segunda-feira, 9 de maio de 2011

Reflexões sobre a morte e a morte de Osama Bin Laden

Pra início de conversa quero deixar claro que não estou a escrever estas linhas para defender nenhum ato ou grupo terrorista, assim como nenhum indivíduo em geral ou em particular. Quero apenas compartilhar alguns questionamentos que me ocorreram após o pronunciamento do presidente estadunidense Barack Obama comunicando ao mundo a morte do Osama Bin Laden. Nada contra a operação militar que culminou com o extermínio do líder da Al-Qaeda. Como diz um velho aforismo popular bem conhecido dos brasileiros, quem sai na chuva é para se molhar, ou seja, se o Bin Laden escolheu viver como terrorista, nada mais natural do que morrer como um terrorista. Ademais, cá entre nós, já foi tarde. O problema para mim não é este. Aliás, acho que isto não tem a menor importância. Entretanto, toda essa história de caçada ao líder terrorista mais procurado do mundo trouxe a tona duas questões, estas sim bem graves, pois comprometem o futuro político da humanidade.

A primeira delas diz respeito ao uso da tortura em interrogatórios de prisioneiros acusados de terrorismo que, supostamente, teriam conexões com membros da Al-Qaeda, conforme admitiu Leon Panetta , diretor da Central de Inteligência Americana (CIA). A tortura é uma prática hedionda contrária tanto a democracia quanto aos direitos humanos. A prática de tortura se torna ainda mais hedionda quando utilizada por um Estado que diz nortear suas ações pelos princípios e valores basilares da democracia e dos direitos humanos e que, como se não bastasse, tenta impor o seu modelo de democracia como o modelo a ser seguido por todos, como é o caso dos Estados Unidos. Então a democracia desse país se utiliza de dois pesos e duas medidas? Como confiar no discurso de uma gente que prega uma coisa e por debaixo dos panos pratica outra bem diferente? Tenho certeza que se o governo da Venezuela admitisse ter praticado tortura nas suas investigações, os Estados Unidos seriam os primeiros a condenar e no rastro deles outros tantos países que, hoje, evitam tocar nesse assunto ou mesmo comentá-lo, fariam o mesmo. Ouviríamos muitos analistas, especialistas e jornalistas condenando veementemente o Hugo Chávez. Alguns diriam até mesmo que esse tipo de coisa só poderia ocorrer em democracias deficientes ou frágeis, ou, ainda, em simulacros de democracia, a exemplo do que muitos acreditam ser as democracias latino-americanas.

Outra questão que me chamou a atenção nesse acontecimento diz respeito à “captura” do Bin Laden ter ocorrido em território paquistanês sem o conhecimento das autoridades locais. Essa atitude me levou a pensar que o Paquistão foi invadido sem a aprovação de organismos internacionais cuja legitimidade os autoriza a aprovar ou não esse tipo de ação. Até onde eu sei isso pode ser considerado uma declaração de guerra, uma vez que a boa relação entre as nações, entre outras coisas, depende, principalmente, do respeito à soberania de cada Estado. Assim aprendi. Esse respeito, me parece, não ocorreu no caso em questão. Temo que de agora em diante as regras que regem as relações internacionais sejam meras retóricas sem nenhuma aplicação prática. Como se isso não bastasse, tenta-se desviar a atenção desse fato para um outro de menor importância que é o fato de as autoridades paquistaneses serem ou muito incompetentes por não terem descoberto o paradeiro de Bin Laden que se escondia em Abbottabad, cidade que fica a menos de 100 km de Islamabad, capital do país, ou coniventes com o terrorismo. Jamais saberemos a verdade. Entretanto, é preciso tomar cuidado para que as sociedades de hoje não estejam a cultivar novas bases sobre as quais se sustentarão ações que aterrorizarão as sociedades de amanhã (por Sílvio Benevides).

Imagem: AFP

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