Quando se ouve falar em Brasília, pensa-se logo na política brasileira, repleta de escândalos escabrosos e muita, muita sujeira. A cidade, então, fica estigmatizada a ponto de neutralizar nossa vontade em conhecê-la. O que há em Brasília para ver? O que há em Brasília para se fazer? Essas são perguntas freqüentes que costumam passar pela cabeça daqueles que pensam visitar a capital da República. Principalmente quando se mora em Salvador, cidade com inúmeros atrativos e com uma aura toda especial. Não tínhamos interesse em conhecer Brasília, pois fazíamos uma imagem negativa do que poderia ser a cidade planejada para ser a capital! Que surpresa boa encontramos!
É muito salutar aproveitar as oportunidades que surgem à nossa porta e foi isso que fizemos. Surgiu a oportunidade de conhecer Brasília e não a desperdiçamos. Queríamos viajar no período do carnaval e surgiu uma ótima promoção área para Brasília e não pensamos duas vezes. Combinamos e acertamos tudo. Passagens compradas e 20 dias para organizar a viagem.
Imaginando que Brasília era um pedaço de concreto no meio do nada, resolvemos organizar saídas do Distrito Federal (DF) e fazer pequenas viagens, a fim de conhecer outras cidades próximas à capital da República, onde poderíamos encontrar outros amigos e também nos aventurarmos por mares nunca dantes navegados. Assim, além de descobrir Brasília também conhecemos outras cidades: a surpreendente Anápolis, a pequena e aprazível Nerópolis, a doce e meiga Goiânia e a linda Pirenópolis, para onde não se deve levar jamais o Mastercard, pois lá com ele nada tem preço, uma vez que não é aceito em estabelecimento algum! Leve seu Visa e seja feliz. Conselho de amigos.
Mas a grande surpresa da viagem foi mesmo Brasília. Uma cidade completamente verde, mais verde que Salvador. O seu concreto é apenas visto nas lindas construções projetadas por Oscar Niemeyer. Ficamos de queixo caído. Brasília não é só concreto ou corrupção política. Nossa capital é também beleza, arte, natureza, esplendor, organização (às vezes nem parece Brasil), pujança e hospitalidade ímpar.
Os brasilienses que conhecemos foram hospitaleiros e nos receberam com muito carinho. Pode-se dizer que o brasiliense é um povo alegre e gentil. Extremamente gentil. O que faz uma cidade ser interessante são as pessoas que nela habitam. E nesse item Brasília é muito rica. Os brasilienses sabem receber um visitante tão bem quanto os soteropolitanos. Pensando bem, talvez recebam melhor, haja vista que o povo de Salvador, no geral, desconhece limites. Isso, no entanto, é outra história. Na visita que fizemos à capital do Brasil (nosso Brasil!) durante o carnaval, tivemos a sorte de conhecer pessoas magníficas e, por isso mesmo, inesquecíveis. Foram essas pessoas que nos deixaram com muita saudade de Brasília e uma vontade enorme de regressar.
O mais engraçado de tudo era que os brasilienses que encontramos não entendiam porque dois baianos fugiam do carnaval de Salvador, cidade onde eles gostariam de estar. E aproveitaram para fazer boas indicações de lugares que deveríamos conhecer em Brasília e regiões. É claro que eles já estão convidados para o carnaval 2011 e com direito a hospedagem e guias altamente qualificados e apaixonados por sua cidade. Será um enorme prazer retribuir tanta gentileza no melhor estilo baiano de ser.
Viajar é descolar-se, é descobrir-se. Descobrimos que o maior parque urbano do mundo, que supera até mesmo o Central Park de Nova York, fica localizado na asa sul do Plano Piloto da capital federal. É o Parque da Cidade de Brasília Sarah Kubitschek, popularmente conhecido como Parque da Cidade. Quem poderia imaginar? Pois é, o parque é belíssimo e ótimo para brincar, passear, exercitar-se e tudo mais que o uso saudável da imaginação permitir.
Aprendemos nessa viagem que falar de Brasília é falar de história e de responsabilidade política. E para conhecer um pouco da história da nossa capital, é fundamental uma visita ao Memorial JK. É incrível! Ah, e não pode deixar de fazer também a visita monitorada ao Congresso Nacional. Essa é de emocionar qualquer brasileiro. Imaginar que tudo do nosso país é resolvido nesse local, encheu-nos de uma forte e inexplicável emoção. E como bem disse a nossa competente e simpática guia, nós estávamos sentados na cadeira de alguém que vai nos representar através do nosso voto. É bom saber escolher. Urna não é latrina e o Congresso Nacional é um lugar de respeito e não um covil de facínoras. Pense bem nisto na hora de votar para presidente, senadores, deputados e governadores nas próximas eleições de outubro.
Outra visita que também deve ser feita é à Torre de TV, pois de lá é possível avistar todo Plano Piloto e o horizonte de Brasília, que parece não ter fim. E para incrementar nossa visita à capital, chegamos em um grande momento político e histórico de limpeza de governos corruptos. Isso mesmo! Na quinta-feira dia 11/02/2010, dia da nossa chegada, também foi a data que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decretou a prisão preventiva do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. O governador foi flagrado em um vídeo recebendo dinheiro de suposta propina no mês de novembro de 2009. Na ocasião, o advogado de Arruda havia dito que o dinheiro era para comprar panetones para pessoas carentes. Uma vergonha para nosso país e para o DF. E nesse mesmo dia vimos e ouvimos as manifestações dos brasilienses escritas em faixas, assim como, grupos organizados gritando: Arruda na Papuda! E à noite, o decreto foi aplicado. Ficamos orgulhosos do nosso país. E estávamos lá nesse dia!
A linda Brasília tem ao seu redor grandes cidades que não compartilham de sua beleza e isso nos fez pensar muito sobre a questão sócio-econômica do DF. Ou seja, Plano Piloto é para quem tem dinheiro. O alto custo de vida deixa isso claro, sobretudo, os preços dos aluguéis e dos imóveis. E, assim, Brasília vira Brasil com sua desigualdade social gritante vista, principalmente, nas chamadas cidades satélites. Na Ceilândia há "favelas" que chocam até mesmo aos olhos habituados a ver miséria no seu dia-a-dia, como os olhos dos soteropolitanos, por exemplo.
Não podemos deixar de agradecer ao nosso amigo-irmão Clóvis, cuja simpatia, generosidade e alegria em nos receber e nos apresentar de uma forma bem baiana a sua Brasília nos comoveu e encantou! Como já disse o Milton Nascimento, amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, e é exatamente lá que o Clóvis estará até o último dia de nossas existências. Agora, amigo, cá entre nós, vai caminhar ao menos duas vezes por semana no Parque da Cidade, porque lá, além de saúde, é certo encontrar os mais variados remates de tecidos franzidos. Palavra de amigos (por Gina Carla Reis e Sílvio Benevides).
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Imagem: Congresso Nacional, Brasília-DF, por Sílvio Benevides.