segunda-feira, 27 de junho de 2011

¿Es Brasil una burbuja?

Este es el segundo tema que domina las conversaciones en Brasil. El primero, y mucho más popular, es la celebración de sus enormes éxitos: los millones de pobres que han dejado de serlo, la impresionante pujanza de sus empresas, las enormes oportunidades y la mayor prosperidad. Si bien los problemas aún son grandes (miseria, crimen, corrupción, desigualdad), el optimismo también lo es. Los brasileños, siempre alegres, están ahora más contentos que nunca. Y con mucha razón. Las cosas van muy bien. Y eso lleva a la segunda conversación obligada: ¿cuánto durará la fiesta? ¿Cómo -quién- nos puede descarrilar este raudo tren hacia la prosperidad?, se preguntan. Paradójicamente, los motivos del éxito también son la fuente de las ansiedades. En los últimos cinco años, el crédito ha crecido hasta alcanzar el 45% del tamaño de la economía. Así, los brasileños han encontrado quien les preste para comprar casas, motocicletas, refrigeradores y todo lo demás -muchos por primera vez-. Y no les ha importado que las tasas de interés de esos préstamos sean las segundas más altas del mundo o que las familias brasileñas deban hoy dedicar un 20% de sus ingresos a pagar sus deudas.

Este auge del crédito y el consumo obedece, en parte, a los millones de nuevos empleos y los mejores salarios generados por la expansión económica. Mientras las economías más ricas cayeron un 2,7% durante la crisis de 2008-2009, Brasil creció al 5%, y el año pasado lo hizo al 7,5%. El paro se ha reducido a los niveles más bajos en décadas y en muchos sectores las empresas no consiguen los trabajadores que necesitan. Los altos precios internacionales de los minerales y productos agrícolas, que Brasil exporta en grandes cantidades, contribuyen a esta expansión.

Los inversionistas internacionales también están eufóricos con Brasil. La inversión extranjera directa creció un 90% el año pasado. La avalancha de fondos foráneos que está cayendo sobre Brasil, atraídos por sus altas tasas de interés, está obligando al Gobierno a considerar la posibilidad de imponer límites más estrictos al capital especulativo. Los flujos de capital extranjero y los ingresos por exportaciones han llenado las arcas brasileñas con divisas de otros países, lo cual ha encarecido el valor de su moneda. El tipo de cambio ajustado a la inflación es hoy un 47% más caro de lo que fue su promedio en la última década. El real es la moneda más sobrevalorada del mundo.

Inevitablemente, la combinación de una moneda cara, la euforia de los inversionistas extranjeros, el aumento del consumo y los cuellos de botella que existen para satisfacer una demanda que crece aceleradamente hace que todo sea más caro. Brasil, que sigue siendo una nación muy pobre, es actualmente uno de los países más caros del planeta. El precio de la vivienda en Río de Janeiro y São Paulo casi se ha duplicado desde 2008. Alquilar oficinas en Río es hoy más costoso que hacerlo en Nueva York, y los salarios de los ejecutivos en São Paulo son mayores que en Londres o Manhattan. Y la inflación para todos está subiendo hasta el punto de que la presidenta, Dilma Rousseff, ha declarado que es su principal preocupación. No hay duda de que la economía esta sobrecalentada.

Pero ¿es Brasil una burbuja financiera? No. El progreso de Brasil y su potencial no son una ilusión. Se basan en logros concretos y fortalezas reales. Pero la economía brasileña sí tiene aspectos insostenibles. La expansión del crédito y el crecimiento del gasto público no pueden seguir al ritmo actual. Hay muchas reformas estructurales importantes que el expresidente Lula da Silva pospuso -Brasil tiene algunos de los jubilados más jóvenes del mundo, por ejemplo-. El Gobierno chino invierte anualmente en infraestructura (vías, aeropuertos, hospitales, etcétera) un monto equivalente al 12% de su economía. Brasil, tan solo el 1,5%. Esto explica, en parte, por qué la economía brasileña se “recalienta” a pesar de que este año solo crece al 4,5%. ¿Qué pasaría si creciera al 10% varios años seguidos? Su decrépita infraestructura no lo permitiría.

En estos momentos la prioridad es estabilizar la economía. Esto implica tomar medidas políticamente impopulares: desacelerar el consumo, por ejemplo. Y otras. O la presidenta Dilma Rousseff le baja el volumen a la fiesta y lo hace ahora de una manera controlada, o los mercados “se lo harán” de una manera descontrolada y socialmente más dolorosa. La euforia y la complacencia son las enemigas más amenazantes para el exitoso Brasil de hoy (por Moisés Naím para El País).


