segunda-feira, 25 de julho de 2011

Paulo Autran, Patrono do Teatro Brasileiro


O Estado brasileiro reconhece o inesquecível ator Paulo Autran como Patrono das Artes Cênicas nacionais. Uma merecida homenagem a um grande artista que laureou sua arte não apenas com o seu imenso e inquestionável talento, mas, também, com integridade ímpar e respeito ao público. De certo, um exemplo a ser seguido e um talento para jamais ser esquecido, sobretudo por aqueles que tiveram o prazer de vê-lo atuar no palco, habitat natural do ator, cheio de viço. Talvez fosse essa a razão pela qual era impossível desviar a atenção quando ele entrava em cena, sempre esplêndido. Quem, infelizmente, não teve o privilégio de apreciar sua arte nos palcos, pode fazê-lo assistindo, entre outros, aos filmes Terra em Transe (1967), do Glauber Rocha, e O ano em que meus pais saíram de férias (2006), do Cao Hamburger, cuja participação, embora breve, foi arrebatadora. Também pode conferir a minissérie Hilda Furacão, disponível em DVD, e, claro, acompanhar os Poemas Falados que eventualmente são publicados neste espaço na sua expressiva interpretação de grandes clássicos da poesia. Parabéns ao eternamente inesquecível Paulo Autran (por Sílvio Benevides).

LEI No – 12.449, DE 15 DE JULHO DE 2011

Declara o ator Paulo Autran Patrono do Teatro Brasileiro.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o O ator Paulo Autran é declarado Patrono do Teatro Brasileiro.
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 15 de julho de 2011; 190o da Independência e 123º da República.

DILMA ROUSSEFF
Anna Maria Buarque de Hollanda

Paulo Autran, uma biografia de sucesso – “Quando era garotinho pensava que um homem para ser homem tinha que ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Plantei muitas árvores, mas em benefício da literatura nunca escrevi um livro. E nunca tive filhos. Aí concordo com Machado de Assis: “Para que legar aos outros a miséria da condição humana”? (Paulo Paquet Autran, Rio de Janeiro, 1922 – São Paulo, 2007). Ator, intérprete de grandes recursos expressivos e vários registros dramáticos, Paulo Autran iniciou sua trajetória artística nos anos 1950 e constrói uma sólida e diversificada carreira, protagonizando um repertório que inclui os maiores autores clássicos e contemporâneos.

No teatro sua carreira tem início em 1947, com Os Artistas Amadores, grupo fundado por Madalena Nicol, que encena Esquina Perigosa, de J. B. Priestley, um dos espetáculos que marcam a fase amadora do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) nos seus primórdios. Volta aos palcos com A Noite de 16 de Janeiro, de Ayn Rand, 1948, no papel de um advogado, profissão que, de fato, ele exerce no período. Em 1949, entra para ao Grupo de Teatro Experimental (GTE) atuando em Pif-Paf e A Mulher do Próximo, textos e direções de Abílio Pereira de Almeida, e como o protagonista de À Margem da Vida, de Tennessee Williams, no Teatro Copacabana, Rio de Janeiro, todas em 1949. Ainda nesse ano, numa produção de Fernando de Barros, protagoniza ao lado de Tônia Carrero, recém-chegada de Paris, Um Deus Dormiu Lá em Casa (Anfitrião), de Guilherme Figueiredo, seu primeiro papel no profissionalismo. Em 1950, a mesma companhia realiza Amanhã, Se Não Chover, de Henrique Pongetti, com direção de Ziembinski. No ano seguinte, ele e Tônia Carrero são contratados em São Paulo: ele, para o TBC e ela para a Companhia Cinematográfica Vera Cruz.

Em 1951, atua em importantes produções da companhia, tais como: Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello, direção de Adolfo Celi; Arsênico e Alfazema, de Joseph Kesselring, direção também de Celi; Ralé, de Máximo Gorki, direção de Flaminio Bollini, e A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, encenação de Luciano Salce. Com Antígona, de Sófocles (1º ato) e de Jean Anouilh (2º ato), dirigido por Adolfo Celi, em 1952, arrebata o Prêmio Saci de melhor intérprete; que vai repetir-se com Na Terra Como No Céu, de Franz Hochwalder, e Assim É...(Se Lhe Parece), novamente Pirandello, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, ambos em 1953. Outro grande sucesso de sua carreira no TBC vem com Santa Marta Fabril S. A., em 1955. No ano seguinte, ele, Tônia Carrero e Adolfo Celi saem do TBC e fundam, no Rio de Janeiro, a Companhia Tônia-Celi-Autran (CTCA), estreando com Otelo, de William Shakespeare. Nos anos seguintes, as mais significativas montagens que sobem à cena são: A Viúva Astuciosa, de Carlo Goldoni, 1956; Entre Quatro Paredes (Huis Clos), de Jean-Paul Sartre, 1956; Frankel, de Antônio Callado, 1957; A Ilha das Cabras, de Ugo Betti, 1958; Calúnia, de Lillian Hellman, 1958; Negócios de Estado, de Louis Verneuil, 1958; Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi Pirandello, 1959; Lisbela e o Prisioneiro, de Osman Lins, 1961; Um Castelo na Suécia, de Françoise Sagan, 1961; e Tiro e Queda, de Achard, última montagem da CTCA em 1962.

