domingo, 3 de janeiro de 2010

Poema Falado: O corpo

Verão em Salvador é tempo de muito calor, água de coco, festa e praia. Também é tempo de exibir e apreciar o corpo. Os antigos gregos definiam o corpo como instrumento da alma. Essa definição possibilitou duas visões bem distintas em relação ao corpo: em alguns momentos ele é visto com apreço pela função que exerce, sendo elogiado ou exaltado; ora é criticado por não corresponder a seu objetivo ou por implicar limites ao crescimento da alma devido a seus instintos, desejos e pulsões. Nesse sentido, o corpo é condenado, oprimido e execrado como túmulo ou prisão da alma, sempre nobre e sublime. Apesar dessa visão, durante séculos corpo e alma foram concebidos como duas substâncias indissociáveis. A partir do dualismo cartesiano, entretanto, aparecem como substâncias distintas uma da outra. Para Descartes, ao corpo pertence todo calor e todos os movimentos existentes em nós, não dependendo, em absoluto, do pensamento. O corpo é, portanto, visto como uma máquina que se move por si, não estando relacionado a qualquer força externa ou de natureza distinta da sua, pois traz consigo “o princípio corpóreo dos movimentos para os quais foi projetado, juntamente com todos os requisitos para agir”. Tal perspectiva abriu espaço para que o corpo pudesse, enfim, ser visto não com desprezo, como o foi por muito tempo, especialmente ao longo da Idade Média, mas, sim, com admiração, pois corpo é também beleza, desejo e paixão, como demonstraram os gênios do Renascimento.

No mês que dá início ao novo ano e em que o verão na capital da Bahia pega fogo, o Salvador na sola do pé faz uma reverência ao corpo esplêndido de todos nós por meio do poema do Arnaldo Antunes que diz: “O corpo existe e pode ser pego. É suficientemente opaco para que se possa vê-lo. Se ficar olhando anos você pode ver crescer o cabelo. O corpo existe porque foi feito. Por isso tem um buraco no meio. O corpo existe dado que exala cheiro e em cada extremidade existe um dedo. O corpo se cortado espirra um líquido vermelho. O corpo tem alguém como recheio”. Boa leitura e bom deleite! (por Sílvio Benevides)
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Imagem: Roberto Bolle por Giampaolo Barbieri.

Um comentário:

POETAS DO SÉCULO 21 disse...

Obigado pelas leituras, e autorizo sim a publicação de quaisquer de meus poemas em seu blog.

abraços e muita alegria em 2010

No site www.poetasadvogados.com.br
achará meu acervo poético.

TEMPO DE SIMPLICIDADE
Por: William Vicente Borges

O tempo de não fazer mal
O tempo de não eleger
A quem se deve odiar

O tempo de escrever
Uma nova história
Onde o amor é maior

O tempo do benefício ao outro
Da restituição dos afetos
Sem canastrice religiosa

O tempo de simplificar o coração
De dar a mão sem medo
E pura e simplesmente perdoar

Entender finalmente o significado
Do que é ser luz
Refletindo os anseios de Jesus

O tempo de achar na verdade
De mergulhar na alegria
Espiritualmente aperfeiçoado.

Amor sempre corresponde a luz
O ódio sempre as trevas
E não há meio termo.
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Primeiro Poema do Verão de 2009 (dezembro)