Imagem: Crystal Bubble Fine Art

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um desabafo inflamado ou inframado? A polêmica em torno do livro POR UMA VIDA MELHOR

Gente, li muitas coisas, ouvi muitas coisas, muitos argumentos – bons argumentos – de um lado e de outro da questão. E muita besteira também. Resolvi dar minha opinião. Antes de tudo é preciso ler o tal capítulo do livro que gerou tanta polêmica a respeito do ensino da língua. Muita gente comentou Brasil afora, na mídia, na mesa de bares, nas escolas, nas redes sociais, sem ao menos tê-lo lido, criticando só a partir de frases tiradas de seu contexto e dos famosos “achismos” tão caros aos que não são da área. Por que será que temos esse gosto pelas dicotomias, polaridades, falsas polêmicas? Por que tudo vira um ringue entre os que acusam e os que defendem ardorosamente uma causa? Não podemos, como educadores que pensam a linguagem, cair na armadilha dessa dicotomia tosca que se criou. E o engraçado é que o livro propõe justamente o ensino da gramática, da norma culta da língua... Talvez a autora tenha, de fato, sido infeliz – até ingênua, talvez – no modo de colocar certas coisas, talvez até superestimando a capacidade dos seus leitores em compreender a questão em toda sua complexidade. Talvez ela tenha passado rápido demais pelo tema, não distinguindo a fundo a norma escrita e a falada, a norma ideal da gramática (que ninguém fala, nem os letrados) e a norma real, o padrão e o culto, a gramática e a língua. Talvez ela tenha sido apressada no trecho que indica que “claro que pode falar assim”, considerando a complexidade da questão e a delicadeza do tema para quem não é da área e não acompanha as discussões sobre a variação lingüística. Acho que ela não pensou que pudesse ser tão chocante para uns, algo tão já discutido no meio lingüístico. Talvez. Talvez ela pudesse ter sido mais cuidadosa na transposição do que é saber da lingüística e o modo de abordar, no ensino, a realidade da existência de variedades faladas (para ensinar a norma, diga-se de passagem). Mas daí a essa reação apaixonada contra o que ela trata no capítulo, me parece mais equivocada ainda. Caímos de novo naquela de que a gramática, a norma culta, etc, etc, são tesouros intocáveis, quase divinos? Precisava tanta inflamação?

Acho que é preciso sim reconhecer as variedades, sua legitimidade como língua portuguesa, para partir daí para o ensino da linguagem valorizada socialmente. Só assim milhares de alunos serão reconhecidos como falantes do português, embora passem a tomar consciência de que sua variedade não tem muito prestígio social. Vão aprender sabendo o porquê de aprender, não achando que é porque não falam português. Acho justíssimo sim, esse tema ser tema de estudo da área de linguagem na escola, se a escola é para todos.

Marcar de forma redundante o plural numa frase, como faz a língua portuguesa, não é necessariamente a única forma de marcar plural e isso pode até mudar, como já mudou em várias línguas, argumento que, evidentemente, não invalida a norma atual da língua culta. Talvez a autora tenha se apressado no modo de fazer suas colocações, mas sua perspectiva é a da ciência lingüística. Não concordo que haja uma separação estanque entre a ciência lingüística e a prática educativa. Fosse assim, não teria havido mudanças essenciais no ensino da língua a partir dos estudos da língua nas últimas décadas. Há a tal “transposição didática”, evidentemente, não se trata de uma aplicação direta. É evidente que os conhecimentos lingüísticos, descritivos da língua, não são para serem, todos, repassados para os alunos tal e qual. Saber como funciona e ensinar, realmente, não são a mesma coisa. Mas também não são objetos estanques, impermeáveis. Parece-me essencial a contribuição da sociolingüística desde os anos 70 e da lingüística contemporânea para o ensino da língua hoje e, mais ainda, junto com isso, para a mudança de atitude quanto ao tratamento das questões de linguagem na escola. Em especial o tratamento dado em relação às variedades faladas pelos alunos, o modo como os acolhemos na escola. A língua culta não é um tijolo maciço estanque, inquebrável, imutável e intocável. E é assim que ela tem aparecido na mídia!

De novo vemos os burgueses letrados tremerem de medo do falar de grande parte do povo brasileiro, por esse falar estar explicitado em um livro, outro objeto intocável, símbolo do que é mais culto! Nossa, que heresia, hein?!!!