Estréia, com brilho e sucesso, ao lado de Bibi Ferreira em My Fair Lady, 1962. Em 1964, com Maria Della Costa, está em Depois da Queda, de Arthur Miller, direção de Flávio Rangel, para o Teatro Maria Della Costa (TMDC), recebendo o Prêmio Associação Paulista dos Críticos Teatrais (APCT) de melhor ator. Faz, logo após, um show de boate denominado Paulo Autran da 1 às 2, repetindo Flávio Rangel como diretor, que inspira a criação de Liberdade, Liberdade, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes, levado em 1965 no Teatro Opinião, enorme sucesso de crítica e público. Ainda com o espetáculo correndo o país, Paulo filma Terra em Transe, de Glauber Rocha, em que vive o ditador de um país latino-americano, saudado como o mais importante lançamento de 1967.

Monta sua própria companhia e, em 1966/1967, percorre o Brasil com uma encenação de Flávio Rangel para Édipo Rei, de Sófocles, ao lado de Cleyde Yáconis. Esse tipo de atuação repete-se com O Burguês Fidalgo, de Molière, em 1968. Em 1970 faz o show Brasil e Cia. e, no mesmo ano, integra uma controvertida montagem de Macbeth, de William Shakespeare, com direção de Fauzi Arap. Antunes Filho o dirige no espetáculo Nossa Vida em Família (Em Família), de Oduvaldo Vianna Filho, 1972. Ainda nesse ano, vive o Quixote no musical O Homem de la Mancha, de Wasserman, novamente com Bibi Ferreira, bem como o protagonista de Coriolano, de William Shakespeare, direção de Celso Nunes, em 1974.

Seguem-se novas produções bem-sucedidas: Dr. Knock, de Jules Romains, 1974; Equus, de Peter Shaffer, 1975, ambas novamente dirigidas por Celso Nunes; e recebe o Prêmio Mambembe de melhor ator em A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, encenação de Flávio Rangel, 1977. Com Eva Wilma protagoniza Pato com Laranja, de William Douglas Home, trazendo Adolfo Celi da Itália para um retorno ao Brasil, em 1979, um dos maiores sucessos de sua carreira. Em 1982, está em Traições, do dramaturgo Harold Pinter, com direção de José Possi Neto, levando o Prêmio Molière de melhor ator, e em 1983, dirige A Amante Inglesa, um rebuscado texto de Marguerite Duras. Num mesmo programa apresenta alternadamente, em 1985, Tartufo, de Molière, e Feliz Páscoa, de Jean Poiret, mais uma direção de José Possi Neto.

Tributo, de Bernard Slade, é a criação de 1987. Com o Grupo TAPA integra o elenco de Solness, o Construtor, de Henrik Ibsen, direção de Eduardo Tolentino de Araújo, em 1988, mesmo ano em que atua em Quadrante, texto e direção do próprio Autran, peça que permanece apresentando por muito tempo. No ano seguinte, participa de outra montagem com jovens, A Vida de Galileu, de Bertolt Brecht, direção de Celso Nunes. Também em 1989, recebe o Prêmio Apetesp especial por seus 40 anos de profissão. Em 1991 atua e dirige em Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi Pirandello. Em 1993, está como ator em O Céu Tem que Esperar, de Paul Osborn, direção de Cecil Thiré; e, em 1994, atua em A Tempestade, de Shakespeare, direção de Paulo de Moraes, realizada em Londrina. Um ano depois, volta ao boulevard com As Regras do Jogo, de Noel Coward, e a Shakespeare, com Rei Lear, dirigido por Ulysses Cruz, em 1996. Para Sempre, de Maria Adelaide Amaral, 1997; e O Crime do Dr. Alvarenga, texto e direção de Mauro Rasi, são seus últimos trabalhos nos anos 90. Em 2000, monta um grande sucesso, Visitando o Sr. Green, de Jeff Baron, dirigido por Elias Andreato, que lhe rende os prêmios Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) e Shell de melhor ator de teatro.

Segundo o crítico Yan Michalski: “Paulo Autran é uma das raras personalidades-símbolos do teatro brasileiro. Este gentleman construiu, ao longo de 40 anos de teatro profissional, uma carreira admiravelmente digna, na qual tanto o público como os colegas sabem vislumbrar um exemplo merecedor de incondicional respeito. Este protagonista nato nunca se deixou sensibilizar pelo canto de sereia do estrelismo. Tampouco caiu nas armadilhas do modismo, definindo sempre a sua carreira por um critério pessoal, aberto mas inflexível e exigente, da qualidade: faz com o mesmo entusiasmo e a mesma competência um grande clássico, uma comédia ligeira ou um texto marcado pelo conceito da modernidade, contanto que identifique nele valores literários, teatrais, intelectuais, sociais ou humanos que mereçam o seu engajamento, e que a construção do papel se constitua para ele num desafio e numa alegria. E seria difícil citar um outro ator tão completo a ponto de responder a qualquer tipo de desafio interpretativo com a mesma amplitude e adequação de recursos. (...) Culto, discreto, elegante em cena como fora dela, exaltado por todos os que com ele trabalham como um colega exemplar, Paulo Autran talvez possa ser adequadamente definido como um ator visceralmente e em todos os sentidos, civilizado” (Fonte: Blog de Teatro da Cia Teatral Paulicéia Desvairada).



Imagens: Agência Brasil e Chico Nogueira

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