Quando visitei a Alemanha pela primeira vez, no verão europeu de 2005, passei os últimos dias da viagem em Frankfurt am Main. Na cidade do Goethe, meu passatempo predileto era contemplar o pôr-do-sol na Opernplatz, enquanto saboreava um belo sorvete. Das escadas do Alte Oper gostava de ver a vida passar de um lado para outro, por vezes calma, tranqüila, por vezes apressada. Naquele final de julho estava em cartaz no imponente teatro o espetáculo “Tristão e Isolda”. Interessante foi observar os espectadores da famosa ópera. Gente de todo tipo adentrava o Alte Oper para apreciar a obra do compositor alemão Richard Wagner. De sisudos senhores e senhoras caprichosamente bem trajados, a jovens ruidosamente descontraídos, passando por belas e exuberantes mulheres escandalosamente vestidas e seus acompanhantes metidos em smokings de corte impecável. De todos esses tipos, os adolescentes foram os que mais me chamaram atenção. Traziam na cara, nos cabelos, na pele e nas roupas os sinais das tribos às quais pertenciam. Fiquei, então, a imaginar se na minha terra, que é a mesma do Castro Alves, uma ópera atrairia tantos jovens assim. Esperei cinco anos para comprovar que sim.
Na última semana esteve em cartaz em Salvador, no Teatro Castro Alves (TCA), a ópera “O barbeiro de Sevilha”, do compositor italiano Gioacchino Rossini. Encenada pela Companhia Brasileira de Ópera, dirigida pelo maestro John Neschling, a magnífica montagem trouxe um alento para a cidade, tão empesteada por manifestações artísticas chinfrins. Encenado de maneira inusitada, o espetáculo misturou no palco elementos típicos do teatro com recursos visuais e tecnológicos que, segundo a produção, “nunca antes foram utilizados no meio operístico”. O resultado lembra algumas produções cinematográficas a exemplo de “Mary Poppins” e “Você já foi à Bahia”, ambos dos estúdios Disney, pois, assim como nestes filmes, a encenação também permite a interação entre atores/cantores de carne e osso com personagens de desenho animado. Para os produtores, “a integração entre cantores, maestro e orquestra com os elementos filmados e desenhados produz efeitos cênicos de grande comicidade e teatralidade, inalcançáveis em encenações convencionais”. De fato, o que se vê é um espetáculo lúdico e grandioso, como convém a uma ópera.
Para alguns espectadores a experiência foi deveras encantadora: “Saí encantada do TCA. Mesmo cansada após um dia com muito corre-corre, venci o sono durante as 2h40min da apresentação. Mas venci graças a essa produção encantadora e que prendeu o público durante os dois atos. Acredito que Rossini nunca imaginaria que sua ópera se tornaria tão popular e muito menos que seriam utilizados recursos tão interessantes para torna a apresentação leve e bem humorada. Os cantores contracenam em um cenário feito por animações, fazendo uma excelente utilização do audiovisual. Foi como assistir a um desenho animado ao vivo”, disse a psicopedagoga Gina Reis.
O mais legal de toda essa história foi perceber que, ao contrário do que apregoam os imbecis, há, sim, espaço para esse tipo de produção em Salvador. O TCA esteve lotado em todos os dias das apresentações. Tal qual na Opernplatz, havia gente de todo tipo, inclusive jovens, muitos jovens, de variadas tribos, adolescentes e, até mesmo, crianças. Apesar das diferenças, o que havia em comum entre todos os espectadores era o desejo de apreciar uma manifestação artística que passava longe, muito longe da estética “axelizante” e “pagodizante” que contaminou a arte soteropolitana. Nada contra o chinfrim. No mundo há espaço para tudo e todos. Entretanto, é irritante constatar que numa cidade com enorme potencial artísticos, onde há tantos artistas magníficos, com propostas estéticas inovadoras e audaciosas, uma platéia ávida por conhecer tais propostas, a aposta é o chinfrim, pois os ineptos gestores culturais locais valorizam tão somente o chinfrim. Mais irritante, ainda, é ouvir a imprensa local e alguns pseudo-intelectuais ovacionarem o chinfrim como a grande contribuição da Bahia para a cultura brasileira e para o mundo. Foi-se o tempo. Agora, vivemos o império do chinfrim. Seguindo assim, Salvador jamais deixará de ser aquela provinciazinha, incansavelmente satirizada nos versos infernais do Gregório de Mattos (por Sílvio Benevides).
