segunda-feira, 11 de abril de 2011

Qual é a resposta?

O que é o ódio? Um sentimento, claro! Mas que espécie de sentimento? Trata-se, de acordo com o dicionário, de um sentimento de aversão intensa, comumente gerada por medo ou raiva. Interessante esta associação entre ódio e medo. Odiamos o que tememos. E o que nos leva a temer isto ou aquilo? Na maioria das vezes, tememos fenômenos ou seres que nos ameaçam por colocarem em cheque nossas convicções, especialmente, as mais íntimas e profundas convicções, ou seja, aquelas sobre as quais nos sustentamos. Alguns indivíduos, emocionalmente e intelectualmente despreparados para enfrentar a vida, um fenômeno em constante mutação, defendem tais convicções de maneira irascível a fim de evitar, a qualquer custo, sua desorientação ou mesmo perdição. Esta é a base de toda forma de intolerância religiosa, social, racial, sexual, entre outras.

A semana passada foi fértil em episódios gerados pelo ódio. Três se destacaram. O mais chocante, sem dúvida, foi o ataque de um franco-atirador a estudantes de uma escola municipal do Rio de Janeiro. Doze mortos, vários feridos e o espanto estampado na cara de todos nós. Por que tanto ódio? Qual a resposta? Menos chocante, porém, não menos espantoso foi o ataque homofóbico sofrido pelo jogador de vôlei Michel dos Santos, durante uma partida realizada na cidade mineira de Contagem entre sua equipe, a Vôlei Futuro, e a equipe do Cruzeiro, cuja torcida lotou o estádio para, além de ver o jogo, insultar o jogador devido a sua orientação sexual. “Nunca tinha passado por uma situação dessas. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Não era só homem ou só torcedor de futebol que estava lá no jogo gritando e ofendendo. Eram mulheres, crianças, senhoras. Acontecem casos isolados, de alguma pessoa que não é instruída, que é uma pessoa meio que ignorante ou intolerante, e você releva. Mas isso não dava para passar e relevar, porque foi uma coisa bem forte”, declarou o atacante ao Jornal Nacional, que resolveu acionar a Justiça Desportiva. Em outra entrevista ele acrescentou: “Me senti bastante constrangido e indignado por essa situação toda... Queria ser avaliado como jogador e não pela minha opção sexual”. Por que tanto ódio? Qual a resposta?

Igualmente espantoso foi ver o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) declarar no quadro O povo quer saber, do programa CQC, da Rede Bandeirantes, que não discutiria promiscuidade ao ser questionado pela cantora Preta Gil sobre a possibilidade de um filho seu se apaixonar por uma mulher negra. Segundo ele, seus filhos não “correm risco” de se apaixonar por negras porque foram “muito bem educados” e não viveram em ambientes onde predomina a “promiscuidade”, como, na visão do deputado, era o ambiente onde a cantora vive. Como se isso não bastasse, após Preta Gil ter declarado que processará o deputado, ele tentou justificar o injustificável alegando ter entendido mal a pergunta feita pela cantora. “O que eu entendi, na pergunta, foi ‘o que você faria se seu filho tivesse relacionamento com um gay’. Por isso respondi daquela maneira”, disse Bolsonaro ao portal G1. “Não sou racista. Apesar de não aprovar o comportamento da Preta Gil, não responderia daquela maneira”. Como bem lembrou a cantora Zélia Duncan em seu twitter, “Bolsanaro nega ser racista, mas admite ser homofóbico, pois racismo no Brasil é crime, homofobia não”. Já a Giovana Lizana, também no twitter, lembra que admitir ser homofóbico, mas não racista é o mesmo que dizer “incendiei porque pensei que era mendigo, não um índio”, referindo-se à declaração dos criminosos brasilienses que atearam fogo no líder indígena Pataxó Hã-Hã-Hãe, Galdino Jesus dos Santos, em abril de 1997. Por que tanto ódio? Qual a resposta? Como já escreveu e cantou o John Lennon, “o amor é a resposta e você sabe que isto é verdade”. Para quem não sabe o que é amor ou o que é amar, a única resposta possível é o ódio (por Sílvio Benevides).




Imagem: Marcos Sobral

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