Fernando herdou essas virtudes dos pais. No que se refere à piedade, cabe salientar sua especial devoção a Nossa Senhora. Desde muito jovem escolheu-a como guia e mãe, visitando com freqüência as igrejas e os mosteiros dedicados a Santa Mãe. Também de mostrava generoso com os mais pobres que acudiam ao palácio de seus pais. Por isso os biógrafos comentam que ao jovem Fernando poderiam ser aplicadas as palavras do profeta Jó: “Desde a infância eduquei como um pai” (Jó 31,18). O jovem recebeu uma esmerada formação na escola anexa à Catedral de Lisboa. Dotado de uma memória extraordinária e de um grande poder de síntese, causava admiração em seus preceptores.
Desde bem jovem Fernando estabelecera seu futuro. Apesar de ter pais exemplares, o mesmo não ocorria no ambiente social da nobreza: a futilidade e o desperdício invadiam palácios e castelos. Decepcionado e desprezando essa vida, Fernando dobrava o seu tempo de oração e pedia a Nossa Senhora que o iluminasse. Depois, decidido, renunciou à herança paterna e aos títulos nobiliários e ingressou na comunidade dos cônegos regulares de santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora, que, como o nome indica, estava localizado nos arredores de Lisboa. Era o ano de 1208. Fernando acabava de completar 16 anos.
Na solidão do claustro, Fernando entregou-se com empenho à oração e ao estudo. Aprofundou-se na doutrina do grande doutor da Igreja, santo Agostinho, e começou a saborear a doçura e a suavidade do Senhor. Em razão da proximidade do mosteiro com a capital, Fernando recebia muitas visitas dos parentes e amigos, que perturbavam a paz que ele havia escolhido. Por esse motivo escolheu abandonar aquele local e transferir-se para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, sem trocar de ordem religiosa. Lá continuou a sua formação espiritual e intelectual com o intuito de viver em Cristo e por Cristo. Provavelmente entre 1218 e 1219 Fernando ordenou-se sacerdote.
Na Itália, São Francisco de Assis havia fundado um novo movimento religioso: a Ordem dos Frades Menores. Pouco tempo depois já eram muitos os companheiros que o seguiam. Francisco remetia seus discípulos à observância do Evangelho; foi o primeiro fundador que, em sua regra, animava aqueles que desejavam partir em missão para outros países. Durante uma longa viagem em direção ao Marrocos, um grupo deles se hospedou em Coimbra, justamente no mosteiro de Santa Cruz, onde Fernando era o encarregado da hospedaria. O exemplo dos Frades Menores inspirou Fernando que em 1221 incorporou-se à ordem do bem-aventurado Francisco. Mudou a correia preta e lisa pelo cordão branco e nodoso; o nome Fernando para o de Antônio; e a vida monástica e estática pela missionária e andarilha.
Fernando estava com 29 anos e gozava de boa saúde. Uma vez professo, pediu para ser enviado para o Marrocos. Recém chegado a terras africanas, acometeu-o uma grave doença que o manteve sem poder se mexer. Posteriormente recuperou-se, mas como a convalescença era longa e a saúde precária, teve de ser enviado de volta ao seu país para que, recuperado completamente, pudesse regressar ao Marrocos. Com esse propósito pegou o navio, mas um vento impetuoso, freqüente no estreito de Gibraltar, desviou a nau para o Oriente até as costas da Sicília. Provavelmente desembarcou em Taormina e refugiou-se no convento dos franciscanos nas proximidades da cidade de Mesina.
Ao tomar conhecimento da celebração do capítulo geral da Ordem Franciscana, convocado para Assis por São Francisco, em 30 de maio de 1221, frei Antônio completamente recuperado, dirigiu-se para lá, apesar da distância de 600 quilômetros. Chegou a Assis e teve a alegria de conhecer pessoalmente o fundador da Ordem, que ficou impressionado com a humildade do frei Antônio, reconhecendo de antemão a extraordinária sabedoria da qual era dotado.
Frei Antônio havia aprendido com São Francisco alguns métodos de pregação inspirados no Evangelho. Era preciso apresentar-se para o combate com as armas das boas obras que edificam e não destroem; com o fogo da Palavra de Deus que seduz e não obriga, que persuade e não condena; apresentar-se sempre humilde, carregando poucas coisas, sem bastão nem alforje. Frei Antônio também aprendera com o “Pobrezinho de Assis” o amor pelas coisas belas, que era um aspecto próprio de sua espiritualidade. Se Francisco se apaixonou pelo cosmo material e por tudo que ele continha, frei Antônio apaixonou-se pelo dom gratuito da palavra. Em seus sermões comentava a necessidade que temos da palavra que ele denomina pulcra, delicada, eco do Verbo eterno do Pai, encarnado em Jesus Cristo. Também era um entusiasta das Ciências Humanas. Conjugava com simplicidade o conhecimento da teologia com o saber humano, porque aos olhos do frade menor nada era profano; tudo era obra maravilhosa e gratuita de Deus Altíssimo.
No ano de 1230, frei Antônio retirou-se para uma localidade perto da cidade de Pádua. Morou no convento-eremitário de Arcela. Um dia, enquanto fazia a frugal refeição no convento, foi acometido por um forte mal-estar que paralisou todos os membros do seu corpo. Os frades o levantaram e deitaram sobre um leito de palhas. Antônio foi piorando progressivamente. Pediu a presença de um religioso para se confessar, que lhe ministrou também o sacramento da unção dos enfermos. Depois de ter comungado, entoou seu hino predileto dedicado a Nossa Senhora, “Ó Senhora gloriosa, excelsa sobre as estrelas”. Depois, com um sorriso e uma expressão de paz imensa, disse aos que o cercavam: “Vejo o meu Senhor”, e entregou a alma a Deus. Era sexta-feira, 13 de junho de 1231. Tinha apenas 39 anos. Um ano depois, em 30 de maio de 1232, o papa Gregório IX inscreveu-o no catálogo dos santos. Posteriormente, foi construída uma grande basílica em Pádua, na qual descansam suas relíquias, que têm sido e são veneradas por milhares de peregrinos que para aí se dirigem, vindos do mundo inteiro (Fonte: Santo Antônio: palavra e pobreza, por Francesc Gamissans).
E viva a Santo Antônio!
Imagem: Sant'Antonio da Padova con il Bambino, 1656, por Guernico.
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