Se me perguntarem o que
é poesia, direi não sei. Não sei, porque simplesmente a poesia pertence à ordem
das coisas indefiníveis, inclassificáveis. Definições e classificações são
movimentos que nos conduzem tão somente à racionalização do mundo. A poesia, ao
contrário, vai além e nos mostra que razão rima com emoção. Sem esta, a razão
não passa de um deserto árido e estéril. Mas poesia também rima com bruxaria. Talvez
os poetas, além de fingidores, sejam, igualmente, bruxos. Sim, porque somente
conhecendo em demasia as artimanhas de magias milenares se consiga atingir as
profundezas das almas que habitam todos os tempos que compõem as infinitas eras.
Se desejas saber o que a poesia é, interroga, então, Gustavo Adolfo Bécquer: “¿Qué
es poesía? – dices mientras clavas en mi pupila tu pupila azul. ¿Qué es poesía?
¿Y tú me lo preguntas? Poesía... eres tu.”
Ao Mestre dos Magos, Fernando Pessoa (por Silvio
Benevides).
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge
tão completamenteO poeta é um fingidor.
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E
os que lêem o que escreve,
Na
dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E
assim nas calhas de roda
Gira,
a entreter a razão,Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(FERNANDO PESSOA)
Imagens: Peanuts e Marçal