O livro em questão, no entanto, não prega falar “errado” nem ensinar aos letrados as variedades não cultas da língua para que possam falá-la também. Que despautério desses que foram à TV afirmá-lo! E como se pode constatar ao lê-lo, curiosamente, o livro pretende, justamente, ensinar a norma culta. Colocar as coisas nos seus lugares é muito saudável, inclusive destronando a norma culta de um trono imaculado, com a faixa “língua portuguesa” atravessada no peito, acho que é isso que a lingüística faz, e que o livro acusado tentava fazer.

O que os lingüistas discutem hoje, de sua perspectiva descritiva da língua falada, não pode ser ignorado pela escola. Especialmente a escola pública, que recebe alunos que falam variedades bem distantes da norma culta. Isso já sabemos. Os modos de fazê-lo podem, esses, ser discutidos, sim, concordo. Não ensinar a norma culta é reafirmar o fosso, concordo. A própria autora do livro, sem dúvida, sabe disso. Ninguém está pregando “cada um no seu quadrado”!!! Mas ignorar o fenômeno da variação é uma injustiça ainda maior. Reconhecer a variedade e conceber a norma como uma variedade de prestígio – e que o é por razões diversas, inclusive históricas, sociais, políticas – é um primeiro passo para uma atitude de não preconceito, que me parece, é papel da educação. Aliás, é bom lembrar, a expressão “preconceito lingüístico” não foi um delírio cunhado por essa autora em especial, como muitos estão dizendo, mas faz parte do campo conceitual da ciência lingüística. Não dá para separar de todo linguagem, educação e poder. Não é possível que, com tudo que sabemos hoje sobre a história da constituição de uma língua padrão, sobre fenômenos e mudanças lingüísticas, continuemos tratando a norma culta como “a língua portuguesa” e as demais variedades todas como distorções dela. E é esse trono que está sendo propalado pela mídia.

Porque ninguém se incomoda que hoje se fale a palavra “balde” como /baudji/ e não como /balde/, como falava meu avô e uns poucos de cabeça branca que ainda restam vivos? (tentar falar assim, para nós, hoje, faz uma dobra na língua que parece até inglês!!!). Porque não incomoda os defensores da língua culta que uma moça bem letrada diga a seu marido, filho ou a seu funcionário: “Benhê, traz um copo d’água, por favor. Você traz?”, "João, leva esse livro pra estante, tá?", “Filho, vem cá! Você quer jogar?”. Por que para os letrados a tolerância é maior? O letramento permite que todos se policiem para usar a norma culta nas situações sociais em que esta é exigida. Para falar “se eu vir...”, “assisti ao filme...” muitos de nós temos que nos policiar (ao menos enquanto a língua não mude nesses aspectos), e relaxamos entre amigos, não? Por que toleramos as diferenças entre norma ideal e real quando quem abre a boca é de uma camada mais culta da sociedade? E por que incomoda tanto os que dizem “Eu toco frauta muito bem”? O preconceito lingüístico é sim, antes de tudo, preconceito social. Acredito nisso sim! Isso nós precisamos, como educadores, ter em mente e combater a cada dia. E é a lingüística que pode nos dar essa dimensão (ainda que, por vezes alguns também relativizem demais a questão, do ponto de vista da educação). Não podemos ignorar esse fato, ao preço de mascararmos a questão do poder que está entranhada nas questões de linguagem. Até porque o grande Camões não só falou, como escreveu frauta em seu texto mais famoso. E por quê? Por que a língua muda! E porque só valem as mudanças estabelecidas pelas camadas sociais mais prestigiadas? Precisa responder? Acho que não, né? Aliás, não fosse esse tipo de fenômeno linguístico nem haveria língua portuguesa! O certo é que esses fenômenos existem e são eles os responsáveis por formar as línguas, além de modificá-las (não necessariamente deturpá-las, como querem alguns).

Bom, isso tudo evidentemente não quer dizer que não seja para ensinar a norma culta escrita, e até mesmo a falada. Por questões sociais, sim, e em especial pelo direito ao acesso à língua em que se registram os textos escritos na nossa sociedade. Todo o livro da autora massacrada é isso, para ensinar a norma culta da língua! Ainda que essa repercussão do livro possa também gerar uma discussão fecunda, estou com Faraco, Possenti, Magda Soares, até mesmo Marcos Bagno, dentre outros, que reconhecem nessa querela toda uma falsa polêmica, uma polaridade absurda, estanque e que, feita dessa forma tão inflamada, penso eu, é burra. A complexidade da questão não cabe em cinco minutos de noticiário no jornal e nos melindres de defensores ardorosos da redoma de vidro inquebrável da norma culta, que desconhecem a própria dinâmica das línguas. Toda polaridade absoluta é burra.

