latuff

Um comentário:

Papillon disse...

Desocupado como você quero sempre ao meu lado, Silvio!! Já pessoas estúpidas quero distância, faça me o favor!!!
Faça-me o favor, Felipe!!!
VAI BUSCAR SE INFORMAR!
COMO DISSE SILVIO:
“Informação não tem contra-indicação e é o melhor remédio contra a estupidez”.