segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sedição e vida privada

É comum ouvir estudantes dizerem, reproduzindo as desinformações proferidas pelas autoridades do senso comum, que os brasileiros e, em especial, os baianos, são um povo muito pacífico, sem disposição para travar embates revolucionários. Basta darmos uma rápida olhadinha nas páginas da história para percebermos que esse argumento não se sustenta. As histórias do Brasil e da Bahia estão repletas de episódios de pretensões revolucionárias resultantes do inconformismo da população com a ordem estabelecida. Sobre isso fala a nota seguinte: “Entre os anos de 1789 e 1817 as autoridades de Lisboa viram-se diante de problemas sem precedentes. De várias regiões de sua colônia americana chegavam notícias de desafeição ao Trono, o que era algo muito grave. A preocupante novidade residia no fato de que o objeto das manifestações de desagrado, freqüentes desde os primeiros séculos da colonização, deslocava-se, nitidamente, de aspectos particulares de ações de governo para o plano mais geral da organização do Estado [...] O novo que desponta é a sedição [motim, agitação], entendendo-se por esta, neste final de século XVIII, a ação organizada visando a revolução. A sedição é o conjunto das práticas de natureza subversiva que, referidas à revolução, anunciam-na enquanto possibilidade, mesmo quando se concretizam apenas no simplesmente fazê-lo. A sedição é, então, a revolução desejada, o futuro anunciado, a política do futuro no presente. É disso que advém o seu papel corrosivo, muito mais perigoso do que os violentos motins e revoltas, pois estes não subvertem os fundamentos da ordem, antes busca restaurá-los […] Rigorosamente, apenas os eventos de Minas Gerais (Inconfidência Mineira, 1789), Bahia (Conjuração dos Alfaiates, 1798) e Pernambuco (Revolução Pernambucana, 1817) configuram sedições, na medida em que nesses eventos se tratava de deliberada e organizada vontade de subverter a ordem pública e os padrões de organização de Estado” (por István Jancsó).
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Imagem: Julgamento de Felipe dos Santos, por Antônio Parreiras.

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