segunda-feira, 2 de março de 2009

Da série CURIOSIDADES URBANAS

A Cruz do Pascoal

Localizada no Centro Histórico de Salvador, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em um pequeno largo na entrada da Rua Direita de Santo Antônio, a Cruz do Pascoal é um oratório público de sete metros de altura erguido em 1743 pelo comerciante lisboense, Sr. Pascoal Marques de Almeida, em homenagem a Nossa Senhora do Pilar como retribuição a uma graça alcançada. O monumento possui base em cantaria de arenito, sobre a qual se sustenta uma coluna toscana construída em alvenaria e revestida de azulejos do século XVIII. Na parte superior da coluna de arenito encontra-se o nicho de Nossa Senhora do Pilar, inspirado nas torres sineiras das igrejas baianas de estilo barroco, em cujas quinas estão aplicadas pequenas colunas com terminação em esferas de louça. Por cima do nicho, uma pequena cruz. Ao redor de todo o marco há um gradil de ferro colocado em 1874.

Consta que o local onde se encontra a Cruz do Pascoal já era um ponto de reza antes mesmo da construção do marco. Com a sua edificação o local virou um ponto de peregrinação para onde levas de pessoas se deslocavam apenas para rezar. De acordo com a Fundação Gregório de Matos, uma das primeiras referências à Cruz do Pascoal é de Afrânio Peixoto: “É um dos monumentos mais expressivos e pitorescos da Bahia. A este recanto pacífico da Bahia se visita para ver este monumento de fé ingênua e pitoresca expressão. É um símbolo dessa fé que, no meio da vida nos interrompe constantemente, no caminho, lembrando dever e destino, numa mudez pacífica que não deixa de acordar memórias e obrigações. A gente se benze, mas não esquece a Cruz do Pascoal” (In: Fundação Gregório de Matos).

Sobre o Sr. Pascoal Marques de Almeida não se sabe muito. Uma das poucas referências a ele foi encontrada em artigo de Marina Massimi intitulado “Sermões Quaresmais e conhecimento de si mesmo”. Diz o texto: “[...] o culto à Nossa Senhora da Porta do Céu é importado de Portugal, sendo porém já praticado na Igreja oriental, visando propiciar a ajuda de Maria para alcançar a entrada na Porta do Paraíso, mas também para auxiliar na compra ou na locação de imóveis. Relata Megale que no Brasil, o culto iniciou-se na Igreja do Carmo em Salvador, “este título mariano já existia em Portugal, pois frei Agostinho de Santa Maria refere-se à milagrosa imagem deste orago de Maria, muito querida pela população de Lisboa. Dizia ele que o príncipe D. João de Candia, mais conhecido como “Príncipe Negro”, por ser da ilha de Ceilão, edificou um convento na capital portuguesa para os irmãos franciscanos enfermos, dedicando sua igreja a Nossa Senhora das Portas do Céu, “para obrigar a Rainha dele lhe conceder o poder de entrar por suas portas. (...) De Portugal, este original título de Maria passou para o Brasil, trazido, segundo dizem, por Pascoal Marques de Almeida”.

Outra referência ao lisboense Pascoal Marques de Almeida pode ser encontrada na tese de doutoramento de André Luiz Tavares Pereira (p.279): “Nossa Senhora da Porta do céu, Porta do Paraíso ou Chave do Reino de Cristo é devoção fundada e cultivada pelos cristãos orientais. Chega ao Brasil por intermédio de um português identificado como Pascoal Marques de Almeida” (por Sílvio Benevides).
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Foto: Sílvio Benevides

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