Hoje,
07 de setembro de 2013, o Brasil comemora os 191 anos da sua independência
política e administrativa. Quase duzentos anos após a separação de Portugal, o
Brasil e muitos brasileiros ainda conservam, infelizmente, valores mais antigos
que o Grito do Ipiranga. Vale lembrar que até 1888 o Estado brasileiro era
oficialmente escravista. Atualmente não somos mais. Entretanto, uma mentalidade
colonialista insiste em persistir e isso se pode perceber até mesmo em
situações amistosas.
No
dia da Independência do Brasil a seleção brasileira disputou um amistoso com a
seleção australiana no Estádio Mané Garrincha em Brasília. Até aí nada demais,
afinal, a disputa de amistosos é algo corriqueiro no mundo do futebol. No campo,
o Brasil goleou o adversário (6x0). Nenhuma novidade nisso também. Se em campo
não ocorreu nada de extraordinário, então qual a razão da presente postagem? A narração
da equipe de transmissão do canal SporTV.
A
equipe de narração do referido canal, composta pelo narrador Milton Leite e pelos
comentários de Paulo Cesar Vasconcellos e Edinho, deu um show do que costumo
chamar de mentalidade colonialista (uma aluna me convenceu que esse termo é
mais adequado do que mentalidade escravista). Logo no início da transmissão,
quando a seleção brasileira havia entrado em campo para se aquecer, os tais
comentaristas resolveram tecer ao vivo considerações sobre o cabelo do Neymar.
Segundo
os tais, o cabelo do Neymar estava bem comportado porque o jogador, agora atuando
na Europa, tinha tomado um banho de cultura e um choque de civilização e que
isso certamente faria muito bem para ele e para sua carreira. Antes, no Brasil,
o Neymar vivia trocando o layout do seu cabelo, o que resultava, para os tais, de
uma indisciplina digamos tupiniquim. Agora, no mundo civilizado, a história é
bem diferente. O Barcelona exige mais disciplina e mais foco no futebol e o
Neymar tem tudo para desenvolver seu talento. Esses tais são mesmo uns imbecis,
para dizer o mínimo.
Em
1822 o Brasil conquistou sua independência política e administrativa. Separou-se
definitivamente de Portugal, ainda que por vias cordiais. Entretanto, 191 anos
após esse feito precisamos promover uma independência intelectual, ou seja, a
superação definitiva da mentalidade colonialista. E não me refiro tão somente
ao trabalho dos acadêmicos, pois a mentalidade colonialista, oriunda de um
regime escravocrata e explorador, se constitui num fenômeno social total, como
alertou o Joaquim Nabuco já no século XIX. Se o Brasil realmente deseja ser um
país grandioso, precisa dar muitos passos rumo a uma independência que supere,
de uma vez por todas, a mentalidade colonialista ainda presente nos nossos dias,
a ponto de fazer com que os imbecis sintam tanta vergonha das suas
imbecilidades que prefiram calar a proferir besteiras ao vivo ou não (por Silvio Benevides).
Imagem:
Miguel Ruiz/FCB.