quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Folia de Reis

Vinde abrir a vossa porta, se quereis ouvir cantar; acordai se estais dormindo, que vos viemos festejar”. Versos como esses caracterizam uma das mais belas e populares tradições dos festejos natalinos. Refiro-me à Folia de Reis, quando o povo sai às ruas para celebrar o nascimento do Menino Jesus no dia consagrado aos Santos Reis, Baltazar, Melchior e Gaspar.

A tradição da Folia de Reis ou dos Ternos de Reis é um dos momentos mais bonitos do Natal. Primeiro por se tratar de uma manifestação popular oriunda de Portugal e que chegou ao Brasil ainda nos primórdios da sua formação sócio-cultural, o que significa dizer que a Folia de Reis é uma manifestação intrínseca à nossa identidade, ao menos de muitos brasileiros de Norte a Sul do país, desde o tempo em que éramos uma colônia portuguesa. Segundo, o próprio nome do festejo já revela a sua imensa beleza: FOLIA. Nessa folia o Menino Jesus é reverenciado com animação e alegria, afinal, como já enfatizou o Johann Sebastian Bach, Jesus é a alegria dos homens, pois ele é o salvador do mundo de acordo com a tradição cristã. Nada de pompas restritas aos iniciados e por isso mesmo repletas de códigos sofisticados e insossos, que os metidos a besta, aqueles que se arvoram guardiões das coisas divinas, impõem como a maneira correta de reverenciar o sagrado. Na Folia de Reis o povo, aquela parte da população cujo único bem que possui é sua força de trabalho, comanda a festa. Por isso ela tem um ar de espontaneidade e leveza contagiantes. Ademais, ela promove a união, uma vez que vizinhos, amigos, parentes, conhecidos, ao menos nas pequenas cidades, se visitam com o único propósito de honrar os Santos Reis e o Menino Jesus. Por fim, em festejos como a Folia de Reis não se reverencia a dor e o sofrimento, pois estes aprisionam a alma até matá-la. Reverencia-se, isto sim, a alegria de o verbo se ter feito carne e sangue para nos mostrar o caminho da luz. Luz que dá vida e liberta. Essa é a mensagem da Folia de Reis: Alegrai-vos! O salvador do mundo nasceu!
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Na cidade do Salvador, assim como em muitas cidades baianas e brasileiras, a Folia de Reis se mantém viva e pulsante. A despeito das dificuldades encontradas pelos Ternos e Ranchos para continuarem desfilando, a tradição permanece firme, atualmente levada a cabo por homens e mulheres idosos, já que as gerações mais jovens demonstram pouco ou nenhum interesse por essa manifestação popular. Estamos a viver tempos de consumismo exacerbado. Portanto, nada de condenar os mais jovens por não se interessarem por suas tradições. Na capital baiana, o coração da folia é o Largo da Lapinha, no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, bem no início da Rua Lima e Silva, principal logradouro do bairro da Liberdade. De acordo com Hildegardes Vianna, “a Noite de Reis e Lapinha são quase sinônimos para o povo. É ali que os ternos e ranchos se apresentam na noite de 5 para 6 de janeiro, desde quando não se sabe ao certo. Os ternos e ranchos simulam uma marcha de pastores para o Oriente em busca do lugar onde nasceu o Messias. Tem por finalidade a Adoração. Embora pareçam simples, exigem uma organização mais ou menos complexa. Entre os elementos já consagrados pela tradição, encontramos, além dos magos e pastoras, anjos, samaritanas, ciganas, saloias, porta-cajados e um mundo de personagens nem sempre facilmente identificáveis. A porta-estandarte tem a responsabilidade de fazer a adoração perante o presépio, com o pavilhão abaixado em sinal de humildade” (Revista da Bahia nº 38). Assim é a Festa de Reis, onde o Menino Jesus se encontra com a gente entre a qual escolheu nascer, ser e estar ao longo de toda a sua vida (por Sílvio Benevides).
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Foto: Agenor Godim

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