Estou também com Bakhtin, para quem há na linguagem, como na vida social, forças centrípetas que tendem para a conservação, a homogeneização e forças centrífugas que impelem para o descentramento, a transformação, a diversidade. Essa tensão entre elas permeia o movimento incessante da linguagem. É a dinâmica da linguagem, da língua, da vida!!! É como penso (por Liane Castro de Araujo, doutoranda em educação pela Faced/Ufba, supervisora de Escrita e Leitura da Escola Via Magia, permitiu aqui a publicação do seu desabafo).



Imagens: Maurício de Souza

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Santo Antônio: um santo popular

Santo Antônio nasceu no ano de 1192 em Lisboa (Portugal) e não em Pádua (Itália), onde descansam seus despojos. Foi batizado com o nome de Fernando, que mais tarde trocaria por Antônio. Era filho de pais ilustres: Martinho de Bulhões, cavaleiro do rei Afonso II de Portugal, e Maria, aparentada com Failo I, o quarto rei das Astúrias. Mas os maiores títulos de nobreza do pai de Fernando eram de ordem espiritual, já que os dois professavam uma grande fé, tinham hábitos honestos e eram distinguidos por sua enorme prodigalidade para com os mais necessitados.

Fernando herdou essas virtudes dos pais. No que se refere à piedade, cabe salientar sua especial devoção a Nossa Senhora. Desde muito jovem escolheu-a como guia e mãe, visitando com freqüência as igrejas e os mosteiros dedicados a Santa Mãe. Também de mostrava generoso com os mais pobres que acudiam ao palácio de seus pais. Por isso os biógrafos comentam que ao jovem Fernando poderiam ser aplicadas as palavras do profeta Jó: “Desde a infância eduquei como um pai” (Jó 31,18). O jovem recebeu uma esmerada formação na escola anexa à Catedral de Lisboa. Dotado de uma memória extraordinária e de um grande poder de síntese, causava admiração em seus preceptores.

Desde bem jovem Fernando estabelecera seu futuro. Apesar de ter pais exemplares, o mesmo não ocorria no ambiente social da nobreza: a futilidade e o desperdício invadiam palácios e castelos. Decepcionado e desprezando essa vida, Fernando dobrava o seu tempo de oração e pedia a Nossa Senhora que o iluminasse. Depois, decidido, renunciou à herança paterna e aos títulos nobiliários e ingressou na comunidade dos cônegos regulares de santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora, que, como o nome indica, estava localizado nos arredores de Lisboa. Era o ano de 1208. Fernando acabava de completar 16 anos.

Na solidão do claustro, Fernando entregou-se com empenho à oração e ao estudo. Aprofundou-se na doutrina do grande doutor da Igreja, santo Agostinho, e começou a saborear a doçura e a suavidade do Senhor. Em razão da proximidade do mosteiro com a capital, Fernando recebia muitas visitas dos parentes e amigos, que perturbavam a paz que ele havia escolhido. Por esse motivo escolheu abandonar aquele local e transferir-se para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, sem trocar de ordem religiosa. Lá continuou a sua formação espiritual e intelectual com o intuito de viver em Cristo e por Cristo. Provavelmente entre 1218 e 1219 Fernando ordenou-se sacerdote.

Na Itália, São Francisco de Assis havia fundado um novo movimento religioso: a Ordem dos Frades Menores. Pouco tempo depois já eram muitos os companheiros que o seguiam. Francisco remetia seus discípulos à observância do Evangelho; foi o primeiro fundador que, em sua regra, animava aqueles que desejavam partir em missão para outros países. Durante uma longa viagem em direção ao Marrocos, um grupo deles se hospedou em Coimbra, justamente no mosteiro de Santa Cruz, onde Fernando era o encarregado da hospedaria. O exemplo dos Frades Menores inspirou Fernando que em 1221 incorporou-se à ordem do bem-aventurado Francisco. Mudou a correia preta e lisa pelo cordão branco e nodoso; o nome Fernando para o de Antônio; e a vida monástica e estática pela missionária e andarilha.

Fernando estava com 29 anos e gozava de boa saúde. Uma vez professo, pediu para ser enviado para o Marrocos. Recém chegado a terras africanas, acometeu-o uma grave doença que o manteve sem poder se mexer. Posteriormente recuperou-se, mas como a convalescença era longa e a saúde precária, teve de ser enviado de volta ao seu país para que, recuperado completamente, pudesse regressar ao Marrocos. Com esse propósito pegou o navio, mas um vento impetuoso, freqüente no estreito de Gibraltar, desviou a nau para o Oriente até as costas da Sicília. Provavelmente desembarcou em Taormina e refugiou-se no convento dos franciscanos nas proximidades da cidade de Mesina.

