segunda-feira, 16 de maio de 2011

O poderoso THOR

O filme Thor, em cartaz nos cinemas de Salvador, não é só ação e aventura, como convém às boas histórias de super-heróis e deuses míticos. Trata-se de um filme que pode levar muitos dos seus espectadores a elaborarem reflexões interessantes sobre, por exemplo, a relação entre pais e filhos, entre as diferentes gerações, sobre poder, respeito, sabedoria e, também, sobre o temperamento intempestivo e rebelde, geralmente referido como uma característica nata dos jovens. Rebeldia necessária para promover mudanças, mas que deve ser bem canalizada e orientada para que, ao invés de mudanças saudáveis, promova tragédias irreparáveis. Desconfio que isso se deva ao trabalho do diretor Kenneth Branagh, um profissional das artes com conteúdo. Ao contrário do que muitos por aí costumam pensar e difundir, conteúdo faz muita diferença, especialmente se ele vem acompanhado de talento. Trata-se de uma produção voltada para arrecadar grandes somas nas bilheterias do mundo e, portanto, sem compromisso com reflexões filosóficas profundas. Ainda assim, para quem desejar, claro, é possível ir além do óbvio para acessar o discurso que é dito de forma nada explícita. Vale a pena assistir essa super produção hollywoodiana. Confira abaixo entrevista com o diretor. Boa leitura (por Sílvio Benevides).

Formado pela Academia Real de Arte Dramática, fundador da Companhia de Teatro Renaissance... o currículo de Kenneth Branagh transborda erudição. Nos palcos e no cinema, o ator e cineasta irlandês de 50 anos é conhecido como um expert na obra do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), por trás de filmes como Henrique V (1989), Muito barulho por nada (1993) e Hamlet (1996).

Mas Branagh também é pop. Fã assumido dos super-heróis criados por Stan Lee e Jack Kirby, ele foi convocado para dirigir a adaptação para o cinema de “Thor” e insinua que pode haver mais semelhanças entre as fantasias kitsch e cenários multicoloridos do filme e as intrigas e tragédias dos reis e príncipes de Shakespeare do que sonha a nossa vã filosofia.

“Há uma associação superficial que todos nós fazemos, do tipo cultura alta e baixa. Alguns pensam que histórias em quadrinhos não são literatura de verdade, só por causa da forma que são contadas: através de desenhos e letrinhas dentro de balõezinhos. Eles estão completamente enganados”, sentencia o ator e diretor em entrevista concedida ao G1 em Londres no início de abril.

G1 - Quem foi a primeira pessoa que você quis escalar para o filme?
Kenneth Branagh
- Claro que foi o Thor. Decidimos desde o início que teria de ser alguém razoavelmente desconhecido. Sabíamos que teria de ser um ator que pudesse se preparar fisicamente e que, ao mesmo tempo, fosse bastante sensível. Após longa pesquisa, achamos o Chris Hemsworth.

G1 - Você já dirigiu e atuou em pequenas produções além de historias baseadas na obra de William Shakespeare. Realizar "Thor" foi mais difícil do que adaptar Shakespeare para o cinema?
Branagh
- Foi fenomenalmente difícil. Realizar um blockbuster de verão pode ser, de alguma forma, muito mais complicado do que montar uma obscura peça em um teatro alternativo ou dirigir um filme independente.

G1 - Por quê?
Branagh
- Porque há uma associação superficial, que todos nós fazemos, do tipo cultura alta e baixa. As pessoas imaginam que deve ser fácil realizar um trabalho simplesmente por que ele está relacionado aos quadrinhos. Alguns pensam que histórias em quadrinhos não são literatura de verdade, só por causa da forma que são contadas: através de desenhos e letrinhas dentro de balõezinhos. Eles estão completamente enganados. [Nos quadrinhos] A história de Thor tem 48 anos de idade. Pessoas como o fantástico artista Jack Kirby e o incrível Stan Lee inspiraram o filme. Capturar a atenção do público para um filme como este é muito difícil. As pessoas são muito exigentes. Se elas não gostam, abandonam o filme no meio e tchau.

G1 - Foi por isso que você usou a tecnologia 3D [o filme tem cópias nos dois formatos]?
Branagh
- Eu queria a aventura do 3D, mas não queria filmar em 3D. Eu não sou inteligente o suficiente para isso [risos]. Você precisa de uma graduação em Física dada a complexidade que o 3D requer. Sério [risos]! Foram 18 meses para construir os créditos finais com a ajuda de uma companhia francesa que trabalhou todo aquele visual. Só para os créditos! Com o 3D, eu queria trabalhar a noção de profundidade dos cenários e achar detalhes que poderiam ser intensificados.

