sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Abaixo a ditadura no Egito!

Esta postagem era para ontem, mas devido ao apagão que deixou às escuras todo o Nordeste, isso não ocorreu. Ficou, então, para hoje. Como ia dizendo, eu não pretendia voltar ao tema Egito, mas como me enviaram a mensagem abaixo, eu não resisti em reproduzi-la aqui.

Jornalistas brasileiros são detidos no Egito – Enviados ao Cairo para a cobertura dos protestos no Egito, o repórter Corban Costa, da Rádio Nacional, e o repórter cinematográfico Gilvan Rocha, da TV Brasil, foram detidos, vendados e tiveram passaportes e equipamentos apreendidos na quarta-feira. Outros jornalistas estrangeiros também foram agredidos e detidos nos arredores da praça Tahrir, onde manifestantes pró e contra o presidente Hosni Mubarak se enfrentam pelo segundo dia.

De acordo com a Agência Brasil, os dois repórteres brasileiros passaram a madrugada desta quinta-feira trancados em uma delegacia do Cairo, em uma sala sem janelas e com apenas duas cadeiras e uma mesa. “É uma sensação horrível. Não se sabe o que vai acontecer. Em um primeiro momento, achei que seríamos fuzilados porque nos colocaram de frente para um paredão, mas, graças a Deus, isso não aconteceu”, afirmou Corban, que juntamente com Gilvan volta para o Brasil na sexta-feira.

Para serem liberados, os repórteres disseram ter sido obrigados a assinar um depoimento em árabe, no qual, segundo a tradução do policial, ambos confirmavam a disposição de deixar imediatamente o Egito rumo ao Brasil. “Tivemos que confiar no que ele [o policial] dizia e assinar o documento”, contou Corban.

No caminho da delegacia para o aeroporto do Cairo, Corban disse que todos os automóveis eram parados em fiscalizações policiais e os documentos dos passageiros, revistados. Os estrangeiros são obrigados a prestar esclarecimentos. De acordo com o repórter, o taxista sugeriu que ele omitisse a informação de que era jornalista. Outro jornalista brasileiro, Luiz Antônio Araujo, contou ter sido atacado e roubado por um grupo de 50 partidários do presidente Mubarak. Enviado especial do jornal “Zero Hora” e da rede RBS ao Egito, Araujo disse ter sido cercado por um grupo de pessoas munidas de pedras e facas, que roubaram sua câmera digital e sua carteira.

De acordo com o jornalista, o ataque aconteceu nesta quinta-feira, quando ele tentava entrar na praça Tahrir. Araujo contou que soldados do Exército egípcio viram o roubo, mas não esboçaram qualquer reação. No hotel onde o repórter do iG está hospedado, Ramsés Hilton, a situação não é menos tensa. Os jornalistas estão impedidos de filmar, dos seus quartos, a praça Tahrir, sob a alegação de isso pode pôr a segurança do hotel em risco. Nesta manhã, inúmeras vezes guardas do estabelecimento subiram às pressas para os quartos de onde havia câmeras operando. Eles também tentaram confiscar a câmera de vídeo de um cinegrafista inglês e pediram que esse tipo de equipamento fosse deixado na recepção para quem fica nos quartos diante da praça. Na quarta-feira, homens de terno entraram nos quartos de outros três repórteres brasileiros, da “Folha de São Paulo”, “O Globo” e “O Estado de São Paulo”, em busca de equipamento fotográfico com imagens do confronto. A direção do hotel informou que vai expulsar os hóspedes que insistirem em filmar.

O enviado especial da BBC ao Egito Rupert Wingfield-Hayes contou que na quarta-feira foi detido pela polícia secreta egípcia, algemado e vendado. Os policiais prenderam-no por três horas, interrogaram-no e depois o soltaram. A emissora Reuters Television relatou que integrantes de sua equipe foram agredidos nesta quinta-feira perto da Praça Tahrir, enquanto registravam imagens para uma reportagem sobre bancos e lojas que foram obrigadas a fechar durante os confrontos entre as duas facções. Eles teriam sido agredidos, ameaçados e xingados. Sua câmera, microfone e tripé foram destruídos.

Na quarta-feira, a veterana jornalista Christiane Amanpour, da rede ABC News, contou ter sido cercada por militantes quando tentava entrevistar um ativista pró-Mubarak, e eles teriam gritado: '”vá para o inferno”' e “nós odiamos os Estados Unidos”. O repórter da rede CNN, Anderson Cooper, disse que, ao entrar na praça, ele, um produtor e um cinegrafista foram cercados por uma multidão, que começou a socá-los e a tentar e tomar suas câmeras. A rede de TV americana CBS informou que integrantes de sua equipe foram forçados a abandonar a praça Tahrir não sem antes entregar suas câmeras sob a mira de armas por supostos militantes pró-governo. De acordo com a entidade não-governamental Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, essas agressões estariam diretamente ligadas à tentativas do governo egípcio de intimidar ou censurar jornalistas. “O governo egípcio está empregando uma estratégia de eliminar testemunhas de suas ações”', afirmou à agência de notícias Reuters o coordenador de Oriente Médio e África da organização, Mohamed Abdel Dayem. Segundo ele, as ações constituem “ataques deliberados contra jornalistas realizados por hordas pró-governo” (Fonte: Último Segundo).

Como é possível perceber na matéria acima, toda e qualquer ditadura persegue, cerceia liberdades, não respeita direitos, humilha, tortura e mata. Povos e nações que se dizem democráticos não podem, em hipótese alguma, ser coniventes com governos ditatoriais. Uma nação que se orgulha em defender os valores da democracia não pode, sob qualquer pretexto, aplicar um modelo democrático para seus cidadãos e um outro para os cidadãos de nações estrangeiras. Como escrevi em outra postagem, e volto a afirmar, não entendo nada ou quase nada sobre a dinâmica das relações internacionais, mas sei, ou melhor, imagino que o respeito pela ética e pela dignidade humana não são os valores que as norteiam. Por isso, acredito que a comunidade internacional que defende os valores democráticos como princípios primordiais para a convivência harmoniosa entre os povos e os seres humanos deve pressionar, veementemente, o Egito até que déspota Hosni Mubarak renuncie. E não basta “aumentar o tom” do discurso ou “condenar” as atitudes do governo. Os ditadores não se intimidam com esse tipo de mise-en-scène. É preciso por em prática atitudes concretas como retirar o apoio político e econômico ou mesmo romper formalmente com as relações diplomáticas. Se são os valores democráticos que estão em jogo, então, façamos, de fato, a sua defesa. Que Allah dê força a essa gente farta de autoritarismo e faça soprar novos ventos sobre o mundo árabe-mulçumano, reduzindo a pó todos os seus desnecessários e vis ditadores (por Sílvio Benevides).
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Imagem: Khalil Hamra/AP

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