segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Da série histórias fantásticas do Brasil: CURUPIRA

Corpo de menino – de curu, abreviação de curumi e pira corpo. O Curupira é a mãe do mato, o gênio tutelar da floresta que se torna benéfico ou maléfico para os freqüentadores desta, segundo circunstâncias e o comportamento dos próprios freqüentadores. Figuram-no como um menino de cabelos vermelhos, muito peludo por todo o corpo e com a particularidade de ter os pés virados para trás e ser privado de órgãos sexuais. A mata, e quantos nela habitam, está debaixo de sua vigilância. É por via disso que antes das grandes trovoadas se ouve bater nos troncos das árvores e raízes das samaumeiras para certificar-se de que podem resistir ao furacão e prevenir aos moradores da mata do próximo perigo. Sob sua guarda direta está a caça, e é sempre propício ao caçador, que se limitar a matar conforme as próprias necessidades. Ai de quem mata por gosto, fazendo estragos inúteis, de quem persegue e mata as fêmeas, especialmente quando prenhes, que estraga os pequenos ainda novos! Para todos estes o Curupira é inimigo terrível. Umas vezes vira-se caça que nunca pode ser alcançada, mas que nunca desaparece dos olhos sequiosos do caçador, que, com a esperança de a alcançar, deixa-se levar fora do caminho, onde o deixa miseravelmente perdido, com o rastro, por onde veio, desmanchado. Outras, o que é muito pior, o pobre caçador alcança a caça, até com relativa facilidade, e a flecha vai certeira embeber-se no flanco da vítima, que cai pouco adiante com grande satisfação do infeliz. Quando chega a ela, porém, e vai para a colher, em lugar do animal que tinha julgado abater, encontra um amigo, o companheiro, o filho, a sua própria mulher. Os contos de caçadores vítimas do Curupira são contos de todos os dias no meio indígena dos moradores tanto do rio Negro como do Solimões, Amazonas e seus afluentes (por Ermano de Stradelli, reunido por Luís da Câmara Cascudo em Antologia do folclore brasileiro).

Imagem: Curupira (2009), por Ricardo Santos.

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