G1 - Como manteve a história de “Thor” conectada com a realidade? Houve inspiração de algum filme em particular para ligar um universo tão fantástico com o mundo real?
Branagh
- Em termos de realidade, violência e o lado militar, eu diria que o filme “Gladiador” me impressiona bastante. Eu espero não termos roubado nada diretamente, mas o “Gladiador” tem alguma relação com este lado de “Thor”.

G1 - Qual a diferença deste “Thor” para seus antigos longas, como “Frankenstein”?
Branagh
- Engraçado. “Frankenstein” foi feito exatamente antes da era digital. Lembro de perguntar ao [ator britânico] Stephen Fry o que ele fazia com aquela enorme máquina, e ele me respondeu: “Estou enviando um e-mail” [risos]! Isso foi em 1995. Claro que eu faria "Frankenstein" de uma maneira diferente se tivesse os recursos atuais e a disponibilidade financeira de “Thor”, mas tenho certeza que alguém o fará - se já não estiver fazendo.

G1 - O que quer dizer com isso?
Branagh
- Aquele filme foi um grande fracasso e foi interessante sair pelo mundo promovendo-o, tendo que responder a questões duras dos jornalistas. Porém sempre lembro de um jornalista que elogiou minha ousadia em realizar o filme. Você aprende muito com o sucesso, mas muito mais com o fracasso eu diria.

Graças ao trabalho do ator e diretor irlandês especializado em Shakespeare o filme “Thor” consegue romper o território dos fãs dos quadrinhos e resultar em um projeto interessante para o público em geral - e para os produtores de Hollywood, claro, que injetaram US$ 150 milhões na brincadeira. Para Kenneth Branagh, a história do personagem “bonitão, charmoso e destinado ao trono”, mas que “não tem o menor talento para se tornar super-herói”, tinha tudo para garantir boas risadas. “A ideia de um viking na Terra, quebrando tudo e entretido com os terráqueos, me parecia engraçada o suficiente para adicionar um elemento de humor a esta historia”, defendeu o cineasta em entrevista realizada no início de abril, em Londres.

Mas o filme “Thor” conta também com um supertime para ajudar a conquistar a simpatia dos fãs. O elenco conta com a presença da Natalie Portman, na pele do par romântico do herói, e Sir Anthony Hopkins, como o deus nórdico Odin. Como se não bastasse, o filme contou com a supervisão de um dos mais respeitados roteiristas da Marvel, J.M. Straczynski, que esteve à frente do título de Thor na editora entre 2007 e 2008 e escreveu algumas das histórias que inspiram livremente o roteiro do longa.

No filme, Thor está prestes a herdar a coroa de Odin e assumir o mítico Reino de Asgard quando, em uma tentativa pouco sensata de demonstração de força, resolve atacar por conta própria os Gigantes de Gelo do planeta rival Jotunheim. Decepcionado e irado, Odin decide punir o filho, removendo seus poderes e enviando-o à Terra para aprender a lição vivendo como uma pessoa comum.

Abrutalhado e inseparável de seu martelo - Mjolnir -, o personagem é vivido pelo ator de 28 anos Chris Hemsworth, um australiano ainda desconhecido do grande público. Em entrevista em Londres, Hemsworth reconhece que “foi intimidador” interpretar um super-herói tão querido e conhecido pelos fãs - sua primeira aparição foi em 1962, na edição nº 83 da revista “Journey into mistery”. Mas, se nas HQs Thor é o “deus do trovão”, para o ator australiano o segredo foi fincar os pés do personagem de volta ao chão. “Eu apostei em simplificar e procurei não pensar que interpretaria um Deus, mas, sim, um irmão em meio a uma família”, explicou o novo candidato a galã, que mede 1,91 m de altura e passou por preparação física intensa de quatro meses para viver o herói - ele já disse que chegou a ganhar 10 kg.

O irmão de Thor a quem Hemsworth se refere é Loki, vivido por Tom Hiddleston. O ator britânico rouba a cena como o invejoso irmão que assume o trono de Asgard, depois que Odin adoece e destitui Thor de seus poderes. “Você percebe que Loki é psicologicamente frágil. Ele tem um sentimento de que não pertence àquele lugar e sabe que nunca vai ter seu lugar ao sol. Eu acho que o ímpeto de sua busca por autoestima vem desse sentimento de ser pouco valorizado e pouco amado”, comentou o ator sobre seu personagem tipicamente shakesperiano.

Enquanto, na ficção, a disputa fratricida se dá entre Loki e Thor, na vida real, Hemsworth também teve de enfrentar alguém da própria família para ficar com o papel de protragonista. “Nos testes finais de elenco eu competi com meu próprio irmão mais novo (Liam Hemsworth). Ele estava entre os quatro últimos da lista, mas acabou não sendo chamado e eu ganhei o papel”, explicou o ator, esclarecendo que nenhuma gota de sangue foi derramada no processo (por Pedro Caiado para o portal G1).

Imagem: Marvel

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