Ao tomar conhecimento da celebração do capítulo geral da Ordem Franciscana, convocado para Assis por São Francisco, em 30 de maio de 1221, frei Antônio completamente recuperado, dirigiu-se para lá, apesar da distância de 600 quilômetros. Chegou a Assis e teve a alegria de conhecer pessoalmente o fundador da Ordem, que ficou impressionado com a humildade do frei Antônio, reconhecendo de antemão a extraordinária sabedoria da qual era dotado.

Frei Antônio havia aprendido com São Francisco alguns métodos de pregação inspirados no Evangelho. Era preciso apresentar-se para o combate com as armas das boas obras que edificam e não destroem; com o fogo da Palavra de Deus que seduz e não obriga, que persuade e não condena; apresentar-se sempre humilde, carregando poucas coisas, sem bastão nem alforje. Frei Antônio também aprendera com o “Pobrezinho de Assis” o amor pelas coisas belas, que era um aspecto próprio de sua espiritualidade. Se Francisco se apaixonou pelo cosmo material e por tudo que ele continha, frei Antônio apaixonou-se pelo dom gratuito da palavra. Em seus sermões comentava a necessidade que temos da palavra que ele denomina pulcra, delicada, eco do Verbo eterno do Pai, encarnado em Jesus Cristo. Também era um entusiasta das Ciências Humanas. Conjugava com simplicidade o conhecimento da teologia com o saber humano, porque aos olhos do frade menor nada era profano; tudo era obra maravilhosa e gratuita de Deus Altíssimo.

No ano de 1230, frei Antônio retirou-se para uma localidade perto da cidade de Pádua. Morou no convento-eremitário de Arcela. Um dia, enquanto fazia a frugal refeição no convento, foi acometido por um forte mal-estar que paralisou todos os membros do seu corpo. Os frades o levantaram e deitaram sobre um leito de palhas. Antônio foi piorando progressivamente. Pediu a presença de um religioso para se confessar, que lhe ministrou também o sacramento da unção dos enfermos. Depois de ter comungado, entoou seu hino predileto dedicado a Nossa Senhora, “Ó Senhora gloriosa, excelsa sobre as estrelas”. Depois, com um sorriso e uma expressão de paz imensa, disse aos que o cercavam: “Vejo o meu Senhor”, e entregou a alma a Deus. Era sexta-feira, 13 de junho de 1231. Tinha apenas 39 anos. Um ano depois, em 30 de maio de 1232, o papa Gregório IX inscreveu-o no catálogo dos santos. Posteriormente, foi construída uma grande basílica em Pádua, na qual descansam suas relíquias, que têm sido e são veneradas por milhares de peregrinos que para aí se dirigem, vindos do mundo inteiro (Fonte: Santo Antônio: palavra e pobreza, por Francesc Gamissans).

PALAVRAS DE SANTO ANTÔNIO – “Assim como não se ateia fogo em uma casa onde um morto está sendo velado, vocês também não podem a casa onde Deus é menosprezado pelas investidas e agitações da heresia. Mesmo que vocês tivessem a certeza de sua obstinação, sempre é preciso deixar um lugar para a TOLERÂNCIA, para a PACIÊNCIA, para a ESPERA, porque o Senhor é o primeiro a nos dar o exemplo”. Mais atual, impossível.

E viva a Santo Antônio!

Imagem: Sant'Antonio da Padova con il Bambino, 1656, por Guernico.

domingo, 5 de junho de 2011

POEMA FALADO: Quadrilha

O amor por vezes é paixão, por vezes é alegria, por vezes, solidão. O amor por vezes é tudo, por vezes, nada. Há momentos em que o amor se converte em magníficos encontros. Em outros, porém, o amor é só desencontro, tristeza, morte. Talvez o amor seja mesmo um grande labirinto repleto de vias estreitas e encruzilhadas perfeitas. Para homenagear o amor no mês em que o amor homenageia os enamorados, o Salvador na sola do pé por meio do Poema Falado traz em junho o magnífico texto QUADRILHA, do sempre, e por isso mesmo, não menos magnífico poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que diz assim: “João amava Teresa / que amava Raimundo / que amava Maria / que amava Joaquim / que amava Lili / que não amava ninguém. // João foi para os Estados Unidos / Teresa para o convento / Raimundo morreu de desastre / Maria ficou para tia / Joaquim suicidou-se / e Lili casou com J. Pinto Fernandes / que não tinha entrado na história”. Boa leitura audiovisual!



Imagem: Eros e Psique, por François Gêrard.