Na última semana esteve em cartaz em Salvador, no Teatro Castro Alves (TCA), a ópera “O barbeiro de Sevilha”, do compositor italiano Gioacchino Rossini. Encenada pela Companhia Brasileira de Ópera, dirigida pelo maestro John Neschling, a magnífica montagem trouxe um alento para a cidade, tão empesteada por manifestações artísticas chinfrins. Encenado de maneira inusitada, o espetáculo misturou no palco elementos típicos do teatro com recursos visuais e tecnológicos que, segundo a produção, “nunca antes foram utilizados no meio operístico”. O resultado lembra algumas produções cinematográficas a exemplo de “Mary Poppins” e “Você já foi à Bahia”, ambos dos estúdios Disney, pois, assim como nestes filmes, a encenação também permite a interação entre atores/cantores de carne e osso com personagens de desenho animado. Para os produtores, “a integração entre cantores, maestro e orquestra com os elementos filmados e desenhados produz efeitos cênicos de grande comicidade e teatralidade, inalcançáveis em encenações convencionais”. De fato, o que se vê é um espetáculo lúdico e grandioso, como convém a uma ópera.
Para alguns espectadores a experiência foi deveras encantadora: “Saí encantada do TCA. Mesmo cansada após um dia com muito corre-corre, venci o sono durante as 2h40min da apresentação. Mas venci graças a essa produção encantadora e que prendeu o público durante os dois atos. Acredito que Rossini nunca imaginaria que sua ópera se tornaria tão popular e muito menos que seriam utilizados recursos tão interessantes para torna a apresentação leve e bem humorada. Os cantores contracenam em um cenário feito por animações, fazendo uma excelente utilização do audiovisual. Foi como assistir a um desenho animado ao vivo”, disse a psicopedagoga Gina Reis.
O mais legal de toda essa história foi perceber que, ao contrário do que apregoam os imbecis, há, sim, espaço para esse tipo de produção em Salvador. O TCA esteve lotado em todos os dias das apresentações. Tal qual na Opernplatz, havia gente de todo tipo, inclusive jovens, muitos jovens, de variadas tribos, adolescentes e, até mesmo, crianças. Apesar das diferenças, o que havia em comum entre todos os espectadores era o desejo de apreciar uma manifestação artística que passava longe, muito longe da estética “axelizante” e “pagodizante” que contaminou a arte soteropolitana. Nada contra o chinfrim. No mundo há espaço para tudo e todos. Entretanto, é irritante constatar que numa cidade com enorme potencial artísticos, onde há tantos artistas magníficos, com propostas estéticas inovadoras e audaciosas, uma platéia ávida por conhecer tais propostas, a aposta é o chinfrim, pois os ineptos gestores culturais locais valorizam tão somente o chinfrim. Mais irritante, ainda, é ouvir a imprensa local e alguns pseudo-intelectuais ovacionarem o chinfrim como a grande contribuição da Bahia para a cultura brasileira e para o mundo. Foi-se o tempo. Agora, vivemos o império do chinfrim. Seguindo assim, Salvador jamais deixará de ser aquela provinciazinha, incansavelmente satirizada nos versos infernais do Gregório de Mattos (por Sílvio Benevides).
Imagem: Divulgação
2 comentários:
Ah, Silvio. Concordo absolutamente com tudo que disse. E eu fui uma das pessoas que fiquei encantada!
Grande espetaculo!
Silvio, adorei muito!!!
No outro dia voltei para apresentação reduzida, feita para crianças.Levei minha sobrinha que adorou.Foi com duração de 50 minutos e com muitos cortes.Nada comparada a apresentação integral!
Mas valeu a intenção e as crianças se divertiram muito.Figaro foi mestre de cerimônias.Ele deu uma aula divertida sobre ópera.
Um ótimo incentivo para formação de platéia.
Estou copiando seu post para divulgar no meu blog.
Sei que você concorda com a divulgação da cultura.
Bjs.
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