sábado, 7 de setembro de 2013

A mentalidade colonialista brasileira

Hoje, 07 de setembro de 2013, o Brasil comemora os 191 anos da sua independência política e administrativa. Quase duzentos anos após a separação de Portugal, o Brasil e muitos brasileiros ainda conservam, infelizmente, valores mais antigos que o Grito do Ipiranga. Vale lembrar que até 1888 o Estado brasileiro era oficialmente escravista. Atualmente não somos mais. Entretanto, uma mentalidade colonialista insiste em persistir e isso se pode perceber até mesmo em situações amistosas.
 
No dia da Independência do Brasil a seleção brasileira disputou um amistoso com a seleção australiana no Estádio Mané Garrincha em Brasília. Até aí nada demais, afinal, a disputa de amistosos é algo corriqueiro no mundo do futebol. No campo, o Brasil goleou o adversário (6x0). Nenhuma novidade nisso também. Se em campo não ocorreu nada de extraordinário, então qual a razão da presente postagem? A narração da equipe de transmissão do canal SporTV.
 
A equipe de narração do referido canal, composta pelo narrador Milton Leite e pelos comentários de Paulo Cesar Vasconcellos e Edinho, deu um show do que costumo chamar de mentalidade colonialista (uma aluna me convenceu que esse termo é mais adequado do que mentalidade escravista). Logo no início da transmissão, quando a seleção brasileira havia entrado em campo para se aquecer, os tais comentaristas resolveram tecer ao vivo considerações sobre o cabelo do Neymar.
 
Segundo os tais, o cabelo do Neymar estava bem comportado porque o jogador, agora atuando na Europa, tinha tomado um banho de cultura e um choque de civilização e que isso certamente faria muito bem para ele e para sua carreira. Antes, no Brasil, o Neymar vivia trocando o layout do seu cabelo, o que resultava, para os tais, de uma indisciplina digamos tupiniquim. Agora, no mundo civilizado, a história é bem diferente. O Barcelona exige mais disciplina e mais foco no futebol e o Neymar tem tudo para desenvolver seu talento. Esses tais são mesmo uns imbecis, para dizer o mínimo.
 
Em 1822 o Brasil conquistou sua independência política e administrativa. Separou-se definitivamente de Portugal, ainda que por vias cordiais. Entretanto, 191 anos após esse feito precisamos promover uma independência intelectual, ou seja, a superação definitiva da mentalidade colonialista. E não me refiro tão somente ao trabalho dos acadêmicos, pois a mentalidade colonialista, oriunda de um regime escravocrata e explorador, se constitui num fenômeno social total, como alertou o Joaquim Nabuco já no século XIX. Se o Brasil realmente deseja ser um país grandioso, precisa dar muitos passos rumo a uma independência que supere, de uma vez por todas, a mentalidade colonialista ainda presente nos nossos dias, a ponto de fazer com que os imbecis sintam tanta vergonha das suas imbecilidades que prefiram calar a proferir besteiras ao vivo ou não (por Silvio Benevides).
 
Imagem: Miguel Ruiz/FCB.

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