segunda-feira, 6 de abril de 2009

Olhares

O olhar nos define e pelo olhar definimos o mundo. Os olhares, por sua vez, são condicionados pelos códigos e padrões culturais que orientam nossos passos nos espaços por onde caminhamos e ocupamos. Em suma, o olhar nos situa no mundo. Se o nosso olhar é condicionado pela cultura na qual estamos imersos e pelo lugar que ocupamos, então os nossos olhares são sempre singulares, isto é, nunca enxergamos o que o outro vê. Em certa medida essa assertiva procede. Entretanto, há momentos em que os olhares se encontram e se cruzam, ou seja, rompem fronteiras e situam-se, simbolicamente, na cultura do outro, no espaço do outro. Para o antropólogo estadunidense Clifford Geertz (1926-2006), situar-se significa trocar, conversar, comunicar. Segundo ele, o objetivo da antropologia é promover o “alargamento do universo do discurso humano” (In: A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989).
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Mesmo distantes, tanto do ponto de vista simbólico (leia-se cultural) quanto do ponto de vista geográfico, o Brasil e a Índia se comunicam de várias maneiras. Aqui, através dos olhares de dois interlocutores virtuais. Refiro-me a mim, Sílvio Benevides, um brasileiro, e a Nishant Nischal, um indiano. Conhecemo-nos através de nossos blogs e por conta deles nossas culturas passaram a se comunicar. Desse modo descobrimos elementos comuns entre os cotidianos de nossas realidades. Estas se encontraram, se comunicaram a partir de nossos olhares, como é possível perceber nas imagens abaixo.

Índia
Brasil


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Embora afastados, os olhares por vezes se encontram, pois como já disse o filósofo chinês Confúcio, milhares de anos atrás, “a natureza dos homens é a mesma, são seus hábitos que os mantêm separados” (por Sílvio Benevides).
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Imagem do olho: René Magritte, The False mirror (1928).

Um comentário:

Lucas Franco disse...

São tantos sígnios nos ensinados que acredito que a maior parte da nossa construção seja cultural, embora tenhamos muito de selvagens ainda, por exemplo, quando evitamos a claridade de outras idéias, afinal, quer coisa mais primária que se fechar? Num mundo de tanta diversidade, é preciso respeitar as diferenças e acima de tudo, reconhecer as semelhanças, que podem não ser sinais 'idênticos' do outro lado do mundo, mas que simbolicamente mostram uma mesma busca, por exemplo, nossas supertições podem ser diversas, mas nos apegamos a elas pela fé que temos no sobrenatural.
Se tem visão, e com ela se constrói outros pontos de vista, e buscando termos visões de águia, faremos o mundo se integrar, mesmo com a força da tecnologia que na teoria serviria para nos aproximar, mas que no fundo, nos força a uniformizar não por razões de harmonia, e sim de dominação do conceito mais aceito.