domingo, 3 de abril de 2011

Poema Falado: ESTRAMBOTE MELANCÓLICO

De acordo com o dicionário Houaiss, melancolia é um mal derivado do excesso de bile negra, que levava os indivíduos acometidos à lentidão, tristeza e prostração. Para a psiquiatria, trata-se de um estado mórbido caracterizado pelo abatimento mental e físico que pode ser manifestação de vários problemas psiquiátricos, tendendo, hoje, a ser considerado mais como uma das fases da psicose maníaco-depressiva. É, também, um estado afetivo caracterizado por profunda tristeza e desencanto geral ou, ainda, depressão. Por extensão de sentido, pode significar um sentimento de vaga e doce tristeza que compraz e favorece o devaneio e a meditação. Para a filosofia, porém, melancolia é pura e simplesmente humor negro. Em linguagem comum significa tristeza sem motivo. Para um escultor de palavras, entretanto, melancolia é o mesmo que poesia, algum dia traduzido assim por Carlos Drummond de Andrade: “Tenho saudade de mim mesmo, /saudade sob aparência de remorso, / de tanto que não fui, a sós, a esmo, / e de minha alta ausência em meu redor. // Tenho horror, tenho pena de mim mesmo / e tenho muitos outros sentimentos / violentos. Mas se esquivam no inventário, / e meu amor é triste como é vário, / e sendo vário é um só. Tenho carinho / por toda perda minha na corrente / que de mortos a vivos me carreia / e a mortos restitui o que era deles / mas em mim se guardava. A estrela-d'alva / penetra longamente seu espinho / (e cinco espinhos são) na minha mão”. Boa áudio-leitura! (por Sílvio Benevides)


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Imagem: Paulo Madeira, Repouso.

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